Em
outro texto, comentei sobre a relação de amizade de fregueses com meu pai.
Hoje, continuo nesta meada. Não que sempre tenha havido o surgimento de uma
amizade, mas, ao menos o convívio, às vezes diário, às vezes, semanal, acabava
levando a um relação respeitosa de conhecimento mútuo. Era uma relação que
certamente ia além de uma eventual troca monetária entre clientes e
comerciantes. Uma relação de confiança mútua. Em especial, uma relação que
redundava, por exemplo, na troca de um cheque quando alguém precisava e não
tinha tempo ou como ir aos bancos. Ou, na compra por fiado para pagar no final
de semana. Ou, em um favor de algum cliente à nossa família, como, por exemplo, à época
do Natal, Seu Luiz Pegoraro assar a leitoa e outras carnes, que comeríamos em
família, nos fornos da padaria que a família dele possuía. Durante um certo tempo, era a padaria dos Pegoraro que fornecia os pães que vendíamos no supermercado.
Há
várias famílias em que o convívio foi para além dos pais ou mães, e acabou
gerando relações de amizades entre filhos e filhas. Em outros momentos, houve o
desenvolvimento de uma proximidade muito grande que permitia, por exemplo,
sabermos que tipo de produto não podíamos deixar de ter em estoque para atender
a uma ou outra cliente. Vou escrever primeiro sobre duas dessas clientes, para
depois lembrar o convívio entre filhos e filhas.
Outro
dia, procurei no Google informações
sobre um peixe chamado bonito. É que, naquele dia, me veio à lembrança um
pedido de uma freguesa de muitos anos do Supermercado Gimenez. Como disse em
outro texto, o problema ou a beleza de escrever sobre memórias é que uma puxa
outra! Foi o que aconteceu.
Mas,
como eu ia dizendo, a minha intenção ao fazer a busca no Google era descobrir se atum e bonito são o mesmo peixe. Naquela
época, encontrar atum enlatado para colocar à venda nos supermercados não era
muito fácil. O mais comum no mercado eram as sardinhas enlatadas, ainda assim,
sem tanta variedade como se encontra hoje. Dona Elsa Furlanetto, cliente de
muitos anos do Supermercado Gimenez, que foi dona da Cariza Tecidos, na esquina
da Piauí com Belo Horizonte, era uma das que sempre comprava atum enlatado.
Pelo menos uma vez por semana, Dona Elsa ia ao supermercado, ou fazia pedidos
por telefone que mandávamos entregar na Cariza. Periódicamente pedia uma ou duas latas de atum. Então, certa vez, tínhamos comprado
de uma das empresas atacadistas que eram nossas fornecedoras, uma caixa de
bonito enlatado. Meu pai me disse que era a mesma coisa que atum. Eu acreditei.
O atum estava em falta no mercado naquela semana. Dona Elsa chegou para fazer
compras. Percorreu os corredores do mercado e, quando se aproximou do caixa
para encerrar a compra, ela me disse:
_
Fernando, não encontrei atum. Não tem?
_
Tem sim, Dona Elsa, Vou pegar para a senhora. Foi minha resposta.
Fui
até o corredor onde ficavam os enlatados e peguei uma lata do bonito que tinha
chegado naquela semana. Quando cheguei com a latinha de bonito. Dona Elsa
recusou, dizendo que não era atum. Eu ainda argumentei que era a mesma coisa.
Mas, não teve jeito, ela não levou! Tempos depois, com atum enlatado de volta ao
mercado, em outra ocasião, ela foi entrando e eu disse:
_
Dona Elsa, hoje temos atum enlatado.
Ela
perguntou:
_
É atum mesmo?
Com
minha resposta afirmativa, e mostrando o produto, ela então respondeu:
_
Desse eu levo.
Pois
é. Na memória me veem estes instantes do Supermercado Gimenez. Assim como Dona
Elsa, havia outras freguesas que tinham necessidades ou desejos bem específicos
e pouco comuns. Sempre que possível, fazíamos o possível para atender. Fazia
parte do jeito de comerciar do Supermercado Gimenez. Lembro-me que muitas
vezes, quando adolescente, acompanhei minha mãe em viagens a São Paulo para
fazer compras na Rua 25 de Março. Eram compras de produtos de bazar e outras miudezas
que trazíamos de volta nos ônibus da Garcia. Algumas vezes, se a compra era
mais volumosa era despachada e entregue em Londrina. Lembro-me de minha mãe
comentando, na compra de alguns produtos, sobre a preferência de fulana,
beltrana ou sicrana e que como elas ficariam contentes em encontrar aqueles
produtos em nosso supermercado.
Outra
freguesa que tinha uma preferência por um produto que também não era muito
comum era Dona Rina. Ela era esposa do doutor José Lorenzo Izquierdo, médico
ortopedista de Londrina e um cineasta amador da época do Super 8. O casal tinham quatro filhos, três meninos e uma menina: Josski, Irma, Peter e outro irmão mais novo cujo nome me fugiu da memória. Esse
é o caso de uma família cujos filhos tornaram-se amigos dos filhos da Dona
Kilda e Seu Gimenez. Irma estudou com Kilda minha irmã, e se tornaram grandes
amigas. O mesmo aconteceu com Peter e Arlindo, meu irmão caçula. Então,
voltando ao produto que Dona Rina sempre procurava, mas raramente encontrava:
couves- de-bruxelas. Não era muito comum na Londrina daquela época. E Dona Rina,
assim como Dr. Lorenzo, imigrantes europeus, tinha trazido alguns costumes de seu país de origem.
