J. C. Wyatt é uma um mulher de negócios bem sucedida. Executiva de uma grande empresa de consultoria, especializada em fusões e aquisições de empresas, é respeitada por todos e até mesmo temida por alguns. Em suma, protótipo da executiva contemporânea que disputa em pé de igualdade o espaço com seus adversários do sexo oposto. Tem um namorado, com quem divide o apartamento bem localizado em Nova Iorque. Certa noite, recebe uma ligação dizendo de uma herança que chegará no dia seguinte no aeroporto. Algo que sobrou da morte de uma prima distante na Inglaterra. Quando chega ao aeroporto, descobre que a herança é uma menina, ainda bebê e órfã, cujo único parente vivo era J. C. Wyatt.
Inicialmente, Wyatt tenta se desfazer da "herança". Procura uma agência de adoções, que logo arruma um casal que adotará a linda menina. Ao fim da entrevista com o casal, a executiva parece feliz com o resultado e sai caminhando decidida, a passos firmes, mas no meio do caminho, uma ponta de dúvida... Interrompe a caminhada, retorna e cancela a adoção. Uma ruptura na sua vida surge. A princípio ela acha que conseguirá conciliar a vida profissional com os cuidados da criança, mas as coisas não serão tão facéis! Em certo momento, descobre-se preterida na condução de um grande negócio na empresa onde trabalha. Seus constantes atrasos, em função dos cuidados com a criança, deixaram-na menos confiável para o chefe. Com orgulho ferido, ela decide pedir demissão e resolve mudar-se para o interior de Vermont. Compra uma propriedade que vira apenas em uma revista, ao chegar lá descobre que a mesma estava quase em ruínas, mas tinha uma bela e produtiva plantação de macieiras.
É provável que, a esta altura, muitos já tenham descoberto que estou relatando a história do filme Baby Boom, de 1987, com Diane Keaton no papel de J. C. Wyatt, dirigida por Charles Shyer, cujo título em português é Presente de Grego. Já utilizei essa deliciosa comédia romântica, dividida em duas partes, para comentar sobre aspectos do empreendedorismo. Na segunda metade do filme, Wyatt descobre o potencial que tem para construir uma nova empresa com a produção de maçãs de sua propriedade. Entra para o ramo de comidas para bebês. Os momentos iniciais dessa parte do filme, em um roteiro bem montado, nos mostram aspectos relevantes do empreender: a busca de informações sobre o mercado; a experimentação do produto; o desenvolvimento e teste de uma marca; a capacidade de resposta rápida a informações e tendências de consumo; e a estruturação inicial da empresa. J. C. Wyatt consegue criar um empresa bem sucedida em um negócio dominado por grandes players. Esse sucesso atrai a atenção de uma empresa maior que contrata a antiga empresa de consultoria onde Wyatt trabalhara para negociar uma aquisição. É o momento da volta por cima! Wyatt recebe uma proposta aparentemente irrecusável! Mas, será mesmo? Em um brilhante trabalho de montagem, a personagem vivida por Keaton parece decidida a aceitar, pede licença, se ausenta da reunião, vai ao toalete, lava o rosto e diz:
_ Eu voltei!
Em seguida, sai caminhando decidida, a passos firmes, mas no meio do caminho, uma ponta de dúvida... Interrompe a caminhada, retorna e ... Veja o filme e descubra o final. A única coisa que posso adiantar é que Diane Keaton repete a cena da caminhada de forma magistral, coisa de grandes atrizes.
Hoje, no entanto, refletindo sobre o filme, vejo que o mesmo me permite explorar outros aspectos do empreender, além daqueles mais racionais que enxergava antes. Essa percepção me ocorreu quando estava vendo um documentário brasileiro sobre um poeta, cantor e compositor pernambucano de nome Siba. O documentário dirigido por Caio Jobim e Pablo Francischelli - Siba nos balés da tormenta - relata a trajetória desse artista em constante transformação. Ao tomar contato com a história de Siba, fui despertado para o papel que a frustração e a ruptura desempenham na trilha desse artista. Me pareceu que constantemente Siba busca romper com o que faz, movido talvez por uma frustração ou insatisfação pessoal. Mas, como ele mesmo diz, esses momentos são acompanhados pelo medo de errar.
Defendo a idéia de que empreender é um ato criativo. Assim, de forma metafórica, à semelhança da trajetória de Siba, penso que o empreender também pode surgir de momentos de frustração que levam a algum tipo de rompimento com a vida presente, na tentativa de contruir um futuro diferente. Sem dúvida, é o que aconteceu com J. C. Wyatt em Baby Boom. Mas, acompanhando essa ruptura, lá estava o medo marcando presença na segunda parte da trajetória da personagem.
