quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Inovação no cinema: um tema de estudo para 2015

Para encerrar 2014, retomo um tema que abordei em outro post neste blog: http://3es2ps.blogspot.com.br/2013/02/evolucao-tecnologica-e-empreendedorismo.html. Nos últimos dias, li Cinema: Arte & Indústria, coletânea de textos de Anatol Rosenfeld, organizada por J. Guinsburg e Nanci Fernandes. O livro é composto por textos escrito no começo da década de 50 pelo ex-professor de Estética da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo. Um pequeno relato sobre Rosenfeld encontra-se em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/1/22/mais!/17.html.

Tomei conhecimento do livro de Rosenfeld há dois anos atrás quando comecei uma especialização em Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná. A primeira disciplina foi Cinema e Indústria com o Professor Tom Lisboa. Na época, Tom fez uma referência a este livro como leitura recomendada. De vez em quando, buscava nos sebos de Curitiba um exemplar do livro, mas sem sucesso. No começo desse mês, encontrei em um sebo virtual, fiz a encomenda, e finalmente consegui fazer a leitura.

Os textos de Rosenfeld fazem um apanhado da evolução histórica do campo do cinema, desde sua pré-história, antes de 1895, ano que ficou convencionado como o de nascimento do cinema, até o final da década de 40 do século passado, momento de crise de Hollywood que marca, também, o surgimento das primeiras experiências hollywoodianas com o cinema de relevo ou 3D.

Os organizadores do livro agruparam os textos em quatro partes. Na primeira parte, há apenas um texto no qual Rosenfeld explora a dupla natureza do cinema, primeiro como campo artístico, mas, especialmente como campo econômico, limitador das possibilidades artísticas da sétima arte. A segunda parte apresenta cinco textos históricos em que Rosenfeld descreve e analisa a história do cinema. Em particular, nessa parte, há dois textos em que Rosenfeld comenta sobre aspectos tecnológicos e progressos técnicos e econômicos do campo. Chama a atenção, a descrição que Rosenfeld faz do surgimento do filme sonoro. Também nessa parte, há dois textos que comentam sobre a produção escandinava e a produção americana. Documentos de alto valor histórico. Na terceira parte do livro, os textos de Rosenfeld são sobre aspectos estéticos da nova arte. Por fim, a quarta parte foi denominada Cinema e Inovações, com três textos dedicados à novidade do final da década de 40: os primórdios do cinema em três dimensões, ou como era chamado à época, cinema plástico.

Na opinião de Rosenfeld, mais do que atender requisitos estéticos da nova arte, a adoção do cinema em relevo ou 3d foi uma resposta das produtoras de Hollywood a um momento de crise. Nos final dos anos 40, o cinema via sua popularidade disputada pela televisão e, além disso, Hollywood estava enfrentando a concorrência do cinema europeu, especialmente da França, Itália e Alemanha. Rosenfeld enxergou nessa evolução, uma tentativa de consolidação da dominação do cinema hollywoodiano como força dominante nessa atividade econômica. Segundo ele, a nova tecnologia importava em condições mais custosas de produção e exibição de filmes, o que poderia acarretar o fechamento de muitas produtoras, bem como alteração nas condições de exibição dos filmes.

Veja você, uma leitura que comecei pensando em conhecer um pouco mais a respeito da história do cinema, acabou me inspirando em meu campo de estudo de mais de trinta anos: a Administração.

O cinema está vivendo mais um período de evolução tecnológica. A película está sendo substituída pela filmagem digital o que acarretou mudanças nas salas de exibição. Alguns anos atrás, houve a retomada do cinema em três dimensões com tecnologias muito mais aperfeiçoadas em relação às experiências das décadas de 40 e 50. A diminuição dos custos das tecnologias de filmagem está acarretando mudanças na produção cinematográficas. Ao mesmo tempo, o domínio do cinema de Hollywood se ampliou em relação ao tempo analisado por Rosenfeld. O cinema dos Estados Unidos atinge perto de 80% do público e renda do mercado exibidor brasileiro. Ainda assim, desde 1995 vivemos uma retomada da produção cinematográfica brasileira. Em 2013, atingimos o recorde de 129 filmes brasileiros lançados no mercado exibidor. Em 2014, faltando ainda os dados das duas últimas semanas cinematográficas, o total foi de 111 filmes até agora.

