Recentemente, quando participava da banca de doutoramento da Natália Rese no Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná, inspirado pelo belo trabalho escrito por Natália, comentei sobre minha vontade de buscar a beleza do conhecimento em Administração.
Naquela oportunidade, comentei que nesta etapa de minha carreira acadêmica, a última, como professor titular, me imagino continuando meus estudos em Administração por mais uma década, ou no máximo, uma década e meia. Isso não significa meu afastamento da vida acadêmica, mas sim a realização de outros planos relativos ao estudo do Cinema, que, por enquanto, são tocados em paralelo à minha vida acadêmica.
Mas, o que pode ser entendido pela busca da beleza?
Como disse na avaliação da tese de Natália: Não sei definir a beleza, mas sei dizer quando vejo algo belo. A tese de Natália tem uma beleza ímpar!
Apollinaire quando escreveu "Pintores Cubistas: meditações estéticas" comentou sobre as virtudes plásticas (a pureza, a unidade e a verdade). Explicando porque a chama é o símbolo da pintura, escreveu um dos trechos mais belos que li em 2012:
A chama é o símbolo da pintura e as três virtudes plásticas flamejam luminescentes.
A chama tem a pureza que não tolera nada de estrangeiro e cruelmente transforma em si mesma tudo o que toca.
A chama tem essa unidade mágica que faz com que, dividida, cada centelha seja semelhante à chama única.
Ela tem, enfim, a verdade sublime de sua luz, que ninguém pode contestar. (Porto Alegre: L&PM, 1997, p. 9).
Como disse acima, posso não definir a beleza, mas esse trecho é belíssimo!
Creio que nessa missão que estabeleci para mim mesmo, buscar a beleza do conhecimento em Administração tem a ver com a tentativa de compreender esse fenômeno sob a perspectiva das configurações. Assim, como a chama é o símbolo da pintura, a configuração, em meu entender, é o símbolo da Administração.
Como a chama, tudo que se procura entender sobre a Administração pode ser transformado em configurações, preservando sua pureza; qualquer ato que faça parte da Administração se assemelha a uma configuração onde se articulam recursos, estrutura, estratégia e contexto, reproduzindo a unidade do todo; por fim, a compreensão das configurações carrega também uma verdade sublime que se manifesta na articulação harmônica de seus componentes.
Se, inspirado por Apollinaire, enxergo nas três virtudes plásticas a manifestação da beleza nas Artes, enxergo na harmonia das configurações a manifestação da beleza do conhecimento em Administração.
Este blog é de autoria de Fernando Antonio Prado Gimenez. Destina-se a textos, reflexões, memórias e comentários sobre empreendedorismo e pequenas empresas.
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Novo site da ANEGEPE
Vejam o novo site da Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas: http://www.anegepe.org.br/
Rotunda de Vitor Meireles: o primeiro crowdfunding da indústria criativa no Brasil
Há poucos anos, a literatura de empreendedorismo vem abordando um fenômeno aparentemente recente: o crowdfunding. Em poucas palavras, um empreendedor que tem uma idéia de negócio ou projeto social, mas não conta com recursos financeiros suficientes para iniciá-lo, busca o apoio de pequenos investidores que darão uma contribuição financeira em troca de alguma recompensa futura. O crowdfunding está sendo chamado de financiamento coletivo ou colaborativo no Brasil. Este tipo de financiamento parece ser ideal para projetos que demandam um investimento financeiro de menor porte.
A atividade tornou-se mais popular pelas facilidades de comunicação que o advento da INTERNET propiciou. Um exemplo interessante de espaço para busca de financiamento colaborativo é o site Impulso (http://www.impulso.org.br/pt/explore) criado pelos idealizadores da Aliança Empreendedora (http://www.aliancaempreendedora.org.br).
A indústria criativa é outro tema que tem atraído a atenção dos pesquisadores e estudiosos do empreendedorismo. Essa temática já é explorada há pelo menos duas décadas, mas recentemente tem atraído um nível mais intenso de atenção da academia. Uma das razões para isso é que as áreas de negócios relacionadas à indústria criativa - atividades onde o conhecimento e a criatividade são ingredientes fundamentais de empreendimentos bem sucedidos - são responsáveis por parcelas cada vez maiores da economia de muitos países.
Na indústria criativa, penso que um aspecto essencial que se une aos dois anteriores é a colaboração entre inúmeros parceiros. A aplicação da criatividade e do conhecimento em produtos ou serviços utéis à sociedade envolve o trabalho de muitas pessoas criativas. É o caso por exemplo, da indústria de software, da área de Design, e dos projetos nas atividades artísticas e culturais: teatro, cinema, literatura, museus, entre outros. Muitas iniciativas recentes na área de atividades artísticas e culturais têm buscado financiamento por meio do crowdfunding.
Tenho refletido sobre a junção desses dois fenômenos e estou iniciando uma investigação, ainda de forma preliminar, sobre como se configuram projetos e empresas culturais. Minha idéia é explorar as dimensões de recursos, estrutura e estratégia que se alinham em configurações bem sucedidas de empreendimentos culturais. Meu primeiro olhar será sobre as atividades teatrais e de cinema em Curitiba.
Essa reflexão inicial tem sido apoiada por leituras aleatórias de textos que encontro sobre o assunto. Nesses dias comecei a leitura de um livro de Vicente de Paula Araújo - A Bela Época do Cinema Brasileiro - cuja segunda edição foi publicada pela Editora Perspectiva em 1985, mas publicado originalmente em 1973. Nesse livro, o autor apresenta resultados de um pesquisa histórica situando a origem do cinema no Brasil. Para contar a chegada do cinema no Brasil, Araújo faz uma descrição muito interessante dos tipos de divertimento que a população do Rio de Janeiro tinha acesso no século XIX. O cinema surge como um novo divertimento para o povo. Só mais tarde é que irá adquirir um status de arte.