Na literatura recente sobre empreendedorismo é comum encontrarmos uma distinção sobre a motivação para empreender: por oportunidade ou por necessidade. Empreendedimentos surgem porque alguém percebeu uma oportunidade não explorada no mercado. Mas, também, pessoas empreendem porque precisam sobreviver nessa sociedade capitalista que não lhes oferece um emprego decente. São categorias aparentemente muito abrangentes e bem distintas, mas nem sempre suficientes. Por exemplo, alguém pode empreender porque tem uma necessidade muito grande de transformar a sua vida. A necessidade não tem um caráter unicamente financeiro! Ou, o que parece ser uma necessidade financeira para alguns, para outros não é.
O que leva alguém a empreender por necessidade ou por oportunidade pode ter uma explicação antecedente: será que a frustração e a vontade de romper com a situação vivida podem nos ajudar a entender melhor a motivação para empreender? Eis aí uma questão interessante de pesquisa e, até onde eu sei, pouco explorada!
Junto com a frustração e a ruptura, pode ser que o medo seja uma emoção a ser analisada pelos pesquisadores, já que pelos empreendedores sei que ela é sempre sentida.
Este blog é de autoria de Fernando Antonio Prado Gimenez. Destina-se a textos, reflexões, memórias e comentários sobre empreendedorismo e pequenas empresas.
domingo, 30 de setembro de 2012
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
O estranho caso da autonomia alugada
Uma justificativa que se ouve com frequência de pessoas que buscam abrir sua própria empresa é o desejo de autonomia. Para muitos, ser dono do próprio negócio significa dispor de seu tempo como melhor lhe convir, sem ter que dar satisfações a ninguém, muito menos a um patrão.
No entanto, assim que o envolvimento com uma nova empresa se torna realidade, o(a) empreendedor(a) descobre que a autonomia de que dispõe é muito pequena. Há tantos compromissos a atender, seja em relação a fornecedores ou a clientes, que a sensação de liberdade que era buscada demonstra-se ilusória. Mas, há outros encantos que o empreendedorismo tem para atrair as pessoas, tais como, o senso de realização e a possibilidade de relacionamentos com pessoas. Mas, para aqueles que conseguem conquistar um pouco de liberdade ou autonomia, esta se torna muito valiosa. Ela representa a possibilidade de influir verdeiramente sobre o destino pessoal, como é o caso que relato a seguir.
Há poucos dias estive no Rio de Janeiro participando do encontro anual da ANPAD (Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Administração). No último dia do encontro, peguei um táxi para ir da Barra até o Aeroporto do Galeão. Viagem longa que se tornou muito prazeirosa pela simpatia e bom papo do Robinho do taxi, motorista que estava passando ao acaso em frente ao hotel em que me hospedara e respondeu ao aceno do porteiro do hotel para me pegar.
Logo no começo da viagem, Robinho começou a reclamar da vida:
_ A coisa não está fácil!
Disse ele, e começou a falar de um acidente que tivera no ano passado e de como tivera que se desfazer do carro em função do financiamento que não conseguia honrar todo mês. Imediatamente pensei com os meus botôes:
_ Ih! Lá vem conversa mole de carioca para me arrancar uma gorjeta ao final da corrida.
Mas, continuei ouvindo a história do Robinho. A certa altura ele me falou:
_ Tive que alugar minha autonomia para continuar na praça.
A princípio não entendi bem o que isso queria dizer. Mas, não quis perguntar o que era esse negócio de alugar a autonomia. Robinho continuou dizendo que pegava o carro de um empresário de taxis todo dia às seis da manhã e devolvia às 18 horas. Doze horas de trabalho! Ao final do dia ele tinha que entregar R$ 100,00 para o empresário e o restante da féria do dia era seu. Para mim, pareceu algo muito parecido com o que vários motoristas de taxi já me contaram em outras cidades. O mais recente foi o caso do Raimundo, no mês passado em Salvador, que tinha que pagar uma diária de R$ 150,00 por dia ao proprietário do carro que dirigia. Mas, a história de Robinho era diferente.
_ No final do mês - disse ele - o empresário me paga R$ 1.000,00. É o aluguel da autonomia.
Dessa vez resolvi perguntar:
_ O que é autonomia?
