segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A BELEZA NO EMPREENDER

Nessa vida de pesquisador vou buscando ver além daquilo que me mostram os olhos e minha razão interpreta. Para isso, me apoio na emoção, essa experiência humana que os cientistas teimam em afastar da explicação científica. Mas, como sou teimoso, também, de vez em quando dou espaço para que a emoção me ajude na busca do entendimento do empreendedorismo. Uma das realizações humanas, que por ser conscientemente intencional, nos distingue de outros seres viventes. Pelo menos daqueles que compartilham nossa jornada nesse planeta Terra, que por enquanto são os únicos que conhecemos.

No último sábado, dia 15, feriado nacional, estive em Londrina, cidade onde nasci e fiz meus estudos. Foi também nessa cidade que comecei minha carreira de professor e pesquisador da gestão de pequenas empresas e, depois, do empreendedorismo. Na Concha Acústica, próximo ao prédio de apartamentos no qual mora minha mãe teve uma apresentação da Orquestra de Londrina de Viola Caipira São Domingos Sávio. A orquestra é conduzida pelo maestro Edson, que na abertura do show comentou sobre a alegria de estarem se apresentando naquele espaço. A orquestra já conta com alguns anos de vida. Os ensaios semanais ocorrem em dois lugares. Um deles, por coincidência, é a antiga sede da Associação Médica de Londrina, hoje abrigando um espaço cultural do SESI, que fica em frente à praça onde está a Concha Acústica. Segundo o maestro, durante os ensaios da orquestra, ele, por muitas vezes, imaginou o dia em que os violeiros por ele conduzidos estariam na Concha Acústica que enxergava através das janelas da sala de ensaios. Para um bom observador, era visível nos olhos do maestro a emoção vivida naquela instante.

Embalado pelas músicas que a orquestra ia tocando fui tomado por uma inspiração: há no empreender uma beleza! Entre tradicionais canções caipiras, o maestro nos apresentou outros ritmos: o batuque ou samba caipira, o valseado, o cururu e outros cujo nome não guardei. À minha frente, eu via a beleza se materializando e não pude deixar de associá-la à necessidade de realização. Essa dimensão foi sugerida por David McClelland no começo dos anos 60 do século passado, como um dos principais motivadores do comportamento empreendedor. Mas, minha ousadia quase sexagenária, me fez pensar que há algo antecedente que ajuda a explicar o comportamento empreendedor da qual não falou McClelland. Antes da necessidade de realização, passei a acreditar que empreender é guiado pela nossa constante busca da beleza. Esse conceito tão relativo que a sabedoria popular já imortalizou no velho ditado: quem ama ao feio, bonito lhe parece.
                                                                                                                         
Mas, a leitora ou leitor, com certeza me alertaria:

_ Fernando, você está falando de um empreendimento cultural, que provavelmente não tem finalidade lucrativa. Além do mais é um empreendimento voltado para uma das artes que mais nos emocionam, a música. Assim é fácil enxergar a beleza no empreender. Mas, será que ela existe em outros tipos de empreendimentos mais tradicionais, vamos dizer, onde o dinheiro é a meta de resultado mais objetiva?

Pois é, o problema de escrever para gente inteligente é esse: nunca se dão por satisfeitos! Teimam em colocar senões, poréns, noentantos, vejabens, contudos e todavias no meio da conversa! Deixando-me em uma sinuca de bico, leitor e leitora espertos! Será que consigo sair dessa! Vou tentar. O máximo que pode acontecer é eu gastar um pouco mais da bateria do computador, enquanto exerço essa deliciosa arte de refletir e escrever aguardando o vôo que me levará de volta para Curitiba.

O que não escrevi no começo é que a apresentação da Orquestra de Viola Caipira estava acontecendo como uma das comemorações que marcavam os cinco anos de criação da Rota do Café. Esta é um roteiro turístico que foi criado no norte do Paraná por um conjunto de empreendedores rurais que preservam a história e cultura das antigas fazendas de café que fizeram a fama de Londrina e região nos anos 50 e 60. Café, o famoso ouro verde que tanta riqueza trouxe para esta parte do Paraná e que uma geada negra dizimou em um inverno mais rigoroso. Isto se deu no final da década de 50, se não me falha a memória. Memória que li nos livros é claro, pois nessa época eu ainda era uma criança com dois ou três anos.

Antes da apresentação da orquestra, a coordenadora desse grupo de empreendedores fez uma breve apresentação do que é a Rota do Café. Nesta apresentação, com a presença de sete representantes dos empreendimentos rurais, percebi nos olhos da oradora a mesma emoção que estava nos olhos do maestro. Ela discorreu sobre a Rota do Café de uma forma tão bela. De novo enxerguei em seu relato a busca da beleza guiando a necessidade de realização das mulheres e dos homens empreendedores ali presentes. A beleza dos objetivos e da forma como foi surgindo a Rota do Café.

Mas, sei que o amigo leitor e a amiga leitora ainda não estão satisfeitos. Assim, faço mais um esforço de memória e vou buscar no passado momentos de conversas com empreendedoras e empreendedores. Reencontro nessas memórias, outros exemplos em que a beleza se exibiu para meus olhos, mas não dei muita bola. Por exemplo, as cinco empreendedoras de Cascavel que entrevistei sobre as suas jornadas, dois ou três anos atrás. Algumas delas me mostraram o belo no que estavam empreendendo. Enxerguei esta beleza na forma como tentavam cativar clientes, estimular colaboradores, envolver filhos e filhas na empresa, na busca de um diferencial que marcasse a trajetória empresarial. A busca da beleza guiou essas mulheres também em suas ações empreendedoras.

Quer mais um exemplo? Na semana passada conduzi um debate com três jovens empreendedores: o criador de uma revista de disseminação científica, um dos fundadores de uma escola de empreendedorismo e uma consultora de empresas. Isto foi durante O V encontro sobre Inovação e Empreendedorismo na UFPR. Na história de cada um deles houve momentos em que a beleza se manifestou. Cada um a seu jeito, com seus empreendimentos, buscava um mundo melhor. Mas, você já parou pra pensar o que significa um mundo melhor? Entre outras coisas, um mundo melhor tem que ser um mundo mais belo!

O argumento ainda está fraco, pouco racional, eu sei! Além do mais, está chegando a hora do embarque. Vou parar por aqui. Prometo que não vou escrever nada depois, nem revisar o texto antes de postá-lo em meu blog.

Mas, você que me lê há de concordar: falar da beleza envolve muito mais a sensibilidade do que a razão. Não lhe convenci? Não importa, mas para mim, a partir de agora, tenho mais alguma coisa para observar em minhas conversas com as mulheres empreendedoras e com os homens empreendedores: a beleza no empreender. Afinal de contas, quem ama o feio, bonito lhe parece!

P.S.: Meu voo foi atrasado em três horas! Mas mantive a promessa feita acima. O texto não sofreu edição antes de vir parar aqui.

2 comentários:

  1. reportagem de hoje na gazeta do povo: Curitiba é a quarta melhor para empreender.

    http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?tl=1&id=1515727&tit=Curitiba-e-a-4-melhor-para-empreender.

    abraços,
    Felipe

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