Ontem,
22 de novembro, fiz um lanche em uma das esquinas do centro de Londrina.
Voltava, a pé, do lançamento da Revista Organizações e Sustentabilidade cujo
editor é o Ivan de Souza Dutra, professor do Departamento de Administração da Universidade
Estadual de Londrina..
Tive
o privilégio de ser o autor de um ensaio na primeira edição deste novo
periódico do Programa de Pós-graduação em Administração da UEL. Por um acaso do
destino, estava em Londrina no dia da cerimônia organizada por Ivan, Luis
Miguel Luzio dos Santos e Marli Verni.
Ambiente
acolhedor e momentos de reencontro com colegas e ex-alunos. Lilian Aligleri
também estava lá, com a filhinha de nove meses e Marli, sua mãe. Pena que Luís
Antônio, pai de Lilian, não veio. Saudades desse amigo de longa data, professor
competente sempre homenageado pelos estudantes.
Ao
final do evento, decidi caminhar até a casa de minha mãe onde estou hospedado.
Pouco mais de mil metros, a partir de um shopping nas proximidades da
rodoviária até Concha Acústica de Londrina, vizinha à Catedral. Os mais jovens
devem estar curiosos! O que é uma concha acústica?
Não
vi muitas em minha vida. Na verdade, acho que conheço só a de Londrina. É uma
construção de alvenaria, convexa, em forma de concha, que fica sobre um palco
em uma praça pública. A praça tem cerca de dez fileiras de bancos de concreto.
Na Concha Acústica são apresentados shows musicais, peças e outras atrações. Já
foi muito usada no passado. Ultimamente, durante as noites, tem sido utilizada
como dormitório por sem-tetos.
Mas,
o que quero relatar é a história do cachorro-quente que virou pitbull! Subindo
pela rua Maranhão notei um aglomerado de pessoas na esquina com Souza Naves, ao
lado de um carrinho de cachorro-quente.
Apesar
de ter comido e bebido no lançamento da revista, resolvi comer um cachorro-quente.
A cena e a fresca brisa noturna me trouxeram lembranças de minha juventude.
Sempre que saía das sessões noturnas do Cine Vila Rica, voltava a pé para casa.
No caminho, na Avenida Higienópolis, comia um cachorro-quente. Sempre no mesmo
carrinho.
Aproximei-me
e o lancheiro me disse:
_ Se
for comer, põe o nome na lista.
Me
passou uma prancheta com uma caneta e folha de papel. Nela já havia mais de 15
nomes. Quando terminou de preparar o lanche que estava fazendo, pegou a
prancheta e chamou alguém. Em seguida me avisou:
_
Tem mais dois na sua frente.
_
Não tem pressa, respondi. Não tenho nada pra fazer esta noite.
Na
minha vez, ele perguntou:
_ O
que vai ser?
_
Duas salsichas, maionese, catchup e mostarda.
_
Pit 2. Não quer milho verde e batata palha?
_
Não. Como você chama o lanche?
_
Pit 2. Pão pequeno com duas salsichas. Pit 1quando tem uma salsicha.
Esse
foi o começo do papo. Estimulado por minhas perguntas, o lancheiro me contou
que está nisso há 29 anos. Foi office-boy antes de começar a fazer lanche na
rua.
Há nove anos está nessa área da cidade, mas antes trabalhou na Higienópolis e
na Quintino Bocaiúva. Mais ou menos dez anos em cada rua. Nessa altura da
conversa é que reconheci a figura:
_
Lembro de você da Higienópolis! Como está a vida?
_
Não está mal. Melhorou nos últimos dez anos quando comecei a fazer sucos. A
partir do meio do dia preparo tudo e venho pra rua entre quatro e quatro e
meia. Começo perto da delegacia e, mais tarde venho para esse lugar. Os sucos
são meu diferencial junto com os lanches maiores: dogão e pitbull.
Nesse
momento, chega uma moça com uma criança no colo e um menino ao lado. Uma graça
de garoto, quatro anos no máximo, que fala para o lancheiro:
_ Oi
Davi. Eu voltei!
Davi
sorri e brinca com o menino:
_ Eu
vi. Mas achei que era um gatinho.
_
Não era um gatinho. Era eu.
A
cena me encantou!
Ao
mesmo tempo, chegam três rapazes. Com uma larica danada, um deles pede:
_
Faz três bem regadão!
Davi
repete o procedimento:
_
Coloca os nomes aqui, para eu chamar quando for fazer.
Continuo
conversando com Davi, agora o chamando pelo nome que aprendi com o garoto. Davi
me conta sobre o que conseguiu nesse ofício:
_
Duas casinhas, um carro e uma pequena caminhonete para transportar o carrinho e
material.
Parece
muito satisfeito. Pergunto se não pensa em ter um espaço próprio, mesmo que
seja apenas com uma porta.
_
Não! Gosto da rua, não conseguiria ficar num lugar só.
Aprendo
com Davi! Fazer diferente, mas do jeito
que gosta. Enquanto conversamos, vários clientes pedem por suco.
_
Ele tem vários, mas o melhor é morango com danone, me diz uma moça.
_
Sou bom no suco, garante Davi.
Chama
o primeiro dos rapazes:
_ O
que vai ser?
_
Bem regadão, repete o cara.
_
Vai ser o pitbull então. Pão grande, duas salsichas, maionese, catchup,
mostarda, maionese verde, milho, frango na chapa e batata palha. Pros três?
_
Sim, respondem os três ao mesmo tempo.
Davi
olha pra mim e diz:
_
Tem que dizer o que é, pra não reclamarem depois. O dogão é quase igual. Só não
tem o frango.
Quase
ao fim da conversa, Davi me ensina um pouco mais. Um dos três jovens pega uma
bisnaga de catchup. Davi avisa:
_
Não encosta o bico da bisnaga onde morder.
_ A
fiscalização pega no pé? Pergunto.
_
Não, eles estão certos, diz Davi. Na mordida pode estar alguma bactéria.
Em
seguida, fala para o jovem:
_
Traz a bisnaga aqui. Vou fazer um potinho para você.
Davi
se mostra socialmente responsável e, ainda, consegue customizar o pitbull para
o cliente.
O
que vi nessa noite? Davi de bem com a vida, trabalhando de segunda a sábado,
descansando aos domingos, se sentindo bem sucedido! Sabendo atender, sendo
organizado e cortês, socialmente responsável e desenvolvendo seu diferencial.
Nada mais adequado para uma noite em que surgiu a Revista Organizações e Sustentabilidade!
Nada mais adequado para uma noite em que surgiu a Revista Organizações e Sustentabilidade!
Prof. Fernando, adorei o texto e também a oportunidade do destino de encontrarmo-nos. Fiquei feliz com a menção ao meu nome. Um grande abraço, Lilian Aligleri.
ResponderExcluirDemorei para acessar este link, mas valeu muito a leitura!!
ResponderExcluirEstar com o professor Fernando é sempre um belo aprendizado!!
Prezada Giovanna, grato pelo comentário.
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