Foi então que Robinho me explicou que autonomia é a licença que ele possui para ser taxista na cidade do Rio de Janeiro. Quando ele passou pela situação ruim causada pelo acidente, quase vendeu a autonomia. Um sujeito lhe ofereceu R$ 150.000,00 por ela. Mas, se tivesse vendido, Robinho acabaria gastando esse dinheiro e acabaria tendo que buscar um outro emprego. Para ele, a autonomia significava a independência, não podia se desfazer dela. Foi então que associei a autonomia com a condição de trabalho autônomo como taxista.
Assim, ficou sabendo da possibilidade de alugar a autonomia. Fez um contrato com o empresário que lhe paga R$ 1.000,00 por mês pela autonomia por um prazo de 24 meses. O carro foi colocado no nome de Robinho que é quem tem o direito de ser taxista. A remuneração pelo carro que o empresário recebe é a diária de R$ 100,00 por dia, durante os 24 meses. Mais de R$ 60.000,00 se forem seis dias de trabalho por semana. Ao final desse prazo, o contrato se encerra, Robinho devolve o carro e volta a ter sua autonomia. E Robinho me disse:
_ Todo mês guardo o aluguel da autonomia. Vou poder voltar a ter meu carro.
E eu completei:
_ E sua autonomia.
Essa história representa de forma bem singela o valor de um recurso raro e dificil de imitar. A autonomia garante as condições de realizar um trabalho decente, de acordo com as normas, sem precisar se sujeitar a possíveis multas da fiscalização. Representa, também, uma lição de persistência. Para o empreendedor, assegurar recursos essenciais para seu negócio e persistir na busca de sua realização são coisas muito importantes para o sucesso. Robinho, viu que para não se tornar empregado, precisaria alugar seu bem mais valioso naquele momento. E dar um jeito de poupar essa renda para voltar a ter liberdade no futuro.
Robinho me falou de outras coisas durante a viagem: sua mãe e a reforma de sua casinha, sua esposa, sua filha, sua enteada e de como amarrou um gringo com seus encantos fisicos. A conversa foi tão boa que, além de dar a ele o último exemplar de meu livro, dei também uma boa gorjeta. Foi uma das melhores viagens que fiz até o aeroporto do Galeão!
No entanto, assim que o envolvimento com uma nova empresa se torna realidade, o(a) empreendedor(a) descobre que a autonomia de que dispõe é muito pequena. Há tantos compromissos a atender, seja em relação a fornecedores ou a clientes, que a sensação de liberdade que era buscada demonstra-se ilusória. Mas, há outros encantos que o empreendedorismo tem para atrair as pessoas, tais como, o senso de realização e a possibilidade de relacionamentos com pessoas. Mas, para aqueles que conseguem conquistar um pouco de liberdade ou autonomia, esta se torna muito valiosa. Ela representa a possibilidade de influir verdeiramente sobre o destino pessoal, como é o caso que relato a seguir.
Há poucos dias estive no Rio de Janeiro participando do encontro anual da ANPAD (Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Administração). No último dia do encontro, peguei um táxi para ir da Barra até o Aeroporto do Galeão. Viagem longa que se tornou muito prazeirosa pela simpatia e bom papo do Robinho do taxi, motorista que estava passando ao acaso em frente ao hotel em que me hospedara e respondeu ao aceno do porteiro do hotel para me pegar.
Logo no começo da viagem, Robinho começou a reclamar da vida:
_ A coisa não está fácil!
Disse ele, e começou a falar de um acidente que tivera no ano passado e de como tivera que se desfazer do carro em função do financiamento que não conseguia honrar todo mês. Imediatamente pensei com os meus botôes:
_ Ih! Lá vem conversa mole de carioca para me arrancar uma gorjeta ao final da corrida.
Mas, continuei ouvindo a história do Robinho. A certa altura ele me falou:
_ Tive que alugar minha autonomia para continuar na praça.
A princípio não entendi bem o que isso queria dizer. Mas, não quis perguntar o que era esse negócio de alugar a autonomia. Robinho continuou dizendo que pegava o carro de um empresário de taxis todo dia às seis da manhã e devolvia às 18 horas. Doze horas de trabalho! Ao final do dia ele tinha que entregar R$ 100,00 para o empresário e o restante da féria do dia era seu. Para mim, pareceu algo muito parecido com o que vários motoristas de taxi já me contaram em outras cidades. O mais recente foi o caso do Raimundo, no mês passado em Salvador, que tinha que pagar uma diária de R$ 150,00 por dia ao proprietário do carro que dirigia. Mas, a história de Robinho era diferente.
_ No final do mês - disse ele - o empresário me paga R$ 1.000,00. É o aluguel da autonomia.