Surgido em 1895, com a criação do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, aparelho que tinha melhores capacidades técnicas que seus antecessores, o cinema chegou muito rápido ao Brasil. Vieira nos conta que já em 1896 aconteceram projeções de pequenos filmes usando aparelhos semelhantes ao cinematógrafo. A pesquisa de Vieira aponta o dia 08 de julho de 1896 como a data da primeira exibição de "vistas animadas" no Rio de Janeiro. Essas exibições eram feitas em espaços temporários. A primeira sala de exibição fixa no Rio de Janeiro foi fundada em 15 de julho de 1897 e chamava-se Salão de Novidades de propriedade de Germano Alves e Pascoal Segreto. Já em outubro do mesmo ano, Germano vendeu sua parte a Pascoal e foi para Petrópolis criar uma nova sala fixa chamada Salão Bragança, inaugurada em 11 de outubro de 1897. (p. 93-97).
A primeira filmagem feita no Brasil foi obra de Afonso Segreto, irmão de Pascoal, que fora enviado por este à França para comprar equipamentos de filmagem, dando inicio às filmagens em 19 de junho de 1898. Chegando de navio, ao desembarcar, Afonso Segreto usou os equipamentos para filmar as fortalezas e navios de guerra (p. 108).
Mas, antes do cinema, havia vários divertimentos. Vieira aponta "as touradas, jogo da bola, cavalhadas, brigas de galo, circo de cavalinhos, concertos musicais, procissões, bailes de máscara, corridas de cavalo, representações teatrais...". Enforcamentos também eram uma espécie de divertimento da população! (p. 26).
Um divertimento muito diferente eram os panoramas. Segundo Araújo, o panorama "é um enorme quadro esférico em que o espectador, colocado no centro, como se estivesse no alto de um morro, vê todo o horizonte" (p. 31). Vitor Meireles teve seu primeiro panorama, segundo Araújo, exposto na Exposição Universal de Paris em 1989, retratando um panorama da cidade do Rio de Janeiro (p. 32).
Mas, a vida de Vitor Meireles não foi fácil, conforme nos conta Araújo. Com a implantação do regime republicano e a reforma do ensino artístico, Vitor Meireles foi exonerado de seu cargo de professor e passou a fazer exibições públicas de seu panorama para sobreviver. Ocupou um pavilhão no Largo do Paço cedido pela municipalidade em 1891. Nesse espaço fez um segundo panorama retratando a Entrada da Esquadra Legal, inaugurado em 1894. Mas, em 1898 Vitor Meireles teve que desocupar o espaço da prefeitura (p. 32-34).
Foi nesse momento de sua vida que Vitor Meireles resolveu empreender e construir uma rotunda panorâmica, que pretendia inaugurar em maio de 1900, para expor o quadro que estava pintando sobre o descobrimento do Brasil com 115 metros de circunferência. (p. 34).
Graças à investigação de Vicente de Paula Araújo para seu livro é que tomo conhecimento da, talvez, primeira iniciativa de crowdfunding da indústria criativa no Brasil. Pois, como relata Araújo, Vitor Meireles não dispunha dos meios para construir sua rotunda panorâmica e divulgou amplamente um plano para isso, exposto à página 35 do livro:
O artista nacional Vitor Meireles de Lima, professor aposentado da antiga Academia das Belas Artes do Rio de Janeiro, no empenho de concorrer para a comemoração do 4o. Centenário do Descobrimento do Brasil, em 1900, propôs-se a construir uma rotunda com dimensão igual à construída em 1890 na praça Quinze de Novembro, representando panoramicamente a memorável data histórica.
Essa rotunda, levantada nos terrenos da chácara do antigo Seminário de São José, com entrada para a rua de Santa Luiza no. 60, acha-se quase concluída. Estava o artista persuadido de poder levar a cabo o seu tentame, por esforço exclusivo seu e nesse empenho não hesitou em empregar todas as suas economias.
Acontece, porém, que, para a conclusão da rotunda, instalação da tela no interior, acessórios de pintura, da plataforma e do terreno natural, é forçoso ainda o dispêndio ou o emprego da soma de 30 contos.
Para evitar o fracasso da tentativa e o aniquilamento de tudo quanto já se acha feito, apela o mesmo artista para o auxílio dos seus compatriotas, amigos e propugnadores da comemoração do 4o. Centenário do Descobrimento do Brasil, solicitando a subscrição, por empréstimo da aludida soma de Rs. 30:000$000, para conclusão do referido panorama, devendo ser as quotas da referida subscrição ou empréstimo remidas em trimestres a partir do dia inicial da exposição, com inclusão de juros à razão de 10% ao ano, contados da data do recebimento das mesmas quotas. Os amigos do artista e subscritores do empréstimo-auxílio receberão um título creditório das quotas com que se dignarem concorrer, título remível com seus juros pelo modo acima indicado.
Para melhor conhecimento da praticabilidade desta idéia, cumpre-me cientificar que o primeiro panorama produziu no primeiro ano, Rs. 91:849$000, e o segundo panorama, logo no primeiro trimestre, Rs. 46:000$000.
Obsequiosamente serão recebidas as inscrições nos escritórios do Jornal do Comércio, Jornal do Brasil, O País, Gazeta de Notícias, Imprensa, Cidade do Rio, Tribuna e Notícia.
Não é belíssimo?
A atividade tornou-se mais popular pelas facilidades de comunicação que o advento da INTERNET propiciou. Um exemplo interessante de espaço para busca de financiamento colaborativo é o site Impulso (http://www.impulso.org.br/pt/explore) criado pelos idealizadores da Aliança Empreendedora (http://www.aliancaempreendedora.org.br).
A indústria criativa é outro tema que tem atraído a atenção dos pesquisadores e estudiosos do empreendedorismo. Essa temática já é explorada há pelo menos duas décadas, mas recentemente tem atraído um nível mais intenso de atenção da academia. Uma das razões para isso é que as áreas de negócios relacionadas à indústria criativa - atividades onde o conhecimento e a criatividade são ingredientes fundamentais de empreendimentos bem sucedidos - são responsáveis por parcelas cada vez maiores da economia de muitos países.
