domingo, 23 de setembro de 2018

TÚNEL DO TEMPO 2 - Pequenas empresas e o desenvolvimento


Neste post reproduzo artigo que publiquei na Folha de Londrina em 26/04/1990. Como comentei no post que deu origem a esta série, foi devido ao esforço de preservação da história familiar que minha mãe, Kilda Gomes do Prado Gimenez, empreendeu ao longo de sua vida, que estou tendo esta possibilidade de resgatar textos do início de minha carreira nos estudos da Administração. Os textos foram preservados em meu álbum de Vida. Vejo esta série como um retorno a ideias e pensamentos que povoaram minhas reflexões iniciais neste campo de estudos. De certa forma, os textos foram o embrião de temas e preocupações acadêmicas que ainda estão comigo e serão aprofundadas em minha participação no Programa de Pós-Graduação em Pol´ticas Públicas da UFPR. Vem comigo!

Pequenas empresas e o desenvolvimento
Um conjunto de lideranças empresariais, políticas e acadêmicas da região vêm discutindo, há algum tempo, a necessidade de se envidarem esforços para a retomada do desenvolvimento econômico do Norte do Paraná.
Qualquer debate desta natureza não pode deixar de considerar o papel que as micro e pequenas empresas desempenham e a contribuição que estas trazem na consecução de um desenvolvimento econômico-social mais equilibrado. As pequenas empresas são um eficiente instrumento de melhor distribuição de renda e desconcentração das atividades econômicas, visto que complementam as atividades das grandes organizações, ocupam mercados não atendidos suprindo as necessidades de consumo de grande parte da população, absorvem mão-de-obra pouco ou não qualificada e são uma importante fonte de inovações tecnológicas.
Além disso, as micro e pequenas empresas são a maneira mais rápida e barata  de geração de empregos. Pesquisas do Banco Mundial indicaram que a geração de uma unidade de emprego em pequenas unidades produtivas consumiu apenas um terço dos recursos aplicados por grandes empresas ao proporcionarem o mesmo posto de trabalho. Só este fato já justifica uma atenção especial às micro e pequenas empresas quando da discussão e formulação de políticas de desenvolvimento mais abrangentes.
Apesar desta importância, a sobrevivência das pequenas empresas é dificultada por inúmeras barreiras. Em recente pesquisa, verificou-se que os problemas mais frequentes enfrentados pelos dirigentes de pequenos negócios estão intimamente relacionados à falta de habilidades administrativas.
Uma política de desenvolvimento empresarial deve, portanto, incluir a facilitação do acesso pelos pequenos empresários às fontes de conhecimento administrativo, bem como a criação de um ambiente propício ao surgimento de novos pequenos negócios visando a geração de empregos.
Este pode ser conseguido através dos investimentos tradicionais em infra-estrutura urbana da região, mas pode ser mais facilmente obtido se esforços forem direcionados para a criação de centros de treinamento para a mão-de-obra não qualificada disponível no mercado, contribuindo para a solução de um dos problemas que mais afligem as pequenas empresas. Estes centros de treinamento poderiam ser criados e administrados de forma cooperativa com o envolvimento dos governos municipais, associações empresariais e instituições de ensino superior.
Por outro lado, o acesso dos pequenos empresários às modernas técnicas de administração não pode deixar de envolver o potencial existente nos cursos de Administração da região. Mais uma vez, a ação conjunta dos empresários, governos locais e instituições de ensino pode viabilizar recursos que permitam a estas direcionar parte de seu corpo docente para o desenvolvimento de atividades de extensão, tais como cursos, palestras e trabalhos de consultoria, com o imprescindível envolvimento dos alunos.
O desenvolvimento econômico-social só pode acontecer quando empregados e empregadores têm chances de se desenvolver profissionalmente, e este só é alcançado quando o esforço cooperativo democratiza o acesso ás fontes de conhecimento e gerenciamento mais eficaz.

Pois é, já naquela época algumas questões que julgo ainda relevantes estavam em meu discurso: democratização do conhecimento, parcerias intrasetoriais, cooperação entre  universidades e empresas e a importância das pequenas empresas para um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

TÚNEL DO TEMPO 1 - Pequenas empresas nos anos 90


Graças ao esforço de preservação da história familiar que minha mãe, Kilda Gomes do Prado Gimenez, empreendeu ao longo de sua vida, tenho em minhas mãos um álbum da vida com fotografias, documentos, informações, reportagens impressas e cópias de textos que escrevi ao longo de boa parte de minha vida. A fotografia que ilustra este post é a reprodução da contracapa e página inicial de meu álbum de vida. Esse garoto sorridente sou eu antes do primeiro aniversário.

