segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Administração na Tropicália

Ontem assisti ao documentário "Futuro do Pretérito: tropicalismo now" dirigido por Ninho Moraes e Francisco Cesar Filho. Lançado em 2011, com músicas de André Abujanrra, o filme é uma mistura de entrevistas, shows e encenações com uma participação inesquecível de Gero Camilo. Muito bem construído o documentário informa sobre esse movimento da cultura brasileira que teve início nos anos 60 do século passado.
Por coincidência, há poucos meses, li Verdade Tropical em que Caetano Veloso narra sua trajetória e envolvimento como um dos criadores desse movimento. André Luís Rosa e Silva faz uma interessante apresentação desse mmovimento:
O Tropicalismo foi um movimento artístico do final da década de 1960 que buscou reinventar as artes brasileiras, sobretudo a música, e romper com as tendências nacionalistas defendidas por setores de esquerda que queriam afastar a arte brasileira da influência norte-americana. Quem defendia o Tropicalismo achava impossível conciliar a evolução musical e cultural do país, e consequentemente, o progresso e o projeto de independência nacional, sem levar em conta a inserção nos acontecimentos do período, como a revolução sexual e a Guerra Fria. O movimento se apoiou em teses modernistas como o Antropofagismo, que acreditava ser possível absorver e reaproveitar de maneira benéfica os conteúdos dos produtos culturais estrangeiros.
(Fonte: http://bravonline.abril.com.br/materia/o-tropicalismo).
Essa idéia do Antropofagismo não poderia deixar de ser mencionada no documentário. Quando isso aconteceu, me veio à mente, algo que tenho observado ao longo de mais de uma década fazendo um exercício sobre lideranca em sala de aula com alunos dos mais diferentes níveis de ensino: iniciantes de graduação em administração, alunos de último ano, participantes em cursos de especialização, em geral profissionais já experientes, alunos de mestrado e doutorado.
Patricia Pitcher, uma pesquisadora canadense, publicou em 1997 um livro  no qual relata estudos que fez sobre a liderança de empresas bem sucedidas no Canadá. O livro, com prefácio de Mintzberg, aliás foi a leitura dele que me levou à compra, demonstra como o sucesso na condução de empresas pode ser influenciado por diferentes estilos de liderança. O livro faz uma retomada interessante da discussão sobre liderança na administração e, com seus estudos, Patricia Pitcher conseguiu evidenciar três perfis distinto de liderança a que denominou: Artista, Artesão e Tecnocrata. Esse perfis foram identificados a partir de entrevistas com pessoas que atuavam sob a liderança de homens e mulheres em empresas bem sucedidas. O interessante no estudo da autora é que esta partiu de uma identificação dos atributos que as pessoas enxergavam nos dirigentes que estavam à frente das empresas bem sucedidas. Ela não perguntou aos executivos como se viam, mas sim fez essa indagação àqueles que trabalhavam com esses executivos. De forma resumida cada estilo é descrito por um conjunto de dez qualidades:
Artista: imprevisível, imaginativo, engraçado, audacioso, intuitivo, excitante, emocional, visionário, empreendedor e inspirado.
Artesão: equilibrado, atencioso, honesto, sensato, responsável, confiável, realista, calmo, razoável e previsível.
Tecnocrata: cerebral, difícil, não faz concessões, sem jogo de cintura, intenso, detalhista, determinado, meticuloso, durão e preocupado só com o que acha relevante.
Com base em seus resultados, Patrícia conseguiu evidenciar que, entre os três estilos, o Artista era melhor sucedido e conclui com uma defesa da abertura de espaço para pessoas com esse tipo de perfil na gestão das organizações.
A partir dessa leitura, elaborei uma atividade que é desenvolvida em sala com alunos quando desejo falar a respeito da possível influência do estilo do estrategista sobre o sucesso das empresas. Denominei esse exercíco de "O Administrador Ideal". Basicamente, o exercício é uma lista de adjetivos, extraídos da lista de qualidades que surgiram na pesquisa de Pitcher, e os alunos são estimulados, primeiro individualmente e depois em grupo, a escolherem um conjunto de dez adjetivos que melhor descreva alguém (real ou imaginário) que eles considerem como administrador ideal.
Os resultados dessa atividade, invariavelmente, têm sido muito semelhantes entre os diversos tipos de cursos nos quais pude aplicar esse exercício que já foi feito em várias cidades brasileiras esparramadas entre o sul e o centro-oeste do Brasil. Quando os grupos terminam suas atividades, cada um escreve a lista que escolheu em um quadro de giz e surge uma semelhança entre os perfis muito grande que é sempre uma mistura de qualidades dos três estilos nomeados por Patrícia Pitcher. em geral, os atributos do administrador ideal entre alunos e profissionais da administração que encontro são: empreendedor, audacioso, visionário, inspirador, equilibrado, responsável, realista, atencioso, determinado e intenso. Ou seja, uma mistura de artista com artesão com uma pitada de tecnocrata!
Pois é, para mim essa é mais uma manifestação de nosso antropofagismo cultural. Por décadas expostos a modelos estrangeiros de administração, vamos deglutindo essas idéias e regurgitando algo que nos parece mais adequado à nossa realidade. É o tropicalismo na administração!
Se você quer conhecer um pouco mais sobre o estudo de Pitcher a referência completa do livro é: “The Drama of Leadership”. Chichester: John Wiley & Sons, 1997. Um resumo de seus resultados aparece como texto no livro: MINTZBERG, Henry; QUINN, James Brian O processo da estratégia. 3a. edição. Porto Alegre: Bookman, 2001.

 

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