Na indústria criativa, penso que um aspecto essencial que se une aos dois anteriores é a colaboração entre inúmeros parceiros. A aplicação da criatividade e do conhecimento em produtos ou serviços utéis à sociedade envolve o trabalho de muitas pessoas criativas. É o caso por exemplo, da indústria de software, da área de Design, e dos projetos nas atividades artísticas e culturais: teatro, cinema, literatura, museus, entre outros. Muitas iniciativas recentes na área de atividades artísticas e culturais têm buscado financiamento por meio do crowdfunding.
Tenho refletido sobre a junção desses dois fenômenos e estou iniciando uma investigação, ainda de forma preliminar, sobre como se configuram projetos e empresas culturais. Minha idéia é explorar as dimensões de recursos, estrutura e estratégia que se alinham em configurações bem sucedidas de empreendimentos culturais. Meu primeiro olhar será sobre as atividades teatrais e de cinema em Curitiba.
Essa reflexão inicial tem sido apoiada por leituras aleatórias de textos que encontro sobre o assunto. Nesses dias comecei a leitura de um livro de Vicente de Paula Araújo - A Bela Época do Cinema Brasileiro - cuja segunda edição foi publicada pela Editora Perspectiva em 1985, mas publicado originalmente em 1973. Nesse livro, o autor apresenta resultados de um pesquisa histórica situando a origem do cinema no Brasil. Para contar a chegada do cinema no Brasil, Araújo faz uma descrição muito interessante dos tipos de divertimento que a população do Rio de Janeiro tinha acesso no século XIX. O cinema surge como um novo divertimento para o povo. Só mais tarde é que irá adquirir um status de arte.
Surgido em 1895, com a criação do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, aparelho que tinha melhores capacidades técnicas que seus antecessores, o cinema chegou muito rápido ao Brasil. Vieira nos conta que já em 1896 aconteceram projeções de pequenos filmes usando aparelhos semelhantes ao cinematógrafo. A pesquisa de Vieira aponta o dia 08 de julho de 1896 como a data da primeira exibição de "vistas animadas" no Rio de Janeiro. Essas exibições eram feitas em espaços temporários. A primeira sala de exibição fixa no Rio de Janeiro foi fundada em 15 de julho de 1897 e chamava-se Salão de Novidades de propriedade de Germano Alves e Pascoal Segreto. Já em outubro do mesmo ano, Germano vendeu sua parte a Pascoal e foi para Petrópolis criar uma nova sala fixa chamada Salão Bragança, inaugurada em 11 de outubro de 1897. (p. 93-97).
A primeira filmagem feita no Brasil foi obra de Afonso Segreto, irmão de Pascoal, que fora enviado por este à França para comprar equipamentos de filmagem, dando inicio às filmagens em 19 de junho de 1898. Chegando de navio, ao desembarcar, Afonso Segreto usou os equipamentos para filmar as fortalezas e navios de guerra (p. 108).
Mas, antes do cinema, havia vários divertimentos. Vieira aponta "as touradas, jogo da bola, cavalhadas, brigas de galo, circo de cavalinhos, concertos musicais, procissões, bailes de máscara, corridas de cavalo, representações teatrais...". Enforcamentos também eram uma espécie de divertimento da população! (p. 26).
Um divertimento muito diferente eram os panoramas. Segundo Araújo, o panorama "é um enorme quadro esférico em que o espectador, colocado no centro, como se estivesse no alto de um morro, vê todo o horizonte" (p. 31). Vitor Meireles teve seu primeiro panorama, segundo Araújo, exposto na Exposição Universal de Paris em 1989, retratando um panorama da cidade do Rio de Janeiro (p. 32).
Mas, a vida de Vitor Meireles não foi fácil, conforme nos conta Araújo. Com a implantação do regime republicano e a reforma do ensino artístico, Vitor Meireles foi exonerado de seu cargo de professor e passou a fazer exibições públicas de seu panorama para sobreviver. Ocupou um pavilhão no Largo do Paço cedido pela municipalidade em 1891. Nesse espaço fez um segundo panorama retratando a Entrada da Esquadra Legal, inaugurado em 1894. Mas, em 1898 Vitor Meireles teve que desocupar o espaço da prefeitura (p. 32-34).
Foi nesse momento de sua vida que Vitor Meireles resolveu empreender e construir uma rotunda panorâmica, que pretendia inaugurar em maio de 1900, para expor o quadro que estava pintando sobre o descobrimento do Brasil com 115 metros de circunferência. (p. 34).
Graças à investigação de Vicente de Paula Araújo para seu livro é que tomo conhecimento da, talvez, primeira iniciativa de crowdfunding da indústria criativa no Brasil. Pois, como relata Araújo, Vitor Meireles não dispunha dos meios para construir sua rotunda panorâmica e divulgou amplamente um plano para isso, exposto à página 35 do livro:
O artista nacional Vitor Meireles de Lima, professor aposentado da antiga Academia das Belas Artes do Rio de Janeiro, no empenho de concorrer para a comemoração do 4o. Centenário do Descobrimento do Brasil, em 1900, propôs-se a construir uma rotunda com dimensão igual à construída em 1890 na praça Quinze de Novembro, representando panoramicamente a memorável data histórica.
Essa rotunda, levantada nos terrenos da chácara do antigo Seminário de São José, com entrada para a rua de Santa Luiza no. 60, acha-se quase concluída. Estava o artista persuadido de poder levar a cabo o seu tentame, por esforço exclusivo seu e nesse empenho não hesitou em empregar todas as suas economias.
Acontece, porém, que, para a conclusão da rotunda, instalação da tela no interior, acessórios de pintura, da plataforma e do terreno natural, é forçoso ainda o dispêndio ou o emprego da soma de 30 contos.
Para evitar o fracasso da tentativa e o aniquilamento de tudo quanto já se acha feito, apela o mesmo artista para o auxílio dos seus compatriotas, amigos e propugnadores da comemoração do 4o. Centenário do Descobrimento do Brasil, solicitando a subscrição, por empréstimo da aludida soma de Rs. 30:000$000, para conclusão do referido panorama, devendo ser as quotas da referida subscrição ou empréstimo remidas em trimestres a partir do dia inicial da exposição, com inclusão de juros à razão de 10% ao ano, contados da data do recebimento das mesmas quotas. Os amigos do artista e subscritores do empréstimo-auxílio receberão um título creditório das quotas com que se dignarem concorrer, título remível com seus juros pelo modo acima indicado.
