sábado, 6 de junho de 2020

Mais sobre amizade e freguesia nos tempos do Gimenez


Em outro texto, comentei sobre a relação de amizade de fregueses com meu pai. Hoje, continuo nesta meada. Não que sempre tenha havido o surgimento de uma amizade, mas, ao menos o convívio, às vezes diário, às vezes, semanal, acabava levando a um relação respeitosa de conhecimento mútuo. Era uma relação que certamente ia além de uma eventual troca monetária entre clientes e comerciantes. Uma relação de confiança mútua. Em especial, uma relação que redundava, por exemplo, na troca de um cheque quando alguém precisava e não tinha tempo ou como ir aos bancos. Ou, na compra por fiado para pagar no final de semana. Ou, em um favor de algum cliente à nossa família, como, por exemplo, à época do Natal, Seu Luiz Pegoraro assar a leitoa e outras carnes, que comeríamos em família, nos fornos da padaria que a família dele possuía. Durante um certo tempo, era a padaria dos Pegoraro que fornecia os pães que vendíamos no supermercado.
Há várias famílias em que o convívio foi para além dos pais ou mães, e acabou gerando relações de amizades entre filhos e filhas. Em outros momentos, houve o desenvolvimento de uma proximidade muito grande que permitia, por exemplo, sabermos que tipo de produto não podíamos deixar de ter em estoque para atender a uma ou outra cliente. Vou escrever primeiro sobre duas dessas clientes, para depois lembrar o convívio entre filhos e filhas.
Outro dia, procurei no Google informações sobre um peixe chamado bonito. É que, naquele dia, me veio à lembrança um pedido de uma freguesa de muitos anos do Supermercado Gimenez. Como disse em outro texto, o problema ou a beleza de escrever sobre memórias é que uma puxa outra! Foi o que aconteceu.
Mas, como eu ia dizendo, a minha intenção ao fazer a busca no Google era descobrir se atum e bonito são o mesmo peixe. Naquela época, encontrar atum enlatado para colocar à venda nos supermercados não era muito fácil. O mais comum no mercado eram as sardinhas enlatadas, ainda assim, sem tanta variedade como se encontra hoje. Dona Elsa Furlanetto, cliente de muitos anos do Supermercado Gimenez, que foi dona da Cariza Tecidos, na esquina da Piauí com Belo Horizonte, era uma das que sempre comprava atum enlatado. Pelo menos uma vez por semana, Dona Elsa ia ao supermercado, ou fazia pedidos por telefone que mandávamos entregar na Cariza. Periódicamente pedia uma ou duas latas de atum. Então, certa vez, tínhamos comprado de uma das empresas atacadistas que eram nossas fornecedoras, uma caixa de bonito enlatado. Meu pai me disse que era a mesma coisa que atum. Eu acreditei. O atum estava em falta no mercado naquela semana. Dona Elsa chegou para fazer compras. Percorreu os corredores do mercado e, quando se aproximou do caixa para encerrar a compra, ela me disse:
_ Fernando, não encontrei atum. Não tem?
_ Tem sim, Dona Elsa, Vou pegar para a senhora. Foi minha resposta.
Fui até o corredor onde ficavam os enlatados e peguei uma lata do bonito que tinha chegado naquela semana. Quando cheguei com a latinha de bonito. Dona Elsa recusou, dizendo que não era atum. Eu ainda argumentei que era a mesma coisa. Mas, não teve jeito, ela não levou! Tempos depois, com atum enlatado de volta ao mercado, em outra ocasião, ela foi entrando e eu disse:
_ Dona Elsa, hoje temos atum enlatado.
Ela perguntou:
_ É atum mesmo?
Com minha resposta afirmativa, e mostrando o produto, ela então respondeu:
_ Desse eu levo.
Pois é. Na memória me veem estes instantes do Supermercado Gimenez. Assim como Dona Elsa, havia outras freguesas que tinham necessidades ou desejos bem específicos e pouco comuns. Sempre que possível, fazíamos o possível para atender. Fazia parte do jeito de comerciar do Supermercado Gimenez. Lembro-me que muitas vezes, quando adolescente, acompanhei minha mãe em viagens a São Paulo para fazer compras na Rua 25 de Março. Eram compras de produtos de bazar e outras miudezas que trazíamos de volta nos ônibus da Garcia. Algumas vezes, se a compra era mais volumosa era despachada e entregue em Londrina. Lembro-me de minha mãe comentando, na compra de alguns produtos, sobre a preferência de fulana, beltrana ou sicrana e que como elas ficariam contentes em encontrar aqueles produtos em nosso supermercado.
Outra freguesa que tinha uma preferência por um produto que também não era muito comum era Dona Rina. Ela era esposa do doutor José Lorenzo Izquierdo, médico ortopedista de Londrina e um cineasta amador da época do Super 8. O casal tinham quatro filhos, três meninos e uma menina: Josski, Irma, Peter e outro irmão mais novo cujo nome me fugiu da memória. Esse é o caso de uma família cujos filhos tornaram-se amigos dos filhos da Dona Kilda e Seu Gimenez. Irma estudou com Kilda minha irmã, e se tornaram grandes amigas. O mesmo aconteceu com Peter e Arlindo, meu irmão caçula. Então, voltando ao produto que Dona Rina sempre procurava, mas raramente encontrava: couves- de-bruxelas. Não era muito comum na Londrina daquela época. E Dona Rina, assim como Dr. Lorenzo, imigrantes europeus,  tinha trazido alguns costumes de seu país de origem. Quando meu pai ou, depois de algum tempo, minha tia Amélia que trabalho conosco, ia ao Ceasa fazer a compra de hortifrutigranjeiros semanalmente, às vezes encontravam couve-de-bruxelas. Nesses dias, já telefonávamos para Dona Rina avisando, ou se ela viesse fazer compras neste dia, já era avisada logo na porta do mercado.
