terça-feira, 30 de junho de 2015

Para conhecer o empreendedorismo: quantidade ou qualidade?

Hoje acordei no modo quantitativo! Por volta das seis e trinta da manhã, despertei, preparei uma xícara de café e sentei-me em frente ao computador. Motivado pelo Seminário GEM - Global Entrepreneurship Monitor - Empreendedorismo no Brasil 2014, fui buscar informações sobre o histórico dos resultados do GEM. Afinal de contas, logo mais às 19:30 horas, atuarei como mediador desse seminário onde serão apresentados os resultados referentes ao levantamento do ano passado. No site do GEM encontro uma ferramenta de busca que permite tabular os resultados de diferentes aspectos da pesquisa para cada país ou conjunto deles entre 2001 e 2014. Me concentro em cinco indicadores: percentual de empreendimentos iniciados motivados por oportunidade; percentual de empreendimentos iniciados motivados por necessidade; taxa de empreendedorismo total; taxa de empreendedorismo feminino; e taxa de empreendedorismo masculino.

No final do ano passado, ao conduzir uma disciplina de empreendedorismo para doutorandos da Universidade Positivo, nos deparamos com uma pergunta do tipo ovo de galinha: quem nasceu primeiro?

Junto com três doutorandos decidimos explorar a relação entre os resultados do GEM e o Global Competitiveness Index (GCI), uma medida de competitividade dos países. Analisando dados do histórico do Brasil nas duas pesquisas percebemos que havia uma correlação entre esses indicadores. Mas, em nossas discussões, especulei que talvez seria mais adequado se buscássemos essa relação com uma defasagem de anos entre os dados.Minha sugestão surgiu de uma dúvida: será que o aumento na taxa de empreendedorismo decorre de uma melhoria da competitividade do país ou é o aumento da taxa de empreendedorismo que melhora a competitividade do país? Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? 

Penso que para responder essa pergunta, poderíamos fazer simples análises de correlações entre os dois indicadores, mas primeiro fazendo um atraso na competitividade e depois um atraso no indicador de empreendedorismo. Exemplificando: competitividade anual entre 2006 e 2013 correlacionada com taxa de empreendedorismo entre 2007 e 2014. Isso permitiria ver se as correlações entre os dois índices seriam mais fortes que as correlações obtidas com indicadores pareados (do mesmo ano). No exemplo, o pressuposto é que competitividade afeta, com um certo atraso, taxa de empreendedorismo. O inverso pode ser testado se usarmos taxa de empreendedorismo entre 2006 e 2013 e competitividade entre 2007 e 2014. Quando fizemos isso com os dados somente do Brasil, percebemos algumas alterações nas correlações. Mas, eram dados apenas de um país!

Analisando os dados do GCI observei que, a partir de 2006, houve uma alteração na estrutura do indicador. Com isso em mente, usei a manhã de hoje para explorar as correlações entre os dois indicadores para um conjunto de dezenove países que tinham dados completos para o período 2006-2014. No conjunto foram 171 observações dos seis indicadores. Usando apenas a função de correlação do Excel, fiz os cálculos das correlações pareadas, com atraso de um ano e com atraso de dois anos, em ambas as direções. Nesse momento, não tenho os dados em mãos, pois fiz isso em meu computador de casa, e escrevo esse post no computador de minha sala na UFPR. Um padrão emergiu: a taxa de competitividade é negativamente relacionada com a taxa de empreendedorismo total; positivamente relacionada com empreendedorismo por oportunidade; e negativamente relacionada com empreendedorismo por necessidade. Além disso, há pequenas variações para maior conforme se atrasam os indicadores para a correlação, sendo maior a amplitude de variação quando se usa dados de competitividade atrasados em relação à taxa de empreendedorismo. 

Mas, eu quero entender isso um pouco melhor!

Os países que têm seus dados no GEM e no GCI são classificados em grupos distintos que, a grosso modo, revelam seu estágio de desenvolvimento. São três grupos no GEM: economias baseadas em fatores primários; economias baseadas em eficiência; e economias baseadas em inovação. No GCI, além desses três grupos, há dois grupos de transição: economias em, transição entre fatores e eficiência; e economias em transição entre eficiência e inovação. Estou ampliando o número de países para fazer as análises das correlações dentro de cada grupo. O que vou encontrar ainda não sei! Mas, a correlação negativa entre competitividade e empreendedorismo me deixou intrigado! Será que essa relação pode ser diferente em países de menor grau de desenvolvimento?

Enquanto fazia esse trabalho braçal, chegou a hora do almoço. Depois do almoço, à tarde tinha uma entrevista com três jovens empreendedoras que criaram uma empresa produtora de cinema e vídeo em Curitiba. Embarco no ônibus Boqueirão-Centro Cívico a caminho do local onde será feita a entrevista. Ao chegar lá, encontro Daniela Torres da Rocha, amiga que foi minha orientanda de mestrado e que, já doutora em Administração, está me ajudando nessa pesquisa. Estou empolgado, pois é a primeira entrevista de um projeto onde quero conhecer sobre a criação e gestão de empresas do campo do cinema. Das trêss empreendedoras, duas foram minhas colegas na Especialização em Cinema que recentemente concluímos na Universidade Tuiuti do Paraná. 