Dessa vez resolvi perguntar:
_ O que é autonomia?
Foi então que Robinho me explicou que autonomia é a licença que ele possui para ser taxista na cidade do Rio de Janeiro. Quando ele passou pela situação ruim causada pelo acidente, quase vendeu a autonomia. Um sujeito lhe ofereceu R$ 150.000,00 por ela. Mas, se tivesse vendido, Robinho acabaria gastando esse dinheiro e acabaria tendo que buscar um outro emprego. Para ele, a autonomia significava a independência, não podia se desfazer dela. Foi então que associei a autonomia com a condição de trabalho autônomo como taxista.
Assim, ficou sabendo da possibilidade de alugar a autonomia. Fez um contrato com o empresário que lhe paga R$ 1.000,00 por mês pela autonomia por um prazo de 24 meses. O carro foi colocado no nome de Robinho que é quem tem o direito de ser taxista. A remuneração pelo carro que o empresário recebe é a diária de R$ 100,00 por dia, durante os 24 meses. Mais de R$ 60.000,00 se forem seis dias de trabalho por semana. Ao final desse prazo, o contrato se encerra, Robinho devolve o carro e volta a ter sua autonomia. E Robinho me disse:
_ Todo mês guardo o aluguel da autonomia. Vou poder voltar a ter meu carro.
E eu completei:
_ E sua autonomia.
Essa história representa de forma bem singela o valor de um recurso raro e dificil de imitar. A autonomia garante as condições de realizar um trabalho decente, de acordo com as normas, sem precisar se sujeitar a possíveis multas da fiscalização. Representa, também, uma lição de persistência. Para o empreendedor, assegurar recursos essenciais para seu negócio e persistir na busca de sua realização são coisas muito importantes para o sucesso. Robinho, viu que para não se tornar empregado, precisaria alugar seu bem mais valioso naquele momento. E dar um jeito de poupar essa renda para voltar a ter liberdade no futuro.
Robinho me falou de outras coisas durante a viagem: sua mãe e a reforma de sua casinha, sua esposa, sua filha, sua enteada e de como amarrou um gringo com seus encantos fisicos. A conversa foi tão boa que, além de dar a ele o último exemplar de meu livro, dei também uma boa gorjeta. Foi uma das melhores viagens que fiz até o aeroporto do Galeão!
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Pandora, Medianeras e a esperança no empreendedorismo
Para Simone.
Há muitos anos tinha a intenção de me debruçar sobre as histórias da mitologia. Deuses, ninfas, centauros e humanos povoam a literatura e o cinema. De vez em quando encontro uma referência a Zeus/Júpiter, relatos dos trabalhos de Hércules/Astérix na animação, a paixão de Orfeu e Eurídice retratada no Orfeu Negro, a tragédia de Medéia narrada por Shakespeare, filmada por Pasolini e transformada em peça teatral por Chico Buarque e Paulo Pontes na inesquecível Gota D´água, a caixa de Pandora nos Caçadores da Arca Perdida. Mas, sempre sentia uma incompletude e uma vontade de saber mais.
Outro dia encontrei uma edição de bolso, em dois volumes, das Melhores Histórias da Mitologia (A.S. Franchini; Carmen Seganfredo, L&PM Pocket, 2012). Será que foi Minerva, a deusa da Sabedoria, que colocou os livros em meu caminho? Não resisti e, mais uma vez, quebrei a promessa de não comprar livros enquanto não concluísse a leitura de vários que estão em minha mesa do escritório, no criado mudo ao lado da cama, e até dentro da mala que me acompanha nas viagens curtas a Brasília. Em algumas horas devorei o primeiro volume. 55 histórias que começam com o Nascimento e Glória de Saturno, cuja morte é relatada no Nascimento e Glória de Júpiter, seguida pela Guerra dos Titãs. Foi delicioso tomar conhecimento de detalhes que não sabia e relembrar coisas que me haviam contado no passsado: o nascimento de Vênus, a desventura de Ícaro, o rapto de Europa. De como a ninfa Quelone se transformou em uma tartaruga por não ter ido ao casamento de Júpiter e Juno, que aliás eram irmãos. As aventuras de Jasão e seu encontro com Medéia e os doze trabalhos de Hércules. De como Minerva transformou Aracne, uma artesã do fio inigualável, em uma aranha que fez a mais bela teia, tudo isso para desespero ainda maior da deusa que não aceitava ser superada por uma humana.