Para melhor conhecimento da praticabilidade desta idéia, cumpre-me cientificar que o primeiro panorama produziu no primeiro ano, Rs. 91:849$000, e o segundo panorama, logo no primeiro trimestre, Rs. 46:000$000.
Obsequiosamente serão recebidas as inscrições nos escritórios do Jornal do Comércio, Jornal do Brasil, O País, Gazeta de Notícias, Imprensa, Cidade do Rio, Tribuna e Notícia.
Rio de Janeiro, 23 de junho de 1899.
(a) Vitor Meireles de Lima.
Maravilhoso! Nesse primeiro projeto a apelar pelo crowdfunding pode-se ver a preocupação em expor claramente a idéia, o apelo à responsabilidade social e cultural (comemoração do 4o. Centenário do Descobrimento), a demonstração da competência do empreendedor (professor aposentado) e experiência anterior (dois panoramas), a recompensa aos investidores e a viabilidade do projeto.Não é belíssimo?
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
O poder da economia informal
Estava tendo sentimentos conflitantes no começo dessa palestra. Ao final achei brilhante!
Vejam: http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/robert_neuwirth_the_power_of_the_informal_economy.html
Vejam: http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/robert_neuwirth_the_power_of_the_informal_economy.html
sábado, 1 de dezembro de 2012
Sustentabilidade e A Montanha Mágica de Thomas Mann
Foi há poucos anos que ouvi falar a respeito do romance A Montanha Mágica de Thomas Mann. Por que será que nos meus anos de formação esse livro não chegou às minhas mãos? Por que minhas professoras e meus professores não me contaram sobre esse livro? Ou será que eu não prestei atenção?
De Thomas Mann só conhecia A Morte em Veneza, pequeno romance transformado em filme inesquecível por Luchino Visconti em 1971. Presenças marcantes de Dick Bogarde como um compositor que vai a Veneza descansar e de Silvana Mangano que representa a mãe de Tadzio, adolescente que passa férias com a mãe e as irmãs naquela cidade italiana. O filme trata da paixão platônica do compositor pelo jovem e aborda a questão do ideal da beleza representado pelo jovem Tadzio e, de forma discreta, trata também do homossexualismo.
Mas, a Montanha Mágica chegou às minhas mãos apenas recentemente. Terminei a leitura, feita em doses homeopáticas quase que diárias, pois a edição em português que li chega às 957 páginas! Esforço prazeroso pois a história de Hans Katorp, jovem que vai visitar o primo Joachin internado em hospital para tubeculosos nos Alpes suíços é emocionante. Chegando lá, tem sua estadia prolongada em função do diagnóstico de que é portador da mesma doença do primo. O livro narra os setes anos em que Hans viveu nesse espaço e aborda, de forma sublime e magistral, a relação subjetiva que temos com o tempo e as inúmeras facetas dessa maravilhosa jornada que é a vida humana: amor, política, ciúme, prazer, dor, sexo, morte, guerra, religião, filosofia, artes, música, medo, humor, doença, saúde, desdém, repulsa, vingança, ou seja, quase tudo que se puder pensar que faça parte do ser humano. Até mesmo a sustentabilidade que parece uma discussão tão recente!
Pois é, em uma passagem do romance, Mann fala do projeto de um escultor austríaco que, em conversa com Hans Kastorp, se mostrara tão fanaticamente envolvido com idéia, mas não evidenciava propensão concreta a realizá-lo. Será que Mann, por meio desse personagem, já estava nos alertando sobre a dificuldade inerente à realização da busca da sustentabilidade em nossa sociedade?
Vejam o projeto que aparece às páginas 845 e 846 do romance:
Um antigo escultor, natural de uma província da Áustria, homem de certa idade, com um bigode branco, nariz adunco e olhos azuis, concebera um projeto político-finaceiro que caligrafara, sublinhando os trechos decisivos com pinceladas de tinta nanquim. Esse projeto tinha o seguinte objetivo: cada assinante de jornal deveria ser obrigado a entregar no primeiro dia de cada mês uma quantidade de papel de jornal velho que correspondesse a 40 gramas por dia. Isso importaria anualmente a cerca de 1.400 gramas, e em vinte anos em nada menos de 288 quilo, os quais, à base de um preço de 20 pfennigs por quilo, representaria um valor de 57,60 marcos. Cinco milhões de assinantes - assim prosseguia o memorando - entregariam, portanto, em vinte anos a soma formidável de 288 milhões de marcos, dois terços da qual poderiam ser deduzidos das assinaturas, ao passo que o resto, aproximadamente cem milhões de marcos, seriam aproveitados para fins humanitários, como por exemplo, o financiamento de sanatórios populares para tísicos, subvenções para talentos, pobres etc.
Mais à frente, Mann continua a descrição do projeto:
O gesto insensato e a destruição de papel de jornal, que a gente mal-avisada ainda desperdiçava em cloacas ou fogões, constituía alta traição às nossas florestas e um golpe contra a economia nacional. Poupar papel, guardar papel, significaria conservar e economizar celulose, árvores, máquinas, que a fabricação de pasta mecânica e de papel desgastava, como também seriam menos exigidos o capital e o material humano. Acrescia a isso o fato de o papel de jornal velho adquirir facilmente o quadruplo valor pela transformação em papel de embrulho ou em papelão, de maneira que seria capaz de se converter num fator econômico de vasta importância e em fundamento de rendosos impostos estaduais ou municipais, ao passo que os leitores de jornais veriam suas contribuições aliviadas.
Impressionante! Em 1924, em seu romance, Mann já defendia o que hoje denominanmos tripé da sustentabilidade: a preocupação econômica, ambiental e social. Está tudo aí!
