terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Artista: permanência, mudança e lealdade ou "Se você quer ser empreendedor precisa ter o que os outros não têm"

Assisti nessa noite a O Artista, filme mudo de Michel Hazanavicius produzido em 2011, que conta a estória de George Valentim, ator bem sucedido do cinema mudo, que precisa enfrentar a decadência na carreira com o surgimento do cinema falado. Com atuações primorosas de Jean Dujardin, no papel principal e Bérenice Bejo, como a figurante Peppy Muller, que conhece George em uma filmagem e acaba se tornando uma estrela de Hollywood na novidade do cinema falado, a trama me fez refletir sobre como lidamos com a mudança, nosso desejo de permanência e a importância da lealdade em nossa vida.
Mais que tudo, quando Peppy e e George se conhecem e aparentemente se sentem atraídos, uma fala deste para aquela me chamou a atenção. Diz ele, ao fazer uma pinta com lápis de maquiagem na face de Peppy, o que a deixa belíssima e praticamente irresístivel:
_ "Se você quer ser atriz, tem que ter o que as outras não têm."
A partir daí a história vai se desenrolando, com uma vertiginosa e bem sucedida carreira de Peppy, enquanto que George Valentim começa a ver a sua ir ladeira abaixo. Nessa trajetória, Valentim conta com a lealdade canina de seu pequeno cão, que também estrelava seus sucessos no cinema mudo e de seu chofer, vivido pelo veterano ator James Cromwell, um misto de faz-tudo, de lealdade quase que canina, que segue com o ator decadente por um ano sem receber salário.
Além da beleza e ousadia do filme, filmado em preto e branco, reproduzindo o formato dos filmes mudos do início da história do cinema, inclusive nos créditos iniciais, e trilha sonora muito bem ajustada aos diferents humores do filme, vi nele uma metáfora para o empreender.
Para mim, a ação empreendedora demanda uma contante busca do equilíbrio entre o permanente e o mutável. O sucesso de empreendedoras e empreendedores depende muito de sua capacidade de perceber quando a aposta no mesmo de ontem ainda é valiosa e, quando guiadas(os) por transformações ao seu redor, percebem a hora de mudar. Meu amigo Paulo Grave, há poucos dias, chamou minha atençao para algo fundamental: a capacidade essencial do empreendedor não está na sua experiência anterior, que apenas lhe permite reproduzir o que fez, caso nada tenha mudado, mas sim em prognosticar o momento de inovar. Nessa hora, sua experiência será menos importante do que a competência em criar algo novo que se ajuste ao diferente que será enfrentado.
É este o drama vivido por George Valentim que aposta na sua experiência e fracassa ignorando os desejos do público. Mas, nem tudo está perdido. No momento derradeiro, quase desesperador, Peppy Muller, tão leal quanto o cão e o chofer de George, embora movida por outro tipo de amor, encontra uma saída. Não direi qual é para não desmanchar o prazer de quem ainda não viu o filme.
E assim, acabo enxergando mais um fator essencial para a ação empreendedora. Longe de ser algo que se faz sozinho, empreender só é bem sucedido quando se conta com a lealdade daqueles que nos ajudam: os co-adjuvantes (colaboradores) que podem assumir papéis centrais na trama fascinante do empreendedorismo.
Ou seja, se você quer empreender, precisa ter o que os outros não têm!

P.S.: Tão bom quanto ver o filme junto a Sara, foi encontrar Roberta e Tomás que não víamos há muito tempo e cujo afeto me é muito valioso.

3 comentários:

  1. Maíra, também me lembrei do Crespúsculo dos Deuses. Sim, é um filme belíssimo. Abraços.

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  2. Querido amigo Fernando,

    este filme se faz muito especial, por inúmeros motivos. Considero um dos principais o fato de que todos possuem a capacidade da fala, enquanto que poucos detêm a da comunicação.

    Cada indivíduo tem a sua capacidade de comunicação, seja pela fala, pela dança, pela interpretação, dentre outtras. Mudar a capacidade de se comunicar pode ser algo extremamente doloroso, penoso e que depende de vários fatores, como força de vontade e coragem. Mostrar-se de forma diferente para o mundo requer também a percepção de que caso não se modifique a forma de se expressar talvez deixe de ser ouvido, nascendo exatamente deste fato o medo, isto porque, todos querem ser ouvidos de alguma forma...

    Entretanto, quando se verifica a real necessidade de mudança, existe a possibilidade de que a mesma seja feita de maneira que não agrida tanto as características originárias da pessoa (seja ela física ou jurídica).

    No caso do filme, o protagonista muda, depois de muito sofrimento, mas não da forma mais óbvia. Acrescenta à interpretação a dança e assim satisfaz tanto ao público quanto a si mesmo. Entendo que este raciocínio possa ser utilizado nas organizações, sem dúvida alguma.

    Já em relaçao a lealdade acho que o ator conseguiur um bom número, três, a mulher que o amava, o motorista e o cachorro. Será que em momentos difíceis todos conseguem chegar a um número tão grande de amigos verdadeiros?

    Ficamos muito felizes em tê-los conosco neste filme, amigos que encontramos demais ao acaso, mas será que o acaso é algo tão frequente?

    Abraços e um ótimo, excelente final de semana. Se forem ao cinema nos avisem, quem sabe nos encontramos novamente!!!!!! Seria um grande prazer!!!!

    Roberta e Tomás.

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    1. Roberta e Tomás,

      Interessante o ponto sobre formas de comunicação. Não havia pensado nisso.
      Engraçado é que, pensando bem, o que estou fazendo nesse blog é buscar uma nova forma de comunicação. Diferente da que estou acostumado, a acadêmica.
      Abraços,

      Fernando

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