É um contexto que pode ser estudado do ponto de vista da Administração em geral, e mais especificamente, sob a perspectiva da estratégia competitiva e estratégia tecnológica. É o que começo a fazer esse ano, com um projeto de pesquisa sobre configurações de decisões empreendedoras, de inovação e de sustentabilidade em empresas de cinema do Paraná.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil - Parte 5: Pagando uma promessa

No dia 2 passado, ao escrever o segundo post dessa série fiz a seguinte promessa:

"No próximo post, será a vez de relatar os dados do período entre 2005 e 2008, completando uma década de produção. Foram 100 artigos publicados, totalizando 375 textos em 10 anos!"

Mas, nos dois posts seguintes acabei me esquecendo do que havia prometido e me envolvi com uma busca mais aprofundada dos primeiros textos que usaram as palavras empreendedorismo ou empreendedor nos títulos ou em palavras-chaves. Hoje é o dia de pagar a promessa feita. Mas, antes, se você está chegando nessa série por este post, talvez valha a pena ler os posts anteriores. Eis os links:

1) Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil - Parte 1: quem e onde se publica? 
http://3es2ps.blogspot.com.br/2014/11/estudos-sobre-empreendedorismo-no.html

2) Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil - Parte 2: Como estávamos antes da REGEPE
http://3es2ps.blogspot.com.br/2014/12/estudos-sobre-empreendedorismo-no.html

3) Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil - Parte 3: Quando e onde começamos a falar disso no Brasil
http://3es2ps.blogspot.com.br/2014/12/estudos-sobre-empreendedorismo-no_4.html

4) Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil - Parte 4: Empreendedor ou empresário
http://3es2ps.blogspot.com.br/2014/12/estudos-sobre-empreendedorismo-no_5.html

Então vem comigo. O que será ques os anos de 2005 a 2008 nos revelam. Para continuar a comparação com os dois períodos anteriores (2009-2011; 2012-2014), vou me restringir aos textos que continham a palavra empreendedorismo no título ou palavra-chave. No próximo ano, farei uma atualização com o levantamento completo incluindo a palavra empreendedor no título ou em palavra-chave. 

Epa! Mais uma promessa para você leitora ou leitor. Isto está quase virando uma novela! Tem até teaser para os próximos capítulos!

Mas, a inclusão da busca por empreendedor no título dos artigos e nas palavras-chaves é importante. Segundo um breve levantamento que fiz, por exemplo, o número de artigos entre 2009 e 2011 passa para 155, enquanto que no levantamento usando apenas empreendedorismo foram encontrados 120 textos, uma diferença de mais 35 trabalhos que pode refletir na participação proporcional de autores e periódicos nessa produção.

Os cem artigos localizados entre 2005 e 2008 foram produzidos por 199 pesquisadores, sendo que 80 trabalhos tiveram dois ou três autores. Quanto ao número de periódicos presentes nessa produção chegou-se ao total de 38. Quatorze periódicos representaram 67% dos trabalhos publicados. A Revista de Negócios, a REAd e a Revista da Micro e Pequena Empresa foram os periódicos com maior número de artigos publicados entre 2005 e 2008.

Nesses quatro anos, apenas oito pesquisadores publicaram três artigos. Entre esses, cinco são mulheres e três homens. A participação feminina entre os pesquisadores mais produtivos foi, de novo, maior do que a masculina. Os dados estão na tabela abaixo:

Autor
Artigos
Amelia Silveira
3
Ana Silvia Rocha Ipiranga
3
Eda Castro Lucas de Souza
3
Fernando Antonio Prado Gimenez
3
Fernando Gomes de Paiva Júnior
3
Francisco Sávio de Oliveira Barros
3
Hilka Pelizza Vier Machado
3
Marianne Hoeltgebaum
3
Periódico
Artigos
Revista de Negócios
11
REAd
7
Revista da Micro e Pequena Empresa
7
Organizações em Contexto
5
Revista de Administração Contemporânea
5
Revista de Administração Mackenzie
5
Revista Alcance
4
Revista Capital Científico
4
Revista de Ciências da Administração
4
Cadernos EBAPE.Br
3
RAP
3
Revista de Administração da UNIMEP
3
Revista Eletrônica de Ciência Administrativa
3
Revista Gestão & Tecnologia
3

Por fim, apresento o retrato provisório da produção brasileira sobre empreendedorismo na última década. Tenho certeza que você esperava ver isso ao final desse post!