Enfim, são muitas as histórias, mas a da Caixa de Pandora me impressionou demais. Tinha comigo a compreensão de que a Caixa de Pandora tinha trazido ao reino dos humanos todas as desgraças e vilanias. E ponto! Mas, a história não é assim tão simples. De forma resumida, Júpiter andava às turras com Prometeu que havia modelado o primeiro homem de barro, além de ter dado aos humanos o acesso ao fogo. Assim, certo dia Júpiter pediu que Vulcano, junto com Minerva, sua mulher, criassem uma companhia para o homem. Os dois criaram Pandora, uma linda mulher, que era quase tão bela quanto a mais bela das deusas. Júpiter ficou muito satisfeito com a criação de Minerva e Vulcano. Em seguida a despachou para o reino dos mortais com um presente em sinal de seu apreço pelos humanos: uma caixa ricamente enfeitada com ouro e prata. Mas era um engodo. Júpiter avisou que Pandora não deveria abrir a caixa nunca. Pandora e a caixa chegaram até Epimeteu, que era o irmão humano de Prometeu e este ficou impressionado com ambas. Levou Pandora e a caixa para seu quarto. Pandora adormeceu e sonhou que abrira a caixa e dela saíram somente coisas belas. Quando acordou não resistiu, abriu a caixa e aí, ... todo mundo sabe o resto da história! Foi um Deus nos acuda! Ou Deuses nos acudam! Da caixa escaparam a Doença, a Gula, a Inveja, a Avareza, a Arrogância, a Crueldade, o Egoísmo, e otras cositas mas!
Mas nem tudo estava perdido, em certo momento Pandora conseguiu fechar novamente a caixa e pensou que nada havia sobrado dentro dela. Olhando mais uma vez viu um rosto muito belo e jovem, que Pandora descobriu ser a Esperança.
Nesses mesmos dias, minha amiga Simone recomendou muito que eu visse a um filme: Medianeras, filme argentino de 2011 dirigido por Gustavo Taretto. O filme retrata dois jovens, Mariana e Martin, que não se conhecem pessoalmente, cada um com sua vida solitária, até o encontro entre eles. Dividido em três estações - um outono curto, um inverno longo, e a primavera enfim, o filme trata de forma bem humorada e delicada, as buscas típicas de jovens em nossa sociedade contemporânea, mas com ênfase na busca pelo outro, metaforicamente representada pela busca de Wally, em "Onde está Wally?". Filme bem produzido, com ótimas atuações dos personagens, que me emocionou. Para mim, o filme trata da esperança. Apesar de todos os contratempos, enfim chega o momento em que Mariana e Martin se encontram.
Fiquei intrigado com a coincidência! Pandora e Medianeras tratando da esperança! O mais incrível para mim, é que havia decidido escrever esse texto quando li a história da Caixa de Pandora. No entanto, os dias foram passando e não consegui fazê-lo. Será que alguns deuses conspiraram para que eu visse o filme antes de escrever o texto? Creio que deve ter sido um trabalho conjunto de Mercúrio e Juno!
Pensando sobre o empreendedorismo, o que eu queria escrever logo após ler a Caixa de Pandora diz respeito à esperança que está embutida nessa ação humana. Quando a empreendedora ou empreendedor se motiva para criar algo novo, qualquer que seja o empreendimento, há sempre a esperança de um mundo melhor. Seja esse mundo tão pequeno quanto aquilo que está ao redor de quem empreende, seja esse mundo tão grande quanto a nossa capacidade de sonhar. Mas, empreender é sempre um ato de esperança. Que esse atos sejam sustentáveis em termos econômicos, sociais e ambientais. Só assim, podemos vencer a força divina de Júpiter e nos aproximar de um convívio humano fraterno e solidário!
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
O crescimento da pequena empresa
Para Rubens e Miriam
Em muitos de meus textos comento que a decisão de crescer nem sempre está presente no ideário dos dirigentes de pequenas empresas. As histórias que conheci ao longo de minhas três décadas de estudo da gestão de pequenas empresas têm em comum, em sua maior parte, a permanência no pequeno porte. No entanto, algumas vezes ouço relatos de intenção ou desejo de que a pequena empresa criada e dirigida por um(a) empreendedor(a) venha tornar-se grande no futuro.
Um caso emblemático e bem sucedido que conheço é o da rede de Farmácias Vale Verde que surgiu em Londrina em meados da década de 80, mas cuja história começou em 1974 com a Farmácia Augusto, fundada pelo Rubens, que fora empregado de uma farmácia tradicional no centro de Londrina antes de abrir seu próprio negócio.
