Há dias
estou com uma ideia na cabeça. Ao ouvir uma frase dita por uma
personagem de seriado na televisão brasileira que dissera fazer algo
por prazer e não por necessidade, imediatamente lembrei-me da
oposição necessidade x oportunidade no empreendedorismo. Foi o
momento da inspiração em que surgiu a possibilidade de juntar
empreendedorismo com prazer. Mas, não avancei na ideia naquele
momento.
Ontem ao
final da tarde, fui ao Café da Praia na Prainha em São Francisco do
Sul. Passando alguns dias de férias na companhia de Sara, sua mãe,
Dona Aparecida, e suas irmãs, Nezilda e Marinelva, saímos em busca
de um café e nos dirigimos à Prainha. Já havíamos visto o Café
da Praia outro dia pela manhã, quando estava fechado. Decidimos
experimentar o lugar.
O Café
da Praia fica em um conjunto de pequenos empreendimentos em uma
esquina. De um lado, há um restaurante especializado em tacos,
nachos e burritos. No outro, uma loja de artesanatos. Depois de nos
acomodarmos, esperamos algum tempo pelo nosso pedido. Houve uma certa
demora na elaboração dele, mas em férias, ninguém tem pressa.
Depois de algum tempo, minhas companheiras de viagem resolveram
entrar na loja de artesanato. Eu fui pagar a conta. Depois caminhei
um pouco pela pequena orla da Prainha. Sabia que a visista à loja de
artesanato não seria de curta duração!
Como o
movimento estava mais tranquilo, ao pagar a conta, perguntei a
Fernanda desde quando o Café da Praia existia. Fernanda é uma das
proprietárias e minutos antes estivera em nossa mesa perguntando
sobre como tinha sido a experiência de consumo. Em especial, queria
saber se havíamos apreciado o Café da Casa, uma criação dela
feita com um tipo de café originário de Minas Gerais, com creme,
canela e temperado, também, com cardamomo. Se apresentou e pediu
desculpas pela demora. Em uma breve conversa com ela e o companheiro,
cujo nome não guardei, descobri que o Café da Praia foi aberto em
18 de dezembro passado. Portanto, ainda não tem um mês de
existência.
A ideia
surgiu a partir da prática de Fernanda e seus familiares de fazerem
tortas, salgados e doces que os amigos gostam muito. Em um mês, os
dois e mais uma sócia aproveitaram a disponibilidade do espaço para
alugar e resolveram criar o Café da Praia. Os dois são formados na
área da Bilogia. Ela tem mestrado e ele doutorado em Oceanografia. A
terceira sócia não conheci. Ao indagar sobre a continuidade das
atividades no campo da biologia, ele me respondeu que Fernanda se
dedicará integralmente ao Café da Praia junto com a outra sócia
que não conheci, enquanto que ele manterá suas atividades
profissionais.
Para quem
estuda empreendedorismo, esta é uma história comum. Alguém que
sabe fazer algo muito bem, resolve ofertar os resultados de sua
prática em alguma forma de empreendimento. Mas, nessa breve conversa
que tive com esses jovens empreendedores, uma frase de Fernanda me
fez pensar na questão do prazer no empreender. Ao final da conversa,
ela disse, não exatamente com essas palavras, algo assim:
_ Nós
não colocamos muitas mesas no espaço externo, pois sabemos que
ainda temos uma capacidade de atendimento limitada. Gosto de passar
pelas mesas e conversar com os clientes.
Essa
frase junto com a maneira com que Fernanda nos abordou em nossa mesa
e a descrição que fez do Café da Casa, curiosa em saber nossa
reação, me dizem que há no empreender um sexto P que não me
ocorreu quando escrevei, neste mesmo Blog, o post sobre os Cinco Ps
do Empreendedorismo. Estes passam agora a ser seis.
Na
prática do empreendedorismo há uma fruição do prazer que se
origina de muitas possibilidades. Entre elas, há sem dúvida, o
prazer de fazer algo de que se gosta e que agrada a outras pessoas.
Outra forma de prazer tem a ver com a noção de que a pessoa que
empreende é motivada pelos resultados que obtém. Como bem disse
McClelland, resultado não é apenas uma questão de dinheiro, embora
esta seja a forma mais objetiva de mensurar resultados em um
empreendimento comercial. Fernanda, ao buscar nossa impressão,
estava na verdade em busca da confirmação de que o que fizera com
prazer proporcionara prazer a outros. Se pensarmos bem, esta é uma
das motivações principais que levam as pessoas a empreenderem. Em
muitas conversas com mulheres e homens que empreendem observo a
satisfação com que falam sobre seus empreendimentos. Ora, para mim,
satisfação é uma decorrência do prazer. Não se fica satisfeito
se não existe o prazer.
Concorda
comigo?
De
qualquer forma, concordando ou não, se algum dia passar pela Prainha
em São Francisco do Sul, não deixe de conhecer o Café da Praia e
saborear o Café da Casa. Caso queira conhecer virtualmente o Café
da Praia veja a página deles no Facebook
(
https://www.facebook.com/cafedapraiaprainha).
Saboreie o café, aprecie a paisagem e reflita. Sobre o que quiser,
até mesmo sobre o prazer no empreender, o sexto P do
empreendedorismo.