quarta-feira, 30 de maio de 2012

Olhar de Cinema, um emprendimento que surge pelas mãos de três jovens

Ontem começou o Olhar de Cinema Festival Internacional de Curitiba. Um projeto que tem à frente três jovens que se graduaram no curso de cinema e vídeo da Faculdade de Artes do Paraná: Aly Muritiba, Antônio Júnior e Marisa Merlo. Na abertura à noite, nas palavras dos três jovens curadores, sentia-se a emoção de uma criatura surgindo e a sensação de realização desses empreendedores culturais.

Saber da motivação para esse projeto que envolve o desejo de assisitir filmes que não chegam ao mercado exibidor e compartilhar esse acesso com muitos. Tomar conhecimento, resumidamente, do esforço que dispenderam ao longo dos últimos dois anos. Estar presente no auditório do Guairinha lotado. Assistir a Sombras de John  Cassavetes, grande improvisação coletiva filmada em 1960, na sala da Cinemateca quase lotada. Ver uma apresentação sobre equipamentos para filmagem, produção e exibição de filmes no Paço Cultural. Esses momentos me permitiram testemunhar, ao vivo e a cores, o empreendedorismo ocorrendo como deve ser. Uma ação coletiva humana que contribui para o bem estar de todos em um aspecto central da vida em sociedade: acesso a diferentes manifestações e formas da sétima arte.

Descoberta e criação de um oportunidade para empreender, compartilhamento de uma visão de como seria esse empreendimento, articulação e coordenação de pessoas que partilhassem do mesmo sonho, viabilização de recursos financeiros, técnicos e instalações, muita energia, disposição e a velha necessidade de realização de que nos falou McClelland. Tudo isso pode ser visto nesse projeto que teve seu nascimento ontem. Vida longa ao Olhar de Cinema!

A programação do festival envolve muitas atividades: exibições, debates. oficinas, seminário. Serão sete dias de imersão no mundo do cinema independente.  Veja em www. olhardecinema.com.br.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Professor empreendedor em sala de aula? Escola empreendedora?

