Encontrei em um sebo, uma edição de bolso das Fábulas de Esopo publicada pela L&PM em 2002. Foi uma volta à infãncia! Muitas das fábulas foram transformadas em contos infantis que imagino ainda estejam no mercado livreiro. Entre várias que me fizeram recordar os dias de infância e minhas idas à Biblioteca do Colégio Londrinense, há duas que servem de lições para a gestão de pequenas empresas também.
A primeira é muito conhecida e se intitula "Os filhos do camponês". Naquela época, Esopo contava que:
A discórdia reinava entre os filhos de um camponês. Em vão, ele os exortava a mudar de comportamento; suas palavras não produziam nenhum efeito. Foi por isso que decidiu dar-lhes uma lição na hora:
_ Tragam-me - disse ele - um feixe de gravetos,
Os meninos foram buscar. O camponês pegou os gravetos e os uniu num feixe compacto e pediu que eles o partissem. Apesar de toda a força que botaram, não conseguiram. O pai então desfez o feixe e deu a cada um deles um graveto. As crianças os quebraram com facilidade.
_ Vejam, meus filhos, o mesmo acontece com vocês: se forem unidos, não temerão seus inimigos, mas se continuarem na discórdia, cairão nas mão deles. (Fábulas de Esopo. Porto Alegre: L&PM, 2002, p, 50-51).
Muitas vezes a união entre pequenas empresas é uma forma de aumentar sua competitividade. Uma das formas mais comuns de cooperação entre pequenas empresas são as centrais de compras, que permitem melhores condições de barganha junto a fornecedores e oferta de produtos ou serviços em condições mais competitivas ao mercado. No entanto, algumas vezes, algum graveto cede à tentação de sair do feixe. Isto é, uma pequena empresa pode ceder a tentações egoísticas e não compartilhar com as demais que estão unidas alguma oportunidade. Nesse momento, a união pode ser ameaçada e o feixe desfeito. Alguns poderão se quebrar!
Me lembro de um exemplo que aconteceu em uma associação de pequenos supermercados no norte do Paraná. Essa associação, semanalmente, publicava um folheto com as ofertas da semana que poderiam ser encontradas em todas as lojas dos supermercados da associação. Essa promoção semanal era combinada com antecedência de uma semana. Certa vez, um dos associados, se aproveitou dessa combinação antecipada de promoção, e no dia seguinte à definição de quais seriam as oferta da próxima semana, resolveu fazer uma promoção antecipada em suas lojas, antes de todos os membros da associação, já que estava com estoques altos da maioria dos produtos que seriam ofertados na semana seguinte. Esse comportamento egoístico, gerou muito conflito e discórdia no àmbito da associação. O feixe foi momentaneamente quebrado! A confiança entre os cooperados sofreu muito.
Outra fábula que eu gostava muito quando criança é a que conta sobre uma disputa entre o vento e o sol. Esse é o registro da fábula (Fábulas de Esopo. Porto Alegre: L&PM, 2002, p, 83):
O Vento e o Sol discutiam para ver quem era o mais forte. Ficou estabelecido que ganharia aquele que conseguisse arrancar o casaco de um viajante. O Vento começou: pôs-se a soprar violentamente e, como o homem segurasse o casaco com força, ele redobrou os ataques. Transido de frio, o viajante pôs um segundo casaco, de modo que o Vento, desencorajado, deu a vez ao Sol. Este a princípio brilhou moderadamente e o homem tirou o segundo casaco. O Sol lançou então seus raios mais fortes e, assim, sem suportar mais o calor, o viajante tirou toda a roupa e se jogou num rio próximo.
Esopo concluía:
Conseguirás o que queres pela persuasão, não pela violência.
Aqui a relação com pequena empresa não é tão direta como na fábula anterior. Creio que essa fábula nos permite refletir sobre dois aspectos da gestão que são relevantes para a pequena empresa. O primeiro, quando pensamos na ação do Vento, pode-se refletir sobre a importância de conhecer o nosso mercado. O Vento não sabia nada sobre porque o viajante usava um casaco! Quanto mais ventava, mais o viajante precisava do seu casaco. Assim, se queremos que o cliente prefira nossa empresa, preicamos saber o que o motiva, suas necessidades e de que forma podemos atendê-lo.
Por outro lado, a ação do Sol também é ilustrativa. Quando não sabemos bem o que o mercado quer, precisamos ser prudentes, agir devagar, analisar sua reação e persistir. Se fizemos algo que deu bons resultados, reforçamos esse comportamento, se os resultados não foram bons, vamos tentar entender porque não deu certo. E, depois, tentar algo diferente.
Para mim, quando lembro das pequenas empresas e de seus dirigentes que tive a oportunidade de conhecer ao longo da vida, um padrão surge entre as bem sucedidas. É o que chamei, certa vez, de experimentação estratégica. Na pequena empresa, é preciso juntar a ação cotidiana, em condições elevadas de incerteza, com a capacidade de refletir e experimentar ações alternativas, e reforçar aquelas que foram bem sucedidas. Para que isso funcione, algo é fundamental, e agora tomo emprestado as ideias de Edmilson Oliveira Lima. Segundo o Edmilson, os dirigentes de pequenas empresas precisam desenvolver a capacidade de realizar conversas estratégicas. Discutir os rumos da empresa com seu sócios, outros parceiros, empregados e, nessas conversas, ir (re)definindo os rumos da empresa. Essas conversas são uma base muito adequada para a experimentação estratégica.
Procurem textos do Edmilson sobre conversa estratégica, São muito interessantes. Um deles pode ser encontrado no livro "Empreendedorismo e estratégia de empresas de pequeno
porte – 3Es2Ps", disponível gratuitamente em https://www.editorachampagnat.pucpr.br/ebook/.
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