segunda-feira, 18 de maio de 2020

Na época da Casa Gimenez, uma história do Lobo

Antes de se tornar Supermercado Gimenez era a Casa Gimenez. Me lembro, ainda adolescente, de ter participado junto com meus pais de uma série de reuniões na Associação Comercial e Industrial de Londrina. O propósito das reuniões, que eram patrocinadas por uma indústria do ramo de produtos de limpeza e higiene, era incentivar a transformação das mercearias locais em lojas de autosserviço. Era assim que se falava do novo formato de comércio que já se adotara em outros países, bem como alguns estados brasileiros. As reuniões aconteciam na sede da ACIL, à noite.
A Casa Gimenez era uma mercearia. Depois dessas reuniões, meus pais fizeram planos de ampliá-la. Para isso já havíamos desocupado a casa que ficava aos fundos da mercearia que comentei em outro post. Nós nos mudamos para a casa quase em frente à mercearia, na rua Paranaguá, que foi nosso lar até todos os filhos se casarem.
A casa da rua Goiás foi demolida. O prédio da mercearia foi ampliado. Com a forma de um "L", inclusive com um depósito no subsolo, surgiu o Supermercado Gimenez. Minha mãe sempre disse que foi o primeiro supermercado da cidade. Nunca chequei a informação, mas não tenho razão para não acreditar.
Tem uma história contada por minha mãe, e por meu pai também, que ocorreu muito antes dessa transformação. Meus irmãos e eu éramos ainda crianças. Meu pai tinha um cachorro - o Lobo - que, em minha lembrança, tinha porte e jeito de um pastor alemão. Mas, se a memória não me falha, era de raça indefinida. Vezenquando, havia algum atrito com alguma freguesa ou freguês por causa do Lobo. O cachorro estava sempre solto. Circulava pela mercearia e pelas calçadas em frente e ao lado. Na minha visão de criança, Lobo era muito dócil. Ainda mais comigo e meus irmãos e irmã.
Parece que um dia, no entanto, Lobo mordeu o filho de uma freguesa. Nada sério, mas a mulher era difícil. Fez um escândalo. Meu pai, que também não era muito fácil, respondeu à altura. Disse que era culpa do muleque que foi bolir com o Lobo. A coisa azedou.
A freguesa ligou na prefeitura. Algum tempo depois, veio a famosa "carrocinha" que passava pelas ruas da cidade recolhendo cães soltos ou abandonados. Lobo já tinha escapado várias vezes do laço dos funcionários da prefeitura. Apesar do tamanho, era ágil. Era com um laço que os cães eram presos e colocados na "carrocinha".
Os caras tentaram laçar o Lobo mais uma vez. Ele escapou e entrou no jardim de casa. Chamaram meu pai na mercearia. Explicaram que tinham que levar o Lobo para que ficasse 24 horas em observação. Por causa da mordida no muleque. Meu pai não concordava. Não deixava ninguém chegar perto do Lobo. Os caras chamaram o veterinário da prefeitura. Amigo de meu pai. Ele explicou a situação. Convenceu meu pai. Mas, ninguém esperava o que seu Gimenez faria. Meu pai não deixou levarem o Lobo na "carrocinha". Disse:
_ O Lobo não é cachorro pra "carrocinha"! Vocês vão na frente. Lobo vai de carro comigo!
Tudo acertado, a carrocinha foi na frente. Meu pai levou Lobo algum tempo depois. Não vi, mas sou capaz de imaginar o sorriso malandro de vitorioso no rosto dele. E, no dia seguinte, foi buscá-lo. Felizmente, nenhum problema com Lobo. Para alívio de meu pai e para a mãe do muleque! E Lobo continuou flanando livre e leve pelas calçadas da Casa Gimenez.

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