terça-feira, 18 de setembro de 2018

TÚNEL DO TEMPO 1 - Pequenas empresas nos anos 90


Graças ao esforço de preservação da história familiar que minha mãe, Kilda Gomes do Prado Gimenez, empreendeu ao longo de sua vida, tenho em minhas mãos um álbum da vida com fotografias, documentos, informações, reportagens impressas e cópias de textos que escrevi ao longo de boa parte de minha vida. A fotografia que ilustra este post é a reprodução da contracapa e página inicial de meu álbum de vida. Esse garoto sorridente sou eu antes do primeiro aniversário.

Em três semanas começarei minha atuação como professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas com uma disciplina sobre Políticas Públicas de Fomento ao Empreendedorismo. Hoje, folheando meu álbum de vida, encontrei algum textos que escrevi e foram publicados na Folha de Londrina, jornal diário da cidade que existe há muitas décadas em Londrina. São textos do começo dos anos 90 em que comentei sobre questões associadas ao estímulo às pequenas empresas e sobre seu desenvolvimento
Minha presença neste blog tem sido muito esporádica nos últimos meses. Venho pensando alguns textos para ele, mas as atividades acadêmicas e administrativas na UFPR acabam empurrando a escrita para outros momentos. Ao encontrar meus textos de 28 anos atrás, decidi retomar os posts do blog. Começarei com a reprodução daqueles textos publicados na Folha de Londrina. Um resgate das ideias que estavam em minha mente à época e, provavelmente, ainda devem fazer sentido. Começo com o texto Pequenas empresas nos anos 90 de 26 de janeiro de 1990. Nele abordo temas que se consolidariam em meus estudos sobre estratégia de pequenas empresas que são parte relevante de minha produção acadêmica desde então. Vem comigo!

Pequenas empresas no anos 90
O professor Rattner, em recente artigo na Folha de São Paulo, afirmou que a evolução da informática aplicada às empresas está delineando um novo paradigma tecnológico, que demandará das pequenas e médias empresas (PMEs) ações que levem à sua modernização administrativa, para que possam usufruir plenamente dos benefícios deste paradigma.
A par das exigências postas pelo novo paradigma tecnológico, a crescente internacionalização da economia colocará novos desafios às PMEs, através de uma concorrência mais acentuada. A formação dos grandes blocos econômicos (Europa 92, EUA e Canadá, países asiáticos) será um fator adicional no acirramento da competição empresarial a nível internacional. Por outro lado, as transformações econômicas e sociais pelas quais vêm passando os países socialistas podem significar oportunidades comerciais a serem exploradas também pelas PMEs.
O comportamento do consumidor, por sua vez, está sofrendo uma transformação no sentido de fugir à padronização que tem caracterizado a sociedade industrial. A diferenciação nos hábitos de consumo, a procura por produtos e serviços especializados, fazem com que as vantagens da economia de escala deixem de ser tão importantes. Esta tendência, aliada às facilidades que a informática e a automação industrial estão apresentando, levam a crer que os espaços a serem ocupados pelas PMEs poderão ser muito ampliados.
Para que as PMEs possam fazer face às ameaças e oportunidades que se delineiam para os anos 90 é necessário que seus dirigentes passem a adotar, com grande ênfase, duas práticas administrativas essenciais: o comportamento estratégico e estratégias de cooperação.
O pequeno empresário, em geral, adota um estilo de administração introvertido, ou seja, é tão absorvido por atividades rotineiras de sua empresa que acaba prestando pouca atenção à evolução do mercado em que atua. A ação do pequeno empresário de sucesso deve estar muito mais voltada para o relacionamento de seu negócio com o ambiente empresarial. O sucesso da empresa está, em maior grau, relacionado à eficácia com que a empresa se adapta às transformações que ocorrem à sua volta e, em menor grau, relacionada à eficiência com que as operações internas são realizadas visando conseguir aquela adaptação. Em suma, é preciso que o dirigente de uma pequena empresa passe a adotar o planejamento estratégico como uma das ferramentas na administração de seu negócio.
Por outro lado, os anos 90 exigirão das PMEs novas posturas nas suas relações com fornecedores, consumidores, reguladores, financiadores e trabalhadores. Estas se caracterizarão basicamente pela adoção de uma estratégia de cooperação intrasetorial.
Em relação aos reguladores, as associações de pequenas empresas atualmente vêm desempenhando uma ação coletiva muito eficaz, através dos grupos de pressão. Este tipo de atividade, além de divulgar os aspectos positivos do segmento, seus problemas e necessidades, é eficaz também na obtenção de apoio legislativo, através da pressão junto aos legisladores, como bem exemplifica a história recente de nossa última constituição federal.
Da mesma forma, a nível de ramo de negócio, cooperativas ou associações poderiam ser formadas visando desenvolver atividades direcionadas para cada um dos públicos externos. Por exemplo, em relação aos fornecedores, a instalação de centrais de compra permitiria a obtenção de benefícios em relação a preços, condições de pagamento e qualidade dos insumos. No que diz respeito aos consumidores, esforços coletivos poderiam ser desenvolvidos no campo da publicidade institucional e da pesquisa sobre o consumidor. Estas ações redundariam em ampliação do mercado total, por um lado, e melhor conhecimento do consumidor por outro. Grupos de negociação coletiva e centros de treinamento são atividades que podem ser desenvolvidas no que diz respeito à mão-de-obra.
Se o associativismo, de uma maneira geral, apresenta excelentes resultados, independentemente do porte das empresas envolvidas, no caso das PMEs esta prática deve ser incentivada com a maior ênfase possível, tendo em vista seu enorme potencial de contribuição na superação das dificuldades que as pequenas empresas enfrentam em sua ibserção no mercado.

Quem diria? Eu já fui um apóstolo do planejamento estratégico! Era impossível escapar dessa influência nos anos 80, meus anos de formação na graduação e mestrado em administração. Mas, além disso, já havia algum embrião da preocupação com os stakeholders e com as estratégias que seriam mais tarde chamadas de coopetição. Por fim, era difícil fugir do caráter normativo do texto, cheio de o que tinha ou deveria ser feito!

O texto me identificava como administrador e professor-assistente do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Londrina. Ainda não tinha começado meu doutoramento, que só ocorreria a partir de 1991.

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