O resultado foi o seguinte. Nove periódicos publicaram pelo menos um artigo sobre empreendedorismo ao ano. Estes foram responsáveis por quase 40% da publicação total. As Revistas de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, da Micro e Pequena Empresa e de Negócios são os três periódicos que mais se destacam nessa produção.

Periódico
Artigos
Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas
27
Revista da Micro e Pequena Empresa
23
Revista de Negócios
21
Revista de Administração Contemporânea
18
Revista de Ciências da Administração
14
Cadernos EBAPE.BR
11
Revista de Administração e Inovação
11
Revista de Administração Mackenzie
11
Revista Pensamento Contemporâneo em Administração
10

Quanto aos pesquisadores,  a tabela abaixo apresenta os dez pesquisadores com maior produção. Domínio absoluto das pesquisadoras, com apenas dois pesquisadores que por coincidência se chamam Fernando.

Autor
Artigos
Hilka Pelizza Vier Machado
17
Rivanda Meira Teixeira
13
Fernando Gomes de Paiva Jr
8
Amelia Silveira
6
Candido Borges
6
Fernando Antonio Prado Gimenez
6
Mariane Hoeltgebaum
6
Cristina Dal Prá Martens
4
Gláucia Maria Vasconcellos Vale
4
Vânia Maria Jorge Nassif
4

A partir do ano que vem, aguarde a nova temporada da série "Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil". 

domingo, 7 de dezembro de 2014

A cobradora de ônibus, o guia cego, a jovem estudante de cinema e o empreendedorismo: como eles se encaixam?