De Thomas Mann só conhecia A Morte em Veneza, pequeno romance transformado em filme inesquecível por Luchino Visconti em 1971. Presenças marcantes de Dick Bogarde como um compositor que vai a Veneza descansar e de Silvana Mangano que representa a mãe de Tadzio, adolescente que passa férias com a mãe e as irmãs naquela cidade italiana. O filme trata da paixão platônica do compositor pelo jovem e aborda a questão do ideal da beleza representado pelo jovem Tadzio e, de forma discreta, trata também do homossexualismo.
Mas, a Montanha Mágica chegou às minhas mãos apenas recentemente. Terminei a leitura, feita em doses homeopáticas quase que diárias, pois a edição em português que li chega às 957 páginas! Esforço prazeroso pois a história de Hans Katorp, jovem que vai visitar o primo Joachin internado em hospital para tubeculosos nos Alpes suíços é emocionante. Chegando lá, tem sua estadia prolongada em função do diagnóstico de que é portador da mesma doença do primo. O livro narra os setes anos em que Hans viveu nesse espaço e aborda, de forma sublime e magistral, a relação subjetiva que temos com o tempo e as inúmeras facetas dessa maravilhosa jornada que é a vida humana: amor, política, ciúme, prazer, dor, sexo, morte, guerra, religião, filosofia, artes, música, medo, humor, doença, saúde, desdém, repulsa, vingança, ou seja, quase tudo que se puder pensar que faça parte do ser humano. Até mesmo a sustentabilidade que parece uma discussão tão recente!
Pois é, em uma passagem do romance, Mann fala do projeto de um escultor austríaco que, em conversa com Hans Kastorp, se mostrara tão fanaticamente envolvido com idéia, mas não evidenciava propensão concreta a realizá-lo. Será que Mann, por meio desse personagem, já estava nos alertando sobre a dificuldade inerente à realização da busca da sustentabilidade em nossa sociedade?
Vejam o projeto que aparece às páginas 845 e 846 do romance:
Um antigo escultor, natural de uma província da Áustria, homem de certa idade, com um bigode branco, nariz adunco e olhos azuis, concebera um projeto político-finaceiro que caligrafara, sublinhando os trechos decisivos com pinceladas de tinta nanquim. Esse projeto tinha o seguinte objetivo: cada assinante de jornal deveria ser obrigado a entregar no primeiro dia de cada mês uma quantidade de papel de jornal velho que correspondesse a 40 gramas por dia. Isso importaria anualmente a cerca de 1.400 gramas, e em vinte anos em nada menos de 288 quilo, os quais, à base de um preço de 20 pfennigs por quilo, representaria um valor de 57,60 marcos. Cinco milhões de assinantes - assim prosseguia o memorando - entregariam, portanto, em vinte anos a soma formidável de 288 milhões de marcos, dois terços da qual poderiam ser deduzidos das assinaturas, ao passo que o resto, aproximadamente cem milhões de marcos, seriam aproveitados para fins humanitários, como por exemplo, o financiamento de sanatórios populares para tísicos, subvenções para talentos, pobres etc.
Mais à frente, Mann continua a descrição do projeto:
O gesto insensato e a destruição de papel de jornal, que a gente mal-avisada ainda desperdiçava em cloacas ou fogões, constituía alta traição às nossas florestas e um golpe contra a economia nacional. Poupar papel, guardar papel, significaria conservar e economizar celulose, árvores, máquinas, que a fabricação de pasta mecânica e de papel desgastava, como também seriam menos exigidos o capital e o material humano. Acrescia a isso o fato de o papel de jornal velho adquirir facilmente o quadruplo valor pela transformação em papel de embrulho ou em papelão, de maneira que seria capaz de se converter num fator econômico de vasta importância e em fundamento de rendosos impostos estaduais ou municipais, ao passo que os leitores de jornais veriam suas contribuições aliviadas.
Impressionante! Em 1924, em seu romance, Mann já defendia o que hoje denominanmos tripé da sustentabilidade: a preocupação econômica, ambiental e social. Está tudo aí!
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Para que serve a utopia? O Direito ao delírio
Juliana me passou e eu compartilho com vocês. Eduardo Galeano quase perfeito, já que segundo ele mesmo, nós humanos não podemos sê-lo.
Emocionante!
http://www.youtube.com/watch?v=m-pgHlB8QdQ
Emocionante!
http://www.youtube.com/watch?v=m-pgHlB8QdQ
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Conversas com empresárias: lições de vida no mundo dos negócios
Para Kilda Gimenez, a mãe.
Estou envolvido em um projeto de pesquisa que está estudando as trajetórias de mulheres empresárias no Paraná. Nosso objetivo é tentar descobrir diferentes aspectos sobre a vida empresarial relatada pelo olhar feminino. Para isso, meus colegas e eu entrevistaremos vinte e quatro dirigentes de empresas localizadas em cinco cidades do Paraná: Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel e Ponta Grossa.
Como parte desse esforço, ontem estive em Cascavel para cumprir uma agenda de seis entrevistas. Uma das empresárias não pode me atender, mas as outras cinco puderam dispor de um pouco de seu tempo e atenção para um pesquisador que queria, mais do que entrevistá-las, ter a oportunidade de conversar sobre o que significa ser empresária, com pessoas que além desse papel, normalmente exercem outros tão ou mais importantes: mãe, esposa, filha, companheira, tia, etc. Na semana passada, já havia feito uma entrevista em Curitiba.
Fazia tempo que eu não me envolvia nesse esforço de coleta de dados para pesquisa no campo. Percebi como isto estava me fazendo falta! A experiência de ouvir os relatos de cada uma me fez lembrar das entrevistas que fiz para minha dissertação de mestrado, para a tese de doutorado, e algumas outras. Mas, com certeza já tinham passado quase dez anos desde a última entrevista que fiz. Umá década!
