Ontem, em um grupo do Facebook (Londrina - Memória Viva), dois participantes divulgaram fotografias do Supermercado Gimenez.
A primeira é uma imagem recente do prédio que continua a existir na esquina da Goiás com a Paranaguá. O prédio foi vendido por nós, herdeiros de meu pai, em 2018.
Em outra postagem, foram divulgadas duas fotografias do tempo da Casa Gimenez, antecedente do Supermercado Gimenez. Já escrevi um post com memórias deste tempo. Em uma dessas fotografias, estamos Kilda, Christovam Júnior e eu ainda crianças.
Como já aconteceu em outros momentos, muitos dos londrinenses que viram fotos do Gimenez, neste grupo ou em postagens individuais, comentaram com lembranças de seus tempos de criança e juventude quando viveram na região do Gimenez. As lembranças falam de pais, de mães, das idas ao Gimenez, das compras por fiado, e de amizades que surgiram no convívio entre vizinhos, fregueses e comerciantes.
Estes comentários sempre me trazem outras memórias. Foi o que aconteceu mais uma vez. Relembrei coisas que havia planejado contar, mas ficaram esperando o momento certo. O momento da saudade que se acalma com a contação de histórias.
Embora meus irmãos e eu tenhamos convivido com a empresa familiar desde crianças, o meu vinculo contínuo de trabalho com meus pais começou nos meus vinte anos, em 1977. Já contei isto em outro post. Naquela época, meu pai tinha hábitos que hoje enquadramos nesta tão falada "sustentabilidade". Eu nunca poderia imaginar que, 35 anos depois, eu viria a me tornar professor titular de Inovação e sustentabilidade da UFPR! E me lembrar de ações sustentáveis de meu pai. Mas, o que fazia meu pai naquele tempo que seria tão valorizado hoje em dia?
Me lembro de algumas coisas que, no trabalho diário, aprendíamos com meu pai. Eram, principalmente, ações relacionadas à economia de recursos. Pareciam tão irrelevantes naquele tempo. Mas, eram eficientes. E, hoje, lembrando delas, penso que seu Gimenez tinha razão. Nas pequenas ações de cada um é que a coletividade ganha. Ou, no dizer do ditado popular, é de grão em grão que a galinha enche o papo.
A primeira era o constante estímulo que meu pai dava às freguesas e fregueses mais assíduos a guardarem os sacos de papel em que eram embaladas as compras naquela época. Representavam uma boa parcela dos custos do supermercado. Quase sempre encomendados da Gráfica Ipê, cujos donos eram também fregueses do Gimenez. Periodicamente, alguns fregueses traziam as embalagens acumuladas quinzenalmente ou mensalmente. Meu pai dava algum agrado a eles por esta ação: um desconto, algum produto que o freguês costumava comprar ou algo para as crianças que acompanhavam os pais. Meu pai conseguia economizar alguns trocados e, como dizem hoje, fidelizar clientes.
Também no quesito economia, meu pai vivia apagando as lâmpadas do salão em certos períodos do dia. Como o prédio tinha um pé direito elevado, sem forro, durante boa parte da manhã e da tarde, a iluminação natural era suficiente. Mas, de vez em quando, havia alguma tensão. Meu pai ficava bravo quando alguém acendia as luzes muito cedo. A conta de luz sempre era salgada demais! Tínhamos que economizar, pois como dizia seu Gimenez, ele não era sócio da Copel!
Também relacionada à conta de luz, meu pai tinha adotado capas plásticas para cobrir as geladeiras de frutas, legumes, frios e laticínios, qur não tinham portas. Em especial no inverno, com a temperatura menor, meu pai mandava alguém desligar as duas geladeiras e baixar os plásticos que cobriam totalmente a frente das geladeiras. Isso diminuía a troca de calor entre as geladeiras e o ambiente, mantendo os produtos relativamente frescos. Diminuía a conta de luz no fim do mês. Era arriscado, mas não me lembro de termos tido algum problema. Nunca perdemos mercadorias estragadas por isso.
É claro que meu pai agia motivado por uma questão básica de economia de recursos. Não havia nenhuma preocupação com o que chamamos hoje de sustentabilidade. Tinha a ver sim, como bom comerciante que era, com a sustentabilidade econômica e financeira de nossa empresa familiar. Mas, as duas estão obviamente ligadas. Certa vez, alguns anos atrás, eu participava de um congresso científico e assisti uma palestra de uma jovem pesquisadora. Ela contava suas pesquisas sobre ações sustentáveis em pequenas empresas. Ao final, ela disse algo que me trouxe à lembrança o que meu pai fazia. Ela descobrira que os donos de pequenas empresas se sensibilizavam com a ideia da sustentabilidade apenas quando ela conseguia convencê-los de que teriam ganhos econômicos e financeiros com isto.
Graças a meu pai, eu já tinha aprendido esta lição nos anos 70 e 80 do século passado!
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