sexta-feira, 5 de março de 2021

Antes do Gimenez: memórias que me contaram

Penso que este deve ser o último da série de posts que, muito provavelmente, se tornarão um livro de bolso. Projeto independente que começa a tomar forma em minha mente. Homenagem a meu pai e minha mãe com memórias minhas e de outros. Desejo grande de dar um registro físico a estes escritos digitais.
Como o próprio título indica, não são minhas estas memórias. Ou melhor, são memórias de memórias que me contaram. Uma foi contada, várias vezes, por um professor de matemática que tive no ensino médio. Anos mais tarde, seríamos colegas de universidade. Ele, professor de economia. Eu, de administração.
A segunda memória veio de minha mãe. Entre as muitas conversas que tivemos antes de ela perder sua lucidez, algumas vezes me contou sobre o primeiro flerte entre ela e seu Gimenez. Mais dele do que dela. Mas, ela me contava com emoção e muito humor. Meu pai já era falecido quando ela me narrou esta lembrança pela primeira vez.
Por fim, graças a uma interação no Facebook, a partir de uma lembrança de um amigo de minha infância, Devanir Parra, há uma memória contada pelo meu próprio pai. Acrescida de detalhes que meu tio Antônio, irmão de meu pai, me passou e que aconteceram muito antes da chegada de meu pai a Londrina no começo da década de 40. Memória esta ainda mais avivada por relato de meu primo José Gimenes, filho de outro irmão de meu pai, também José. Então, vamos a elas.
O professor Hermas de Melo, que de vez em quando fazia compras no supermercado Gimenez, já na época dos meus estudos no Ginásio e Científico, me contava a lembrança que tinha de meu pai. Dizia ele que, no começo da vida de meu pai em Londrina, este vendia bananas em uma carroça com a qual circulava pela região. E, sempre, concluía que admirava muito o sucesso de meu pai como comerciante. O estranho dessa memória é que eu, ao menos do que me lembro, nunca confirmei com meu pai se a história era verdadeira. E, também, não me lembro de alguém, além de meu professor de matemática, ter falado disso. De qualquer forma, era uma história que me deixava orgulhoso. Enfim, é uma memória que me contaram.
A segunda memória que me foi contada veio, como disse, de minha mãe. Muitas vezes, ela me contou sobre o primeiro contato que teve com meu pai. No início dos anos 50, ela era professora em Apucarana. Ia e voltava de Apucarana de ônibus. Na volta, o ponto de desembarque era próximo ao colégio Londrinense, onde ela havia estudado, na rua Mossoró quase esquina com a Paranaguá. Nessa época, ela, meus avós e alguns de meus tios e tias já moravam na Espírito Santo, um pouco depois da casa de comércio que meu pai já tinha na esquina da Paranaguá com Goiás. Ela fazia o trajeto da Paranaguá desde a Mossoró até a Espírito Santo a pé. Inevitavelmente passava em frente à mercearia do seu Gimenez.
Certa vez, quando ela por ali passava, um senhor que era contador e para quem ela já havia prestado alguns serviços, estava conversando com o Christovam. Minha mãe e meu tio João eram contadores e alguns anos antes tiveram um escritório de contabilidade. Esse senhor recorria a eles, de vez em quando, nos momentos que tinha muita demanda. Minha mãe cumprimentou o conhecido. E ouviu a seguinte conversa:
_ Fulano, vou me casar com essa moça.
_ Christovam, eu conheço essa moça. Ela é de família. Séria. Não é como as mulheres que você se envolve.
Meu pai era um homem bonito, bem de vida e, segundo me contaram, usava o seu charme, pois quando mudou-se para Londrina já era desquitado. Tinha seus casos. Mas, meu pai assim respondeu:
_ Fulano, falo sério. Quero casar com ela.
Depois de algum tempo, houve a aproximação e eles se casaram em 1953. Houve alguma resistência de meu avô, pai de minha mãe, mas no fim seu Gimenez e dona Kilda foram se casar em Rivera no Uruguai, já que desquitado, de acordo com a legislação da época, ele não poderia se casar novamente. Meu tio Caio e meu avô foram juntos para Rivera. Mas, esta é outra memória!
Por fim, a memória narrada por meu pai. Ele, quando éramos crianças, teve alguns cavalos de corrida que disputavam páreos no Jóquei Clube de Londrina. Era um programa dominical para eu, meus irmãos e minha irmã. Passávamos as tardes de domingo vendo as corridas. Em um dos páreos sempre corria um dos cavalos de meu pai. Pois meu pai contava que, quando ele veio para Londrina, havia uma raia de corridas na rua Antonina. Ele que tinha sido jóquei dos cavalos de seu pai, Antônio Gimenes, em Sertãozinho, também participava das corridas. Devanir Parra, outro dia no Facebook, me perguntou sobre isso e se referiu à raia da rua Paranaguá. Para ser honesto com você, eu sempre achei que fosse na Antonina, mas agora estou em dúvida. Porém, isso não importa. As memórias nem sempre são exatas.
Certa vez, quanfo fui visitar os familiares de meu pai em Sertãozinho, meu tio Antônio nos levou para visitar Dumont, que fica próxima da cidade natal de meu pai. Ele estava conosco. Naquele dia, meu tio Antônio contou sobre o tempo em que meu pai ainda jovem era o jóquei dos cavalos que meu avô criava. Em especial, lembrou do dia em que haveria uma corrida em Dumont, mas não queriam deixar que meu pai participasse da corrida com o cavalo usual, pois era uma barbada. Ou seja, ninguém poderia ganhar deles. Mas, o que ninguém esperava era o que os filhos do seu Antônio, meu avô, fariam. Pintaram o cavalo para se inscreverem na corrida. Parece coisa de filme, mas não deu muito certo.
Aqui, reproduzo o que confirmou meu primo José Gimenes em comentário no Facebook em resposta à minha interação com Devanir Parra:
"Fernando,  fiquei sabendo através do meu pai que o seu pai, meu tio Christovam era o jockey da família Gimenez em Sertãozinho. Depois o tio começou a  crescer muito e ficar encorpado, então o tio Antônio passou a ser o jockey porque era mais franzino. Eles ganhavam muitas corridas na região de Sertãozinho. Meu pai ia catar uma grama especial não sei aonde pra dar pros cavalos de corrida".
Em seguida, ele adicionou:
"Meu pai conta esta história que pintaram o cavalo com alguma tinta de erva pra não reconhecerem o cavalo que era considerado barbada. Só que daí começou a chover e apagou a tinta . Assim acabaram descobrindo que o animal era do Seu Antônio Gimenes".
Os irmãos Gimenez não eram fáceis, não!
Estão aí as memórias das memórias que me contaram. Um bom fecho para este livro que estou planejando.

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