quarta-feira, 26 de junho de 2013

Inovando nas praias de Ibiza - inspirado em uma história contada por Daniela Torres

Daniela estava em Ibiza, sentada em um bar de frente para o mar. De repente viu um casal. O homem esticou uma canga e colocou uma grande sacola sobre ela. A mulher que estava ao seu lado, começou a se despir. Daniela ficou boquiaberta!.
A mulher tira quase toda a roupa. Fica só de calcinha! Colocou um vestido. Daniela fala para si mesma:
_ Ah, aqui é cultural fazer topless! Então trocar de roupa ali na praia deve ser normal.
Daniela continuou observando os dois. A mulher começou a andar como se estivesse desfilando. Enquanto isso, o homem tirava umas coisas e colocava em cima da canga. Daniela cada vez mais curiosa:
_ Que mulher louca! Deixa o cara organizando o piquenique e fica aí se exibindo.
Um observador atento, o garçom do bar, viu ela balançando a cabeça e soltando um som meio estranho:
_ tis tis tis tis. (Quem conhece a Daniela sabe do que estou falando)
Daniela continuou observado a cena. Ligou a câmara do celular para registrar o que via.
A mulher voltou, tirou aquele vestido e colocou uma outra roupa, e saiu andando novamente...
Daniela, finalmente,  comprendeu o que via. Continuou falando sózinha:
_ Danadinhos! Montaram uma pequena “loja” na areia.
O garçom acha estranho aquela moça falando sozinha. Mas, como está em Ibiza, não diz nada. Só olha de soslaio para Daniela e murmura:
_ Otra brasileña majareta!
Enquanto isso a ação continuava. A mulher vestia uma roupa saia para um lado, voltava, vestia outra e saia para outro lado...
Em pouco tempo a pequena “loja” estava cheia, cheia de mulheres provando as roupas que foram exibidas anteriormente. Daniela conta que eles venderam MUITO.
Nessa hora, Daniela, lembrou:
_ Preciso contar essa pro Fernando. Tenho certeza que ele vai gostar. Ainda mais como os vídeos:
P.S.: Daniela gostei muito. Até criei um pouco em cima da história. Para quem não sabe "majareta" é uma das palavras em espanhol para maluca.

sábado, 1 de junho de 2013

(Ins)Pirações: misturando Godard, Faroeste Caboclo, O Amante da Rainha e Responsabilidade Social Corporativa

