Alguns anos atrás fui convidado para dar uma palestra aos alunos do curso de graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina. Minha amiga Marli, professora do Departamento de Administração da UEL, onde trabalhei durante 17 anos, foi quem fez o convite. Para ela, eu como ex-aluno daquele curso e professor poderia dar um depoimento pessoal sobre a importãncia da pesquisa na formação dos administradores.
Foi um momento muito especial e gratificante para mim. A alegria de reencontrar muitos amigos e colegas de trabalho juntou-se à oportunidadce de demonstrar minha gratidão pelos anos de convívio salutar naquele ambiente acadêmico que me inspirou na busca de uma trajetória de estudos sobre administração de pequenas empresas.
Minha fala se iniciou com palavras sobre meus tempos de aluno de graduação naquela universidade e algumas experiências que deixaram marcas inesquecíveis. Por exemplo, a ida de toda a turma ao cinema com a Professora Terezinha Giovenazzi para assistir 1900 (Novecento) de Bertolucci lançado em 1976. Belíssimo retrato da história italiana, repleta de conflitos, do começo do século 20 até a segunda guerrra mundial, contada por meio da amizade entre Olmo, interpretado por Gérad Depardieu, e Alfredo, por Robert De Niro, separados ideologicamente devido às origens camponesas do primeiro e latifundiária do segundo. Opondo as visões de mundo socialistas e fascistas, há cenas inesquecíveis nesse belo filme de Bertolucci. Um filme que preciso voltar a ver!
Escrever sobre o filme como uma tarefa da disciplina de Sociologia ministrada pela Terezinha foi, provavelmente, meu primeiro encontro com o cinema como forma de reflexão e conhecimento. Outro momento inesquecível foi quando discordei de uma avaliação feita a resposta de uma pergunta de prova de Economia. O Professor Aristeu não concordou com o que escrevi e não atribuiu nenhum ponto àquela resposta. Na minha opinião minha resposta fazia sentido e passei um final de semana pesquisando sobre economia e buscando autores que tinham argumentos semelhantes ao que eu usara na resposta da prova. Na segunda-feira seguinte entreguei um manuscrito para o Aristeu com minha posição. Mais importante do que a nota, que não foi mudada, penso que foi a descoberta de que eu tinha que ser o ator principal na construção de meu conhecimento. As aulas eram apenas parte desse processo. Os professores eram conhecedores dos assuntos de suas especialidades que além de dirigir meus estudos, podiam servir como fontes de acesso a mais informações. Tento ser assim na minha prática docente!
Mas, voltando ao tema da palestra, defendi naquele dia que a pesquisa é uma das formas de conhecimento que precisam ser experimentadas pelos alunos. Sua importância na formação dos administradores está na interação que esta deve ter com as duas outras forma de aquisição de conhecimento presentes na vida universitária: o ensino e a pesquisa.
Minha tese foi, e continua sendo, que cada uma dessas formas de conhecimento nos permite diferentes compreensões sobre a administração e a vida organizacional. O ensino permite compreender o que é. Ou seja, em geral, a preocupação quando estamos envolvidos em um processo de ensino/aprendizagem está centrada na transmissão de conhecimentos acumulados que permitem ao educando compreender melhor aquilo que é o que está estudando. Por outro lado, a pesquisa leva à compreensão do por que é. É por meio da pesquisa que podemos aprofundar o entendimento do que é, buscando explicações sobre como aquilo que é se tornou o que é. Por fim, a extensão leva para o entendimento do que pode ser. É no trato com a realidade concreta, buscando seu diagnóstico e tentando intervir nela, que a compreensão do vir a ser, ou seja, do pode ser, se torna possível e a formação se completa, ainda que temporariamente. Este é um ciclo constante que avança por meio do esforço acadêmico individual e coletivo guiados pela esperança da evolução do mundo organizacional em direção ao bem de todos.
Terminei minha fala, lembrando do filme Linha de Passe de Walter Salles e Daniela Thomas de 2008, que rendeu a Sandra Corveloni o prêmio de melhor atriz em Cannes. O filme termina com Reginaldo, interpretado por Kaique Jesus Santos, um dos quatro filhos de Cleuza, vivida por Sandra, dirgindo um ônibus pelos viadutos de São Paulo, à procura do pai que nunca conhecera. Assumindo a direção de sua vida! O que pode ser mais inspirador?
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