Este blog é de autoria de Fernando Antonio Prado Gimenez. Destina-se a textos, reflexões, memórias e comentários sobre empreendedorismo e pequenas empresas.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
sábado, 23 de novembro de 2013
Perto da Concha Acústica: o Cachorro-quente que virou Pitbull!
Ontem,
22 de novembro, fiz um lanche em uma das esquinas do centro de Londrina.
Voltava, a pé, do lançamento da Revista Organizações e Sustentabilidade cujo
editor é o Ivan de Souza Dutra, professor do Departamento de Administração da Universidade
Estadual de Londrina..
Tive
o privilégio de ser o autor de um ensaio na primeira edição deste novo
periódico do Programa de Pós-graduação em Administração da UEL. Por um acaso do
destino, estava em Londrina no dia da cerimônia organizada por Ivan, Luis
Miguel Luzio dos Santos e Marli Verni.
Ambiente
acolhedor e momentos de reencontro com colegas e ex-alunos. Lilian Aligleri
também estava lá, com a filhinha de nove meses e Marli, sua mãe. Pena que Luís
Antônio, pai de Lilian, não veio. Saudades desse amigo de longa data, professor
competente sempre homenageado pelos estudantes.
Ao
final do evento, decidi caminhar até a casa de minha mãe onde estou hospedado.
Pouco mais de mil metros, a partir de um shopping nas proximidades da
rodoviária até Concha Acústica de Londrina, vizinha à Catedral. Os mais jovens
devem estar curiosos! O que é uma concha acústica?
Não
vi muitas em minha vida. Na verdade, acho que conheço só a de Londrina. É uma
construção de alvenaria, convexa, em forma de concha, que fica sobre um palco
em uma praça pública. A praça tem cerca de dez fileiras de bancos de concreto.
Na Concha Acústica são apresentados shows musicais, peças e outras atrações. Já
foi muito usada no passado. Ultimamente, durante as noites, tem sido utilizada
como dormitório por sem-tetos.
Mas,
o que quero relatar é a história do cachorro-quente que virou pitbull! Subindo
pela rua Maranhão notei um aglomerado de pessoas na esquina com Souza Naves, ao
lado de um carrinho de cachorro-quente.
Apesar
de ter comido e bebido no lançamento da revista, resolvi comer um cachorro-quente.
A cena e a fresca brisa noturna me trouxeram lembranças de minha juventude.
Sempre que saía das sessões noturnas do Cine Vila Rica, voltava a pé para casa.
No caminho, na Avenida Higienópolis, comia um cachorro-quente. Sempre no mesmo
carrinho.
Aproximei-me
e o lancheiro me disse:
_ Se
for comer, põe o nome na lista.
Me
passou uma prancheta com uma caneta e folha de papel. Nela já havia mais de 15
nomes. Quando terminou de preparar o lanche que estava fazendo, pegou a
prancheta e chamou alguém. Em seguida me avisou:
_
Tem mais dois na sua frente.
_
Não tem pressa, respondi. Não tenho nada pra fazer esta noite.
Na
minha vez, ele perguntou:
_ O
que vai ser?
_
Duas salsichas, maionese, catchup e mostarda.
_
Pit 2. Não quer milho verde e batata palha?
_
Não. Como você chama o lanche?
_
Pit 2. Pão pequeno com duas salsichas. Pit 1quando tem uma salsicha.
Esse
foi o começo do papo. Estimulado por minhas perguntas, o lancheiro me contou
que está nisso há 29 anos. Foi office-boy antes de começar a fazer lanche na
rua.
Há nove anos está nessa área da cidade, mas antes trabalhou na Higienópolis e
na Quintino Bocaiúva. Mais ou menos dez anos em cada rua. Nessa altura da
conversa é que reconheci a figura:
_
Lembro de você da Higienópolis! Como está a vida?
_
Não está mal. Melhorou nos últimos dez anos quando comecei a fazer sucos. A
partir do meio do dia preparo tudo e venho pra rua entre quatro e quatro e
meia. Começo perto da delegacia e, mais tarde venho para esse lugar. Os sucos
são meu diferencial junto com os lanches maiores: dogão e pitbull.
Nesse
momento, chega uma moça com uma criança no colo e um menino ao lado. Uma graça
de garoto, quatro anos no máximo, que fala para o lancheiro:
_ Oi
Davi. Eu voltei!
Davi
sorri e brinca com o menino:
_ Eu
vi. Mas achei que era um gatinho.
