quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Os acasos do empreender

Já comentei em outros textos, sobre a importância do pequeno varejo. Seja nos bairros de cidades de maior porte, ou nas pequenas cidades, é no pequeno varejo que as pessoas conseguem atender muitas necessidades de compras de mantimentos, medicamentos, frutas, legumes, entre outros produtos e serviços. Nem sempre, dá para esperar a próxima ida a uma filial dos grandes varejistas.
Porém, não é só a compra de conveniência que a gente encontra nos pequenos comércios. Junto com os secos e molhados do dia a dia, há sempre a possibilidade de uma conversa simpática. Ou informações sobre o que mais a gente pode comprar no bairro. Como aconteceu comigo tempos atrás. Enquanto, minhas compras na quitanda eram somadas pela proprietária, vi no canto um cartão de uma cuidadora de cães. Perguntei quem era. Na resposta veio o detalhe de ser a nora de outro comerciante do bairro e, principalmente, a recomendação:
_ Excelente pessoa. Muito carinhosa com os cãezinhos.
Depois de algumas semanas, surgiu a necessidade de deixar Kennedy por uns dias com alguém. Quem ficou com ele foi essa cuidadora carinhosa. Então, é no pequeno varejo do bairro que a gente compra o que precisa de última hora, fica sabendo de outros serviços na região, e de quebra, tem a oportunidade de conversar sobre a vida, o clima, os negócios, entre outros assuntos.
Eu, por exemplo, gosto de saber de como esses homens e mulheres seguiram por esse caminho na vida. As agruras e venturas do pequeno varejo.
Voltando da universidade para casa, após o término das aulas matutinas de hoje, escolhi um caminho mais longo. Retomei o hábito das caminhadas matinais. Mas, quando tenho aulas de manhã, não faço a caminhada diária de seis quilômetros. Apenas, caminho até o meu departamento que dista pouco mais de um quilômetro do prédio onde resido. Como disse, resolvi fazer um caminho mais longo, e fui na direção contrária a minha casa, contornando o Jardim Botânico e ladeando a rodovia. E, depois,  me embrenhando pelas ruas do bairro, em direção de casa. Cerca de 500 metros de onde moro, parei no Armazém Botânico para comprar frutas, mandioca, castanhas e goiabada. E, mais alguns produtos que me atraíram a atenção. Por exemplo, um pacote de doce de arroz em flocos. O preço estava mais barato do que no supermercado de maior porte localizado no bairro. Nem sempre o preço do pequeno varejo é mais caro!
O Armazém Botânico é de propriedade de um casal que o adquiriu há um ano e meio. Três meses antes de eu me mudar para o bairro. Em outra conversa, logo que me mudei para a vizinhança, eles já tinham me falado de quando compraram o antigo Armazém Botânico que só comercializava produtos naturais. Hoje, ao me lembrar disso, comentei com o casal:
_ Vocês devem estar por aqui há um ano e meio não?
Diante da confirmação, emendei:
_ E os negócios como andam?
A partir daí, fui indagando mais e mais, numa conversa que me fez refletir sobre os acasos, ou melhor, sobre o não planejado, ou o inesperado que, de vez em quando, dão um sabor especial à vida do comércio.
O casal me contou que, depois de seis anos morando na Bahia, decidiram voltar a Curitiba. Na época eles mantinham um comércio de acessórios para animais domésticos na Internet. Ficaram sabendo que um parente queria vender o açougue, também localizado no bairro. Negociaram um empréstimo bancário e, no dia que o dinheiro entrou na conta, o parente desistiu da venda. Não quis se desfazer do açougue. Continua até hoje no bairro. Diante da negativa, o casal se perguntou:
_ E agora? O que fazer com o dinheiro?
O acaso resolveu dar as caras! No dia seguinte, ficaram sabendo que, nas proximidades do açougue, o proprietário do Armazém Botânico queria vender o negócio. Entraram em contato e descobriram que outro casal já tinha apresentado uma proposta de compra. No meio da conversa, o casal comentou sobre a loja online de acessórios para animais domésticos e o carinho com todos os tipos de animais. Em frente ao Armazém Botânico há uma árvore frondosa que sempre atrai diferentes tipos de aves: pardais, sabiás, joões-de-barro e, nos meses mais quentes, as maritacas. Dois ou tres dias depois, o casal recebeu uma ligação do antigo dono. Tinha decidido vender para eles. O outro casal queria derrubar a árvore da frente da empresa. E, a partir desses acasos, a venda foi fechada.
Para alegria do casal, os negócios vão muito bem, obrigado! Continuam pagando as mensalidades do empréstimo em dia, já investiram em mais refrigeradores para diversos produtos que passaram a vender, além dos produtos naturais que o dono anterior já comercializava. Também criaram a seção de frutas, legumes e verduras. Bem como, outros produtos de secos e molhados. Tudo fruto de um trabalho árduo que começa às 4 horas da manhã, de segunda a sábado, e lhes dá também alguma renda para as despesas da vida. O casal sempre recebe os clientes com um sorriso amplo. E, nesse caminho, vão criando um verdadeiro armazém!