Entre as 13 horas da última quarta-feira e as 17 horas de hoje, vivenciei duas situações inusitadas que me fizeram refletir sobre como construímos nossa visão de mundo. Na literatura sobre empreendedorismo, encontram-se muitos estudos que procuram explicar as formas como esse fenômeno ocorre buscando explicações nos modelos mentais que homens e mulheres utilizam em momentos de decisão empreendedora.
Um dos aspectos que é frequentemente tratado diz respeito à existência de modelos que guiam as escolhas feitas por empreendedoras e empreendedores nos momentos iniciais da criação de um empreendimento. Ora, a existência de alguém que serve de guia sobre como agir durante o processo empreendedor nada mais é do que um modelo mental que as pessoas desenvolvem, ao longo de sua vida, sobre o que significa ser empreendedor.
São muitos os possíveis modelos que são citados em pesquisas com empreendedores. As figuras maternas e paternas, quando empreendedoras, costumam estar entre os mais citados. Modelos podem ser construídos, também, a partir do convívio com outros empreendedores, muitas vezes em uma relação de emprego. Outros são pessoas que são apresentadas na mídia de negócios como empresários bem sucedidos. Relações de amizade são fonte de inspiração para modos de agir empreendedores. Na verdade, os indivíduos que são citados em levantamentos com homens e mulheres que criaram empresas ou outras organizações são tão diversificados quantos são os papéis que pessoas podem exercer em nossa vida.
Isso implica, na minha percepção, que ao invés de elencarmos quais são os possíveis modelos, seria mais útil tentar entender por que praticamente todos aqueles que empreenderam reconhecem a existência de referências empreendedoras em seus modelos mentais.  A busca desse porquê deve nos revelar, é minha hipótese, que os modelos são percebidos como indicadores de escolhas bem sucedidas e a imitação de seus passos causa uma sensação de maior segurança ou menor incerteza para aqueles que empreendem.
Uma situação interessante é quando alguém nos aponta um modelo negativo ou um antimodelo. Isto é, uma referência que é tida como o oposto daquilo que a empreendedora ou empreendedor pensa que deva ser a forma mais correta de agir. De qualquer forma, o antimodelo não deixa de ser uma referência que guia decisões no processo empreendedor.
Por outro lado, obviamente, seja um modelo ou um antimodelo, os dois são fontes limitadas de orientações, pois a complexidade do processo empreendedor impede sua emulação integral, assim como a impossibilidade de alguém conhecer toda a trajetória empreendedora de seu modelo acarreta momentos de decisão em que não há como se inspirar nos modelos. Aliás, você há de convir comigo, se o processo empreendedor fosse apenas uma questão de imitação seria muito chato!
Mas, de qualquer forma meu caro leitor, os modelos existem, e são parte do modelo mental mais amplo de empreendedores e empreendedoras. E, ainda mais, é prática comum na literatura mais prescritiva e nos programas de fomento ao empreendedorismo a utilização de empreendedores mais experientes como tutores de empreendedores iniciantes que dão sugestões de como os noviços devem se posicionar em suas escolhas empreendedoras. Essa prática faz sentido porque temos a crença de que muitas situações no processo empreendedor se repetem nas diversas trajetórias empreendedoras e ao sugerir a adoção de tutores a literatura reforça essa noção de que modelos são relevantes no processo empreendedor. A vantagem é que com tutores o modelo ganha voz. É possível dialogar com um tutor ao passo que com um modelo abstrato as decisões são guiadas por uma percepção ou imaginação de como o modelo agiria em cada situação.
Nessa altura do texto, é quase visível algo que deve estar na sua mente minha cara leitora e meu prezado leitor. E não é um modelo mental! É uma pergunta:
_ Mas afinal Fernando, quais foram as duas situações que você vivenciou entre as 13 horas da última quarta-feira e as 17 horas de hoje? E o que elas tem a ver com essa lenga-lenga sobre modelos, antiimodelos e tutores empreendedores?
Calma, já vou falar disso!
Na verdade, o que me aconteceu, foi que essas duas situações me levaram a questionar a utilidade de tentarmos entender o papel de modelos mentais que são referência para empreendedoras e empreendedores. Se você pensar bem, talvez concorde mais uma vez comigo, espero não estar pedindo muito de você. Mas, indo direto ao ponto, depois do que vivi nessas situações separadas por um período de 100 horas, cheguei a conclusão que a necessidade de referências que nos guiem, fazem parte de toda nossa existência. Não há utilidade nenhuma em investigarmos a existência e o papel que modelos exercem no processo empreendedor. Se na nossa vida sempre precisamos de modelos, essas referências não nos ajudam a esclarecer o empreendedorismo em particular. Energia desnecessária sendo gasta em pergunta de pesquisa irrelevante!
Antes que você se irrite ainda mais, vamos às situações. Na quarta-feira passada precisei descobrir como chegar de ônibus até próximo do estádio do Atlético tendo como ponto de partida a estação tubo em frente ao Museu Oscar Niemeyer. Poderia ter perguntado ao google, mas entrei na estação tubo e perguntei à cobradora, que em meu modelo mental, era e melhor pessoa para me guiar. Ela não soube me dizer! Mas, para minha sorte, estava na estação tubo um passageiro cego que me disse:
_ Desça na estação Comendador Franco, peque o Santa Cândida Pinheirinho e vá até a estação Água Verde. É o mais próximo que você pode chegar sem pagar outra passagem de ônibus.
Fui guiado por um cego! Legal, né? O cego conhecia mais dos trajetos do que uma cobradora aparentemente bem dotada de visão. O que aprendi com isso? Algumas vezes, nosso modelo de referência pode ser inútil! Em sua trajetória de vida pode não ter passado pela experiência na qual precisamos de orientação. Tenho certeza que muitas empreendedoras e muitos empreendedores já enfrentaram situação semelhante: o modelo falhou! Espero que tenham encontrado um cego com conhecimento para ajuda-las ou orientá-los.
A outra situação me sugeriu a suspeita de que modelos e referências podem ser onipresentes em nossa vida. Ou seja, sempre há referências que assumimos como modelos dos quais tentamos nos aproximar por meio da imitação de seus atos. Como cheguei a essa conclusão? Por meio de uma pergunta que me fez uma jovem estudante de cinema hoje à tarde.
Entre 15 e 17 horas de hoje, dei uma palestra para um grupo de jovens que estão participando de um programa que os está capacitando para atuação na produção de audiovisual. Falei sobre Economia Criativa, Sustentabilidade, Cinema e Empreendedorismo. Foi uma experiência ímpar para mim, pois foi a primeira vez que falei sobre Cinema, este campo de atividade para o qual aos poucos vou me direcionando. Ao final da palestra, quando estávamos conversando e trocando impressões sobre o mundo do cinema e as possibilidades de empreender no setor de audiovisual, Camila me fez uma pergunta:
_ Fernando, quais são suas referências? Na música, na literatura, no cinema?
Veja você, foi a primeira vez que alguém me pergunta sobre minhas referências e não se referia ao campo da Administração. De repente, com essa pergunta, percebi que há modelos na minha mente que não têm nada a ver com empreendedorismo e gestão de pequenas empresas. Não sei se você é capaz de imaginar o quanto essa pergunta da jovem Camila me fez bem! Poder falar de referências que não eram Mintzberg, Schumpeter, Miles e Snow, Filion, entre outros. De repente, lá estava eu falando de Jornada nas Estrelas, Chico Buarque, Dalton Trevisan, Kubrick, Buñuel, Vinicius de Moraes, Domingos Pellegrini. Machado de Assis, ...
Há modelos em minha mente que não têm nada a ver com a forma com que lido com o processo de pesquisa em empreendedorismo e gestão de pequenas empresas. Deve haver outros! É só alguém fazer a pergunta certa!
Mas, se modelos fazem parte de todas as facetas de minha vida, eles devem fazer parte de todas as facetas da vidas de homens e mulheres que empreendem. Não é nada peculiar dos empreendedores! Assim, o ganho de conhecimento que essa informação pode nos trazer é muito pequeno! Deve haver outras perguntas melhores a serem feitas para que compreendamos mais sobre o processo empreendedor.
Enfim, essa história ficou mais longa do que eu esperava. No entato, consegui fazer algo que estava na minha cabeça desde quarta-feira: tenho que usar a situação do guia cego em algum texto sobre empreendedorismo.
Graças à pergunta da Camila, as coisas se encaixaram, e a vida mais uma vez fez sentido!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil - Parte 4: Empreendedor ou empresário

