Há
anos, o empreendedorismo está na moda! Ao digitar essa palavra em um mecanismo
de busca na Internet, em 0,32 segundos, me foram fornecidos mais de quatro
milhões de resultados. O que é ser empreendedor, em mais nove centésimos de
segundo, 0,41s, fornece 4,83 milhões de resultados. Quase um milhão desses
resultados, pouco mais de 20%, são vídeos. Não é preciso muito esforço para
encontrar alguma coisa escrita ou falada sobre empreendedorismo no mundo
virtual.
Dias
atrás, fui procurado por um jovem que buscava orientação sobre como incubar uma
nova empresa. Recém-formado em engenharia, teve uma ideia de um produto que,
aparentemente, não existe no mercado. Pensava em se dedicar a esta iniciativa
imediatamente, buscando um espaço onde pudesse desenvolver esse novo produto.
Durante
nossa conversa, percebi que ele não tinha muita clareza sobre como seu produto
seria. Imaginava que seria um produto útil para empresas, mas que também
poderia servir a pessoas. O produto, segundo ele, questionado por mim, não
envolvia nenhum conhecimento novo em sua área de formação. Era simplesmente a
aplicação de algumas fórmulas de domínio público. Era um produto que poderia
aferir a qualidade de um insumo básico para muitas de nossas atividades.
Mas,
quem estaria disposto a comprá-lo efetivamente? Como ele seria utilizado?
Quanto custaria para ser produzido? Por que ninguém havia feito tal produto
ainda, já que era tão simples? Conforme eu fazia perguntas a esse jovem,
percebia nele uma frustração crescente, uma certa ansiedade, um ar de
perplexidade!
Aos
poucos, ele foi percebendo que empreender não era algo simples. Sugeri que
procurasse um ou mais de seus ex-professores e conversasse com eles sobre o
assunto. Ele manifestou a preocupação com o segredo da ideia, alguém poderia
fazer seu produto antes dele! Lembrei, novamente, de uma das minhas perguntas:
há algum segredo ou conhecimento de difícil acesso? Não, foi a resposta dele.
Procurei
mostrar a ele, que ainda não estava no momento dele incubar uma empresa. Ele
tinha que buscar muito mais informação do que sabia até aquele momento. A
incubação demandaria compromisso de recursos financeiros que seria custoso para
ele arcar. Procurei saber de seus antecedentes: o pai é bancário, a mãe toma
conta da casa, ele estava buscando uma alternativa para sua vida, algo
diferente de ficar se preparando para concurso. Muitos de seus colegas de curso
estão fazendo o mesmo: se preparando para concurso!
Tenho
quase que 100% de certeza de que este jovem saiu decepcionado de nossa
conversa. Meu sentimento foi de irritação com a forma irresponsável com que a
opção de empreender é transmitida aos nossos jovens hoje: a ilusão do
empreendedorismo!
Torne-se
um empreendedor! É o estímulo que estamos dando a nossos jovens. Vejam quantas
histórias de sucesso! Você também pode ser um!
Onde
estamos errando? Essa é a pergunta que me surgiu após esse encontro com esse
jovem. Nossa sociedade, pelos diferentes meios de comunicação, está levando uma
quantidade imensa de jovens a acreditar que serão empreendedores, proprietários
de seu próprio negócio. Mas, ao mesmo tempo, não estamos sendo capazes de criar
as condições para que eles possam ser bem sucedidos como empreendedores. Uma
ideia na cabeça, sem uma câmara na mão, não faz um filme! Uma ideia na cabeça,
sem recursos, não faz uma empresa.
Vai
chegar o dia em que, com um nível adequado de educação, a partir de acesso
igualitário aos recursos necessários, nossos jovens poderão usar seus próprios méritos para ter um diferencial em seus desempenhos?
Queria
tanto acreditar que, mesmo em um futuro distante, pudéssemos ter uma resposta
positiva a essa pergunta. Mas, em nossa sociedade egocêntrica, acho pouco
provável que isso venha a ocorrer. O mais provável é que o acesso a recursos
que viabilizem sonhos empreendedores continue ainda escasso. Enquanto isso,
vamos disseminando esse discurso ilusório, festejando as raras exceções,
escondendo os muito fracassos debaixo do tapete.