Em três semanas começarei minha atuação como professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas com uma disciplina sobre Políticas Públicas de Fomento ao Empreendedorismo. Hoje, folheando meu álbum de vida, encontrei algum textos que escrevi e foram publicados na Folha de Londrina, jornal diário da cidade que existe há muitas décadas em Londrina. São textos do começo dos anos 90 em que comentei sobre questões associadas ao estímulo às pequenas empresas e sobre seu desenvolvimento
Minha presença neste blog tem sido muito esporádica nos últimos meses. Venho pensando alguns textos para ele, mas as atividades acadêmicas e administrativas na UFPR acabam empurrando a escrita para outros momentos. Ao encontrar meus textos de 28 anos atrás, decidi retomar os posts do blog. Começarei com a reprodução daqueles textos publicados na Folha de Londrina. Um resgate das ideias que estavam em minha mente à época e, provavelmente, ainda devem fazer sentido. Começo com o texto Pequenas empresas nos anos 90 de 26 de janeiro de 1990. Nele abordo temas que se consolidariam em meus estudos sobre estratégia de pequenas empresas que são parte relevante de minha produção acadêmica desde então. Vem comigo!

Pequenas empresas no anos 90
O professor Rattner, em recente artigo na Folha de São Paulo, afirmou que a evolução da informática aplicada às empresas está delineando um novo paradigma tecnológico, que demandará das pequenas e médias empresas (PMEs) ações que levem à sua modernização administrativa, para que possam usufruir plenamente dos benefícios deste paradigma.
A par das exigências postas pelo novo paradigma tecnológico, a crescente internacionalização da economia colocará novos desafios às PMEs, através de uma concorrência mais acentuada. A formação dos grandes blocos econômicos (Europa 92, EUA e Canadá, países asiáticos) será um fator adicional no acirramento da competição empresarial a nível internacional. Por outro lado, as transformações econômicas e sociais pelas quais vêm passando os países socialistas podem significar oportunidades comerciais a serem exploradas também pelas PMEs.
O comportamento do consumidor, por sua vez, está sofrendo uma transformação no sentido de fugir à padronização que tem caracterizado a sociedade industrial. A diferenciação nos hábitos de consumo, a procura por produtos e serviços especializados, fazem com que as vantagens da economia de escala deixem de ser tão importantes. Esta tendência, aliada às facilidades que a informática e a automação industrial estão apresentando, levam a crer que os espaços a serem ocupados pelas PMEs poderão ser muito ampliados.
Para que as PMEs possam fazer face às ameaças e oportunidades que se delineiam para os anos 90 é necessário que seus dirigentes passem a adotar, com grande ênfase, duas práticas administrativas essenciais: o comportamento estratégico e estratégias de cooperação.
O pequeno empresário, em geral, adota um estilo de administração introvertido, ou seja, é tão absorvido por atividades rotineiras de sua empresa que acaba prestando pouca atenção à evolução do mercado em que atua. A ação do pequeno empresário de sucesso deve estar muito mais voltada para o relacionamento de seu negócio com o ambiente empresarial. O sucesso da empresa está, em maior grau, relacionado à eficácia com que a empresa se adapta às transformações que ocorrem à sua volta e, em menor grau, relacionada à eficiência com que as operações internas são realizadas visando conseguir aquela adaptação. Em suma, é preciso que o dirigente de uma pequena empresa passe a adotar o planejamento estratégico como uma das ferramentas na administração de seu negócio.
Por outro lado, os anos 90 exigirão das PMEs novas posturas nas suas relações com fornecedores, consumidores, reguladores, financiadores e trabalhadores. Estas se caracterizarão basicamente pela adoção de uma estratégia de cooperação intrasetorial.
Em relação aos reguladores, as associações de pequenas empresas atualmente vêm desempenhando uma ação coletiva muito eficaz, através dos grupos de pressão. Este tipo de atividade, além de divulgar os aspectos positivos do segmento, seus problemas e necessidades, é eficaz também na obtenção de apoio legislativo, através da pressão junto aos legisladores, como bem exemplifica a história recente de nossa última constituição federal.
Da mesma forma, a nível de ramo de negócio, cooperativas ou associações poderiam ser formadas visando desenvolver atividades direcionadas para cada um dos públicos externos. Por exemplo, em relação aos fornecedores, a instalação de centrais de compra permitiria a obtenção de benefícios em relação a preços, condições de pagamento e qualidade dos insumos. No que diz respeito aos consumidores, esforços coletivos poderiam ser desenvolvidos no campo da publicidade institucional e da pesquisa sobre o consumidor. Estas ações redundariam em ampliação do mercado total, por um lado, e melhor conhecimento do consumidor por outro. Grupos de negociação coletiva e centros de treinamento são atividades que podem ser desenvolvidas no que diz respeito à mão-de-obra.
Se o associativismo, de uma maneira geral, apresenta excelentes resultados, independentemente do porte das empresas envolvidas, no caso das PMEs esta prática deve ser incentivada com a maior ênfase possível, tendo em vista seu enorme potencial de contribuição na superação das dificuldades que as pequenas empresas enfrentam em sua ibserção no mercado.

Quem diria? Eu já fui um apóstolo do planejamento estratégico! Era impossível escapar dessa influência nos anos 80, meus anos de formação na graduação e mestrado em administração. Mas, além disso, já havia algum embrião da preocupação com os stakeholders e com as estratégias que seriam mais tarde chamadas de coopetição. Por fim, era difícil fugir do caráter normativo do texto, cheio de o que tinha ou deveria ser feito!

O texto me identificava como administrador e professor-assistente do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Londrina. Ainda não tinha começado meu doutoramento, que só ocorreria a partir de 1991.