Ontem quando escrevi sobre as provavéis origens do uso do termo empreendedor em artigos brasileiros da área de Administração, posso ter dado a impressão de que antes de 1988 esta questão não era tratada na literatura brasileira de nosso campo de estudo.

Logo depois que publiquei o post 3 dessa série, lembrei-me de um texto do Professor Bresser Pereira que tinha lido alguns anos atrás no qual ele tecia comentários sobre a relação entre o desenvolvimento econômico e o empresário. É uma das referênncias mais antigas que já encontrei nos periódicos acadêmicos/científicos brasileiros. Neste texto, o autor aborda as ideias seminais de Schumpeter a respeito da função econômica do empreendedor e sua relação com as formas de inovação. O artigo é de 1962 e foi publicado no número 4 do volume 2 da Revista de Administração de Empresas da FGV. Vale a pena conferir o que escreveu Bresser Pereira à época em que se usava a palavra empresário para denominar o que chamamos hoje de empreendedor: http://rae.fgv.br/rae/vol2-num4-1962/desenvolvimento-economico-empresario.

Aliás esse artigo foi republicado pela mesma revista 30 anos depois (http://rae.fgv.br/rae/vol32-num3-1992/desenvolvimento-economico-empresario)

Por hoje, é só! Como disse ontem, a qualquer momento outras informações nesse mesmo canal. Mantenha-se ligado.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil - Parte 3: Quando e onde começamos a falar disso no Brasil

Você que está me acompanhando nesse blog, deve ter percebido que eu devo ter sido infectado por algum tipo de vírus. Depois que publiquei a parte 1 dessa série, sinto uma quase compulsão, ou será obsessão, em todo dia tentar descobrir alguma coisa nova sobre a literatura de empreendedorismo no Brasil

Pois é! Veja só o que acabei descobrindo agorá há pouco. Continuei usando a base do SPELL (www.spell.org.br) para descobrir o que se publicou no Brasil sobre emprendedorismo. Havia parado em 2006. Hoje, fui fazendo busca, ano a ano, até chegar em 2000. O critério de busca se tornou um pouco mais completo. Busquei os termos empreendedor ou empreendedorismo em títulos dos artigos ou palavras-chave. Em 2001, achei apenas dois artigos! Isso ativou o virus da curiosidade em mim: quando será que começamos a escrever sobre empreendedorismo no Brasil?

Tentei uma nova busca, ainda no SPELL, para o período entre 1990 e 2000. Você quer saber o resultado? Clalo que sim, né? Se chegou até este ponto da leitura, o virus da curiosidade deve estar ativado em você também! No SPELL estão registrados apenas 12 artigos nesses onze anos.

Fui atrás de mais. Sou meio insaciável com essas coisas! Será que teve alguma publicação entre 1970 e 1990? A resposta do SPEL foi: NADA! Fiquei desconfiado! Estou chegando na origem? Como último recurso, resolvi fazer uma busca diretamente no site das três revistas de administração que devem ser as mais antigas no Brasil: Revista de Administração da USP; Revista de Administração de Empresas; e Revista de Administração Pública. 