Do pensador quantitativo da manhã, me transformo em alguém que quer conhecer o discurso de três jovens mulheres sobre por que empreender, como empreender, e para que empreender. Uma hora de conversa, sem roteiro pré-estabelecido, a não ser uma diretriz; encontrar respostas sobre as três questões acima colocadas e a percepção delas sobre inovação e sustentabilidade. Termino a entrevista, com uma sensação de satisfação e realização incrivelmente fortes. No ônibus Centenário, a caminho do campus Jardim Botânico, reflito sobre o dia de trabalho. Mais uma vez, me dou conta de que é na navegação constante entre o qualitativo e o quantitativo que conheço o empreendedorismo. Não consigo fazer diferente! Preciso das duas formas de conhecimento! Como já disse e escrevi outras vezes; sou o pesquisador Macunaíma! Pesquisador sem nenhum caráter! Quantidade ou qualidade, não importa, o que importa é tentar conhecer! 

O dia terminará com o Seminário GEM no IBQP a partir das 19 horas. Com a cabeça a mil, a noite promete!

terça-feira, 2 de junho de 2015

Reflexões de um Pedinte Virtual

Terminou há dois dias o período de coleta de contribuições de meu segundo projeto no CATARSE, um site de crowdfunding. Mais uma vez fui bem sucedido. Foram mais de duzentos apoiadores.
Assim como aconteceu em 2013, o projeto foi colocado online com o objetivo de arrecadar recursos que permitam publicar 1.000 exemplares de um livro com textos e poesias. O livro tem três temas: Empreendedorismo, Sustentabilidade e a Vida de Professor. Será entregue aos apoiadores do projeto e demais interessados sem nenhum custo. Não será vendido. 
Ao longo de sessenta dias, vivi a experiência de me transformar em um pedinte virtual. Para isso usei duas redes sociais - Facebook e LinkedIn - e mensagens de correio eletrônico. Era um trabalho diário! Foram algumas dezenas de posts e milhares de mensagens eletrônicas. Mas, a intenção aqui não é falar disso, mas dos sentimentos e emoções vividas nesses dois meses. 
Começo pela ansiedade. Devo ter engordado uns dois quilos, pois foram sessenta dias de muito chocolate! Minha maneira de lidar com a ansiedade. 
Junto da ansiedade, em paralelo, corria a felicidade. A cada dia, algum amigo ou amiga se dava ao trabalho de entrar no site, cadastrar-se, escolher recompensa e forma de pagamento. Mais do que o valor pago, me sentia feliz ao receber, virtualmente, uma manifestação carinhosa de amizade. 
Também, em alguns momentos, senti raiva. O sistema me avisava sobre as contribuições pendentes. Isto significava que alguém havia optado pagar por boleto bancário. Mas, muitas vezes, o nome saía da lista de pendências e não entrava na dos apoiadores. O infeliz ou a infeliz esquecera de pagar o boleto até a data de vencimento! Putz! Você não imagina a raiva que me dava! 
Tive, também, momentos de muito prazer. Esses foram de dois tipos. Me deu muito prazer ver amigos, alunos e colegas replicarem meus posts nas redes sociais, apoiando o projeto e pedindo o apoio de outros. Uma outra forma de prazer, que também era imenso, foi encontrar na lista de apoiadores, nomes de ilustres desconhecidos! Pessoas que acreditaram em alguém que nunca viram fazer-lhes uma promessa. Solidariedade e confiança são as fontes desse prazer. 
Igualmente prazeroso foi ler as mensagens de estímulo, principalmente vindas de ex-alunas e ex-alunos. Por outro lado, as curtidas de meus posts no Facebook e no LinkedIn me causaram sentimentos contraditórios. Ao mesmo tempo que ficava satisfeito com tanta gente curtindo o projeto, ficava frustrado por muitos não darem o segundo passo, ou seja, além de curtir, entrar na página do projeto e fazer uma contribuição. 
Mas, embora isto pudesse me causar algum grau de decepção, houve algo pior. 
Assim como foi em 2013, ao lançar o projeto tinha certeza de que alguns apoios de amigos e amigas estavam garantidos. Não podiam não aparecer! Felizmente, a maioria de minhas expectativas se cumpriram. No entanto, algumas em que botava muita fé, não se materializaram. Isso doeu! É muito provável que não tenham visto nenhuma das mensagens ou posts. Se tivessem visto, não teriam falhado. Outra hipótese que passou por minha cabeça foi a crise econômica que alguns dizem estarmos passando. Mas, não, isso não! Afinal, bastavam quinze reais para ganhar um livro e fazer um amigo feliz. 
Por fim, agora que o projeto foi bem sucedido, é botar mãos a obra e entregar os livros e outras recompensas até meados de julho. O saldo emocional é positivo. Quanto ao excesso de peso, começarei a cuidar disso amanhã. Caminhadas mais intensas e extensas me aguardam! 
Você me pergunta: Será que em 2017 vai ter outro? 
Esta pergunta me faz lembrar do que me falaram muito tempo atrás sobre a gravidez e o parto. Se as mulheres não se esquecessem das dores do parto, jamais repetiriam a experiência. 
Acho que é a mesma coisa. Em dois anos, creio que me esqueci da angústia do primeiro projeto de crowdfunding. Certamente, não foi tão dolorido quanto um parto. Mas, quando vejo o livro pronto sendo lido por alguém, esqueço de quão difícil foi chegar no objetivo. Uma emoção parecida com a de ter uma filha recém nascida nos braços. 
Que minha memória me ajude e me deixe esquecer! Voltamos a conversar em 2017? Quem sabe?