sexta-feira, 9 de março de 2012

Para que serve um TCC no curso de administração?

O post abaixo me fez pensar nas experiências que tive com  projetos desse tipo  nesses 31 anos de carreira docente:

Universidade de Curitiba barra TCC voltado à inclusão de pessoas com deficiência

Já passei por cinco instituições de ensino e, em todas elas, era possível que os alunos e alunas desenvolvem-se projetos de conclusão de curso na forma de planos de negócios. Em pelo menos uma delas, havia essa restrição relacionada ao caráter inovador do novo negócio. O que parece ser uma boa idéia.
Mas, isso sempre me incomodou, pois enxergava nessa restrição uma ingerência sobre a vontade de pessoas que poderiam se dedicar com muita intensidade a um projeto que lhes interessase de forma genuína, mas se viam obrigadas a dedicar tempo e energia em algo que tivesse um caráter "inovador".
Assim, muitas vezes, os estudantes de administração eram empurrados a pensar em um projeto que fosse considerado inovador pelos docentes envolvidos nessa etapa da formação. E tiveram, muitas vezes, projetos "inovadores" recusados por coordenadores que por qualquer motivo consideravam a priori a inovação inviável. Ossos do ofício? Creio que esse osso poderia ser posto de lado, evitando o risco de julgamentos como o descrito no Blog de Rafael Bonfim.
O problema é que a formação em administração não é exclusivamente voltada para a inovação. E nem deve ser. Exigir de seus alunos que façam seus projetos de conclusão de curso orientados para a inovação parece que é algo bom, mas não é a única forma de empreender quando se toma essa idéia como a abertura de um novo negócio.
O plano de negócio pode ser uma experiência de aprendizagem integradora muito útil para alunos de administração. E essa experiência pode se dar na forma, até mesmo, de um projeto de um novo açougue, uma nova padaria, loja de confecções, pequeno supermercado (vejam o post "Zezinhooo... Vai lá no Gimenez"), entre outras, cujo caráter inovador é praticamente nulo. Mas, para a formação de uma administradora ou administrador, esse plano de um novo negócio "tradicional" permitirá uma reflexão e retomada de conhecimentos adquiridos ao longo de três anos ou mais, que darão a eles uma visão holística da profissão que passarão a exercer.
Deixemos a inovação surgir naturalmente nos projetos dos alunos, incluindo-a como um tópico sempre presente nas disciplinas do currículo. Minha intuição é que, quando isso acontecer poderemos alcançar uma taxa maior de projetos de conclusão de curso que são efetivamente transformados em novas empresas. Do ponto de vista social, creio que uma medida de eficácia da formação de administradores mais relevante é a sedução (sim, para mim a educação é um processo de sedução) desses alunos para uma carreira como dirigentes de novos negócios, pensados e planejados por eles, independente de seu grau de inovação. Minha experiência com esse tipo de atividade revela, infelizmente, que esse evento ainda é raro entre os alunos que dedicam seis meses ou mais de seus estudos a um projeto que é só para "inglês ver". Nas dezenas de bancas que participei em TCCs dessa natureza, sempre fiz essa pergunta:
_ E aí turma? Esse projeto é pra valer? Vai ser implantado?
A resposta, em mais de 95% das vezes foi algo assim:
_ Professor, a gente encarou isso apenas como mais uma exigência para obter o canudo!
É uma pena!

Um comentário:

  1. Parabéns Fernando ! fiquei emocionada com o seu texto , relatando tudo sobre a pequena empresa de seu pais.

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