Feriado é tempo de ver filmes! Comecei minha jornada de cinema assistindo a Pierrot Le Fou de Godard em casa, depois fui ao cinema ver Faroeste Caboclo. No dia seguinte, foi a vez de assistir a’O amante da Rainha. Cinema francês, brasileiro e dinamarquês. Esta mistura mexeu com as ideias, pôs o cérebro a funcionar.
Godard, em Pierrot Le Fou, faz em seu filme de 1965, sua homenagem ao cinema. Passeia por diversos gêneros e estilos – comédia, musical, surrealismo, gangsteres, drama. Ferdinand e Marianne buscam, no sul da França, o que a sociedade não lhes oferece. Faroeste Caboclo, filme nacional lançado em 2013, inspirado na música de Renato Russo e dirigido por Renê Sampaio, retrata impossibilidades da vida ao contar a estória do encontro e paixão, em nossa capital federal, entre João do Santo Cristo e Maria Lucia, vividos por Fabrício Boliveira e Ísis Valverde. Plano piloto e Ceilândia, dois mundos distantes, mas geograficamente próximos, são o palco deste Romeu e Julieta brasileiro. Mais uma vez, a sociedade separa aqueles que o coração uniu. Por fim, O Amante da Rainha dirigido por Nikolaj Arcel. Terceiro casal dessa narrativa, Caroline Mathilde, casada com Christian VII, rei da Dinamarca, se apaixona pelo médico do rei, Johann Struensee. As personagens são interpretadas por Alicia Vikander e Mads Mikkelsen nessa produção de 2012. Struensee é um iluminista que, após ganhar a confiança do rei, se aproveita de sua loucura para destituir o Conselho Real. Christian VII acaba dando plenos poderes ao médico que, guiado pelas ideias iluministas, introduz alterações na vida do povo dinamarquês. Da paixão entre Caroline Mathilde e Johann Struensee nasce uma filha. Descoberta a traição, igreja e nobreza voltam ao poder e desfazem os avanços sociais implantados.
Traição, paixão e transformação. Absurdo, violência e poder. Temas que perpassam as três histórias. Qual é o espaço do indivíduo e do coletivo em nossa sociedade capitalista. Como conciliar nossos desejos e aspirações individuais com a do outro. França de 1965, anos 70 no Brasil, último quarto do século XVIII na Dinamarca. Espaços e épocas distintas, mas com a mesmas questões humanas mal resolvidas.
Godard, em 1965, já comentava sobre o consumismo. Nos momentos iniciais de Pierrot Le Fou, Ferdinand caminha entre os convivas de uma festa que dialogam com frases que são retiradas de propagandas de produtos. Deliciosamente surreal! Faroeste Caboclo mostra a impossibilidade do rompimento das barreiras sociais e de raça. A futilidade das tentativas de aproximação entre dois mundos. N’O Amante da Rainha surge a esperança do iluminismo. O conhecimento científico se opondo à tradição e à religião. O primeiro round dessa luta é vencido pelos iluministas, no segundo vencem religião e nobreza. E depois?
E a responsabilidade social corporativa? Onde entre nesse texto? Você me pergunta. Eu respondo: Justamente agora, leitor impaciente!
Volto a esse tema! Mais uma vez, a esperança de que seja esse o caminho. Será que vou conseguir superar meu ceticismo? Será que essas três histórias de amor impossível ajudam a encontrar uma saída? Pouco provável, mas não custa tentar. Como diria Goulart de Andrade: vem comigo!
Estamos em busca de um desenvolvimento sustentável. Um desenvolvimento que, no dizer de Veiga (Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2008), pode permitir que cada indivíduo revele suas capacidades, seus talentos e sua imaginação na busca da auto realização e da felicidade, mediante esforços coletivos e individuais, combinação de trabalho autônomo e heterônomo e de tempo gasto em atividades não econômicas...maneiras viáveis de produzir meios de vida não podem depender de esforços excessivos e extenuantes por parte de seus produtores, de empregos mal remunerados exercidos em condições insalubres, da prestação inadequada de serviços públicos e de padrões subumanos de moradia (p. 80-81).
No campo da Administração, parece que a resposta a essa busca é a institucionalização da Responsabilidade Social Corporativa. Já que se abandonou a derrubada do sistema, vamos aperfeiçoá-lo. É isso possível?
Para alguns é! Por exemplo, Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (Gestão socioambiental: responsabilidade e sustentabilidade do negócio. São Paulo: Atlas, 2009) apresentam uma boa síntese da temática da gestão socioambiental demonstrando como esta evoluiu a partir das premissas da responsabilidade social e do relacionamento com stakeholders. Para esses autores a preocupação com posturas socialmente corretas, ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis estará cada vez mais presente entre os temas de gestão. (p. 8). Isso implica dizer que há um desafio presente na gestão das organizações: observar o atendimento aos critérios de responsabilidades econômica, legal, ética e filantrópica propostos por Carrol (The pyramid of corporate social responsibility: toward the moral management of organizational stakeholders. Business Horizons, v. 34, n. 4, p. 39-48, 1991).
Mas, em um mundo, onde as paixões escapam ao domínio da temperança será isso possível? Tenho sentimentos conflitantes sobre isso. Por um lado, muitas vezes, sou descrente. Por outro, algumas vezes, confiante. Jean Luc Godard, Renê Oliveira e Nikolja Arcel despertaram as duas forças conflituosas em movimento no meu cérebro. Desse conflito surge a síntese: a esperança.
Em Pierrot Le Fou há uma cena inspiradora. Ferdinand, interpretado por Jean Paul Belmondo, e Marianne, por Anna Karina, estão em uma estrada, conversando dentro do carro em movimento. São vistos por trás. Ferdinand comenta sobre fala de Marianne: as mulheres só querem divertimento. Marianne responde: para quem você está falando? Ferdinand responde: para a plateia. Marianne olha para trás em direção à câmara. Momento sublime, suavemente irônico, em que Godard revela a câmara ao espectador e nos lembra que o que vemos é um filme. Será que os administradores que discursam sobre responsabilidade social corporativa não estão falando só para a plateia?
Em Faroeste Caboclo a tragédia nos lembra da impossibilidade do convívio. Pessimista, reforça minha descrença. Duzentos anos depois do nascimento dos ideais iluministas, as desigualdades permanecem! Caminhamos tão lentamente!
Por fim a esperança d’O Amante da Rainha. O filme é uma carta de Caroline para seus dois filhos, Frederick e Louise Augusta. Separada dos dois pelo exílio, Caroline conta para eles a sua história e conclui: sei que vocês me deixarão orgulhosa.
Outras gerações serão capazes de fazer o que não fizemos? Espero que haja tempo!