sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Economia Criativa: primeiras reflexões sobre o caso do cinema


O fenômeno do empreendedorismo não é recente. Empreender é um ato humano que pode ser notado em qualquer atividade que reúna grupos. Desde os primórdios da humanidade, quando os seres humanos se juntaram, pode-se dizer que foram criados empreendimentos para permitir a realização de tarefas sociais.
A sociedade contemporânea é marcada por um ritmo acelerado de mudança. O mundo em que vivemos está se transformando continuamente. Alterações nos hábitos de consumo da população, mudanças demográficas, o surgimento de novas tecnologias e sua incorporação em produtos e serviços causam impactos profundos nas organizações de negócios ameaçando sua sobrevivência ou oferecendo novas oportunidades de crescimento, bem como abrindo espaço para o surgimento de novas empresas, ou para o desenvolvimento de iniciativas empreendedoras em organizações já existentes.
Esse fenômeno tem sido estudado em diversos contextos. Mais recentemente, a Economia Criativa tem sido foco de atenção dos pesquisadores, tanto por sua potencial contribuição ao desenvolvimento econômico e social quanto por suas peculiaridades no modo de atuação das organizações que nela se incluem (KIRSCHBAUM et al, 2009).
Leitão (2013), ao fazer a apresentação de uma edição do Cadernos do CEOM dedicada à Economia Criativa, inspirando-se em Celso furtado, ressalta que “se tomarmos a arte como forma de vida, se resgatarmos na criatividade humana uma energia sem finalidade, talvez tivéssemos aí um bom mote para qualificar a palavra economia como criativa, uma economia voltada à inclusão produtiva e, sobretudo, às dinâmicas sociais de fusão entre o criar e o viver".
Ora dedicar-se ao estudo do empreendedorismo, para mim, sempre teve um sentido inclusivo. Sempre desejei entender a ação empreendedora, a partir dos desejos e motivações do indivíduo empreendedor. No entanto, pouco me preocupei, até recentemente, com o aspecto de manifestação cultural no empreender. Ao me dedicar ao estudo do cinema, vislumbro uma possibilidade de juntar o útil ao agradável! Compreender a ação empreendedora em um espaço onde a lógica de negócio se emparelha à lógica da criação cultural. Como conciliá-las?
As organizações de produção cinematográfica estão incluídas na chamada Economia Criativa. De modo geral, sua forma de organização centra-se em três grandes eixos: a concepção de um novo produto (filme); a produção do filme; e a sua distribuição (exibição em salas de cinema, outros espaços e outras formas de disseminação).
O mercado brasileiro de distribuição e exibição de filmes é crescente. Em estudo preliminar, recentemente divulgado, a ANCINE informa que o ano cinematográfico de 2012, compreendendo 52 semanas cinematográficas entre a primeira sexta-feira do ano (6 de janeiro de 2012) e a primeira quinta-feira de 2013 (3 de janeiro de 2013), estabeleceu um recorde na arrecadação das salas de exibição, atingindo R$ 1,6 bilhão de reais, crescimento de 12,13% em relação a 2011 (ANCINE, 2013). Nesse período foram lançados pelas empresas distribuidoras 330 filmes, dos quais 83 eram produções brasileiras. O total de filmes lançados ficou pouco abaixo do ocorrido em 2011, 339 filmes. No entanto, naquele ano o número de filmes brasileiros que entraram em exibição foi de 99, o que significa que em 2012 houve uma queda de 16,2% no número de filmes brasileiros em lançamento. Essa queda refletiu-se na participação dos filmes brasileiros em termos de público e arrecadação das salas de exibição. Em 2011, os filmes brasileiros atingiram 12,4% do público e 11,4% da renda, ao passo que em 2012, os resultados foram 10,6% e 9,7%, respectivamente (ANCINE, 2013).
Um aspecto característico das organizações cinematográficas é que estas estão continuamente envolvidas em projetos que têm prazo determinado para realização. Isto implica, possivelmente, em formas distintas de organização em comparação com empresas tradicionais de mercado. Assim, este contexto diferenciado pode ser objeto de estudo, contribuindo para um entendimento ampliado de como as organizações de produção cinematográfica se estruturam para terem um desempenho bem sucedido e continuado na sociedade.
Paiva Júnior, Cunha e Guerra (2013), comentando sobre o empreendedor cultural do filme, a partir da análise do caso de Pernambuco, ressaltam que “dentre as atividades culturais, o cinema se destaca por suas peculiaridades de sobrevivência, uma vez que se demanda um alto custo para produção de um filme, existe certa carência de alternativas para captação de recursos financeiros que viabilizem sua realização e entraves para a circulação dos filmes no mercado exibidor” (p. 97).
Assim, começo a estudar as formas como as organizações de produção cinematográfica podem se configurar por meio de decisões que articulem em sua atuação aspectos do empreendedorismo e da economia criativa, em seus três eixos centrais: concepção, produção e distribuição. Para entender a gestão das organizações de produção cinematográfica, considero necessário analisá-las sob uma perspectiva da abordagem das configurações. A abordagem das configurações tem permeado os estudos organizacionais especialmente nas duas últimas décadas e se estabelecido como uma perspectiva voltada para a investigação de conjuntos de atributos que representam arquétipos ou gestalts organizacionais. Nesse sentido, o ponto de partida dessa abordagem teórica repousa no entendimento de que “organizações são consideradas entidades complexas cujos elementos de estrutura, estratégia e ambiente possuem uma tendência natural de se combinar em estados “quânticos”, ou “configurações” (MILLER; FRIESEN,1984, p. 1).
Procuro parceiros nessa empreitada. Quer juntar-se a mim?