Quando meu pai ou, depois de algum tempo, minha tia Amélia que trabalho
conosco, ia ao Ceasa fazer a compra de hortifrutigranjeiros semanalmente, às
vezes encontravam couve-de-bruxelas. Nesses dias, já telefonávamos para Dona Rina
avisando, ou se ela viesse fazer compras neste dia, já era avisada logo na
porta do mercado.
Irma,
Peter, seus irmãos e pais moravam na Belo Horizonte, também, quase na esquina com
a Alagoas. Assim como Irma e Peter, que fizeram amizade com Kilda e Arlindo,
alguns outros filhos de freguesas ou fregueses se tornaram meus amigos. Isto aconteceu,
principalmente, porque muitos de nós fomos estudantes no Colégio Londrinense na
infância e adolescência e, também, porque morávamos todos em um quadrilátero
formado pelas ruas Belo Horizonte, Antonina (JK), Alagoas e Pio XII. Havia,
ainda, alguns mais distantes, nas proximidades do Colégio Canadá, e até mesmo
na Avenida Higienópolis.
Assim
para fechar este texto, lembro aqui de alguns amigos. Primeiro, Erich e Klaus,
filhos de Dona Mausi, que tinha uma butique na Rua Antonina (JK), e que foram
meus colegas de classe durante muitos anos no Londrinense. Eles moravam no
mesmo endereço da butique, que ficava aos fundos do terreno onde tinha a casa
deles, quase na esquina da Alagoas. Foi na casa deles que pude experimentar,
pela primeira vez, salada de alface temperada com açúcar e outras comidas de
origem alemã.
Outros
amigos foram Daniel e Mário Tsujigushi, cujo nome da mãe não me recordo, mas
que constantemente estava fazendo compras no Supermercado Gimenez. Os dois
também estudaram no Londrinense e moravam na Goiás, logo depois da Santos, ao
lado esquerdo de quem subia pela Goiás. Noemi, irmã deles, foi amiga de Kilda.
Mário, Daniel, Erich, Klaus e eu costumávamos voltar do Colégio Londrinense descendo
pela Rua Santos até chegar na Goiás. Ali nos despedíamos, e descíamos a Goiás. Eu
ficava em casa na Rua Paranaguá e Klaus e Erich iam para a casa deles na
Antonina (JK).
Voltando
para a Antonina (JK), lembrei-me da família de Aldo e Zélia Ferrari, com os
filhos. Eram dois irmãos e uma irmã: Rossana, Paulo e Beto. Alguns anos atrás,
quando minha mãe ainda vivia, eu encontrei Dona Zélia e Rossana na feira de
domingo na Rua São Paulo. Foi muito bom poder lembrar dos tempos do mercado e
trocar notícias sobre os amigos. A lembrança que guardo de Dona Zélia é a de uma mulher muito bem humorada. Eu e meus irmãos frequentávamos muito a casa deles.
Descendo
a Goiás, tinha família da Jane, Magali, Divina, e as outras duas irmãs. A mãe e
pai delas também estavam sempre pelo mercado. Em outros textos lembrei das filhas
e filhos de Dona Catarina – Marcelo, Tiemi e irmã mais velha cujo nome também
me fugiu. Eita memória fugidia!
Mas,
guardei para o final desse texto, a lembrança de dona Nádia e seu filho Ricardo
Sahão. Ricardo tem duas irmã e e um irmão. Vitória, a irmã mais velha,
reencoetrei em Curitiba, no tempo em que ela trabalhou com Nitis Jacon no
Teatro Guaíra. O outro irmão e irmã tive menos contato. Dona Nádia, também, era
freguesa constante de nosso supermercado. A lembrança que guardo dela é de uma
mulher sempre muito discreta, extremamente educada e atenciosa, fosse conosco
ou com os empregados e empregadas do supermercado. Com Ricardo desenvolvi uma
amizade mais duradoura. Houve um tempo em que Ricardo ia praticamente todo o
dia ao mercado e ficávamos um bom tempo conversando. Éramos dois sonhadores
falando de tudo da vida, mas especialmente dos planos de escrevermos uma peça
de teatro juntos. Era uma ideia constante em nossas conversas. O plano nunca
foi realizado¸ mas, algum tempo atrás, no ano passado, encontrei Ricardo em um
evento que ele organizou na Ciranda, loja de Denise Gentil. Era uma
apresentação de viola caipira. Edra me convidou para ir, pois ela queria rever
a amiga que não encontrava há tempos. Lá chegando, para minha surpresa, vi o Ricardo
conduzindo a apresentação do violeiro. Não escrevemos a peça de teatro juntos,
mas cada um manteve seu contato com o mundo da cultura. Ele através da música.
Eu por meio desses textos que vou rabiscando e postando em meus blogs
Oi Fernando. Bons tempos aqueles. Eu ia todo dia no mercado comprar coisas para minha mãe fazer almoço ou outros afazeres. Eu era pequena, mas, naquela época não havia perigo. Minha mãe me dava o dinheiro e falava: vai no Gimenez e compra meio quilo de alcatra. Vai no Gimenez e compra 1 lata de óleo...(naquela época era lata). E ru ia bela e faceira subindo a rua Goias. Passava em frente da casa da Dna Nanci, depois do Dr. Ito, depois uma casa que não me lembro de quem era e, finalmente chegava ao mwrcado. Bons tempos meu amigo...
ResponderExcluirSó hoje vi seu comentário. Muito obrigado. fiquei apenas curiosos em saber quem escreveu.
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