Sabe o que aconteceu? Entre 1970 e 1990, não encontrei nada nas três revistas. Entre 1991 e 2000, surgiram mais três textos que utilizaram uma das duas palavra. Assim, até onde eu pude encontrar, a discussão acadêmica e científica sobre empreendedorismono Brasil ainda não completou quatro décadas. Eis a relação do que encontrei de textos publicados antes de 1990:

1) Resenha do livro de Peter Drucker Inovação e Espírito Empreendedor – Práticas e Princípios, feita por Cleber Aquino e publicada em 1987 na Revista de Administração Pública.

2) Artigo Notas para o Estudo do Processo e das Relações de Trabalho  de autoria de Reynaldo Maia Muniz publicado na Revista de Administração de Empresas, volume 28, número 1, em 1988.

3) Um comentário de Marcelo Alceu Amoroso Lima entitulado Um Breve Relato da 1988 Babson College Entrepreneurship Research Conference publicado na Revista de Administração de Empresas, volume 28, número 4, em 1988.

Aguarde os próximos capítulos, a qualquer momento nesse mesmo canal. Obrigado por sua audiência!


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Estudos sobre Empreendedorismo no Brasil - Parte 2: Como estávamos antes da REGEPE

Hoje continuei a trabalhar com os dados do levantamento feito no SPELL (www.spell.org.br) sobre a produção brasileira no campo do empreendedorismo. Dessa vez os dados foram referentes ao periódo compreendido entre 2009 e 2011, o triênio imediatamente anterior à criação da REGEPE.

Nesses três anos, a quantidade de artigos publicados foi um pouco menor, 120 textos em 47 periódicos. O crescimento na produção entre os dois períodos ficou próximo de 30%. Onze periódicos foram responsáveis por pouco mais da metade dessa produção, com destaque para a Revista da Micro e Pequena Empresa e a Revista de Administração e Inovação. Dezessete revistas publicaram pelo menos um artigo por ano no período, totalizando dois terços dos textos publicados entre 2009 e 2011. Este número coincide com o encontrado no período mais recente. Todavia, nenhum periódico assumiu uma posição tão destacada quanto foi a REGEPE entre 2010 e 2014.

Periódico
Artigos
Revista da Micro e Pequena Empresa
10
Revista de Administração e Inovação
8
Revista de Administração Contemporânea
6
Revista de Administração Mackenzie
6
Revista de Negócios
6
Cadernos EBAPE.BR
5
Revista Gestão Organizacional
5
Gestão & Regionalidade
4
Revista Brasileira de Estratégia
4
Revista Gestão e Planejamento
4
Turismo Visão e Ação
4
Rev. Adm. UFSM
3
Revista de Administração da UNIMEP
3
Revista de Administração de Empresas
3
Revista de Ciências da Administração
3
Revista Eletrônica de Gestão Organizacional
3
Revista Ibero-Americana de Estratégia
3

O número de pesquisadores que conseguiram publicar pelo menos três artigos no período foi menor do que no triênio mais recente. Entre 2009 e 2011, apenas 10 pesquisadores conseguiram esse feito. Em conjunto, a produção desses pesquisadores representou 32% do total. De novo entre as cinco pesquisadoras mais produtivas do período, encontra-se apenas um pesquisador,

Nome
Artigos
Hilka Vier Machado
8
Rivanda Meira Teixeira
6
Fernando Gomes de Paiva Jr
5
Vânia Maria Jorge Nassif
4
Amelia Silveira
3
Emerson Antonio Maccari
3
Mariane Hoeltgebaum
3
Norma Pimenta Cirilo Ducci
3
Paulo da Cruz Freire dos Santos
3

Um destaque devo fazer para as minhas amigas Hilka Machado e Rivanda Teixeira: nos seis anos de produção, as duas pesquisadoras estão com 14 e 13 artigos, respectivamente. Altamente produtivas! 

Por fim, nesse período encontrou-se o mesmo padrão em termos de produção coletiva em nosso campo de estudos. 63% dos textos foram escritos por  dois ou três autores, enquanto que quase 18% dos trabalhos tiveram quatro autores. Autorias individuais foram apenas 12 textos.

Com esse post meu caro leitor, o retrato da produção brasileira sobre empreendedorismo vai se formando. No próximo post, será a vez de relatar os dados do periódo entre 2005 e 2008, completando uma década de produção. Foram 100 artigos publicados, totalizando 375 textos em 10 anos!