A Endeavor
Brasil, desde 2014, tem realizado pesquisas sobre a situação dos ecossistemas
empreendedores em nível municipal que integram uma série de publicações sobre o
Índice de Cidades Empreendedoras. No primeiro ano do estudo, foram pesquisadas
14 capitais brasileiras. Em 2015, este número subiu para 32 cidades brasileiras,
entre as quais 22 capitais. Estas cidades e capitais se mantiveram nos
relatórios de 2016 e 2017. Enfim, três anos depois, a pesquisa de 2020 atingiu as
100 cidades brasileiras com maior população e foi feita em parceria com a Escola
Nacional de Administração Pública (Enap).
O Índice
de Cidades Empreendedoras pretende indicar quais as cidades que têm um ambiente
mais adequado para o desenvolvimento do ecossistema empreendedor. Baseado em sete
pilares, ou determinantes, além de ranquear as cidades investigadas, ele permite
entender pontos fortes e pontos fracos de cada ecossistema empreendedor. Suas
informações e análise podem ser uteis tanto para os formuladores de políticas
públicas de empreendedorismo quanto para empreendedores atuais ou potenciais. Para
os primeiros aponta os pilares que demanda atenção e esforços de melhorias. Já
para os últimos permite o conhecimento de oportunidades para empreender em
ecossistemas empreendedores mais favoráveis. Os pilares que compõem o Índice de
Cidades Empreendedoras estão descritos no quadro 1.
Quadro
1:
Pilares ou determinantes do Índice de Cidades Empreendedoras
Pilar |
Indicadores |
Variáveis |
Ambiente
regulatório |
Tempo
de processos |
Tempo
de viabilidade de localização |
Tempo
de registro, cadastro e viabilidade
de nome |
||
Taxa de
congestionamento em
tribunais |
||
Tributação |
Alíquota
interna do ICMS |
|
Alíquota
interna do IPTU |
||
Alíquota
interna do ISS |
||
Qualidade
da gestão fiscal |
||
Complexidade
burocrática |
Simplicidade
tributária |
|
CNDs
municipais |
||
Atualização
de zoneamento |
||
Infraestrutura |
Transporte
interurbano |
Conectividade
via rodovias |
Número
de decolagens por ano |
||
Distância
ao porto mais próximo |
||
Condições
urbanas |
Acesso
à internet rápida |
|
Preço
médio do m2 |
||
Custo
da energia elétrica |
||
Taxa de
homicídios |
||
Mercado |
Desenvolvimento
econômico |
Índice
de desenvolvimento Humano |
Crescimento
médio real do PIB |
||
Número
de empresas exportadoras com
sede na cidade |
||
Clientes
potenciais |
PIB per
capita |
|
Proporção
entre grandes/médias e médias/pequenas
empresas |
||
Compras
públicas |
||
Acesso
a capital |
Capital
disponível |
Operações
de crédito por município |
Proporção
relativa de capital de risco |
||
Capital
poupado per capita |
||
Inovação |
Inputs |
Proporção
de mestres e doutores em C&T |
Média
de investimentos do BNDES e da Finep |
||
Infraestrutura
tecnológica |
||
Patentes |
||
Tamanho
da economia criativa |
||
Outputs |
Proporção
de funcionários em C&T |
|
Contratos
de concessão |
||
Tamanho
da indústria inovadora |
||
Tamanho
das empresas TIC |
||
Capital
humano |
Acesso
e qualidade da mão de obra básica |
Nota do
Ideb |
Proporção
de adultos com pelo menos o ensino médio completo |
||
Taxa
líquida de matrícula no ensino médio
|
||
Proporção
de adultos com pelo menos o ensino superior completo |
||
Proporção
de alunos concluintes em cursos de alta qualidade |
||
Acesso
e qualidade da mão de obra qualificada |
Nota média
no Enem |
|
Proporção
de matriculados no ensino técnico e profissionalizante |
||
Custo
médio de salários de dirigentes |
||
Cultura |
Imagem
do empreendedorismo |
Satisfação
em empreender |
Probabilidade
de abertura de negócios dados oportunidade e recursos |
||
Facilidade
pessoal para abertura e manutenção
de negócios |
||
Conhecimento
de riscos na abertura de novos negócios |
||
Pesquisas
sobre empreendedorismo |
||
Apoio
familiar ao empreendedorismo |
||
Conhecimento
sobre processos de abertura de negócios |
||
Grau de
esforço para se tornar empreendedor |
Fonte: Elaborado
pelo autor com base em Endeavor (2021)
A partir
dos dados coletados para cada uma das variáveis, as cidades foram ranqueadas no
computo geral e, também, para cada um dos determinantes. No quadro 2, estão
listadas as dez cidades com melhor ranqueamento no índice geral e nos sete
pilares individualmente.
