segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Pandora, Medianeras e a esperança no empreendedorismo

Para Simone.
 
Há muitos anos tinha a intenção de me debruçar sobre as histórias da mitologia. Deuses, ninfas, centauros e humanos povoam a literatura e o cinema. De vez em quando encontro uma referência a Zeus/Júpiter, relatos dos trabalhos de Hércules/Astérix na animação, a paixão de Orfeu e Eurídice retratada no Orfeu Negro, a tragédia de Medéia narrada por Shakespeare, filmada por Pasolini e transformada em peça teatral por Chico Buarque e Paulo Pontes na inesquecível Gota D´água, a caixa de Pandora nos Caçadores da Arca Perdida. Mas, sempre sentia uma incompletude e uma vontade de saber mais.
 
Outro dia encontrei uma edição de bolso, em dois volumes, das Melhores Histórias da Mitologia (A.S. Franchini; Carmen Seganfredo, L&PM Pocket, 2012). Será que foi Minerva, a deusa da Sabedoria, que colocou os livros em meu caminho? Não resisti e, mais uma vez, quebrei a promessa de não comprar livros enquanto não concluísse a leitura de vários que estão em minha mesa do escritório, no criado mudo ao lado da cama, e até dentro da mala que me acompanha nas viagens curtas a Brasília. Em algumas horas devorei o primeiro volume. 55 histórias que começam com o Nascimento e Glória de Saturno, cuja morte é relatada no Nascimento e Glória de Júpiter, seguida pela Guerra dos Titãs. Foi delicioso tomar conhecimento de detalhes que não sabia e relembrar coisas que me haviam contado no passsado: o nascimento de Vênus, a desventura de Ícaro, o rapto de Europa. De como a ninfa Quelone se transformou em uma tartaruga por não ter ido ao casamento de Júpiter e Juno, que aliás eram irmãos. As aventuras de Jasão e seu encontro com Medéia e os doze trabalhos de Hércules. De como Minerva transformou Aracne, uma artesã do fio inigualável, em uma aranha que fez a mais bela teia, tudo isso para desespero ainda maior da deusa que não aceitava ser superada por uma humana.
 
Enfim, são muitas as histórias, mas a da Caixa de Pandora me impressionou demais. Tinha comigo a compreensão de que a Caixa de Pandora tinha trazido ao reino dos humanos todas as desgraças e vilanias. E ponto! Mas, a história não é assim tão simples. De forma resumida, Júpiter andava às turras com Prometeu que havia modelado o primeiro homem de barro, além de ter dado aos humanos o acesso ao fogo. Assim, certo dia Júpiter pediu que Vulcano, junto com Minerva, sua mulher, criassem uma companhia para o homem. Os dois criaram Pandora, uma linda mulher, que era quase tão bela quanto a mais bela das deusas. Júpiter ficou muito satisfeito com a criação de Minerva e Vulcano. Em seguida a despachou para o reino dos mortais com um presente em sinal de seu apreço pelos humanos: uma caixa ricamente enfeitada com ouro e prata. Mas era um engodo. Júpiter avisou que Pandora não deveria abrir a caixa nunca. Pandora e a caixa chegaram até Epimeteu, que era o irmão humano de Prometeu e este ficou impressionado com ambas. Levou Pandora e a caixa para seu quarto. Pandora adormeceu e sonhou que abrira a caixa e dela saíram somente coisas belas. Quando acordou não resistiu, abriu a caixa e aí, ... todo mundo sabe o resto da história! Foi um Deus nos acuda! Ou Deuses nos acudam! Da caixa escaparam a Doença, a Gula, a Inveja, a Avareza, a Arrogância, a Crueldade, o Egoísmo, e otras cositas mas!
 
Mas nem tudo estava perdido, em certo momento Pandora conseguiu fechar novamente a caixa e pensou que nada havia sobrado dentro dela. Olhando mais uma vez viu um rosto muito belo e jovem, que Pandora descobriu ser a Esperança.
 
Nesses mesmos dias, minha amiga Simone recomendou muito que eu visse a um filme: Medianeras, filme argentino de 2011 dirigido por Gustavo Taretto. O filme retrata dois jovens, Mariana e Martin, que não se conhecem pessoalmente, cada um com sua vida solitária, até o encontro entre eles. Dividido em três estações - um outono curto, um inverno longo, e a primavera enfim, o filme trata de forma bem humorada e delicada, as buscas típicas de jovens em nossa sociedade contemporânea, mas com ênfase na busca pelo outro, metaforicamente representada pela busca de Wally, em "Onde está Wally?". Filme bem produzido, com ótimas atuações dos personagens, que me emocionou. Para mim, o filme trata da esperança. Apesar de todos os contratempos, enfim chega o momento em que Mariana e Martin se encontram.
 
Fiquei intrigado com a coincidência! Pandora e Medianeras tratando da esperança! O mais incrível para mim, é que havia decidido escrever esse texto quando li a história da Caixa de Pandora. No entanto, os dias foram passando e não consegui fazê-lo. Será que alguns deuses conspiraram para que eu visse o filme antes de escrever o texto? Creio que deve ter sido um trabalho conjunto de Mercúrio e Juno!
 
Pensando sobre o empreendedorismo, o que eu queria escrever logo após ler a Caixa de Pandora diz respeito à esperança que está embutida nessa ação humana. Quando a empreendedora ou empreendedor se motiva para criar algo novo, qualquer que seja o empreendimento, há sempre a esperança de um mundo melhor. Seja esse mundo tão pequeno quanto aquilo que está ao redor de quem empreende, seja esse mundo tão grande quanto a nossa capacidade de sonhar. Mas, empreender é sempre um ato de esperança. Que esse atos sejam sustentáveis em termos econômicos, sociais e ambientais. Só assim, podemos vencer a força divina de Júpiter e nos aproximar de um convívio humano fraterno e solidário!
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário