quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Conversas com empresárias: lições de vida no mundo dos negócios

Para Kilda Gimenez, a mãe.

Estou envolvido em um projeto de pesquisa que está estudando as trajetórias de mulheres empresárias no Paraná. Nosso objetivo é tentar descobrir diferentes aspectos sobre a vida empresarial relatada pelo olhar feminino. Para isso, meus colegas e eu entrevistaremos vinte e quatro dirigentes de empresas localizadas em cinco cidades do Paraná: Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel e Ponta Grossa.

Como parte desse esforço, ontem estive em Cascavel para cumprir uma agenda de seis entrevistas. Uma das empresárias não pode me atender, mas as outras cinco puderam dispor de um pouco de seu tempo e atenção para um pesquisador que queria, mais do que entrevistá-las, ter a oportunidade de conversar sobre o que significa ser empresária, com pessoas que além desse papel, normalmente exercem outros tão ou mais importantes: mãe, esposa, filha, companheira, tia, etc. Na semana passada, já havia feito uma entrevista em Curitiba.

Fazia tempo que eu não me envolvia nesse esforço de coleta de dados para pesquisa no campo. Percebi como isto estava me fazendo falta! A experiência de ouvir os relatos de cada uma me fez lembrar das entrevistas que fiz para minha dissertação de mestrado, para a tese de doutorado, e algumas outras. Mas, com certeza já tinham passado quase dez anos desde a última entrevista que fiz. Umá década!

Cada história, cada trajetória dessas mulheres é diferente. Uma se envolveu com a empresa porque não aguentava ficar em casa sem fazer nada, enquanto o marido ia para o trabalho. Outra casou-se com um filho de empresária e, pelo estímulo de sua sogra muito empreendedora, abandonou a carreira de professora e foi para a loja da família. A terceira voltou para casa após terminar o curso superior, recebeu um convite da mãe para se juntar a ela na empresa e acabou tornando-se sua sucessora. Teve aquela que junto com a mãe resolveu abrir uma empresa na área onde tinha trabalhado desde pequena com o pai. A separação dos pais dividiu a família e levou ao surgimento de mais uma empresa. Dor levando á realização! Teve o caso daquela que estudou letras, fez uma pós em cinema e resolveu abrir uma empresa nesse ramo. Seus pais foram professores. A última, cansada de ver o ex-patrão fazendo coisas inadequadas para o ramo de negócio em que atuava, resolveu abrir sua própria empresa, tendo o ex-chefe como um anti-modelo. Não quer ser como ele! E, vai muito bem, obrigada! Em oito anos, já tem dezesseis colaboradores atuando com ela e acaba de abrir uma filial em outra cidade.

As conversas abordaram muitos aspectos da vida empresarial: existência de modelos, coisas que gosta de fazer e que não gosta de fazer, como tomam decisões muito importantes, por exemplo, sobre investimentos, relacionamento com os colaboradores, o significado de ser empresária, facilidade e dificuldades no exercício desse papel, possíveis conflitos com os outros papéis sociais, expectativas sobre si mesmas e sobre as empresas, momentos mais críticos e momentos de maior satisfação.

Na diversidade de histórias e acontecimentos surge uma dificuldade para o pesquisador: o que há de comum nessas histórias de vida? Será que cada caso é um caso, e a riqueza do conhecimento está nos aspectos únicos de cada experiência? Ou, é possível encontrar regularidades, coisas que se repetem, não exatamente iguais, mas de forma semelhante, em todas as histórias.

Desafio! O que percebi de comum nessas histórias? Não muito, mas descobertas altamente valiosas e que, talvez, sirvam de inspiração para outras: paixão pelo que fazem, persistência e, até mesmo, obstinação, com o desejo de perenidade da empresa, necessidade de constante busca de conhecimento sobre seu negócio e uma necessidade de realização associada com a capacidade e competência no agir. Tudo isso temperado por um estilo de gestão marcado pela atenção à opinião de colaboradores e construção de relacionamentos de confiança com elas e eles.

Me marcou o que Fátima disse sobre quando perguntei a respeito de momentos de maior satisfação e ela me disse:

_ Um momento inesquecível foi quando um senhor, nosso cliente, me disse certa vez: Lembro de seu inicio, com um salão pequenininho em outra cidade. Fico feliz em ver como sua trajetória foi bem sucedida.

Fátima sentiu-se orgulhosa. com razão! Mais do que o dinheiro, é a necessidade de realização que move aquela que se envolve com negócios. Lição inesquecível para mim!

Mais de uma vez, as conversas com essas mulheres, me lembraram do meu convívio com meus pais na pequena empresa que criaram e mantiveram juntos por quase 40 anos. Em especial, os relatos dessas mulheres gentis me lembraram da trajetória de minha mãe. Professora e contadora, ao casar-se com meu pai, que já tinha um pequeno bar na esquina da Paranaguá com a Goiás em Londrina, começou a se envolver com o negócio do marido. Uma doença afastou-a das salas de aulas, mas não impediu que continuasse trabalhando com o marido. Tornou-se empresária e, assim como essas mulheres que entrevistei, exerceu esse papel com paixão, persistência e serenidade. Ainda hoje se sente muito contente quando reencontra antigos clientes que passam alguns momentos relembrando as atividades do supermercado que dirigiu com meu pai.

Um comentário:

  1. Prof Fernando, as entrevistas devem ter sido super interessantes! Certamente são muito mais do que entrevistas. estes relatos são as histórias de vida destas mulheres empreendedoras, sonhadoras e acima de tudo, batalhadoras!

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