Irma, Peter, seus irmãos e pais moravam na Belo Horizonte, também, quase na esquina com a Alagoas. Assim como Irma e Peter, que fizeram amizade com Kilda e Arlindo, alguns outros filhos de freguesas ou fregueses se tornaram meus amigos. Isto aconteceu, principalmente, porque muitos de nós fomos estudantes no Colégio Londrinense na infância e adolescência e, também, porque morávamos todos em um quadrilátero formado pelas ruas Belo Horizonte, Antonina (JK), Alagoas e Pio XII. Havia, ainda, alguns mais distantes, nas proximidades do Colégio Canadá, e até mesmo na Avenida Higienópolis.
Assim para fechar este texto, lembro aqui de alguns amigos. Primeiro, Erich e Klaus, filhos de Dona Mausi, que tinha uma butique na Rua Antonina (JK), e que foram meus colegas de classe durante muitos anos no Londrinense. Eles moravam no mesmo endereço da butique, que ficava aos fundos do terreno onde tinha a casa deles, quase na esquina da Alagoas. Foi na casa deles que pude experimentar, pela primeira vez, salada de alface temperada com açúcar e outras comidas de origem alemã.
Outros amigos foram Daniel e Mário Tsujigushi, cujo nome da mãe não me recordo, mas que constantemente estava fazendo compras no Supermercado Gimenez. Os dois também estudaram no Londrinense e moravam na Goiás, logo depois da Santos, ao lado esquerdo de quem subia pela Goiás. Noemi, irmã deles, foi amiga de Kilda. Mário, Daniel, Erich, Klaus e eu costumávamos voltar do Colégio Londrinense descendo pela Rua Santos até chegar na Goiás. Ali nos despedíamos, e descíamos a Goiás. Eu ficava em casa na Rua Paranaguá e Klaus e Erich iam para a casa deles na Antonina (JK).
Voltando para a Antonina (JK), lembrei-me da família de Aldo e Zélia Ferrari, com os filhos. Eram dois irmãos e uma irmã: Rossana, Paulo e Beto. Alguns anos atrás, quando minha mãe ainda vivia, eu encontrei Dona Zélia e Rossana na feira de domingo na Rua São Paulo. Foi muito bom poder lembrar dos tempos do mercado e trocar notícias sobre os amigos. A lembrança que guardo de Dona Zélia é a de uma mulher muito bem humorada. Eu e meus irmãos frequentávamos muito a casa deles.
Descendo a Goiás, tinha família da Jane, Magali, Divina, e as outras duas irmãs. A mãe e pai delas também estavam sempre pelo mercado. Em outros textos lembrei das filhas e filhos de Dona Catarina – Marcelo, Tiemi e irmã mais velha cujo nome também me fugiu. Eita memória fugidia!
Mas, guardei para o final desse texto, a lembrança de dona Nádia e seu filho Ricardo Sahão. Ricardo tem duas irmã e e um irmão. Vitória, a irmã mais velha, reencoetrei em Curitiba, no tempo em que ela trabalhou com Nitis Jacon no Teatro Guaíra. O outro irmão e irmã tive menos contato. Dona Nádia, também, era freguesa constante de nosso supermercado. A lembrança que guardo dela é de uma mulher sempre muito discreta, extremamente educada e atenciosa, fosse conosco ou com os empregados e empregadas do supermercado. Com Ricardo desenvolvi uma amizade mais duradoura. Houve um tempo em que Ricardo ia praticamente todo o dia ao mercado e ficávamos um bom tempo conversando. Éramos dois sonhadores falando de tudo da vida, mas especialmente dos planos de escrevermos uma peça de teatro juntos. Era uma ideia constante em nossas conversas. O plano nunca foi realizado¸ mas, algum tempo atrás, no ano passado, encontrei Ricardo em um evento que ele organizou na Ciranda, loja de Denise Gentil. Era uma apresentação de viola caipira. Edra me convidou para ir, pois ela queria rever a amiga que não encontrava há tempos. Lá chegando, para minha surpresa, vi o Ricardo conduzindo a apresentação do violeiro. Não escrevemos a peça de teatro juntos, mas cada um manteve seu contato com o mundo da cultura. Ele através da música. Eu por meio desses textos que vou rabiscando e postando em meus blogs

2 comentários:

  1. Oi Fernando. Bons tempos aqueles. Eu ia todo dia no mercado comprar coisas para minha mãe fazer almoço ou outros afazeres. Eu era pequena, mas, naquela época não havia perigo. Minha mãe me dava o dinheiro e falava: vai no Gimenez e compra meio quilo de alcatra. Vai no Gimenez e compra 1 lata de óleo...(naquela época era lata). E ru ia bela e faceira subindo a rua Goias. Passava em frente da casa da Dna Nanci, depois do Dr. Ito, depois uma casa que não me lembro de quem era e, finalmente chegava ao mwrcado. Bons tempos meu amigo...

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  2. Só hoje vi seu comentário. Muito obrigado. fiquei apenas curiosos em saber quem escreveu.

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