Cada história, cada trajetória dessas mulheres é diferente. Uma se envolveu com a empresa porque não aguentava ficar em casa sem fazer nada, enquanto o marido ia para o trabalho. Outra casou-se com um filho de empresária e, pelo estímulo de sua sogra muito empreendedora, abandonou a carreira de professora e foi para a loja da família. A terceira voltou para casa após terminar o curso superior, recebeu um convite da mãe para se juntar a ela na empresa e acabou tornando-se sua sucessora. Teve aquela que junto com a mãe resolveu abrir uma empresa na área onde tinha trabalhado desde pequena com o pai. A separação dos pais dividiu a família e levou ao surgimento de mais uma empresa. Dor levando á realização! Teve o caso daquela que estudou letras, fez uma pós em cinema e resolveu abrir uma empresa nesse ramo. Seus pais foram professores. A última, cansada de ver o ex-patrão fazendo coisas inadequadas para o ramo de negócio em que atuava, resolveu abrir sua própria empresa, tendo o ex-chefe como um anti-modelo. Não quer ser como ele! E, vai muito bem, obrigada! Em oito anos, já tem dezesseis colaboradores atuando com ela e acaba de abrir uma filial em outra cidade.
As conversas abordaram muitos aspectos da vida empresarial: existência de modelos, coisas que gosta de fazer e que não gosta de fazer, como tomam decisões muito importantes, por exemplo, sobre investimentos, relacionamento com os colaboradores, o significado de ser empresária, facilidade e dificuldades no exercício desse papel, possíveis conflitos com os outros papéis sociais, expectativas sobre si mesmas e sobre as empresas, momentos mais críticos e momentos de maior satisfação.
Na diversidade de histórias e acontecimentos surge uma dificuldade para o pesquisador: o que há de comum nessas histórias de vida? Será que cada caso é um caso, e a riqueza do conhecimento está nos aspectos únicos de cada experiência? Ou, é possível encontrar regularidades, coisas que se repetem, não exatamente iguais, mas de forma semelhante, em todas as histórias.
Desafio! O que percebi de comum nessas histórias? Não muito, mas descobertas altamente valiosas e que, talvez, sirvam de inspiração para outras: paixão pelo que fazem, persistência e, até mesmo, obstinação, com o desejo de perenidade da empresa, necessidade de constante busca de conhecimento sobre seu negócio e uma necessidade de realização associada com a capacidade e competência no agir. Tudo isso temperado por um estilo de gestão marcado pela atenção à opinião de colaboradores e construção de relacionamentos de confiança com elas e eles.
Me marcou o que Fátima disse sobre quando perguntei a respeito de momentos de maior satisfação e ela me disse:
_ Um momento inesquecível foi quando um senhor, nosso cliente, me disse certa vez: Lembro de seu inicio, com um salão pequenininho em outra cidade. Fico feliz em ver como sua trajetória foi bem sucedida.
Fátima sentiu-se orgulhosa. com razão! Mais do que o dinheiro, é a necessidade de realização que move aquela que se envolve com negócios. Lição inesquecível para mim!
Mais de uma vez, as conversas com essas mulheres, me lembraram do meu convívio com meus pais na pequena empresa que criaram e mantiveram juntos por quase 40 anos. Em especial, os relatos dessas mulheres gentis me lembraram da trajetória de minha mãe. Professora e contadora, ao casar-se com meu pai, que já tinha um pequeno bar na esquina da Paranaguá com a Goiás em Londrina, começou a se envolver com o negócio do marido. Uma doença afastou-a das salas de aulas, mas não impediu que continuasse trabalhando com o marido. Tornou-se empresária e, assim como essas mulheres que entrevistei, exerceu esse papel com paixão, persistência e serenidade. Ainda hoje se sente muito contente quando reencontra antigos clientes que passam alguns momentos relembrando as atividades do supermercado que dirigiu com meu pai.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Da corrupção - Haikais Darwinianos
I
III
IV
V
VI
Por falta de coragem,
O corrupto em potencial
Ficou na vadiagem!
II
Por excesso de medo,
O corrupto temeroso
Ficou no arremedo!
III
Sem oportunidade,
O corrupto ocasional
Ficou na vontade!
Por muita ousadia
O corrupto, na prisão,
Ganhou estadia!
V
Crente na evolução,
O humanista sentiu
Grande desilusão!
VI
Mas, reza a lenda,
Que a biologia ajuda
Entender a prebenda!
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Dez haikais cínicos
I
Dos stakeholders,
os interesses aparecem
só nos folders!
II
Ética nos negócios?
Só depois de grande
lucro dos sócios!
III
Empoderamento?
Vem em conjunto de
muito sofrimento!
IV
Em nossa era,
responsabilidade social
é uma quimera!
V
Multifuncionalidade.
Enriquecimento do cargo ou
mais produtividade?
VI
Gestão participativa
surge, quase sempre,
na fase terminativa.
VII
Nem alquimista,
para a sustentabilidade,
acha pista!
VIII
Mais que um tema,
empresa cidadã, na administração,
é só um lema!
IX
Autonomia
e autogestão? Só
quando o cão mia!
X
No entanto, enfim,
para os sonhadores,
esperança sem fim!
Dos stakeholders,
os interesses aparecem
só nos folders!
II
Ética nos negócios?
Só depois de grande
lucro dos sócios!
III
Empoderamento?
Vem em conjunto de
muito sofrimento!
IV
Em nossa era,
responsabilidade social
é uma quimera!
V
Multifuncionalidade.
Enriquecimento do cargo ou
mais produtividade?
VI
Gestão participativa
surge, quase sempre,
na fase terminativa.
VII
Nem alquimista,
para a sustentabilidade,
acha pista!
VIII
Mais que um tema,
empresa cidadã, na administração,
é só um lema!
IX
Autonomia
e autogestão? Só
quando o cão mia!
X
No entanto, enfim,
para os sonhadores,
esperança sem fim!
