sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Empreendedorismo e a servidão moderna

Acabo de assitir ao documentário "Da servidão moderna" que pode ser acessado em http://www.delaservitudemoderne.org./portugues1.html. O documentário é companheiro de um texto que também está em livre acesso no mesmo sítio da internet. A obra de Jean François Brient e Victor León Fuentes, concluído na Colômbia em 2009, com base em texto escrito na Jamaica em 2007, apresenta uma crítica devastadora ao modo de vida dominante em nosso planeta que denominam "sistema totalitário mercante". Tão devastadora que me deixou atordoado e quase que descrente na possibilidade de saída dessa jaula!
Qualquer leitor atento que vasculhe a literatura sobre empreendedorismo, vai encontrar nela traços marcantes de uma ideologia que parece reproduzir as idéias que são o dogma do "sistema totalitário mercante". Será que não há espaço para a crítica social na literatura sobre empreendedorismo?
Eu acredito que sim. Volta e meia encontram-se pessoas tentando discutir a possibilidade da ação empreendedora sob uma lógica não mercantil. Empreendedorismo social, empreendedorismo comunitário, empreendedorismo local e empreendedorismo responsável são expressões que podem indicar ao leitor outras formas de entendimento da ação empreendedora. Mas, é evidente que o discurso dominante nessa literatura reproduz a forma dominante de pensar em nossa sociedade contemporânea.
Ao final do documentário, os autores afirmam que a autogestão nas empresas e a democracia direta na escala comunal constituem as bases desta nova organização que deve ser anti-hierárquica tanto na forma quanto no conteúdo.
É uma antitese que se apresenta à tese dominante. É ainda fraca no seu poder de convencimento das pessoas, mas não é nova. A autogestão já é discutida há décadas no campo da Administração. Qual será síntese que surgirá desse embate?
Não tenho uma resposta a esta questão, mas como já pude explorar em outro post nesse blog, o desenvolvimento sustentável e um repensar da prática da administração, no sentido de uma responsabilidade social efetivamente presente nas empresas, podem ser idéias que estão sendo semeadas para que um novo paradigma germina nesse conflito. Charles Handy, autor que já mencionei anteriormente em outro post, apresentou a noção de que uma organização pode ter uma cultura existencial, onde predominam valores semelhantes aos propostos pelos cineastas. Aliás, essa é, na opinião dele, a forma ideal de organização como se pode ver em seu livro do final da década de 70, "Os deuses da administração".
E aí, também será possível falar de empreendedorismo com ternura!


 

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