Para todos os que me
ajudaram a estudar empreendedorismo nos últimos 20 anos.
Passei dois dias e meio na UNICAMP participando de um curso
sobre ensino para o empreendedorismo. Conduzido por Shirley Jamieson e Shiba
Barakat da Universidade de Cambridge, o curso teve representantes de várias
agências de inovação de universidades brasileiras e foi organizado pela INOVA
UNICAMP.
Foi uma boa oportunidade de aprendizagem sobre a condução de programas de desenvolvimento de empreendedores. A experiência de Cambridge no tema foi o eixo condutor do curso, mas houve relatos das abordagens dos participantes brasileiros também.
Em determinado momento, um dos participantes mencionou um modelo que contêm três dimensões que explicam o sucesso no empreendedorismo: paixão, habilidades e mercado. Edmundo Inácio Júnior, meu amigo que reencontrei no curso, disse que essa ideia é mencionada por Tina Seelig no livro What I wish I knew when I was 20.
Foi nesse momento que, inspirado por essa ideia, minha atenção focou-se em meu caderno de anotações e minha presença no curso tornou-se apenas um fenômeno físico. Minha mente começou a viajar pelo mundo da imaginação!
Pensei: independente de qual seja o sucesso desejado, o que move empreendedores em direção ao sucesso que almejam?
Comecei a teorizar a partir do modelo citado por Tina Seelig e iniciei minha jornada, à maneira de Mintzberg, para encontrar os 5 Ps do empreendedorismo.
O primeiro P já estava no modelo: Paixão. Não sei o que o modelo diz sobre isso, pois não li o livro de Seelig. Para mim, paixão está relacionada com a dedicação que devotamos a algo ou alguém que nos aproxima da felicidade. A paixão por alguém é, quase sempre, mais gratificante pois pode ser retribuída, mas no empreendedorismo o objeto de desejo é o empreendimento. Sem a paixão, será difícil surgir a apetência para atender as demandas desse objeto do desejo. Que as vezes pode ser um pouco obscuro! (um pouco de surrealismo Buñueliano).
Mas a paixão, embora necessária, não é suficiente. Ela precisa ser guiada por um Propósito, o segundo P. Para que essa paixão? Onde posso chegar com ela ou quero chegar? O propósito se refere à motivação para empreender. Qual é o objetivo do empreendedor?
Mas, não é só isso. Propósito tem a ver também com a razão de existência do empreendimento. O que é oferecido ao mercado, se for uma empresa, ou a sociedade, se for outro tipo de organização. Ou seja, tem a ver com o que chamo posicionamento co-opetitivo no mercado ou sociedade.
O terceiro P está parcialmente incluído no modelo citado por Seelig. Quando se fala de mercado, não se pode esquecer que mercados são Pessoas. É evidente a ligação do propósito com pessoas. Para ser bem sucedido, o empreendimento deve ter uma oferta capaz de atrair pessoas.
No entanto, essa dimensão extrapola esse sentido de ofertar algo desejado por pessoas. O empreendimento, em geral, necessita de outras pessoas para existir: empregados, sócios, fornecedores, parceiros etc. Para cada tipo de público, ha interações que precisam ser estabelecidas. Como convencer fornecedores a proverem as necessidades do empreendimento? Como atrair e manter pessoas trabalhando no empreendimento seja como sócios ou empregados. Como envolver pessoas de outros empreendimentos em parcerias?
Estas e outras questões conduzem para as Práticas, quarto P que imaginei. Empreender requer um saber fazer que é direcionado por três eixos: imaginar uma nova organização, buscar e articular recursos e tecnologias em um modo de operação e estimular e conduzir pessoas visando atingir objetivos. O quarto P se materializa nas Práticas desse saber fazer. Elas podem se manifestar pelo uso de ferramentas de diagnóstico, planejamento e controle ou são ações que surgem na lida cotidiana com as demandas do funcionamento inicial do empreendimento. Em essência, dizem respeito ao exercício de três papéis empreendedores: criador, organizador e condutor. Papéis pelos quais se manifesta o empreendedorismo individual ou coletivamente.
Enfim o quinto P é o Produto. Todo empreendimento se constrói em torno da capacidade de entregar um produto, tangível ou intangível, para a sociedade de forma mais ampla ou mercado, de forma mais estreita. É no Produto que surge o resultado de Paixão, Propósito, Pessoas e Práticas. De novo, tangível ou intangível, é o vir a ser do produto que justifica o ato de empreender. É devido à complexidade desse vir a ser que nossa sociedade precisa de empreendedores e empreendimentos. Se fosse trivial não haveria razão para o empreendedorismo.
Assim, terminou minha jornada em busca dos cinco Ps do empreendedorismo. Cheguei onde minha imaginação pode me levar.
Poderia retornar ao curso com nossas colegas inglesas, mas já está na hora de ir embora! Sobre o que foi a parte final do curso? Não me pergunte. Só meu corpo estava lá!