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
O encontro da coragem com a prudência: um texto multimídia sobre encontros, empreendedorismo e gestão
Encontros podem ser inspiradores. Nos últimos dias passei por alguns momentos da vida que podem ser reduzidos a encontros que fizeram a mente divagar. Assistindo ao delicioso e belísimo filme de Christophe Honore, As Bem Amadas, com Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve (vejam trailer em http://www.youtube.com/watch?v=K_I8srnRHVM), uma cena de encontro entre pai e filha me despertou a imaginação. Catherine e Chiara interpretam mãe e filha (Madeleine e Véra) em um história que dura quase 50 anos. Milos Forman é o pai na fase adulta e Rasha Bukvic na infância e adolescêcia de Véra. Em uma conversa entre Milos Forman e Chiara, o pai diz algo assim para a filha (não me lembro da frase exata):
_ Você tem coragem e prudência. Duas virtudes centrais para o ser humano. A coragem é ser capaz de tentar fazer algo, mesmo sabendo que poderá não dar certo.
Empreender e gerenciar uma empresa ou organização são ações que precisam equilibrar as duas virtudes. Como está na wikipedia (me rendi a ela!), a prudência pode ser encarada como o exercício do julgamento sadio em questões práticas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Prud%C3%AAncia). Sem usar essas palavras, já falei sobre a tensão entre a mudança e a permanência na gestão de pequenas empresas. A coragem de inovar (mudar) precisa ser balisada pela prudência, assim como é também a prudência que inspira a coragem da permanência do modo como se faz as coisas em qualquer organização.
Além de sair do cinema com uma sensação de bem-estar pela fruição de um sessão cinematográfica inspiradora sobre a vida em geral, fiquei com essa idéia na cabeça: será que já se abordou a questão da coragem no empreendedorismo? Chegando à minha sala, ao final da tarde, antes de ir para as aulas de Fundamentos da Gestão das Organizações, fiz uma rápida busca no google. Encontrei um post no Blog do Hashimoto, meu companheiro de ANEGEPE (www.anegepe.org). Texto muito bem escrito, inspirador mesmo, um encontro entre pai e filha que me fez lembrar quando ensinei Paloma e Fernanda a andarem de bicicleta nos tempos que moramos no campus da Universidade de Lancaster na Inglaterra. Um emocionante encontro com o passado inspirado pelo Marcos Hashimoto (http://www.marcoshashimoto.com/apps/blog/show/13774662-seguran-a-ou-risco).
Mas, tive outros encontros recentes nos últimos dias. Voltei a ser aluno após 35 anos vivendo o papel de professor. Decidi fazer um curso de especialização em cinema e tive meu primeiro reencontro com uma tarefa para casa. A professora Denize nos pediu que fizéssemos um breve comentário por escrito sobre um dos filmes que foram exibidos na edição curitibana do Kinoforum – Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo realizada esse ano. Entre os curtas que assisti durante os três dias que durou o festival, decidi escrever sobre o “Morning Stroll” (Caminhada Matinal), animação concebida e dirigida por Grant Orchard e produzida pelo Studio AKA em 2011 (http://br.bing.com/videos/search?q=you+tube+morning+stroll&view=detail&mid=02FC311965C05C008C2602FC311965C05C008C26&first=0&qpvt=you+tube+morning+stroll).
Com sete minutos de duração, o curta retrata 100 anos de permanência e mudança, por meio de três encontros entre um pedestre e uma galinha em Nova Iorque nos anos de 1959, 2009 e 2059. Com estilos de desenho distintos em cada momento, e com uma trilha sonora muito bem escolhida, o curta me fez pensar sobre essa tensão constante entre mudança e permanência. Embora, com um caráter de distopia, o curta permite que se reflita sobre as transformações que alteraram profundamente nossa sociedade ao longo dos últimos 50 anos, nem sempre para melhor, apontando para uma perspectiva sombria no futuro. Mas, toda essa reflexão é acompanhada de uma forma de humor leve que completa o trio de qualidades do curta: traços e desenhos muito bem feitos, excelente música e mensagem inspiradora.
O terceiro encontro está em um filme que ainda não vi. Paulo Camargo, na Gazeta do Povo de hoje, informa sobre o último filme de Abbas Kiarostami, homenageado na 36a. edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1313493&tit=Kiarostami-conta-a-historia-de-um-amor-no-Japao). Já estou ansioso, aguardando a chegada desse filme na salas de cinema de Curitiba.
Segundo Camargo:
"A trama gira em torno de uma trombada amorosa inesperada: uma jovem prostituta (Rin Takanashi) conhece um tradutor idoso (Denden), que acabam enxergando, um no outro, um alento, a possibilidade de conseguirem aplacar a solidão na qual estão imersos... pessoas à deriva, se aproximam e encontram um no outro motivos para serem felizes. Ela quer estabilidade, um porto seguro, e ele, a negação da finitude."
A negação da finitude! Essa frase me marcou. Me parece que a gestão é uma tentativa constante de negação da finitude. A organização surge do esforço empreendedor, fertilizada pelo desejo da longevidade, mas muitas vezes assim como nós, a organização morre. O empreendedor/gestor constantemente tenta adiar esse encontro com a finitude que levará sua criação para o inevitável encontro com Hades, no subterrâneo empreendedor. Para tanto, nessa negação da finitude, se vale da coragem e de prudência, enfrentamento do inevitável e porto seguro, ousadia da mudança e crença na permanência.
Um encontro dessa mesma natureza, no mundo da vida real, presenciei anos atrás quando fazia minha caminhada diária pelo Passeio Público em Curitiba. Caminhadas vespertinas, ao som de ruídos diversos emitidos por carros, pessoas e pássaros. Certo dia, caminhando mais lentamento, próximo ao final da caminhada, ouço uma frase de uma prostitua para um senhor idoso, beirando os setenta anos:
_ Mas por dez reais, você quer mais o que?
Uma negociação se aproximava de seu final! Nesse encontro, talvez houvesse ainda a tentativa de negação da finitude por parte do idoso, mas a prostituta com certeza não estava em busca de um porto seguro. Para mim, ela estava, na verdade, tentando preservar um mínimo de dignidade (paradoxal, não?) ao valorizar seu serviço e indicando que, por dez reais, muito não seria feito!