Quadro
2:
Cidades de melhor desempenho no Índice das Cidades Empreendedoras e nos pilares
Indicador |
Cidades |
São Paulo; Florianópolis; Osasco; Vitória Brasília; São José dos Campos; São
Bernardo do Campo; Jundiaí; Porto Alegre; Rio de Janeiro |
|
Macapá;
Vitória; São Gonçalo; São Paulo; Boa Vista; Campos dos
Goytacazes; Niterói; Praia Grande; Rio de Janeiro; Belford Roxo |
|
São Paulo; Recife; Limeira; São Bernardo do Campo; Franca; Jundiaí;
Santos; Guarulhos; Mogi das Cruzes; Brasília |
|
Jundiaí; Canoas; Brasília;
São José dos Campos; Mauá; Diadema; São Paulo; Camaçari; Osasco;
Campinas |
|
São Paulo; Osasco; Porto Alegre; Rio de Janeiro;
Belo Horizonte; Florianópolis; Curitiba; Vitória;
Brasília; Vila Velha |
|
Inovação |
Florianópolis; Caxias do Sul; Campinas;
Joinville; Limeira; Curitiba; São Bernardo do Campo;
Porto Alegre; São José dos Campos; Niterói |
Capital
humano |
Florianópolis; Vitória; Niterói;
Juiz de Fora; Palmas; Santa Maria; Curitiba; Jundiaí;
Belo Horizonte; Vila Velha |
Cultura |
Porto Velho; Manaus; Rio
Branco; Maceió; Recife; Caruaru; Jaboatão dos Guararapes; Olinda; Paulista; Petrolina |
Fonte:
Elaborado pelo autor com base em Endeavor (2021).
Observação:
Os dez ecossistemas empreendedores de melhor desempenho no índice geral estão
assinalados em negrito nos pilares em que também se destacaram
Pelas
informações que constam no quadro 16, pode-se perceber que os ecossistemas
empreendedores municipais apresentam muita heterogeneidade. Em primeiro lugar,
os pilares que mais contribuíram para um melhor desempenho dos dez primeiros
não foram muito numerosos. O pilar do acesso a capital é que contou com
maior número das dez cidades de melhor índice geral, também nele mais bem posicionadas.
Foram sete cidades, pela ordem de posicionamento no pilar: São Paulo; Osasco;
Porto Alegre; Rio de Janeiro; Florianópolis; Vitória; e Brasília.
Outro
pilar contou com cinco dos dez melhores ecossistemas empreendedores bem
ranqueados. Foi o pilar de mercado, que contou com a participação de: Jundiaí,
Brasília, São José dos Campos, São Paulo e Osasco. Aliás, neste pilar das dez
cidades mais bem colocadas, sete são do estado de São Paulo, o maior mercado do
Brasil.
Outros
dois pilares - infraestrutura e inovação - tiveram a presença de
quatro dos dez melhores ecossistemas empreendedores entre os de melhor desempenho
nestas dimensões. O pilar de infraestrutura incluiu São Paulo, São Bernardo
do Campo, Jundiaí e Brasília. Também na dimensão da infraestrutura, o estado de
São Paulo teve a maiorias dos melhores ecossistemas, ou seja, oito entre dez municípios.
