Nessa vida de pesquisador vou buscando ver além daquilo que me
mostram os olhos e minha razão interpreta. Para isso, me apoio na emoção, essa
experiência humana que os cientistas teimam em afastar da explicação
científica. Mas, como sou teimoso, também, de vez em quando dou espaço para que
a emoção me ajude na busca do entendimento do empreendedorismo. Uma das
realizações humanas, que por ser conscientemente intencional, nos distingue de
outros seres viventes. Pelo menos daqueles que compartilham nossa jornada nesse
planeta Terra, que por enquanto são os únicos que conhecemos.
No último sábado, dia 15, feriado nacional, estive em
Londrina, cidade onde nasci e fiz meus estudos. Foi também nessa cidade que
comecei minha carreira de professor e pesquisador da gestão de pequenas
empresas e, depois, do empreendedorismo. Na Concha Acústica, próximo ao prédio
de apartamentos no qual mora minha mãe teve uma apresentação da Orquestra de
Londrina de Viola Caipira São Domingos Sávio. A orquestra é conduzida pelo
maestro Edson, que na abertura do show comentou sobre a alegria de estarem se
apresentando naquele espaço. A orquestra já conta com alguns anos de vida. Os
ensaios semanais ocorrem em dois lugares. Um deles, por coincidência, é a
antiga sede da Associação Médica de Londrina, hoje abrigando um espaço cultural
do SESI, que fica em frente à praça onde está a Concha Acústica. Segundo o
maestro, durante os ensaios da orquestra, ele, por muitas vezes, imaginou o dia
em que os violeiros por ele conduzidos estariam na Concha Acústica que
enxergava através das janelas da sala de ensaios. Para um bom observador, era
visível nos olhos do maestro a emoção vivida naquela instante.
Embalado pelas músicas que a orquestra ia tocando fui tomado
por uma inspiração: há no empreender uma beleza! Entre tradicionais canções
caipiras, o maestro nos apresentou outros ritmos: o batuque ou samba caipira, o
valseado, o cururu e outros cujo nome não guardei. À minha frente, eu via a
beleza se materializando e não pude deixar de associá-la à necessidade de
realização. Essa dimensão foi sugerida por David McClelland no começo dos anos
60 do século passado, como um dos principais motivadores do comportamento
empreendedor. Mas, minha ousadia quase sexagenária, me fez pensar que há algo antecedente
que ajuda a explicar o comportamento empreendedor da qual não falou McClelland.
Antes da necessidade de realização, passei a acreditar que empreender é guiado
pela nossa constante busca da beleza. Esse conceito tão relativo que a
sabedoria popular já imortalizou no velho ditado: quem ama ao feio, bonito lhe
parece.
Mas, a leitora ou leitor, com certeza me alertaria:
_ Fernando, você está falando de um empreendimento cultural,
que provavelmente não tem finalidade lucrativa. Além do mais é um
empreendimento voltado para uma das artes que mais nos emocionam, a música.
Assim é fácil enxergar a beleza no empreender. Mas, será que ela existe em
outros tipos de empreendimentos mais tradicionais, vamos dizer, onde o dinheiro
é a meta de resultado mais objetiva?
Pois é, o problema de escrever para gente inteligente é esse:
nunca se dão por satisfeitos! Teimam em colocar senões, poréns, noentantos, vejabens,
contudos e todavias no meio da conversa! Deixando-me em uma sinuca de bico,
leitor e leitora espertos! Será que consigo sair dessa! Vou tentar. O máximo
que pode acontecer é eu gastar um pouco mais da bateria do computador, enquanto
exerço essa deliciosa arte de refletir e escrever aguardando o vôo que me
levará de volta para Curitiba.
O que não escrevi no começo é que a apresentação da
Orquestra de Viola Caipira estava acontecendo como uma das comemorações que
marcavam os cinco anos de criação da Rota do Café. Esta é um roteiro turístico
que foi criado no norte do Paraná por um conjunto de empreendedores rurais que
preservam a história e cultura das antigas fazendas de café que fizeram a fama
de Londrina e região nos anos 50 e 60. Café, o famoso ouro verde que tanta
riqueza trouxe para esta parte do Paraná e que uma geada negra dizimou em um inverno
mais rigoroso. Isto se deu no final da década de 50, se não me falha a memória.
Memória que li nos livros é claro, pois nessa época eu ainda era uma criança
com dois ou três anos.
Antes da apresentação da orquestra, a coordenadora desse
grupo de empreendedores fez uma breve apresentação do que é a Rota do Café.
Nesta apresentação, com a presença de sete representantes dos empreendimentos
rurais, percebi nos olhos da oradora a mesma emoção que estava nos olhos do
maestro. Ela discorreu sobre a Rota do Café de uma forma tão bela. De novo
enxerguei em seu relato a busca da beleza guiando a necessidade de realização
das mulheres e dos homens empreendedores ali presentes. A beleza dos objetivos
e da forma como foi surgindo a Rota do Café.
Mas, sei que o amigo leitor e a amiga leitora ainda não
estão satisfeitos. Assim, faço mais um esforço de memória e vou buscar no
passado momentos de conversas com empreendedoras e empreendedores. Reencontro
nessas memórias, outros exemplos em que a beleza se exibiu para meus olhos, mas
não dei muita bola. Por exemplo, as cinco empreendedoras de Cascavel que
entrevistei sobre as suas jornadas, dois ou três anos atrás. Algumas delas me
mostraram o belo no que estavam empreendendo. Enxerguei esta beleza na forma
como tentavam cativar clientes, estimular colaboradores, envolver filhos e
filhas na empresa, na busca de um diferencial que marcasse a trajetória
empresarial. A busca da beleza guiou essas mulheres também em suas ações
empreendedoras.
Quer mais um exemplo? Na semana passada conduzi um debate
com três jovens empreendedores: o criador de uma revista de disseminação
científica, um dos fundadores de uma escola de empreendedorismo e uma
consultora de empresas. Isto foi durante O V encontro sobre Inovação e
Empreendedorismo na UFPR. Na história de cada um deles houve momentos em que a
beleza se manifestou. Cada um a seu jeito, com seus empreendimentos, buscava um
mundo melhor. Mas, você já parou pra pensar o que significa um mundo melhor?
Entre outras coisas, um mundo melhor tem que ser um mundo mais belo!
O argumento ainda está fraco, pouco racional, eu sei! Além
do mais, está chegando a hora do embarque. Vou parar por aqui. Prometo que não
vou escrever nada depois, nem revisar o texto antes de postá-lo em meu blog.
Mas, você que me lê há de concordar: falar da
beleza envolve muito mais a sensibilidade do que a razão. Não lhe convenci? Não
importa, mas para mim, a partir de agora, tenho mais alguma coisa para observar
em minhas conversas com as mulheres empreendedoras e com os homens
empreendedores: a beleza no empreender. Afinal de contas, quem ama o feio,
bonito lhe parece!
P.S.: Meu voo foi atrasado em três horas! Mas mantive a promessa feita acima. O texto não sofreu edição antes de vir parar aqui.
reportagem de hoje na gazeta do povo: Curitiba é a quarta melhor para empreender.
ResponderExcluirhttp://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?tl=1&id=1515727&tit=Curitiba-e-a-4-melhor-para-empreender.
abraços,
Felipe
Obrigado pela dica Felipe.
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