Referências:

ANCINE Agência Nacional do Cinema. Informa de Acompanhamento de Mercado. Disponível em http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/dados2012/dezembro/Informe-anual-2012-preliminar.pdf.

KIRSCHBAUM, C.  et al Indústria Criativa no Brasil. São Paulo: Atlas, 2009.

LEITÃO, C. Apresentação ou Reflexões Furtadianas sobre Economia Criativa Brasileira. Cadernos do CEOM, v. 26, n, 39, p. 7-10, 2013.

MILLER, D.; FRIESEN, P. Organizations: a quantum view. New Jersey: Prentice-Hall, 1984.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - Volume 2, número 2

Lançado mais um número da REGEPE - Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas. Leitura de alta qualidade!
http://www.regepe.org.br/index.php/regepe/issue/current

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sem plano de negócios

Ainda não li, mas gostei da forma de disseminação:

http://semplanodenegocios.lucca.co/

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Freira e a Taxista - entre a eficiência e a eficácia!


Minha irmã, Kilda, me enviou hoje essa pequena anedota que serve bem para ilustrar o dilema entre eficiência e eficácia na administração, em particular nas pequenas empresas. Kilda a recebeu a de uma amiga.

"Em uma cidade do interior, viviam duas mulheres que tinham o mesmo nome: Flávia. Uma era freira e a outra taxista. Quis o destino que morressem no mesmo dia. Quando chegaram ao céu, São Pedro as esperava. 
-  O teu nome?
-  Flávia
-  A freira?
-  Não, a taxista.
São Pedro consulta as suas notas e diz:
-  Bem, ganhastes o paraíso. Leva esta túnica com fios de ouro. Pode entrar. A seguinte...
-  O teu nome?
-  Flávia
-  A freira?
-  Sim, eu mesma.
-  Bem, ganhastes o paraíso... Leve esta túnica de linho. Pode entrar.
A religiosa diz:
-  Desculpe, mas deve haver algum engano. Eu sou Flávia, a freira!
-  Sim, minha filha, e ganhastes o paraíso. Leve esta túnica de linho...
-  Não pode ser! Eu conheço a outra Flávia, Senhor. Era taxista, vivia na minha cidade e era um desastre! Subia as calçadas, batia com o carro todos os dias, conduzia pessimamente e assustava as pessoas. Nunca mudou, apesar das multas e repreensões policiais. E quanto a mim, passei 65 anos pregando todos os domingos na paróquia. Como é que ela recebe a túnica com fios de ouro e eu esta?
-  Não há nenhum engano - diz São Pedro. É que, aqui no céu, adotamos uma gestão mais profissional do que a de vocês lá na Terra...
-  Não entendo!
-  Eu explico. Já ouviu falar de Gestão de Resultados? Agora nos orientamos por objetivos, e observamos que nos últimos anos, cada vez que tu pregavas, as pessoas dormiam. E cada vez que ela conduzia o táxi, as pessoas rezavam! Resultado é o que importa."

Deliciosamente instrutiva, não?

A distinção entre eficiência e eficácia, provavelmente, é um dos conhecimentos que se transmite logo nos primeiros momentos a estudantes de administração. Do ponto de vista conceitual, é uma diferença muito simples. Eficiência está relacionada a fazer certo as coisas, enquanto que eficácia é fazer a coisa certa. O que isso quer dizer, é que ser eficiente significa realizar as atividades e processos em uma organização de forma a utilizar corretamente e sem desperdícios todos os recursos e ferramentas necessários para cada tarefa organizacional. Por outro lado, ser eficaz significa atingir os objetivos relacionados à existência da organização. No caso de uma empresa, ser eficaz é oferecer a um mercado produtos ou serviços que sejam realmente desejados. 

É claro que a situação ideal, do ponto de vista da administração, está na combinação constante dos dois aspectos: ser eficaz e ser eficiente. Nas grandes empresas, em geral, essa combinação não é tão difícil de ser mantida. Nas pequenas empresas, no entanto, isto é mais complicado! A falta de recursos, ferramentas ou, até mesmo competências  podem afetar a eficiência. Mas, se temos que sacrificar algum dos dois, o aconselhável é abrir mão da eficiência. A eficácia não pode jamais ser abandonada.

Assim, nada mais natural que a taxista recebesse a túnica com fios de ouro. Para São pedro, a eficácia das ações residia em conseguir um maior número de preces e orações. A freira não estava sendo nem eficiente, nem eficaz! Não conseguia pregar de forma a manter a atenção das pessoas e estas não se sentiam motivadas a orar. Por outro lado, a taxista, não era nem um pouco eficiente, mas, do ponto de vista da igreja, era eficaz: todo mundo rezava quando a via!

É o que digo para minha professora de tênis, quando faço um smash todo torto:

_ Não fui eficiente, mas fui eficaz. Ganhei o ponto!

Mas, isso é história para outro post. Ainda vou escrever algo sobre a relação entre tênis e administração. Aguardem.