Enfim, talvez o que sobre disso tudo, é persistir. A tensão entre mudança e permanência faz parte da vida humana e a nós cabe apenas lidar com ela. Se possível sendo capaz de, assim como Edith Piaf, não se arrepender de nada, como registrado inesquecivelmente por Cássia Eller?
http://letras.mus.br/cassia-eller/44923/
_ Você tem coragem e prudência. Duas virtudes centrais para o ser humano. A coragem é ser capaz de tentar fazer algo, mesmo sabendo que poderá não dar certo.
Empreender e gerenciar uma empresa ou organização são ações que precisam equilibrar as duas virtudes. Como está na wikipedia (me rendi a ela!), a prudência pode ser encarada como o exercício do julgamento sadio em questões práticas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Prud%C3%AAncia). Sem usar essas palavras, já falei sobre a tensão entre a mudança e a permanência na gestão de pequenas empresas. A coragem de inovar (mudar) precisa ser balisada pela prudência, assim como é também a prudência que inspira a coragem da permanência do modo como se faz as coisas em qualquer organização.
Além de sair do cinema com uma sensação de bem-estar pela fruição de um sessão cinematográfica inspiradora sobre a vida em geral, fiquei com essa idéia na cabeça: será que já se abordou a questão da coragem no empreendedorismo? Chegando à minha sala, ao final da tarde, antes de ir para as aulas de Fundamentos da Gestão das Organizações, fiz uma rápida busca no google. Encontrei um post no Blog do Hashimoto, meu companheiro de ANEGEPE (www.anegepe.org). Texto muito bem escrito, inspirador mesmo, um encontro entre pai e filha que me fez lembrar quando ensinei Paloma e Fernanda a andarem de bicicleta nos tempos que moramos no campus da Universidade de Lancaster na Inglaterra. Um emocionante encontro com o passado inspirado pelo Marcos Hashimoto (http://www.marcoshashimoto.com/apps/blog/show/13774662-seguran-a-ou-risco).
Mas, tive outros encontros recentes nos últimos dias. Voltei a ser aluno após 35 anos vivendo o papel de professor. Decidi fazer um curso de especialização em cinema e tive meu primeiro reencontro com uma tarefa para casa. A professora Denize nos pediu que fizéssemos um breve comentário por escrito sobre um dos filmes que foram exibidos na edição curitibana do Kinoforum – Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo realizada esse ano. Entre os curtas que assisti durante os três dias que durou o festival, decidi escrever sobre o “Morning Stroll” (Caminhada Matinal), animação concebida e dirigida por Grant Orchard e produzida pelo Studio AKA em 2011 (http://br.bing.com/videos/search?q=you+tube+morning+stroll&view=detail&mid=02FC311965C05C008C2602FC311965C05C008C26&first=0&qpvt=you+tube+morning+stroll).
Com sete minutos de duração, o curta retrata 100 anos de permanência e mudança, por meio de três encontros entre um pedestre e uma galinha em Nova Iorque nos anos de 1959, 2009 e 2059. Com estilos de desenho distintos em cada momento, e com uma trilha sonora muito bem escolhida, o curta me fez pensar sobre essa tensão constante entre mudança e permanência. Embora, com um caráter de distopia, o curta permite que se reflita sobre as transformações que alteraram profundamente nossa sociedade ao longo dos últimos 50 anos, nem sempre para melhor, apontando para uma perspectiva sombria no futuro. Mas, toda essa reflexão é acompanhada de uma forma de humor leve que completa o trio de qualidades do curta: traços e desenhos muito bem feitos, excelente música e mensagem inspiradora.
O terceiro encontro está em um filme que ainda não vi. Paulo Camargo, na Gazeta do Povo de hoje, informa sobre o último filme de Abbas Kiarostami, homenageado na 36a. edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1313493&tit=Kiarostami-conta-a-historia-de-um-amor-no-Japao). Já estou ansioso, aguardando a chegada desse filme na salas de cinema de Curitiba.
Segundo Camargo:
"A trama gira em torno de uma trombada amorosa inesperada: uma jovem prostituta (Rin Takanashi) conhece um tradutor idoso (Denden), que acabam enxergando, um no outro, um alento, a possibilidade de conseguirem aplacar a solidão na qual estão imersos... pessoas à deriva, se aproximam e encontram um no outro motivos para serem felizes. Ela quer estabilidade, um porto seguro, e ele, a negação da finitude."
A negação da finitude! Essa frase me marcou. Me parece que a gestão é uma tentativa constante de negação da finitude. A organização surge do esforço empreendedor, fertilizada pelo desejo da longevidade, mas muitas vezes assim como nós, a organização morre. O empreendedor/gestor constantemente tenta adiar esse encontro com a finitude que levará sua criação para o inevitável encontro com Hades, no subterrâneo empreendedor. Para tanto, nessa negação da finitude, se vale da coragem e de prudência, enfrentamento do inevitável e porto seguro, ousadia da mudança e crença na permanência.
Um encontro dessa mesma natureza, no mundo da vida real, presenciei anos atrás quando fazia minha caminhada diária pelo Passeio Público em Curitiba. Caminhadas vespertinas, ao som de ruídos diversos emitidos por carros, pessoas e pássaros. Certo dia, caminhando mais lentamento, próximo ao final da caminhada, ouço uma frase de uma prostitua para um senhor idoso, beirando os setenta anos:
_ Mas por dez reais, você quer mais o que?
Uma negociação se aproximava de seu final! Nesse encontro, talvez houvesse ainda a tentativa de negação da finitude por parte do idoso, mas a prostituta com certeza não estava em busca de um porto seguro. Para mim, ela estava, na verdade, tentando preservar um mínimo de dignidade (paradoxal, não?) ao valorizar seu serviço e indicando que, por dez reais, muito não seria feito!
Enfim, talvez o que sobre disso tudo, é persistir. A tensão entre mudança e permanência faz parte da vida humana e a nós cabe apenas lidar com ela. Se possível sendo capaz de, assim como Edith Piaf, não se arrepender de nada, como registrado inesquecivelmente por Cássia Eller?
http://letras.mus.br/cassia-eller/44923/
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