Com a ajuda de Jean-Claude Carriére, o
cineasta espanhol Luis Buñuel, que passou boa parte de sua vida no México,
narrou sua história de vida no livro Meu
último suspiro. Cineasta com trinta e quatro filmes realizados
entre 1929, ano de lançamento de Um
cão andaluz em parceria com Salvador Dalí, e 1977, com seu último
filme, Esse obscuro objeto
do desejo, Buñuel retrata com humor e sensibilidade sua trajetória
cinematográfica. Natural de Calanda, pequena vila de 5.000 habitantes na
província de Aragão, na Espanha, Buñuel relata suas aventuras e desventuras
passando por Zaragoza, Madrid, Paris, Hollywood, e México.
Logo no inicio de sua carreira, na
época do lançamento de seu segundo filme A
idade do ouro (1930), Buñuel foi convidado pelo gerente geral da
Metro-Goldwin-Mayer (MGM) na Europa a passar seis meses nos Estados Unidos, em
Hollywood, recebendo US$ 250 por semana, com o compromisso de apenas observar
como se faziam filmes segundo a técnica norte-americana. Seu tutor nesse
período foi Charles Chaplin, mas Buñuel relata que não fez muita coisa
relacionada a cinema nesse período. É desse período que Buñuel conta uma
história que envolve Louis B. Mayer, à época o todo poderoso da MGM. Segundo o
cineasta, certo dia, movido pela curiosidade, foi a um grande set de filmagens
da MGM onde Mayer se dirigiria a todos os empregados da companhia. Eram cerca
de 200 pessoas, vários diretores fizeram seus discursos e ao final Louis B.
Mayer se levantou e disse, segundo Buñuel, em meio ao mais respeitoso e atento
silêncio:
_ Caros
amigos, após longas reflexões, creio ter conseguido condensar numa fórmula
muito simples – e talvez definitiva – o segredo que irá nos proporcionar, no
respeito a todos, o progresso contínuo e a prosperidade duradoura de nossa
companhia. Vou escrever essa fórmula.
No set de filmagens havia um quadro de
giz e Mayer se dirigu a ele e escreveu em letras maiúsculas: COOPERATE (em
português, cooperar). Sentou-se e foi entusiasticamente aplaudido por todos.
Buñuel diz em seu livro ter ficado estupefato, mas essa foi uma das poucas
vezes em que aprendeu algo sobre o mundo dos negócios do cinema nos Estados
Unidos. A intenção do gerente geral da MGM que fizera o convite a Buñuel era
que após os seis meses, pudessem chegar a um acordo sobre a permanência de
Buñuel nos Estados Unidos. Mas, o cineasta decidiu voltar para sua Espanha, e
em abril de 1930 retornaria a Madri.
Gosto muito
dessa história que já havia lido,anos atrás na primeira edição da biografia de
Buñuel no Brasil. Reli essa biografia, agora em uma edição muito bem cuidada da
Editora Cosacnaify, em tradução de André Telles. A busca da fórmula de sucesso
para a perenidade das empresas, sejam grandes ou pequenas, é uma constante nos
estudos acadêmicos e na prática da consultoria. Encontrar um método que possa
garantir isso é como a busca do Santo Graal. O incrível é que a solução muitas
vezes parece ser tão simples como a fórmula de Louis B. Mayer: basta
conseguirmos a cooperação de todos e teremos sucesso.
Mas embora a
solução seja simples, o caminho até ela é complexo. Afinal quem são “todos”?
Mayer falava para todos os empregados da companhia, mas me parece que “todos”
envolve muito mais gente: clientes, fornecedores, as comunidades no entorno da
empresa, governo, além de donos e empregados. Conseguir a cooperação de
“todos”significa ser bem sucedido nessa busca do bem estar coletivo. Ou seja,
está relacionado à obtenção da beleza de um viver bem humano. E, como disse o
próprio Buñuel, “para alcançar qualquer beleza, três condições me parecem
indispensáveis: esperança, luta e conquista” (p. 307).
Nenhum comentário:
Postar um comentário