Empreendedorismo está na moda! Quase que diariamente pode se encontrar em algum jornal ou revista brasileira alguma menção ao desenvolvimento de competências empreendedoras. A Gazeta do Povo de hoje, 29/05/2012, traz uma reportagem interessante sobre a experiência no ensino médio dos Colégios Sesi, cujo título é Empreendedorismo em sala de aula (p.12).
Segundo a reportagem de Brisa Teixeira, na rede de colégios Sesi do Paraná, onde estudam aproximadamente 13.000 alunos distribuídos por 45 unidades, o método de ensino "busca estimular a autonomia, o trabalho em equipe, o respeito mútuo, o ensino através da pesquisa, a aprendizagem pelo desafio, a interdisciplinaridade e a transdiciplinaridade". Ainda de acordo com o relatado na reportagem, o método inclui um desafio trimestral que envolve a resolução coletiva de um problema, dando ao empreendedorismo o papel de um dos eixos norteadores do método. A experiência dessa rede de ensino, conforme depoimento de alguns alunos, parece ser bem sucedida e foi apresentada como caso de sucesso na edição 2012 da Feira Educar Educador.
Mas, mais do que preparar ou desenvolver competências empreendedoras nos jovens, a educação de crianças e jovens deve orientar para a formação do cidadão. Com certeza, esse aspecto deve ser um dos eixos norteadores dessa rede de ensino. Em nossa sociedade contemporânea, a formação para cidadania não pode deixar de considerar o anseio coletivo por um desenvolvimento sustentável. Esse desenvolvimento sustentável é marcado pela busca de um crescimento econômico equilibrado, que respeite o ambiente natural em que vivemos, preserve as condições de vida para as futuras gerações, mas, muito mais importante, elimine a miséria humana e reduza os desequilíbrios na distribuição da riqueza, por meio do acesso universal aos frutos do conhecimento humano.
Para mim, parece evidente que a descrição do método feita acima é uma maneira de estimular a consciência social em crianças e jovens. Mas, e o empreendedorismo? Está presente nesse método mesmo?
Para evitar um tratamento superficial do empreendedorismo, como um modismo, os estudiosos do tema tem evoluído para um consenso sobre seu significado. Hoje em dia, entende-se que o empreendedorismo é uma ação humana voltada para a descoberta or criação de oportunidades, seu desenvolvimento e exploração. Nesse sentido, o empreendedorismo é um fenômeno que pode acontecer no âmbito do mercado, em organizações sociais, organizações públicas, cooperativas e nas mais variadas formas coletivas de coordenação do esforço humano para realização de tarefas relevantes em termos sociais. Pode se manifestar seja na criaçao de uma nova organização, seja no desenvolvimento e exploração de novas oportunidades em organizações já existentes por meio de esforços individuais ou coletivos. Além disso, muitas vezes a descoberta ou criação de oportunidades está associada à combinação de diferentes tipos de conhecimentos.
Enxergando-se o empreendedorismo sob esse prisma, não se pode negar que o método descrito auxilia no desenvolvimento dessa competências. Seja estimulando a autonomia necessária para descobrir ou criar oportunidades, seja desenvolvendo conhecimentos inter e transdisciplinares, e, mais importante que tudo, desenvolvendo o respeito mútuo, condição essencial para uma vida em sociedade que busca o viver bem para todos.
No entanto, na mesma reportagem, são citadas as atitudes que deve ter um professor empreendedor, que são os primeiros que precisam ser capacitados e sensibilizados para "transformar uma escola convencional em escola empreendedora", segundo a opinião de Leo Fraiman. São nesses momentos que se deve cuidar com o uso do adjetivo "empreendedor(a)".
Ora, o que se espera é que tanto a escola quanto os professores sejam competentes no auxílio e direcionamento da formação dos cidadãos de nossa sociedade. A escola ou o professor não precisam ser empreendedores! Precisam ser capazes de criar condições e experiências de aprendizagem que sejam consistentes com a preparação de crianças e jovens para uma vida em sociedade mais fraterna e justa. O papel do educador sempre foi e sempre será um meio de transformação de nossa sociedade, mas ser transformador não significa ser empreendedor. Significa estar preocupado com as inadequações e imperfeições de nossa vida contemporânea, estimulando nos jovens o espírito crítico necessário para que possamos avançar para uma sociedade em que possamos todos exercer nossa cidadania, com seus deveres e direitos

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Casos de excelência

Compartilhando com vocês.
Um site muito legal em que a Lilian Aligleri é coordenadora pedagógica.
Conheço a Lilian desde pequena e agora já é doutora com livros publicados e tudo mais!
Estive em um momento muito emocionante para mim e creio que para ela também: banca de defesa da sua dissertação de mestrado, em que Sérgio Bulgacov e Maria José Barbosa de Souza também participaram. O destino não permitiu que a Magali, sua primeira orientadora, estivesse conosco.
Não deixem de ver e usar: http://www.casosdeexcelencia.com.br/institucional