São Paulo é reconhecido como o estado de melhor infraestrutura de transportes e
comunicação no país. O pilar de inovação, por sua vez, contou com a presença
de Florianópolis, São Bernardo do Campo, Porto Alegre e São José dos Campos.
Por fim, na
análise dos municípios presentes em cada pilar, o de cultura teve um
perfil muito diferente dos demais. Nenhum dos dez melhores ecossistemas empreendedores
se destacou neste pilar. Aliás, este pilar contou com a presença, entre os dez
melhores, de cidades apenas do norte (Porto Velho (RO); Manaus (AM); e Rio
Branco (AC)) e nordeste (Maceió em Alagoas; e Recife, Caruaru, Jaboatão dos
Guararapes, Olinda, Paulista e Petrolina em Pernambuco).
Outra forma de heterogeneidade se relaciona
aos pontos fortes de cada ecossistema empreendedor. Assim, São Paulo que
assumiu a primeira posição no índice geral, quando se analisa a presença nos
sete pilares, vê-se que a cidade esteve entre as dez melhores em apenas quatro
(ambiente regulatório; infraestrutura; mercado; e acesso a capital).
Florianópolis,
por sua vez, segunda classificada no índice geral, esteve entre os dez melhores
ecossistemas empreendedores em apenas três pilares (acesso a capital; inovação;
e capital humano).
Osasco,
município da região da Grande São Paulo, foi o terceiro colocado no índice
geral, mas esteve apenas entre os dez melhores nos pilares de mercado e acesso
a capital.
Vitória e
Brasília que ocuparam respectivamente, a quarta e quinta posições, também se
destacaram entre os dez melhores em apenas três pilares cada um. Vitória se posicionou
bem em ambiente regulatório, acesso a capital e capital humano, enquanto Brasília
foi bem ranqueada em Infraestrutura, mercado e acesso a capital
Dos cinco
municípios restantes que estiveram entre os dez melhores, São José do Campos,
na sexta posição, teve bom desempenho em mercado e inovação. A seguir, São
Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, teve destaque em infraestrutura e
inovação. Na oitava posição ficou Jundiaí, no estado de São Paulo, com bom
posicionamento em infraestrutura, mercado e capital humano. Porto Alegre e Rio
de Janeiro, ficaram nas duas últimas posições, com a primeira se destacando em
acesso a capital e inovação, e o último em ambiente regulatório e acesso a
capital.
Curitiba
e Niterói, que ficaram na classificação do índice geral em 11º. E 15º.,
respectivamente, tiveram destaque em três pilares cada uma. A capital paranaense foi bem-posicionada em acesso
a capital, inovação e capital humano, enquanto Niterói se destacou em ambiente
regulatório, inovação e capital humano.
Mais
cinco cidades desempenharam bem em dois pilares: Belo Horizonte (14º.); Campinas (12º); Limeira
(13º.); Recife (37º.) e Vila Velha (34º.). Belford Roxo. Boa Vista, Camaçari, Campos
dos Goytacazes, Canoas, Caruaru, Caxias do Sul, Diadema, Franca, Guarulhos, Jaboatão
dos Guararapes, Joinville, Juiz de Fora, Macapá, Maceió, Manaus, Mauá, Mogi das
Cruzes, Olinda, Palmas, Paulista, Petrolina, Porto Velho, Praia Grande, Rio
Branco, Santa Maria, Santos e São Gonçalo foram a 28 cidades que se destacaram
em apenas um dos pilares do índice geral de cidades empreendedoras.
Estes
dados trazem um panorama interessante e heterogêneo das 100 maiores cidades em
termos de população no Brasil. Outras análises podem ser feitas. Aguarde!
Referência
ENDEAVOR/ENAP Índice de cidades empreendedoras Brasil 2020, Disponível em https://endeavor.org.br/ambiente/ice-2020/