Conheço Miriam e Rubens desde 1977. Quando era professor no departamento de Administração da UEL, tive a oportunidade de conduzir uma disciplina com alunos do sexto período do curso de graduação em Administração que se relacionava com o desenvolvimento das organizações. Não me lembro do nome exato da disciplina. Junto com a Cleufe, que dividia a disciplina comigo, eu dava aula para turma da noite e ela para a turma da manhã, resolvemos experimentar uma dinâmica diferente para as aulas. Convidamos Rubens e Miriam para contarem a história da Vale Verde e fazerem uma apresentação dos principais desafios que a empresa enfrentava naquele momento. Isso ocorreu por volta de 1996 ou 1997. Em seguida a essa apresentação, propusemos para os estudantes que se dividissem em grupos e, ao longo do semestre, escolhessem uma área de oportunidade/desafio que houvesse sido relatado pelos empresários e desenvolvem-se propostas de ações para serem executadas na empresa. Ao final da disciplina, cada grupo apresentaria suas propostas e Rubens e Miriam escolheriam as duas melhores para serem efetivamente implantadas e receberem uma recompensa pecuniária simbólica.
Foi uma experiência muito gratificante para nós professores que permitimos uma aproximação de nossas discussões teóricas em sala com a realidade empresarial, para os alunos e alunas que tiveram a oportunidade de exercer a prática da administração fazendo um diagnóstico da situação, buscando informações, criando alternativas e estudando formas de lidar com as questões que escolheram, e, também, para Miriam e Rubens que se beneficiaram e a sua empresa com idéias novas que puderam ser implantadas.
Mas, o que eu quero relatar é um pouco da história que conheci de perto durante cerca de 20 anos, e à distãncia nos últimos 15 anos. Míriam é irmã de Telma, mãe de minhas filhas Paloma e Fernanda, com quem fui casado durante 17 anos. Assim, devido a esses laços familiares convivemos muito ao longo dos anos.
Certa vez Rubens me contou como foi que tomou uma decisão que foi crucial para ele e a empresa. Desde 1974 Rubens tornara-se o proprietário de uma pequena farmácia na Vila Nova em Londrina e era bem sucedido. Tinha uma boa clientela, alguns funcionários, mas ele era o centro da pequena empresa. Fazia de tudo! Comprava, vendia, atendia no balcão, dava ordens, aplicava injeções, aconselhava clientes sobre medicamentos. Enfim, como na maioria das pequenas empresas, não havia uma separação muito clara entre gestão e operações. Essa rotina foi se consolidando ao longo de 10 anos ou pouco mais. Por volta de 1984, surgiu uma oportunidade de comprarem um terreno em uma região mais central de Londrina, na avenida Juscelino Kubitschek.
Estimulados por um amigo, que propos sociedade na compra do terreno, Rubens e Miriam fecharam negócio e começaram a pensar na construção de um pequeno prédio no terreno para instalação de uma nova farmácia. Nessa época Miriam trabalhava como administradora de um laboratório de análises clínicas em Londrina. Nunca me esqueço da coragem de ambos em venderem o apartamento e carro que possuíam para investirem na construção. A famosa atitude face ao risco que move muitos empreendedores. Nesse período Carolina já era nascida e eles alugaram um pequeno apartamento enquanto investiam na abertura da nova loja. Decidiram que seria uma nova empresa cujo nome de fantasia ficou Farmácia Vale Verde. Miriam saiu do emprego anterior e começou a dividir com Rubens a administração da nova loja, enquanto Rubens ainda se dedicava também à Farmácia Augusto. Seu tempo se tornou escasso para outra cois que não fosse trabalho. Continuava fazendo de tudo na farmácia Augusto e ainda tinha que orientar o pessoal da Vale Verde que Miriam supervisionava. Mas essa era uma situação não muito confortável!
Foi nessa época, que Rubens e Miriam conversando muito perceberam que algo tinha que ser feito. A abertura da Vale Verde indicava uma possibilidade de expansão da empresa. Uma nova oportunidade estava surgindo de abrirem uma filial em local ainda mais central de Londrina. Foi assim que um dia que Rubens tomou a decisão: quero ser empresário, não posso continuar sendo o "doutorzinho da vila"! Rubens era procurado constantemente pelos fregueses da Farmácia Augusto para orientar sobre medicamentos, o que é comum na maioria das pequenas farmácias. Mas, ele e Miriam queriam mais do que isso, queriam construir uma empresa bem sucedida e maior.