domingo, 27 de maio de 2012

A fórmula do sucesso: Luis Buñuel, MGM e administração

Com a ajuda de Jean-Claude Carriére, o cineasta espanhol Luis Buñuel, que passou boa parte de sua vida no México, narrou sua história de vida no livro Meu último suspiro. Cineasta com trinta e quatro filmes realizados entre 1929, ano de lançamento de Um cão andaluz em parceria com Salvador Dalí, e 1977, com seu último filme, Esse obscuro objeto do desejo, Buñuel retrata com humor e sensibilidade sua trajetória cinematográfica. Natural de Calanda, pequena vila de 5.000 habitantes na província de Aragão, na Espanha, Buñuel relata suas aventuras e desventuras passando por Zaragoza, Madrid, Paris, Hollywood, e México.
Logo no inicio de sua carreira, na época do lançamento de seu segundo filme A idade do ouro (1930), Buñuel foi convidado pelo gerente geral da Metro-Goldwin-Mayer (MGM) na Europa a passar seis meses nos Estados Unidos, em Hollywood, recebendo US$ 250 por semana, com o compromisso de apenas observar como se faziam filmes segundo a técnica norte-americana. Seu tutor nesse período foi Charles Chaplin, mas Buñuel relata que não fez muita coisa relacionada a cinema nesse período. É desse período que Buñuel conta uma história que envolve Louis B. Mayer, à época o todo poderoso da MGM. Segundo o cineasta, certo dia, movido pela curiosidade, foi a um grande set de filmagens da MGM onde Mayer se dirigiria a todos os empregados da companhia. Eram cerca de 200 pessoas, vários diretores fizeram seus discursos e ao final Louis B. Mayer se levantou e disse, segundo Buñuel, em meio ao mais respeitoso e atento silêncio:
_ Caros amigos, após longas reflexões, creio ter conseguido condensar numa fórmula muito simples – e talvez definitiva – o segredo que irá nos proporcionar, no respeito a todos, o progresso contínuo e a prosperidade duradoura de nossa companhia. Vou escrever essa fórmula.
No set de filmagens havia um quadro de giz e Mayer se dirigu a ele e escreveu em letras maiúsculas: COOPERATE (em português, cooperar). Sentou-se e foi entusiasticamente aplaudido por todos. Buñuel diz em seu livro ter ficado estupefato, mas essa foi uma das poucas vezes em que aprendeu algo sobre o mundo dos negócios do cinema nos Estados Unidos. A intenção do gerente geral da MGM que fizera o convite a Buñuel era que após os seis meses, pudessem chegar a um acordo sobre a permanência de Buñuel nos Estados Unidos. Mas, o cineasta decidiu voltar para sua Espanha, e em abril de 1930 retornaria a Madri.
Gosto muito dessa história que já havia lido,anos atrás na primeira edição da biografia de Buñuel no Brasil. Reli essa biografia, agora em uma edição muito bem cuidada da Editora Cosacnaify, em tradução de André Telles. A busca da fórmula de sucesso para a perenidade das empresas, sejam grandes ou pequenas, é uma constante nos estudos acadêmicos e na prática da consultoria. Encontrar um método que possa garantir isso é como a busca do Santo Graal. O incrível é que a solução muitas vezes parece ser tão simples como a fórmula de Louis B. Mayer: basta conseguirmos a cooperação de todos e teremos sucesso.
Mas embora a solução seja simples, o caminho até ela é complexo. Afinal quem são “todos”? Mayer falava para todos os empregados da companhia, mas me parece que “todos” envolve muito mais gente: clientes, fornecedores, as comunidades no entorno da empresa, governo, além de donos e empregados. Conseguir a cooperação de “todos”significa ser bem sucedido nessa busca do bem estar coletivo. Ou seja, está relacionado à obtenção da beleza de um viver bem humano. E, como disse o próprio Buñuel, “para alcançar qualquer beleza, três condições me parecem indispensáveis: esperança, luta e conquista” (p. 307).

O estrategista na pequena empresa

Em 2000, publiquei um livro intitulado o Estrategista na Pequena Empresa. Foi uma produção independente, com uma tiragem de apenas 400 exemplares que há muito tempo encontra-se esgotada. Na sua edição, contei com o apoio do Bruhmer Canonice, de Maringá, que além de fazer a revisão do texto, foi o autor da capa do livro. A capa que ele idealizou e produziu me deixou muito feliz, pois ele, como primeiro leitor do livro, conseguiu retratar em uma capa de livro, a forma como enxergo o estrategista na pequena empresa.

De vez em quando, alguém me pede um exemplar. Tenho apenas um comigo, que encontrei em um sebo em Londrina. Foi um momento estranho para mim. Para o vendedor do sebo também! Perguntei a ele se havia desconto para o autor que comprasse o próprio livro. Mas, passado o espanto inicial, e um pouquinho de decepção - Poxa! Alguém botou fora meu livro em um sebo! Que falta de respeito comigo! - observei que o exemplar continha vários trechos assinalados com caneta salientadora. Alguém tinha se debruçado com esforço sobre meu livro. As anotações permitiram que eu notasse partes que chamaram a atenção de um(a) leitor(a).

