Graças
ao esforço de preservação da história familiar que minha mãe, Kilda Gomes do
Prado Gimenez, empreendeu ao longo de sua vida, tenho em minhas mãos um álbum
da vida com fotografias, documentos, informações, reportagens impressas e
cópias de textos que escrevi ao longo de boa parte de minha vida. A fotografia
que ilustra este post é a reprodução da contracapa e página inicial de meu
álbum de vida. Esse garoto sorridente sou eu antes do primeiro aniversário.
Em
três semanas começarei minha atuação como professor do Programa de Pós-Graduação em
Políticas Públicas com uma disciplina sobre Políticas Públicas de Fomento ao
Empreendedorismo. Hoje, folheando meu álbum de vida, encontrei algum textos que
escrevi e foram publicados na Folha de Londrina, jornal diário da cidade que
existe há muitas décadas em Londrina. São textos do começo dos anos 90 em que
comentei sobre questões associadas ao estímulo às pequenas empresas e sobre seu
desenvolvimento
Minha
presença neste blog tem sido muito esporádica nos últimos meses. Venho pensando
alguns textos para ele, mas as atividades acadêmicas e administrativas na UFPR
acabam empurrando a escrita para outros momentos. Ao encontrar meus textos de
28 anos atrás, decidi retomar os posts do blog. Começarei com a reprodução daqueles
textos publicados na Folha de Londrina. Um resgate das ideias que estavam em
minha mente à época e, provavelmente, ainda devem fazer sentido. Começo com o
texto Pequenas empresas nos anos 90
de 26 de janeiro de 1990. Nele abordo temas que se consolidariam em meus
estudos sobre estratégia de pequenas empresas que são parte relevante de minha
produção acadêmica desde então. Vem comigo!
Pequenas empresas no
anos 90
O professor Rattner,
em recente artigo na Folha de São Paulo, afirmou que a evolução da informática
aplicada às empresas está delineando um novo paradigma tecnológico, que
demandará das pequenas e médias empresas (PMEs) ações que levem à sua
modernização administrativa, para que possam usufruir plenamente dos benefícios
deste paradigma.
A par das exigências
postas pelo novo paradigma tecnológico, a crescente internacionalização da
economia colocará novos desafios às PMEs, através de uma concorrência mais
acentuada. A formação dos grandes blocos econômicos (Europa 92, EUA e Canadá,
países asiáticos) será um fator adicional no acirramento da competição
empresarial a nível internacional. Por outro lado, as transformações econômicas
e sociais pelas quais vêm passando os países socialistas podem significar
oportunidades comerciais a serem exploradas também pelas PMEs.
O comportamento do
consumidor, por sua vez, está sofrendo uma transformação no sentido de fugir à
padronização que tem caracterizado a sociedade industrial. A diferenciação nos
hábitos de consumo, a procura por produtos e serviços especializados, fazem com
que as vantagens da economia de escala deixem de ser tão importantes. Esta
tendência, aliada às facilidades que a informática e a automação industrial estão
apresentando, levam a crer que os espaços a serem ocupados pelas PMEs poderão ser
muito ampliados.
Para que as PMEs
possam fazer face às ameaças e oportunidades que se delineiam para os anos 90 é
necessário que seus dirigentes passem a adotar, com grande ênfase, duas
práticas administrativas essenciais: o comportamento estratégico e estratégias
de cooperação.
O pequeno empresário,
em geral, adota um estilo de administração introvertido, ou seja, é tão
absorvido por atividades rotineiras de sua empresa que acaba prestando pouca
atenção à evolução do mercado em que atua. A ação do pequeno empresário de
sucesso deve estar muito mais voltada para o relacionamento de seu negócio com
o ambiente empresarial. O sucesso da empresa está, em maior grau, relacionado à
eficácia com que a empresa se adapta às transformações que ocorrem à sua volta
e, em menor grau, relacionada à eficiência com que as operações internas são
realizadas visando conseguir aquela adaptação. Em suma, é preciso que o
dirigente de uma pequena empresa passe a adotar o planejamento estratégico como
uma das ferramentas na administração de seu negócio.
Por outro lado, os
anos 90 exigirão das PMEs novas posturas nas suas relações com fornecedores,
consumidores, reguladores, financiadores e trabalhadores. Estas se
caracterizarão basicamente pela adoção de uma estratégia de cooperação intrasetorial.
Em relação aos
reguladores, as associações de pequenas empresas atualmente vêm desempenhando
uma ação coletiva muito eficaz, através dos grupos de pressão. Este tipo de
atividade, além de divulgar os aspectos positivos do segmento, seus problemas e
necessidades, é eficaz também na obtenção de apoio legislativo, através da
pressão junto aos legisladores, como bem exemplifica a história recente de
nossa última constituição federal.
Da mesma forma, a
nível de ramo de negócio, cooperativas ou associações poderiam ser formadas
visando desenvolver atividades direcionadas para cada um dos públicos externos.
Por exemplo, em relação aos fornecedores, a instalação de centrais de compra
permitiria a obtenção de benefícios em relação a preços, condições de pagamento
e qualidade dos insumos. No que diz respeito aos consumidores, esforços
coletivos poderiam ser desenvolvidos no campo da publicidade institucional e da
pesquisa sobre o consumidor. Estas ações redundariam em ampliação do mercado
total, por um lado, e melhor conhecimento do consumidor por outro. Grupos de
negociação coletiva e centros de treinamento são atividades que podem ser
desenvolvidas no que diz respeito à mão-de-obra.
Se o associativismo,
de uma maneira geral, apresenta excelentes resultados, independentemente do
porte das empresas envolvidas, no caso das PMEs esta prática deve ser
incentivada com a maior ênfase possível, tendo em vista seu enorme potencial de
contribuição na superação das dificuldades que as pequenas empresas enfrentam em
sua ibserção no mercado.
Quem diria? Eu já fui
um apóstolo do planejamento estratégico! Era
impossível escapar dessa influência nos anos 80, meus anos de formação na
graduação e mestrado em administração. Mas, além disso, já havia algum embrião
da preocupação com os stakeholders e com as estratégias que seriam mais tarde
chamadas de coopetição. Por fim, era difícil fugir do caráter normativo do
texto, cheio de o que tinha ou deveria ser feito!
O
texto me identificava como administrador e professor-assistente do Departamento
de Administração da Universidade Estadual de Londrina. Ainda não tinha começado
meu doutoramento, que só ocorreria a partir de 1991.
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