Essa decisão implicou em uma reordenação das tarefas de cada um dos dois e, também, dos empregados. A empresa começou a se tornar mais formalizada, com mecanismos de coordenação mais sofisticados. Houve um tempo em que buscaram apoio em um consultor. Novas lojas foram sendo abertas, a complexidade se tornando maior, passaram por períodos difíceis, por momentos mais críticos, mas também tiveram bons momentos. Hoje são 24 lojas e um laboratório de manipulação em sete municipios do norte paranaense. Uma história de sucesso, conduzida por uma casal muito competente, que ao longo dos anos soube compartilhar a gestão de uma empresa de forma eficaz. Aliás, o casal fez parte de um estudo que desenvolvi junto com a Hilka Vier na época que estive na UEM. Fizemos uma análise de alguns casos de empresas bem sucedidas criadas e dirigidas por casais. A Farmácia Vale Verde foi um desses casos estudados. Atualmente, a empresa está passando por um novo período: Carolina, que era uma criança pequena quando isso tudo começou, está assumindo a administração do grupo. Vida longa à Farmácia Vale Verde!
Mintzberg, formas organizacionais e o poderoso chefão
No mês passado, ganhei de presente de Amanda, minha enteada, o livro "O Poderoso Chefão" de Mário Puzo, que foi a origem dos filmes dirigidos por Francis Ford Coppola na trilogia "O Poderoso Chefão". Os filmes já vi várias vezes, inclusive o primeiro, tive a oportunidade de rever dias atrás. O livro não conhecia e fiquei impressionado pela fidelidade entre livro e filmes. Isso não é surpreendente, pois Mario Puzo foi co-autor do roteiro dos filmes junto com Coppola. No entanto, foi muito agradável ler o romance pois, durante a leitura, visualizava as cenas que vi nos filmes. Foi um ótimo presente da Amanda!
Há no livro um capítulo em que Puzo descreve a origem e evolução dos negócios de Don Corleone. Para mim foi muito prazeiroso ver a descrição feita sobre como Vito Andolini, seu verdadeiro nome, tornou-se Don Corleone, chefe de uma poderosa organização com diversos interesses de negócios. Essa descrição me fez lembrar da estória narrada por Mintzberg sobre a Senhora Raku em seu livro "Structure in Fives - Designing Effective Organizations" publicado em 1983. Esse livro é uma versão resumida de estudo realizado por Mintzberg, de três anos de duração, sobre a literatura que tratava de estruturação das organizações. Esta pesquisa se materializou em um livro seminal para os estudiosos das configurações organizacionais - "The Structure of Organizations" - publicado em 1979 pela Prentice-Hall.
Mas, como estava dizendo, Mintzberg relata na parte introdutória de ambos os livros, como a Senhora Raku que fazia cerâmica no porão de sua casa teve que lidar com as necessidades de organizar suas atividades para atender um volume cada vez maior de pedidos para seus potes que se tornaram famosos e bem aceitos no mercado. Isso significou, em um primeiro momento, a contratação de uma assistente para ajudar na preparação do material que seria finalizado pela Sra. Raku, que era a artesã dos produtos demandados pela lojas. Assim, suas atividades informais de ceramista deram lugar a uma pequena empresa. Com o passar do tempo, a empresa foi contratando cada vez mais gente, a produção começou a ter que ser feita também por outros artesãos e criaram-se linhas de montagem. A Sra. Raku teve seu papel dentro da empresa cada vez mais transformado. Sua atividade de artesã diminuía e ela tinha que dedicar uma parte cada vez maior de seu tempo às atividades de coordenação e organização do trabalho das pessoas que passavam a colaborar com a empresa. Certo dia, a Sra Raku decidiu diversificar seus produtos e começou a produzir pisos cerâmicos, tijolos e peças sanitárias, criando três divisões - produtos de consumo, produtos para construção e produtos industriais. Assim, o trabalho da Sra Raku passou a ser o de coordenar as atividades dessas divisões por meio de relatórios de desempenho trimestrais com ações corretivas quando os resultados, em termos de lucratividade e crescimento, estavam aquém do previsto no orçamento anual. Sua pequena empresa de cerâmica tinha-se tornado uma organização grande e complexa.
Mintzberg em seus livros chama nossa atenção para o fato de que a criação de uma estrutura organizacional envolve dois requisitos fundamentais: a divisão do trabalho em tarefas distintas e a coordenação dessas tarefas. Ao contrário do que propunha a maior parte da literatura da época, Mintzberg defendeu que não era possível que houvesse uma resposta única que representasse a melhor estrutura possível para qualquer empresa. E assim surge a proposta de configurações organizacionais de Mintzberg, que nos permite entender que diferentes formas de divisão do trabalho demandam diferentes mecanismos de coordenação e levam à configuração de diferentes formas organizacionais. Quem quiser saber mais sobre essas idéias, pode buscar também a versão em português do " Structure in Fives", cuja segunda edição foi publicada pela Editora Atlas em 2003 sob o título "Criando Organizações Eficazes: estruturas em cinco configurações".
