Sou professor de administração há mais de 30 anos,
para ser mais exato, em agosto desse ano completei 33 anos de atuação no ensino
e pesquisa em Administração. Entre 1977 e 1981, enquanto fazia minha graduação
em Administração na Universidade Estadual de Londrina, publiquei algumas
crônicas e pequenos textos em uma seção da Folha de Londrina que era editada
pela jornalista Ana Aromatário. A seção tinha o título de “Qual é a deles?” e
destinava-se à publicação de textos de leitores do jornal. Não era uma seção de
cartas do leitor! Mas, uma seção em que muitos leitores escreviam sobre temas
que lhes interessavam. Publiquei algumas vezes nessa seção. Eram textos não
acadêmicos, mas em alguns deles tratei de questões relacionadas á
Administração. Muitas vezes recebi comentários elogiosos sobre o que escrevi
naquela época.
Depois de concluir meu mestrado na Faculdade de
Economia e Administração comecei minha carreira de escritor acadêmico. Meu
primeiro texto científico foi publicado na revista Temática – Estudos de
Administração, em 1984, quando escrevi sobre a relação entre ecologia de
empresas e fomento econômico. A Temática foi uma publicação do Departamento de
Administração da UEL que deixou de existir. Dois anos depois, publiquei um
artigo na Revista de Administração da USP, no qual relatei estudo feito sobre
atividades de apoio à pequena empresa no Reino Unido. Desde essa época, peguei
gosto pela pesquisa e publicação acadêmicas. Nesses trinta anos, foram mais de
cinquenta artigos de cunho acadêmico/científico! Uma boa produção que tem sido
referenciada por outros estudiosos. Isto me deixa muito feliz!
Mais recentemente, por meio desse blog, voltei à escrita
menos acadêmica ou menos científica. Aqui tenho registrado minhas reações e
comentários a temas que estudo na Administração, mas tenho evitado ser muito
rigoroso em termos científicos. Esse é o espaço para minhas emoções se juntarem
ao uso da razão. Alguns dos textos que aqui publiquei têm me causado muito mais
prazer do que trabalhos acadêmicos que são muito importantes em minha carreira
de pesquisador. É outra forma de expressão!
Mas, às vezes, tento misturar os estilos em uma
mesma publicação. No ano passado, por exemplo, graças à compreensão de seus
editores, publiquei um texto na edição inaugural da Organizações e
Sustentabilidade (http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/ros/article/view/15798)
no qual teci reflexões sobre sustentabilidade e responsabilidade social
corporativa a partir do cinema. Escrever o parágrafo inicial desse texto foi um
momento quase mágico para mim. Sem nenhuma falsa modéstia, sugiro que você dê
uma olhada nesse texto.
A regra geral que tenho seguido, no entanto, é
tentar adequar o estilo à publicação, ou seja, ao seu público. Foi o que pensei
estar fazendo quando, dois meses atrás, ajudei Sara a descrever um estudo de
caso sobre capital social e empreendedorismo em um texto que submetemos a uma
conferência sobre empreendedorismo que acontecerá na Espanha no próximo mês.
Meu julgamento foi que estávamos preparando um texto para uma reunião acadêmica
ou científica. Seguimos o script da
produção de um texto acadêmico. Introdução, desenvolvimento e conclusão bem
articuladas por uma boa base teórica e descrição cuidadosa dos procedimentos do
estudo. Na conclusão reforçamos o que o caso nos ensinou sobre essa relação. Mas,
parece que me enganei. Como descobri isso?
Ontem recebi o resultado da avaliação do trabalho.
Ele foi aceito para apresentação no evento. Infelizmente, como o anúncio da
aprovação veio um pouco tarde, Sara e eu não poderemos participar da conferência.
Eu ia tentar levantar recursos para custear minhas despesas de viagem. A parte
de Sara seria coberta por nós. Mas, não há mais tempo para isso junto aos
órgãos de fomento brasileiros. Assim, tivemos que desistir da participação e da
publicação do trabalho.
A essa altura você deve estar se indagando:
_ Se o trabalho foi aceito, onde está o engano?
Pois é meu caro leitor ou minha cara leitora,
apesar de bem sucedido, descobri que a linguagem não estava adequada ao público
pelo comentário que o(a) avaliador (a) fez sobre o nosso texto. Eis o
comentário:
Bem, julgo
que o artigo é de aceitar. Porém, parece-me, em geral demasiado palavroso.
Apesar, disso, acho que a maior parte do conteúdo é, já, aceitável.
A única
secção que, creio eu, deve ter uma modificação é dedicada à revisão
bibliográfica. Parece-me claramente demasiado extensa. A meu ver, deve ser
reduzida ao mínimo indispensável - conter apenas o que esteja diretamente
ligado ao estudo de caso em causa.
O que é dito
nas restantes seções poderia ser dito em menos palavras e de uma forma mais
clara. Porém, do meu ponto de vista, tem já qualidade suficiente.
Ora veja você! Parece que Sara e eu não precisávamos
ter dedicado tanto esforço a demonstrar a relação do caso estudado com a
literatura e tampouco discutir o que o caso trouxe de novo para o entendimento
da relação entre capital social e empreendedorismo. Parece-me que era esperada
apenas a descrição de um caso prático bem sucedido. Erramos no estilo, mas
acertamos no alvo: o trabalho foi aprovado!
Só fiquei um pouco chateado de ter sido adjetivado
como palavroso! Sabe o que isso quer dizer no português brasileiro? Prolixo! Eu
podia ter ido dormir sem essa ontem à noite!
Ah! Outra coisa:
_ Espero não ter sido palavroso nesse post!