Quatro dias de férias em Londrina. Cheguei na última quinta-feira e parto, logo mais, às 13:50. Amanhã retorno ao trabalho. Nesse fim de férias, além de uma participação em banca de defesa da dissertação de mestrado do Paulo Paganini, orientado pelo amigo Mário Nei Pacagnan da UEL, visito amigos, vou aos sebos atrás de livros de bolso para minha coleção, passeio pelo centro de Londrina, ainda com o calçadão dilacerado, mas segundo notícia de jornal, em breve poderá ser feita licitação para a instalação de novos quiosques. Em frente ao Correio, ainda há destroços da antiga Banca do seu Pedro e da garapeira que refrescou muitas tardes de calor intenso. Aliás, fez falta nesses dias de verão tórrido!
Hospedado em casa de minha mãe, longas conversas (monólogos em que sou o ouvinte, nem sempre atento!) com ela que se aproxima rapidamente dos 88 anos de vida. Serão completados no próximo 22 de março. Longevidade que espero reproduzir. Entre tantas frases e histórias, muitas já contadas em outros momentos, algo novo que me faz gargalhar:
_ Fernando, você sabe que quase todos os médicos que me diagnosticaram já morreram? Já imaginou se falo isso pro doutor Ramon? Ele fica louco!
Entre os passeios, acabo fazendo duas visitas gastronômicas a pequenas empresas longevas também: Pastelaria da Sergipe e Kiberama. A primeira faz a melhor vitamina de abacate, com um pouco de outras frutas, que já tomei nesses meus cinquenta e seis anos, que deve ser também a idade da Pastelaria Sergipe. No Kiberama, em que uma placa informa o ano de criação com sendo 1965, a melhor esfirra de carne, servida quentinha, para clientes sentados em bancos que rodeiam um balcão. Continua a mesma desde meus tempos de adolescente, quando ganhei autonomia para andar sozinho pelas ruas londrinenses. Quem passar por Londrina não pode deixar de conhecer. As duas empresas estão localizadas na mesma quadra, uma à Rua Sergipe e a outra à Rua Mato Grosso. Pouco mais de duzentos metros da Concha Acústica e da Catedral de Londrina. Ah, o pastel da Pastelaria Sergipe é imperdível também! Mas, como optei pela esfirra do Kiberama, tomei só a vitamina. Cuidar um pouco da saúde, não faz mal a ninguém!
É claro que não poderia deixar de ir ao cinema nesses quatro dias de férias! Assisti a dois filmes que me fizeram refletir muito: Ninfomaníaca v. 1 de Lars von Trier e A Grande Beleza de Paolo Sorrentino. Lembro do livro de Julio Cabrera, professor de filosofia da UnB, O Cinema Pensa. E com ele eu penso também.
Em A Grande Beleza, um escritor reflete sobre sua vida ao completar 65 anos. No filme de Trier, uma mulher é encontrada caída em um beco por um homem mais velho, muito machucada. Depois de ser levada para a casa deste, ela começa a contar sua vida, justificando porque se julga uma pessoa má. De comum, entre os dois filmes, além da beleza imagética de ambos, em estilos completamente diferentes, a presença de um personagem mais velho, nos contando ou ajudando a ouvir estórias.
Seligman, interpretado por Stellan Skarsgard, é o idoso que resgata Joe vivida por Charlotte Gainsbourg, no filme de Lars von Trier. Duas cenas dele me despertaram reflexões sobre a longevidade, não das pessoas, mas de pequenas empresas. Em determinado momento, logo no começo da narrativa da vida de Joe, este comenta:
_ Se você tem asas, por que não voar?
Um pouco mais tarde, em uma cena um pouco mais longa, Seligman apresenta sua tipologia de pessoas: as que cortam primeiro as unhas da mão direita e as que cortam primeiro as unhas da mão esquerda. Para ele, essa escolha reflete a intenção de lidar com o mais fácil ou o mais difícil primeiro. (Fiquei pensando no caso dos canhotos, mas isso não importa agora!)
Nessas frases vejo consequências ou razões que explicam porque pequenas empresas se tornaram longevas. A longevidade deve estar associada, é uma hipótese minha, à capacidade que os dirigentes de pequenas empresas têm de identificar as asas de seus empreendimentos e fazer pleno uso delas: voar! Por outro lado, muitas vezes a longevidade, pode ser indicador de um caráter permanente na tomada de decisão presente nessas pequenas empresas. Creio que (é uma outra maneira de dizer hipótese), a longevidade dessas pequenas empresas está ligada ao cortar as unhas da mão esquerda primeiro! Fazer o mais difícil, o fácil é resolvido sem muito esforço. Eu ia escrever "o fácil é resolvido facilmente", mas alguém iria me acusar de pleonasmo inútil! Assim, usei "sem muito esforço" facilmente, que é a mesma coisa que facilmente! Mas, pelo menos mantive o estilo e pude brincar com você, leitora ou leitor.
No domingo de manhã, mantendo o ritual com Dona Kilda, vou ler os jornais. Coisa que ela faz diariamente, logo após o café-da-manhã. No Jornal de Londrina, vejo uma reportagem, de Tatiane Salvatico que informa sobre a proposta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina sobre a volta de quisoques em três pontos do calçadão de Londrina (http://www.jornaldelondrina.com.br/cidades/conteudo.phtml?tl=1&id=1447338&tit=Ippul-propoe-volta-de-quiosques-em-tres-pontos-do-calcadao). Na mesma reportagem, há notícia de uma pequena empresa distribuidora de jornais e revistas que durou vinte e um anos, mas que praticamente se extinguiu quando houve a decisão da prefeitura na gestão de Barbosa Neto de retirar bancas e quiosques do calçadão e das ruas londrinenses.
Esta história é um pequeno exemplo de que, muitas vezes, não basta usar as asas para voar ou cortar primeiro as unhas da mão esquerda. Há momentos, na vida das pequenas empresas, que o seu destino é ditado de fora.
Assim, vou concluindo essas reflexões londrinenses nesta manhã de segunda, um pouco mais fresca do que os dias da semana passada. Escrevo esse post em uma lan-house na rua Piauí próxima ao prédio onde mora Dona Kilda. A Odissey, além de lan-house é também um estacionamento: dez vagas para carros e quinze computadores. Converso com um dos proprietários que me informa que estão há dez anos nesse local. Primeiro como estacionamento, a lan-house foi incorporada à empresa cinco anos depois. Na pequena empresa é possível ver a estratégia de diversificação. Pergunto por que fizeram isso. A resposta é na linha da asa para voar! Perceberam que havia demanda para esse tipo de serviço e resolveram utilizar as instalações de uma casa nos fundos do estacionamento. Será que se tornará uma pequena empresa longeva?
Meus conhecimento não me permitem arriscar uma resposta para essa última pergunta. Mas, ao menos o nome é o mesmo do poema épico atribuído a Homero. Está conosco há mais de 2.000 anos. Pode ser uma pista. O que inspirou o nome da empresa? Também não sei. Pode ter sido a Odisséia de Homero, ou pode ter sido algo mais prosaico como uma série de jogos eletrônicos! Aliás, aprendi a não fazer suposições apressadas com a Sara desde que, em Maringá, certa vez, ao indagar o nome de um jovem que me atendia em uma livraria, este respondeu:
_ Sócrates.
_ Que legal, como o filósofo. Eu comentei.
Sara prontamente respondeu:
_ Pela idade dele, deve ter sido uma homenagem que o pai fez ao jogador do Corinthians!
Sábias palavras da Sara. As mulheres tem uma capacidade impressionante de me trazer de volta à realidade!
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