quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Políticas públicas de empreendedorismo: jovens e mulheres

Recentemente, iniciei um novo foco de estudos: políticas públicas de empreendedorismo. Este movimento se relaciona à minha entrada no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná, que ocorreu no ano passado.
Políticas públicas de empreendedorismo, no passado, era objeto de minha atenção de forma muito esporádica. De vez em quando, algum texto chamava a minha atenção enquanto pesquisador do campo de empreendedorismo. Como parte de minhas atividades nesse novo tema, estabeleci um programa de leituras que vão me ajudar a desenvolver uma compreensão mais aprofundada da literatura sobre fomento ao empreendedorismo. Obviamente, essas leituras me ajudarão a formular algum projeto de pesquisa em breve.
Assim, de forma disciplinada, começo meus dias de trabalho com a leitura de dois textos: um brasileiro e outro estrangeiro. Nem sempre as leituras são muito úteis, mas hoje foi um dia especialmente valioso. Tanto o texto brasileiro, quanto o estrangeiro, além de muito bem escritos, me forneceram informações sobre duas facetas das políticas públicas de empreendedorismo que têm atraído alguma atenção de estudiosos do campo: o empreendedorismo juvenil e o empreendedorismo feminino.
Aliás, Lundström e Stevenson (2005), ao apresentarem uma tipologia de políticas públicas de empreendedorismo, incluíram as políticas de estímulo a grupos específicos de empreendedores como uma das possibilidades de ações governamentais de apoio ao empreendedorismo. A tipologia desses autores inclui: 1. promoção do empreendedorismo; 2. educação para o empreendedorismo; 3. ambiente para start-ups; 4. financiamento de start-ups; 5. organizações de apoio a start-ups; e 6. estratégias de grupos específicos.
O texto brasileiro, de autoria de Yára Bulgacov, Sieglinde Cunna, Denise Camargo, Maria Lucia Meza e Sergio Bulgacov, aborda o caso do empreendedorismo jovem. Com base em uma análise crítica das possibilidades de empreender que se abrem aos jovens no Brasil, as autoras apontaram que "é necessário diferenciar as políticas para o jovem empreendedor por necessidade e por oportunidade... por um lado, é papel do Estado apoiar e criar as condições socioeconômicas para a potencialização da ação empreendedora do jovem brasileiro que empreende por oportunidade, buscando sua realização pessoal e sua inserção competitiva na economia. Para este grupo de empreendedores, a ação do Estado deve voltar-se para criar as condições para a inovação e o crescimento do empreendimento, através de cursos de gestão, assistência técnica, financiamento, apoio logístico, entre outros... por outro, deve, mediante políticas sociais de educação, treinamento e outras formas de inserção social, induzir o jovem que empreende por necessidade a buscar outras formas de inserção no mundo do trabalho, através de instrumentos que transformem seu “comportamento” empreendedor em “ação” de empreender, compreendida como parte de valorização da pessoa e enquanto possibilidade inerente à condição humana, que envolve consciência, imaginação, criatividade, exploração do desconhecido e aprendizagem. (BULGACOV, CUNHA, CAMARGO, MEZA, BULGACOV, 2011, p. 716).
Nesse texto, é muito relevante a distinção que as pesquisadoras fazem sobre comportamento empreendedor e ação empreendedora. O primeiro basicamente é um agir condicionado, sem escolha, a partir de restrições ou condições sociais Por outro lado, a segunda reflete uma capacidade de escolha dirigida por consciência, reflexão e proação.
Já, no caso do texto estrangeiro, Helene Ahl e Teresa Nelson fazem uma análise comparativa das políticas dirigidas ao empreendedorismo feminino na Suécia e Estados Unidos. Surpreendentemente, contrariando as expectativas das autoras, as diferenças estruturais dos dois países no que diz respeito à conformação de um "welfare state" não levaram a visões distintas das motivações das políticas de apoio ao empreendedorismo feminino. Vale a reprodução de suas conclusões, em minha tradução:
"Nós comparamos o discurso do governo sobre o empreendedorismo feminino na Suécia e nos Estados Unidos. Por causa do estado de bem-estar familiar generoso da Suécia, esperávamos encontrar uma diferença em como as mulheres eram posicionadas na política de empreendedorismo. Ao contrário das expectativas, descobrimos que o discurso sobre empreendedorismo feminino refletido na política dos dois países tendia a reproduzir a posição secundária das mulheres na sociedade, em vez de melhorá-la. Isto é o resultado de inúmeros pressupostos inquestionáveis: o imperativo do crescimento econômico, a norma masculina do empreendedorismo, o pressuposto da mulher como diferente, pressupostos individualistas sobre empreendedorismo e a exclusão da família, dos homens e do trabalho reprodutivo. Um sistema de estado de bem estar no qual parte do trabalho reprodutivo é pago e organizado publicamente, liberando as mulheres para participar do mercado de trabalho, não fez diferença em como as mulheres eram posicionadas (AHL; NELSON, 2015, p. 289).

Referências:

AHL, HELENE; NELSON, TERESA How policy positions women entrepreneurs: A comparative analysis of state discourse in Sweden and the United States. Journal of Business Venturing, v. 30, n. 2, p. 273-291, 2015. (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0883902614000755)

BULGACOV, YÁRA LÚCIA M.; CUNHA, SIEGLINDE KINDL DA; CAMARGO, DENISE DE; MEZA, MARIA LUCIA; BULGACOV, SERGIO Jovem empreendedor no Brasil: a busca do espaço da realização ou a fuga da exclusão? Revista de Administração Pública, v. 45, n. 3, p. 695-720, 2011. (http://www.spell.org.br/documentos/ver/2426/jovem-empreendedor-no-brasil--a-busca-do-espaco-da-realizacao-ou-a-fuga-da-exclusao-)

LUNDSTRÖM, ANDERS; STEVENSON, LOIS A. Entrepreneurhsip policy: theory and practice. International Studies in Entrepreneurship, v. 9, 2005, 310p. (https://link.springer.com/book/10.1007/b104813).

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