sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O crescimento da pequena empresa

Para Rubens e Miriam
 
 
Em muitos de meus textos comento que a decisão de crescer nem sempre está presente no ideário dos dirigentes de pequenas empresas. As histórias que conheci ao longo de minhas três décadas de estudo da gestão de pequenas empresas têm em comum, em sua maior parte, a permanência no pequeno porte. No entanto, algumas vezes ouço relatos de intenção ou desejo de que a pequena empresa criada e dirigida por um(a) empreendedor(a) venha tornar-se grande no futuro.

 
Um caso emblemático e bem sucedido que conheço é o da rede de Farmácias Vale Verde que surgiu em Londrina em meados da década de 80, mas cuja história começou em 1974 com a Farmácia Augusto, fundada pelo Rubens, que fora empregado de uma farmácia tradicional no centro de Londrina antes de abrir seu próprio negócio.
 
Conheço Miriam e Rubens desde 1977. Quando era professor no departamento de Administração da UEL, tive a oportunidade de conduzir uma disciplina com alunos do sexto período do curso de graduação em Administração que se relacionava com o desenvolvimento das organizações. Não me lembro do nome exato da disciplina. Junto com a Cleufe, que dividia a disciplina comigo, eu dava aula para turma da noite e ela para a turma da manhã, resolvemos experimentar uma dinâmica diferente para as aulas. Convidamos Rubens e Miriam para contarem a história da Vale Verde e fazerem uma apresentação dos principais desafios que a empresa enfrentava naquele momento. Isso ocorreu por volta de 1996 ou 1997. Em seguida a essa apresentação, propusemos para os estudantes que se dividissem em grupos e, ao longo do semestre, escolhessem uma área de oportunidade/desafio que houvesse sido relatado pelos empresários e desenvolvem-se propostas de ações para serem executadas na empresa. Ao final da disciplina, cada grupo apresentaria suas propostas e Rubens e Miriam escolheriam as duas melhores para serem efetivamente implantadas e receberem uma recompensa pecuniária simbólica.
 
Foi uma experiência muito gratificante para nós professores que permitimos uma aproximação de nossas discussões teóricas em sala com a realidade empresarial, para os alunos e alunas que tiveram a oportunidade de exercer a prática da administração fazendo um diagnóstico da situação, buscando informações, criando alternativas e estudando formas de lidar com as questões que escolheram, e, também, para Miriam e Rubens que se beneficiaram e a sua empresa com idéias novas que puderam ser implantadas.
 
Mas, o que eu quero relatar é um pouco da história que conheci de perto durante cerca de 20 anos, e à distãncia nos últimos 15 anos. Míriam é irmã de Telma, mãe de minhas filhas Paloma e Fernanda, com quem fui casado durante 17 anos. Assim, devido a esses laços familiares convivemos muito ao longo dos anos.
 
Certa vez Rubens me contou como foi que tomou uma decisão que foi crucial para ele e a empresa. Desde 1974 Rubens tornara-se o proprietário de uma pequena farmácia na Vila Nova em Londrina e era bem sucedido. Tinha uma boa clientela, alguns funcionários, mas ele era o centro da pequena empresa. Fazia de tudo! Comprava, vendia, atendia no balcão, dava ordens, aplicava injeções, aconselhava clientes sobre medicamentos. Enfim, como na maioria das pequenas empresas, não havia uma separação muito clara entre gestão e operações. Essa rotina foi se consolidando ao longo de 10 anos ou pouco mais. Por volta de 1984, surgiu uma oportunidade de comprarem um terreno em uma região mais central de Londrina, na avenida Juscelino Kubitschek.
 
Estimulados por um amigo, que propos sociedade na compra do terreno, Rubens e Miriam fecharam negócio e começaram a pensar na construção de um pequeno prédio no terreno para instalação de uma nova farmácia. Nessa época Miriam trabalhava como administradora de um laboratório de análises clínicas em Londrina. Nunca me esqueço da coragem de ambos em venderem o apartamento e carro que possuíam para investirem na construção. A famosa atitude face ao risco que move muitos empreendedores. Nesse período Carolina já era nascida e eles alugaram um pequeno apartamento enquanto investiam na abertura da nova loja. Decidiram que seria uma nova empresa cujo nome de fantasia ficou Farmácia Vale Verde. Miriam saiu do emprego anterior e começou a dividir com Rubens a administração da nova loja, enquanto Rubens ainda se dedicava também à Farmácia Augusto. Seu tempo se tornou escasso para outra cois que não fosse trabalho. Continuava fazendo de tudo na farmácia Augusto e ainda tinha que orientar o pessoal da Vale Verde que Miriam supervisionava. Mas essa era uma situação não muito confortável!
 
Foi nessa época, que Rubens e Miriam conversando muito perceberam que algo tinha que ser feito. A abertura da Vale Verde indicava uma possibilidade de expansão da empresa. Uma nova oportunidade estava surgindo de abrirem uma filial em local ainda mais central de Londrina. Foi assim que um  dia que Rubens tomou a decisão: quero ser empresário, não posso continuar sendo o "doutorzinho da vila"! Rubens era procurado constantemente pelos fregueses da Farmácia Augusto para orientar sobre medicamentos, o que é comum na maioria das pequenas farmácias. Mas, ele e Miriam queriam mais do que isso, queriam construir uma empresa bem sucedida e maior.
 
Essa decisão implicou em uma reordenação das tarefas de cada um dos dois e, também, dos empregados. A empresa começou a se tornar mais formalizada, com mecanismos de coordenação mais sofisticados. Houve um tempo em que buscaram apoio em um consultor. Novas lojas foram sendo abertas, a complexidade se tornando maior, passaram por períodos difíceis, por momentos mais críticos, mas também tiveram bons momentos. Hoje são 24 lojas e um laboratório de manipulação em sete municipios do norte paranaense. Uma história de sucesso, conduzida por uma casal muito competente, que ao longo dos anos soube compartilhar a gestão de uma empresa de forma eficaz. Aliás, o casal fez parte de um estudo que desenvolvi junto com a Hilka Vier na época que estive na UEM. Fizemos uma análise de alguns casos de empresas bem sucedidas criadas e dirigidas por casais. A Farmácia Vale Verde foi um desses casos estudados. Atualmente, a empresa está passando por um novo período: Carolina, que era uma criança pequena quando isso tudo começou, está assumindo a administração do grupo. Vida longa à Farmácia Vale Verde!

2 comentários:

  1. Prof. Fernando, sua atitude empreendedora em sala de aula contribuiu para a formação diferenciada de muitos alunos. Há 12 anos atrás, participei dessa dinâmica de interação empresa-universidade e lembro-me com carinho e saudosismo do contato com o empreendedor, da visita à empresa e dos aprendizados obtidos. Esta proposta metodológica muito relevante para o meu processo de formação na graduação. Você faz muita falta aqui na UEL.

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  2. Lilian,

    Fiquei feliz com sua mensagem. Fez um bem danado ao ego! abraços

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