O
fenômeno do empreendedorismo não é recente. Empreender é um ato humano que pode
ser notado em qualquer atividade que reúna grupos. Desde os primórdios da
humanidade, quando os seres humanos se juntaram, pode-se dizer que foram
criados empreendimentos para permitir a realização de tarefas sociais.
A
sociedade contemporânea é marcada por um ritmo acelerado de mudança. O mundo em
que vivemos está se transformando continuamente. Alterações nos hábitos de
consumo da população, mudanças demográficas, o surgimento de novas tecnologias
e sua incorporação em produtos e serviços causam impactos profundos nas
organizações de negócios ameaçando sua sobrevivência ou oferecendo novas
oportunidades de crescimento, bem como abrindo espaço para o surgimento de
novas empresas, ou para o desenvolvimento de iniciativas empreendedoras em
organizações já existentes.
Esse
fenômeno tem sido estudado em diversos contextos. Mais recentemente, a Economia
Criativa tem sido foco de atenção dos pesquisadores, tanto por sua potencial
contribuição ao desenvolvimento econômico e social quanto por suas
peculiaridades no modo de atuação das organizações que nela se incluem
(KIRSCHBAUM et al, 2009).
Leitão
(2013), ao fazer a apresentação de uma edição do Cadernos do CEOM dedicada à Economia Criativa, inspirando-se em
Celso furtado, ressalta que “se tomarmos a arte como forma de vida, se
resgatarmos na criatividade humana uma energia sem finalidade, talvez
tivéssemos aí um bom mote para qualificar a palavra economia como criativa, uma
economia voltada à inclusão produtiva e, sobretudo, às dinâmicas sociais de
fusão entre o criar e o viver".
Ora
dedicar-se ao estudo do empreendedorismo, para mim, sempre teve um sentido
inclusivo. Sempre desejei entender a ação empreendedora, a partir dos desejos e
motivações do indivíduo empreendedor. No entanto, pouco me preocupei, até
recentemente, com o aspecto de manifestação cultural no empreender. Ao me
dedicar ao estudo do cinema, vislumbro uma possibilidade de juntar o útil ao
agradável! Compreender a ação empreendedora em um espaço onde a lógica de
negócio se emparelha à lógica da criação cultural. Como conciliá-las?
As
organizações de produção cinematográfica estão incluídas na chamada Economia
Criativa. De modo geral, sua forma de organização centra-se em três grandes
eixos: a concepção de um novo produto (filme); a produção do
filme; e a sua distribuição (exibição em salas de cinema, outros espaços e outras formas de disseminação).
O
mercado brasileiro de distribuição e exibição de filmes é crescente. Em estudo
preliminar, recentemente divulgado, a ANCINE informa que o ano cinematográfico
de 2012, compreendendo 52 semanas cinematográficas entre a primeira sexta-feira
do ano (6 de janeiro de 2012) e a primeira quinta-feira de 2013 (3 de janeiro
de 2013), estabeleceu um recorde na arrecadação das salas de exibição,
atingindo R$ 1,6 bilhão de reais, crescimento de 12,13% em relação a 2011
(ANCINE, 2013). Nesse período foram lançados pelas empresas distribuidoras 330 filmes,
dos quais 83 eram produções brasileiras. O total de filmes lançados ficou pouco
abaixo do ocorrido em 2011, 339 filmes. No entanto, naquele ano o número de
filmes brasileiros que entraram em exibição foi de 99, o que significa que em
2012 houve uma queda de 16,2% no número de filmes brasileiros em lançamento.
Essa queda refletiu-se na participação dos filmes brasileiros em termos de
público e arrecadação das salas de exibição. Em 2011, os filmes brasileiros
atingiram 12,4% do público e 11,4% da renda, ao passo que em 2012, os
resultados foram 10,6% e 9,7%, respectivamente (ANCINE, 2013).
Um
aspecto característico das organizações cinematográficas é que estas estão
continuamente envolvidas em projetos que têm prazo determinado para realização.
Isto implica, possivelmente, em formas distintas de organização em comparação
com empresas tradicionais de mercado. Assim, este contexto diferenciado pode
ser objeto de estudo, contribuindo para um entendimento ampliado de como as
organizações de produção cinematográfica se estruturam para terem um
desempenho bem sucedido e continuado na sociedade.
Paiva
Júnior, Cunha e Guerra (2013), comentando sobre o empreendedor cultural do
filme, a partir da análise do caso de Pernambuco, ressaltam que “dentre as
atividades culturais, o cinema se destaca por suas peculiaridades de
sobrevivência, uma vez que se demanda um alto custo para produção de um filme,
existe certa carência de alternativas para captação de recursos financeiros que
viabilizem sua realização e entraves para a circulação dos filmes no mercado
exibidor” (p. 97).
Assim,
começo a estudar as formas como as organizações de produção cinematográfica
podem se configurar por meio de decisões que articulem em sua atuação aspectos
do empreendedorismo e da economia criativa, em seus três eixos centrais:
concepção, produção e distribuição. Para entender a gestão das organizações de produção
cinematográfica, considero necessário analisá-las sob uma perspectiva da
abordagem das configurações. A
abordagem das configurações tem permeado os estudos organizacionais especialmente
nas duas últimas décadas e se estabelecido como uma perspectiva voltada para a
investigação de conjuntos de atributos que representam arquétipos ou gestalts
organizacionais. Nesse sentido, o ponto de partida dessa abordagem teórica
repousa no entendimento de que “organizações são consideradas entidades
complexas cujos elementos de estrutura, estratégia e ambiente possuem uma
tendência natural de se combinar em estados “quânticos”, ou “configurações”
(MILLER; FRIESEN,1984, p. 1).
Procuro parceiros nessa empreitada. Quer juntar-se a mim?
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Referências:
ANCINE
Agência Nacional do Cinema. Informa de Acompanhamento de Mercado. Disponível em
http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/dados2012/dezembro/Informe-anual-2012-preliminar.pdf.
KIRSCHBAUM,
C. et al Indústria Criativa no Brasil. São Paulo: Atlas, 2009.
LEITÃO,
C. Apresentação ou Reflexões Furtadianas sobre Economia Criativa Brasileira. Cadernos do CEOM, v. 26, n, 39, p.
7-10, 2013.