Na semana passada, fui assistir a uma palestra da cineasta Lúcia Murat aqui em Curitiba. Antes da palestra foi exibido o making of do filme A memória que me contam, último filme da diretora carioca que será lançado brevemente. A memória que me contam é o sexto longa da carreira de Lúcia Murat que inclui os seguintes filmes: Brava Gente Brasileira, Doces Poderes, Quase dois irmãos, Maré - nossa história de amor e Uma longa viagem.
Após a exibição do making of, Lúcia comentou sobre sua carreira e sua ligação com o movimento de resitência ao golpe de 1964. Contou também sobre sua experiência na produção de filmes na condição de empregada de uma grande rede de televisão brasileira. Nesse momento, ela comentou sobre a transição para uma carreira independente em que consegue viver só do cinema.
Lúcia Murat fez uma comparação entre os dois momentos de sua carreira que foi muito precisa e inspiradora. O trabalho na rede de televisão, marcado por uma escala de massa, de produção industrial, era um espaço pouco propício à expressão própria da cineasta. Não havia muita liberdade para a experimentação, para o fazer filme enquanto arte ou poesia. Por outro lado, ao assumir o desafio de viver de sua arte, Lúcia Murat encontrou o espaço para sua expressão como artista, onde pode contar histórias da forma que julga mais adequada.
Essa fala de Murat, não exatamente com essas palavras, me permitiu refletir sobre um aspecto do empreendedorismo e da gestão da pequena empresa que não se encontra com freqüência na literatura. Lúcia Murat é uma cineasta, mas pode ser vista também como uma empreendedora ou gestora de projetos filmícos. Assim, da mesma forma como ela encontrou na sua independência artística o espaço expressivo, penso que pessoas que se desvinculam de empregos em grandes empresas e buscam criar suas empresas próprias, em geral pequenas, podem sentir algo parecido.
Muita vezes, a literatura diz que o ato de empreender surge de um desejo de independência do indivíduo que cria sua própria organização. Ser patrão de si mesmo! Fazer aquilo que gosta! Fazer o que percebe como necessário para uma parte da sociedade ou do mercado! Essa é a motivação inicial em muitos casos. Me deixem expressar-me como sinto! Parece ser o grito dos potenciais empreendedores.
Quando a organização se estabiliza, muitas vezes, percebe-se que é necessário um equilíbrio entre o que o gestor quer fazer e o que o mercado/sociedade deseja. É o momento de ajuste, de mudança, de inovação, de transformação. Mas, continua sendo um espaço expressivo. É da percepção do gestor da pequena empresa sobre seu espaço de atuação empresarial que surge sua interpretação de qual é a situação. A partir dessa interpretação, suas decisões serão tomadas. Surge o momento da expressão do dirigente da pequena empresa: é isso o que eu enxergo e assim que quero participar desse mundo!
Eis uma possibilidade de pesquisa em empreendedorismo e gestão de pequenas empresas: o que empreendedores e gestores de pequenas empresas querem expressar para o mercado e a sociedade?
Alguém se habilita?
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