Quanto à trajetória de Don Corleone, esta foi retratada no filme O Poderoso Chefão - Parte II. Mas, no capítulo 14 do romance de Mário Puzo, em 33 páginas, pode-se ver como na ficção também as tarefas da organização de Don Corleone começaram a ser divididas ao longo do tempo e os mecanismos de coordenação foram se sofisticando com o crescimento e o sucesso da Família Corleone. Será que Mintzberg leu "O Poderoso Chefão" quando estava estudando a literatura de estrutura organizacional?
Há no livro um capítulo em que Puzo descreve a origem e evolução dos negócios de Don Corleone. Para mim foi muito prazeiroso ver a descrição feita sobre como Vito Andolini, seu verdadeiro nome, tornou-se Don Corleone, chefe de uma poderosa organização com diversos interesses de negócios. Essa descrição me fez lembrar da estória narrada por Mintzberg sobre a Senhora Raku em seu livro "Structure in Fives - Designing Effective Organizations" publicado em 1983. Esse livro é uma versão resumida de estudo realizado por Mintzberg, de três anos de duração, sobre a literatura que tratava de estruturação das organizações. Esta pesquisa se materializou em um livro seminal para os estudiosos das configurações organizacionais - "The Structure of Organizations" - publicado em 1979 pela Prentice-Hall.
Mas, como estava dizendo, Mintzberg relata na parte introdutória de ambos os livros, como a Senhora Raku que fazia cerâmica no porão de sua casa teve que lidar com as necessidades de organizar suas atividades para atender um volume cada vez maior de pedidos para seus potes que se tornaram famosos e bem aceitos no mercado. Isso significou, em um primeiro momento, a contratação de uma assistente para ajudar na preparação do material que seria finalizado pela Sra. Raku, que era a artesã dos produtos demandados pela lojas. Assim, suas atividades informais de ceramista deram lugar a uma pequena empresa. Com o passar do tempo, a empresa foi contratando cada vez mais gente, a produção começou a ter que ser feita também por outros artesãos e criaram-se linhas de montagem. A Sra. Raku teve seu papel dentro da empresa cada vez mais transformado. Sua atividade de artesã diminuía e ela tinha que dedicar uma parte cada vez maior de seu tempo às atividades de coordenação e organização do trabalho das pessoas que passavam a colaborar com a empresa. Certo dia, a Sra Raku decidiu diversificar seus produtos e começou a produzir pisos cerâmicos, tijolos e peças sanitárias, criando três divisões - produtos de consumo, produtos para construção e produtos industriais. Assim, o trabalho da Sra Raku passou a ser o de coordenar as atividades dessas divisões por meio de relatórios de desempenho trimestrais com ações corretivas quando os resultados, em termos de lucratividade e crescimento, estavam aquém do previsto no orçamento anual. Sua pequena empresa de cerâmica tinha-se tornado uma organização grande e complexa.
Mintzberg em seus livros chama nossa atenção para o fato de que a criação de uma estrutura organizacional envolve dois requisitos fundamentais: a divisão do trabalho em tarefas distintas e a coordenação dessas tarefas. Ao contrário do que propunha a maior parte da literatura da época, Mintzberg defendeu que não era possível que houvesse uma resposta única que representasse a melhor estrutura possível para qualquer empresa. E assim surge a proposta de configurações organizacionais de Mintzberg, que nos permite entender que diferentes formas de divisão do trabalho demandam diferentes mecanismos de coordenação e levam à configuração de diferentes formas organizacionais. Quem quiser saber mais sobre essas idéias, pode buscar também a versão em português do " Structure in Fives", cuja segunda edição foi publicada pela Editora Atlas em 2003 sob o título "Criando Organizações Eficazes: estruturas em cinco configurações".
Quanto à trajetória de Don Corleone, esta foi retratada no filme O Poderoso Chefão - Parte II. Mas, no capítulo 14 do romance de Mário Puzo, em 33 páginas, pode-se ver como na ficção também as tarefas da organização de Don Corleone começaram a ser divididas ao longo do tempo e os mecanismos de coordenação foram se sofisticando com o crescimento e o sucesso da Família Corleone. Será que Mintzberg leu "O Poderoso Chefão" quando estava estudando a literatura de estrutura organizacional?
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