Outro dia, encontrei outro exemplar, dessa vez na Estante Virtual, associação de livrarias brasileiras que vendem livros novos e usados pela Internet. Comprei mais esse exemplar, pois queria presentear uma amiga que iniciou recentemente seu mestrado em Administração. Me pergunto: será que o vendedor notou que era o próprio autor que estava comprando o livro pela Internet?

Na introdução do livro escrevi:

"Meu envolvimento com pequenas empresas começou muito cedo em minha vida. Fazendo parte de uma família de empreendedores, vivi em um ambiente no qual havia pouca separação entre trabalho e lar. Eu e meus irmãos, quando não estávamos ocupados brincando ou na escola, ajudávamos nossos pais no seu pequeno negócio. A empresa era como uma extensão de nossa casa. Mais tarde, nosso envolvimento com a empresa passou a ser mais sério e a empresa passou a ser, também, o nosso trabalho.

 
Quando comecei a trabalhar na universidade, mantive meu envolvimento com a empresa da família. No entanto, com o passar do tempo a carreira universitária passou a me atrair mais. Nesta mantive meu envolvimento com pequenas empresas desenvolvendo pesquisas, participando de atividades de treinamento e consultoria, bem como orientando alunos em trabalhos com pequenas empresas.

Refletindo sobre minha história pessoal, algo que sempre me intrigou foi entender como os dirigentes de pequenas empresas, com os quais convivi nestes anos, tentavam dar a suas empresas uma  trajetória específica, seja através de uma análise detalhada de seus concorrentes e da busca de  diferenciação de seus negócios. Ou, através da reprodução de boas práticas gerenciais e de negócios que enxergavam em seus concorrentes. Estas observações me levaram a buscar na literatura, de forma mais intensa e sistemática, possíveis explicações para o comportamento estratégico nos negócios de pequeno porte.

Identifiquei três perspectivas principais nos trabalhos de pesquisa relacionados a pequenas empresas: abordagens econômica, empreendedora e administrativa. A abordagem econômica é relacionada com medidas quantitativas do número de empresas, proporção do emprego gerado, participação no faturamento, valor adicionado, etc. Em outras palavras, a visão econômica procura estabelecer a contribuição feita pelas pequenas empresas para o desenvolvimento social e econômico. A perspectiva empreendedora analisa tópicos sobre as condições para criação de empresas, planejamento de um novo negócio, capital de risco, franquias e perfil de empreendedores. Está  relacionada também com políticas governamentais no apoio à criação de empresas. Por fim, a abordagem administrativa é composta de estudos que exploram assuntos relacionados à administração de pequenas empresas nos seus mais variados aspectos: tomada de decisão, planejamento, marketing, finanças, produção e recursos humanos. O foco principal está em contrastar a administração de pequenas e grandes empresas."

Alguns amigos já me perguntaram se não penso em fazer uma nova edição. Passados doze anos, esse livro é um dos meus trabalhos mais citados por estudantes e pesquisadores na área de estratégia em pequenas empresas. Não tenho vontade de fazer uma nova edição! Nesses tempos de Internet, creio que o acesso à literatura deveria ser ampliado continuamente e de forma gratuita. Se você quiser ler o livro, basta me mandar uma mensagem que tenho uma versão em pdf do mesmo. Pena que nessa versão não há a capa feita pelo Bruhmer.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Da sustentabilidade


Para Sara, que encontrei em um outono.