_
Não era um gatinho. Era eu.
A
cena me encantou!
Ao
mesmo tempo, chegam três rapazes. Com uma larica danada, um deles pede:
_
Faz três bem regadão!
Davi
repete o procedimento:
_
Coloca os nomes aqui, para eu chamar quando for fazer.
Continuo
conversando com Davi, agora o chamando pelo nome que aprendi com o garoto. Davi
me conta sobre o que conseguiu nesse ofício:
_
Duas casinhas, um carro e uma pequena caminhonete para transportar o carrinho e
material.
Parece
muito satisfeito. Pergunto se não pensa em ter um espaço próprio, mesmo que
seja apenas com uma porta.
_
Não! Gosto da rua, não conseguiria ficar num lugar só.
Aprendo
com Davi! Fazer diferente, mas do jeito
que gosta. Enquanto conversamos, vários clientes pedem por suco.
_
Ele tem vários, mas o melhor é morango com danone, me diz uma moça.
_
Sou bom no suco, garante Davi.
Chama
o primeiro dos rapazes:
_ O
que vai ser?
_
Bem regadão, repete o cara.
_
Vai ser o pitbull então. Pão grande, duas salsichas, maionese, catchup,
mostarda, maionese verde, milho, frango na chapa e batata palha. Pros três?
_
Sim, respondem os três ao mesmo tempo.
Davi
olha pra mim e diz:
_
Tem que dizer o que é, pra não reclamarem depois. O dogão é quase igual. Só não
tem o frango.
Quase
ao fim da conversa, Davi me ensina um pouco mais. Um dos três jovens pega uma
bisnaga de catchup. Davi avisa:
_
Não encosta o bico da bisnaga onde morder.
_ A
fiscalização pega no pé? Pergunto.
_
Não, eles estão certos, diz Davi. Na mordida pode estar alguma bactéria.
Em
seguida, fala para o jovem:
_
Traz a bisnaga aqui. Vou fazer um potinho para você.
Davi
se mostra socialmente responsável e, ainda, consegue customizar o pitbull para
o cliente.
O
que vi nessa noite? Davi de bem com a vida, trabalhando de segunda a sábado,
descansando aos domingos, se sentindo bem sucedido! Sabendo atender, sendo
organizado e cortês, socialmente responsável e desenvolvendo seu diferencial.
Nada mais adequado para uma noite em que surgiu a Revista Organizações e Sustentabilidade!
Nada mais adequado para uma noite em que surgiu a Revista Organizações e Sustentabilidade!
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Sobre Desafios e Ganas ou Cabelo e Barba em uma Barbearia Portuguesa
Este texto foi escrito no dia 18
passado. Em meu celular dentro de um ônibus entre Faro e Lisboa:
Poder viajar para fora do Brasil é
uma oportunidade de vida ímpar. Depois de sete dias em Portugal, estou a
caminho de Lisboa para a viagem de retorno. Um problema no avião em Faro me
colocou em um ônibus que segue pela autopista A2 há cerca de quarenta minutos.
Sara cochila a meu lado.
Aproveito para refletir sobre essa
semana em que reencontrei Fernanda. Há um mês fora do Brasil, passou por
momentos desagradáveis quando, logo na primeira semana, teve sua bolsa furtada.
Perdeu algum dinheiro, passaporte, cartões de banco e crédito. Estava
desanimada quando nos encontramos em Sevilha. Aos poucos seu semblante foi
desanuviando. Passeamos com Sara e Dona Aparecida uma noite e um dia por lá.
Depois, no dia seguinte fomos a Lisboa onde passeamos por dez horas.
Hoje, ao deixá-la na rodoviária de
Olhão, fiquei feliz ao vê-la pronta para a luta da vida de novo. Cheia de
desafios! Com ganas de enfrentá-los! Ao falar com ela no meio da tarde, já
estava na Universidade de Sevilha, fazendo seus trabalhos do Mestrado em
Comunicação e Cultura.
Ver Fernanda pronta para recomeçar me
trouxe à lembrança o encontro com Vitálio, técnico em cabelo, como me informou
o crachá em seu guarda-pó. Na quarta pela manhã, dia 13, passeando pelo centro
de Olhão, indago por uma barbearia. Um vendedor em uma praça sugere que vá a
barbearia do Vitálio. Sigo suas indicações pelas vielas de Olhão e logo a
encontro.
