Recentemente, iniciei um novo foco de
estudos: políticas públicas de empreendedorismo. Este movimento se relaciona à
minha entrada no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da
Universidade Federal do Paraná, que ocorreu no ano passado.
Políticas públicas de
empreendedorismo, no passado, era objeto de minha atenção de forma muito
esporádica. De vez em quando, algum texto chamava a minha atenção enquanto
pesquisador do campo de empreendedorismo. Como parte de minhas atividades nesse
novo tema, estabeleci um programa de leituras que vão me ajudar a desenvolver
uma compreensão mais aprofundada da literatura sobre fomento ao
empreendedorismo. Obviamente, essas leituras me ajudarão a formular algum
projeto de pesquisa em breve.
Assim, de forma disciplinada, começo
meus dias de trabalho com a leitura de dois textos: um brasileiro e outro
estrangeiro. Nem sempre as leituras são muito úteis, mas hoje foi um dia
especialmente valioso. Tanto o texto brasileiro, quanto o estrangeiro, além de
muito bem escritos, me forneceram informações sobre duas facetas das políticas
públicas de empreendedorismo que têm atraído alguma atenção de estudiosos do
campo: o empreendedorismo juvenil e o empreendedorismo feminino.
Aliás, Lundström e Stevenson (2005),
ao apresentarem uma tipologia de políticas públicas de empreendedorismo,
incluíram as políticas de estímulo a grupos específicos de empreendedores como
uma das possibilidades de ações governamentais de apoio ao empreendedorismo. A
tipologia desses autores inclui: 1. promoção do empreendedorismo; 2. educação
para o empreendedorismo; 3. ambiente para start-ups; 4. financiamento de
start-ups; 5. organizações de apoio a start-ups; e 6. estratégias de grupos
específicos.
O texto brasileiro, de autoria de Yára
Bulgacov, Sieglinde Cunna, Denise Camargo, Maria Lucia Meza e Sergio Bulgacov,
aborda o caso do empreendedorismo jovem. Com base em uma análise crítica das
possibilidades de empreender que se abrem aos jovens no Brasil, as autoras
apontaram que "é necessário diferenciar as políticas para o jovem
empreendedor por necessidade e por oportunidade... por um lado, é papel do
Estado apoiar e criar as condições socioeconômicas para a potencialização da
ação empreendedora do jovem brasileiro que empreende por oportunidade, buscando
sua realização pessoal e sua inserção competitiva na economia. Para este grupo
de empreendedores, a ação do Estado deve voltar-se para criar as condições para
a inovação e o crescimento do empreendimento, através de cursos de gestão,
assistência técnica, financiamento, apoio logístico, entre outros... por outro,
deve, mediante políticas sociais de educação, treinamento e outras formas de
inserção social, induzir o jovem que empreende por necessidade a buscar outras
formas de inserção no mundo do trabalho, através de instrumentos que
transformem seu “comportamento” empreendedor em “ação” de empreender,
compreendida como parte de valorização da pessoa e enquanto possibilidade
inerente à condição humana, que envolve consciência, imaginação, criatividade,
exploração do desconhecido e aprendizagem. (BULGACOV, CUNHA, CAMARGO, MEZA,
BULGACOV, 2011, p. 716).
Nesse texto, é muito relevante a distinção
que as pesquisadoras fazem sobre comportamento empreendedor e ação
empreendedora. O primeiro basicamente é um agir condicionado, sem escolha, a
partir de restrições ou condições sociais Por outro lado, a segunda reflete uma
capacidade de escolha dirigida por consciência, reflexão e proação.
Já, no caso do texto estrangeiro,
Helene Ahl e Teresa Nelson fazem uma análise comparativa das políticas
dirigidas ao empreendedorismo feminino na Suécia e Estados Unidos. Surpreendentemente,
contrariando as expectativas das autoras, as diferenças estruturais dos dois
países no que diz respeito à conformação de um "welfare state" não
levaram a visões distintas das motivações das políticas de apoio ao
empreendedorismo feminino. Vale a reprodução de suas conclusões, em minha
tradução:
"Nós comparamos o discurso do
governo sobre o empreendedorismo feminino na Suécia e nos Estados Unidos. Por
causa do estado de bem-estar familiar generoso da Suécia, esperávamos encontrar
uma diferença em como as mulheres eram posicionadas na política de
empreendedorismo. Ao contrário das expectativas, descobrimos que o discurso
sobre empreendedorismo feminino refletido na política dos dois países tendia a
reproduzir a posição secundária das mulheres na sociedade, em vez de
melhorá-la. Isto é o resultado de inúmeros pressupostos inquestionáveis: o
imperativo do crescimento econômico, a norma masculina do empreendedorismo, o
pressuposto da mulher como diferente, pressupostos individualistas sobre
empreendedorismo e a exclusão da família, dos homens e do trabalho reprodutivo.
Um sistema de estado de bem estar no qual parte do trabalho reprodutivo é pago e
organizado publicamente, liberando as mulheres para participar do mercado de
trabalho, não fez diferença em como as mulheres eram posicionadas (AHL; NELSON,
2015, p. 289).
Referências:
AHL,
HELENE; NELSON, TERESA How policy positions women entrepreneurs: A comparative
analysis of state discourse in Sweden and the United States. Journal of Business
Venturing, v. 30, n. 2, p. 273-291, 2015.
(https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0883902614000755)
BULGACOV, YÁRA LÚCIA M.; CUNHA,
SIEGLINDE KINDL DA; CAMARGO, DENISE DE; MEZA, MARIA LUCIA; BULGACOV, SERGIO
Jovem empreendedor no Brasil: a busca do espaço da realização ou a fuga da
exclusão? Revista
de Administração Pública, v. 45, n. 3, p. 695-720, 2011.
(http://www.spell.org.br/documentos/ver/2426/jovem-empreendedor-no-brasil--a-busca-do-espaco-da-realizacao-ou-a-fuga-da-exclusao-)
LUNDSTRÖM,
ANDERS; STEVENSON, LOIS A. Entrepreneurhsip policy: theory and practice. International
Studies in Entrepreneurship, v. 9, 2005, 310p. (https://link.springer.com/book/10.1007/b104813).
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