sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mintzberg, formas organizacionais e o poderoso chefão

No mês passado, ganhei de presente de Amanda, minha enteada, o livro "O Poderoso Chefão" de Mário Puzo, que foi a origem dos filmes dirigidos por Francis Ford Coppola na trilogia "O Poderoso Chefão". Os filmes já vi várias vezes, inclusive o primeiro, tive a oportunidade de rever dias atrás. O livro não conhecia e fiquei impressionado pela fidelidade entre livro e filmes. Isso não é surpreendente, pois Mario Puzo foi co-autor do roteiro dos filmes junto com Coppola. No entanto, foi muito agradável ler o romance pois, durante a leitura, visualizava as cenas que vi nos filmes. Foi um ótimo presente da Amanda!

Há no livro um capítulo em que Puzo descreve a origem e evolução dos negócios de Don Corleone. Para mim foi muito prazeiroso ver a descrição feita sobre como Vito Andolini, seu verdadeiro nome, tornou-se Don Corleone, chefe de uma poderosa organização com diversos interesses de negócios. Essa descrição me fez lembrar da estória narrada por Mintzberg sobre a Senhora Raku em seu livro "Structure in Fives - Designing Effective Organizations" publicado em 1983. Esse livro é uma versão resumida de estudo realizado por Mintzberg, de três anos de duração, sobre a literatura que tratava de estruturação das organizações. Esta pesquisa se materializou em um livro seminal para os estudiosos das configurações organizacionais - "The Structure of Organizations" - publicado em 1979 pela Prentice-Hall.

Mas, como estava dizendo, Mintzberg relata na parte introdutória de ambos os livros, como a Senhora Raku que fazia cerâmica no porão de sua casa teve que lidar com as necessidades de organizar suas atividades para atender um volume cada vez maior de pedidos para seus potes que se tornaram famosos e bem aceitos no mercado. Isso significou, em um primeiro momento, a contratação de uma assistente para ajudar na preparação do material que seria finalizado pela Sra. Raku, que era a artesã dos produtos demandados pela lojas. Assim, suas atividades informais de ceramista deram lugar a uma pequena empresa. Com o passar do tempo, a empresa foi contratando cada vez mais gente, a produção começou a ter que ser feita também por outros artesãos e criaram-se linhas de montagem. A Sra. Raku teve seu papel dentro da empresa cada vez mais transformado. Sua atividade de artesã diminuía e ela tinha que dedicar uma parte cada vez maior de seu tempo às atividades de coordenação e organização do trabalho das pessoas que passavam a colaborar com a empresa. Certo dia, a Sra Raku decidiu diversificar seus produtos e começou a produzir pisos cerâmicos, tijolos e peças sanitárias, criando três divisões - produtos de consumo, produtos para construção e produtos industriais. Assim, o trabalho da Sra Raku passou a ser o de coordenar as atividades dessas divisões por meio de relatórios de desempenho trimestrais com ações corretivas quando os resultados, em termos de lucratividade e crescimento, estavam aquém do previsto no orçamento anual. Sua pequena empresa de cerâmica tinha-se tornado uma organização grande e complexa.

Mintzberg em seus livros chama nossa atenção para o fato de que a criação de uma estrutura organizacional envolve dois requisitos fundamentais: a divisão do trabalho em tarefas distintas e a coordenação dessas tarefas. Ao contrário do que propunha a maior parte da literatura da época, Mintzberg defendeu que não era possível que houvesse uma resposta única que representasse a melhor estrutura possível para qualquer empresa. E assim surge a proposta de configurações organizacionais de Mintzberg, que nos permite entender que diferentes formas de divisão do trabalho demandam diferentes mecanismos de coordenação e levam à configuração de diferentes formas organizacionais. Quem quiser saber mais sobre essas idéias, pode buscar também a versão em português do " Structure in Fives", cuja segunda edição foi publicada pela Editora Atlas em 2003 sob o título "Criando Organizações Eficazes: estruturas em cinco configurações".

Quanto à trajetória de Don Corleone, esta foi retratada no filme O Poderoso Chefão - Parte II. Mas, no capítulo 14 do romance de Mário Puzo, em 33 páginas, pode-se ver como na ficção também as tarefas da organização de Don Corleone começaram a ser divididas ao longo do tempo e os mecanismos de coordenação foram se sofisticando com o crescimento e o sucesso da Família Corleone. Será que Mintzberg leu "O Poderoso Chefão" quando estava estudando a literatura de estrutura organizacional?

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