De imediato, lembrei-me de seu Lauro
e sua barbearia. Personagem de minha infância e adolescência com seu pequeno
salão onde eu e meus irmãos estivemos incontáveis vezes. Primeiro com nosso pai
e, quando maiores, sozinhos.
O salão do Vitálio tem apenas uma
porta. Duas cadeiras antigas de barbeiro ao fundo, de frente para um espelho.
Paredes laterais emolduradas por espelhos na altura dos olhos. Abaixo dos
espelhos, cadeiras para os clientes. Fotos, gravuras e pequenos quadros
enfeitam as paredes.
Ao entrar, havia um par de clientes
sendo atendidos e mais dois a esperar. Perguntei a um dos barbeiros se poderiam
me atender. Diante da resposta positiva pus-me a esperar.
Vitálio, cujo nome só descobri quando
foi me atender, conversava com um senhor mais idoso. De repente sai-me com uma
pergunta ao idoso:
_ Quero ver se está com o cérebro a
funcionar? O que vem primeiro: o Natal ou o Novo Ano?
A resposta do idoso foi:
_ Natal, ora pois.
_ Errado, disse o Vitálio. O novo ano
vem sempre antes do Natal. O Natal vem sempre ao final do ano.
Continuou:
_ Que mês tem vinte e oito dias?
_ Fevereiro.
_ Não. Todos os meses têm vinte e
oito dias.
Nesse momento, o outro barbeiro
entrou na conversa:
_ Em que mês as mulheres mijam menos?
No meio da risada de todos, o próprio
respondeu:
_ Fevereiro, pois tem menos dias.
Assim, o tempo foi passando e chegou minha vez de ser atendido.
Expliquei como queria cabelo e barba. Não precisei falar muito. O barbeiro só me perguntou o número da máquina para aparar a barba. O resto foi como sempre tivesse me atendido. Perfeito!
Fiz algumas perguntas e descobri que Vitálio tem essa profissão desde os dez anos. Aprendeu com seu pai, que foi ensinado pelo pai também, que aprendera o ofício com seu pai. Há algumas gerações o ofício é transmitido de pai para filhos. Mais recentemente, algumas sobrinhas também se tornaram cabeleiras.
Vitálio no ano que vem completa sessenta e seis anos. Fundou seu salão ha quarenta e um anos. Está pensando em se aposentar. Caso isso ocorra, completará 56 anos de profissão e 42 anos com sua pequena empresa. Fico pensando nos desafios que enfrentou nessa jornada. Com certeza deve ter tido muita gana para enfrentá-los.
Tenho certeza que, além do serviço competente, o clima que vivenciei em cerca de uma hora é um dos aspectos que garantiram a permanência do Vitálio no mercado por tanto tempo.
Tenho certeza que, além do serviço competente, o clima que vivenciei em cerca de uma hora é um dos aspectos que garantiram a permanência do Vitálio no mercado por tanto tempo.
Feliz de mim que tive o acaso a meu favor me permitindo conhecer Vitálio, o técnico em cabelo!
domingo, 10 de novembro de 2013
Sustentabilidade da Sociedade é preocupação relevante para as empresas mais admiradas do Brasil?
Recebi ontem a edição especial de Carta Capital - As
empresas mais admiradas no Brasil, número 16. No ano passado, publiquei um
post (http://3es2ps.blogspot.com.br/2012/10/as-empresas-mais-admiradas-do-brasil-e.html)
tecendo alguns comentários sobre os resultados dessa
pesquisa, decidi repetir a análise hoje, seguindo os mesmos procedimentos do ano
passado.
Nessa publicação, as empresas são classificadas segundo a
percepção de mais de 1.200 executivos a respeito de sua aderência a treze
fatores-chave que, no cômputo geral de importância atribuída pelos respondentes
da enquete, foram hierarquizados de forma distinta em 2013. No ano passado,
Ética e Inovação eram os principais fatores-chave, seguidos por Qualidade de
Produtos e Serviços, Respeito pelo Consumidor e Solidez Financeira. No último
levantamento, a Qualidade de Produtos e Serviços assumiu a liderança do
ranking, seguida por Respeito pelo Consumidor, Ética, Inovação e Solidez
Financeira. Resultado intrigante! Um rearranjo de prioridades na condução das
empresas avaliadas? Parece que sim, pois houve também mudanças de posição em
relação aos outros fatores-chave. A classificação dos fatores-chave nos dois
anos é apresentada no quadro abaixo:
ORDEM
|
2012
|
2013
|
1º.
