domingo, 27 de maio de 2012

A fórmula do sucesso: Luis Buñuel, MGM e administração

Com a ajuda de Jean-Claude Carriére, o cineasta espanhol Luis Buñuel, que passou boa parte de sua vida no México, narrou sua história de vida no livro Meu último suspiro. Cineasta com trinta e quatro filmes realizados entre 1929, ano de lançamento de Um cão andaluz em parceria com Salvador Dalí, e 1977, com seu último filme, Esse obscuro objeto do desejo, Buñuel retrata com humor e sensibilidade sua trajetória cinematográfica. Natural de Calanda, pequena vila de 5.000 habitantes na província de Aragão, na Espanha, Buñuel relata suas aventuras e desventuras passando por Zaragoza, Madrid, Paris, Hollywood, e México.
Logo no inicio de sua carreira, na época do lançamento de seu segundo filme A idade do ouro (1930), Buñuel foi convidado pelo gerente geral da Metro-Goldwin-Mayer (MGM) na Europa a passar seis meses nos Estados Unidos, em Hollywood, recebendo US$ 250 por semana, com o compromisso de apenas observar como se faziam filmes segundo a técnica norte-americana. Seu tutor nesse período foi Charles Chaplin, mas Buñuel relata que não fez muita coisa relacionada a cinema nesse período. É desse período que Buñuel conta uma história que envolve Louis B. Mayer, à época o todo poderoso da MGM. Segundo o cineasta, certo dia, movido pela curiosidade, foi a um grande set de filmagens da MGM onde Mayer se dirigiria a todos os empregados da companhia. Eram cerca de 200 pessoas, vários diretores fizeram seus discursos e ao final Louis B. Mayer se levantou e disse, segundo Buñuel, em meio ao mais respeitoso e atento silêncio:
_ Caros amigos, após longas reflexões, creio ter conseguido condensar numa fórmula muito simples – e talvez definitiva – o segredo que irá nos proporcionar, no respeito a todos, o progresso contínuo e a prosperidade duradoura de nossa companhia. Vou escrever essa fórmula.
No set de filmagens havia um quadro de giz e Mayer se dirigu a ele e escreveu em letras maiúsculas: COOPERATE (em português, cooperar). Sentou-se e foi entusiasticamente aplaudido por todos. Buñuel diz em seu livro ter ficado estupefato, mas essa foi uma das poucas vezes em que aprendeu algo sobre o mundo dos negócios do cinema nos Estados Unidos. A intenção do gerente geral da MGM que fizera o convite a Buñuel era que após os seis meses, pudessem chegar a um acordo sobre a permanência de Buñuel nos Estados Unidos. Mas, o cineasta decidiu voltar para sua Espanha, e em abril de 1930 retornaria a Madri.
Gosto muito dessa história que já havia lido,anos atrás na primeira edição da biografia de Buñuel no Brasil. Reli essa biografia, agora em uma edição muito bem cuidada da Editora Cosacnaify, em tradução de André Telles. A busca da fórmula de sucesso para a perenidade das empresas, sejam grandes ou pequenas, é uma constante nos estudos acadêmicos e na prática da consultoria. Encontrar um método que possa garantir isso é como a busca do Santo Graal. O incrível é que a solução muitas vezes parece ser tão simples como a fórmula de Louis B. Mayer: basta conseguirmos a cooperação de todos e teremos sucesso.
Mas embora a solução seja simples, o caminho até ela é complexo. Afinal quem são “todos”? Mayer falava para todos os empregados da companhia, mas me parece que “todos” envolve muito mais gente: clientes, fornecedores, as comunidades no entorno da empresa, governo, além de donos e empregados. Conseguir a cooperação de “todos”significa ser bem sucedido nessa busca do bem estar coletivo. Ou seja, está relacionado à obtenção da beleza de um viver bem humano. E, como disse o próprio Buñuel, “para alcançar qualquer beleza, três condições me parecem indispensáveis: esperança, luta e conquista” (p. 307).

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