|
Ética
|
Qualidade
de produtos e serviços
|
2º.
|
Inovação
|
Respeito
pelo consumidor
|
3º.
|
Qualidade
de produtos e serviços
|
Ética
|
4º.
|
Respeito
pelo consumidor
|
Inovação
|
5º.
|
Solidez
financeira
|
Solidez
financeira
|
6º.
|
Qualidade
de gestão
|
Qualidade
de gestão
|
7º.
|
Compromisso
com desenvolvimento sustentável
|
Compromisso
com RH
|
8º.
|
Compromisso
com RH
|
Compromisso
com desenvolvimento sustentável
|
9º.
|
Responsabilidade
social
|
Notoriedade
|
10º.
|
Notoriedade
|
Responsabilidade
social
|
11º.
|
Capacidade
de competir globalmente
|
Compromisso
com o país
|
12º.
|
Compromisso
com o país
|
Capacidade
de competir globalmente
|
13º.
|
A mais
ativa/presente nas redes sociais
|
A mais
ativa/presente nas redes sociais
|
Da mesma forma que no ano passado, chamou minha atenção a distância entre ética e outros
fatores-chave que indicam uma preocupação com os interesses mais amplos da
sociedade: Compromisso com desenvolvimento sustentável (oitava posição), Responsabilidade
social (décima posição) e Compromisso com o país (décima-primeira). Esse
distanciamento me levou a analisar o comportamento dos fatores-chave em cada um
dos setores descritos na publicação (47). Para isso, fiz uma pontuação
ranqueada dos fatores-chaves em cada setor. Isso significou atribuir pontos
para o fator-chave conforme sua posição na escala de importância, ou seja, 13
pontos para o primeiro lugar, 12 pontos para o segundo, 11 pontos para o terceiro
e, sucessivamente, até 1 ponto para a décima-terceira posição.
Em seguida, os fatores-chave foram separados em três grupos,
como feito em 2012: forma de competição no mercado (Posicionamento Competitivo),
capacidade de competição (Competências e Recursos) e compromisso com a sustentabilidade da nossa
sociedade (Sustentabilidade da Sociedade). A presença em redes sociais foi excluída
da análise por se fazer presente em apenas 21 setores, frequentemente nas
últimas posições. Assim, cada grupo ficou com quatro fatores-chave.
De novo, como no ano passado, foi possível verificar que as
empresas mais admiradas devem sua reputação, sob o ponto de vista dos
executivos, muito mais a fatores-chave associados a Posicionamento Competitivo
e Competência e Recursos e menos à preocupação com a Sustentabilidade da
Sociedade. Esse resultado foi um pouco mais acentuado do que em 2012, como pode
ser visto no quadro a seguir:
GRUPO
|
FATOR-CHAVE
|
2012
|
2013
|
||
PONTOS
|
%
|
PONTOS
|
%
|
||
Posicionamento
Competitivo
|
Qualidade
de Produtos e Serviços
|
452,00
|
37,1
|
497,50
|
38,4
|
Respeito
pelo Consumidor
|
487,00
|
490,50
|
|||
Inovação
|
483,00
|
420,50
|
|||
Capacidade
de Competir Globalmente
|
118,00
|
164,50
|
|||
Competências
e Recursos
|
Solidez
Financeira
|
411,50
|
31,7
|
366,50
|
32,3
|
Qualidade
de Gestão
|
364,00
|
359,00
|
|||
Compromisso
com RH
|
301,00
|
322,50
|
|||
Notoriedade
|
240,00
|
273,00
|
|||
Sustentabilidade
da Sociedade
|
Ética
|
546,00
|
31,5
|
455,00
|
29,3
|
Compromisso
com Desenvolvimento Social
|
335,00
|
301,50
|
|||
Responsabilidade
Social
|
282,00
|
247,00
|
|||
Compromisso
com o País
|
143,00
|
196,00
|
Esse resultado é um pouco desanimador par
aqueles que pensam na possibilidade da prática de uma administração equilibrada
entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Em 2012, os aspectos
sociais e ambientais quase igualaram a importância atribuída aos fatores que
indicam uma capacidade competitiva econômica das empresas. No entanto, em 2013,
os fatores-chave da Sustentabilidade da Sociedade perderam 2 pontos
percentuais. Como será em 2014? Estou começando a gostar de fazer essa análise,
mas não sou muito crente na possibilidade de um melhoria significativa
na atribuição de importância ao terceiro grupo. Espero estar errado!
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