Hoje, ao acordar, a primeira que coisa que fiz, após o carinhoso abraço de Sara, foi ler uma crônica de Affonso Romano de Sant´Anna. Desde muito, o livro Tempo de delicadeza, publicado pela L&PM no formato de bolso, estava no criado mudo aguardando pelo meu olhar. Nessa crônica, que dá título ao livro, em contraponto à vida cada vez mais áspera, violenta, rápida e grosseira, o poeta nos convida à delicadeza, seja a de Ghandi, a de São Francisco ou até mesmo a de Guevara.
Recentemente fiz uma incursão em alguns escritos que tratam da ideia da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável. Movido por um interesse profissional, me preparava para o concurso de professor titular na Universidade Federal do Paraná, pude apreciar de forma mais organizada a beleza desse sonho que é compartilhado por um número crescente de pessoas, mas ao mesmo tempo, não pude deixar de registrar os limites de sua possibilidade.
Na administração, os princípios do desenvolvimento sustentável se refletem em discussões e proposições sobre justiça organizacional, ética nos negócios, gestão socioambiental, responsabilidade social corporativa, preocupação com os stakeholders, e outros temas. Em síntese, o desejo da sustentabilidade pode ser resumido na busca por uma vida confortável para todos, com uso consciente dos recursos naturais de que dispomos, preservando nosso planeta para as futuras gerações. Tudo isso com equidade social no acesso ao conhecimento e aos frutos da evolução do conhecimento humano.
Mas, os desafios da sustentabilidade são enormes. E, especialmente, conflituosos com nossa forma de vida guiada pelo sistema capitalista de produção, acumulação e distribuição de riqueza. Nessa sociedade em que o princípio do lucro se sobrepõe ao princípio da equidade no bem viver para todos, a preocupação com práticas sustentáveis só estará presente enquanto estas contribuírem para o lucro crescente. Qualquer ameaça à lucratividade, poderá reduzir os esforços da responsabilidade social corporativa. É isso que me faz indagar: é a sustentabilidade sustentável no nosso modo de vida contemporâneo?
Quando foco minha atenção para as pequenas empresas, percebo que essa fragilidade da aplicação da responsabilidade social corporativa se acentua. Os desafios da sobrevivência e da permanência, em um mercado dominado por grandes corporações, levam a um predomínio da razão prática, deixando de lado a preocupação com o humano, no sentido de relações de trabalho mais justas, por exemplo. Além disso, na própria relação das grandes empresas com as pequenas, quando o desempenho econômico-financeiro das primeiras pode ser diminuído, as práticas da responsabilidade social corporativa são postas de lado. O mundo real está repleto de histórias. Procure algum empreendedor de uma pequena empresa que negocia com as maiores e, com certeza, algum caso poderá ser contado.
Mas, se você deseja ver até que ponto a crueza e a violência desse convívio podem chegar, leia A Caverna de José Saramago. Nesse romance Saramago narra as dificuldades do oleiro Cipriano Algor. Cipriano descobre certo dia, que seus produtos não são mais desejados pelo mercado e que ele, como diria um professor de estratégia, precisa reposicionar sua empresa. É nessa tentativa que Cipriano vai se relacionar com os administradores do Centro. Brilhante metáfora de Saramago para essa figura imprecisa, mas onipresente em nossa vida, o Mercado. Nessa relação é que, um dia, Cipriano ao terminar uma conversa com um dos gestores do Centro, sai a refletir:
Se te espetam uma faca na barriga, ao menos que tenham a decência moral de te mostrarem uma cara que seja conforme com a acção assassina, uma cara que ressumbre ódio e ferocidade, uma cara de furor demente, até mesmo de frieza desumana, mas por amor de Deus, que não te sorriam enquanto te estiverem a rasgar as tripas, que não te desprezem a esse ponto extremo, que não te deem esperanças falsas,..
Se desejamos mesmo, que a sustentabilidade seja uma presença concreta, ainda que intangível, na vida das organizações, parece que transformações em nosso modo de vida precisam anteceder à sustentabilidade. Em particular, a Administração precisa ser ressignificada. Para isso, meus amigos Ariston e Paulo, já chamaram a atenção quando disseram:
A administração é uma ação virtuosa. Enquanto tal, ela se dá no âmbito das organizações, como formas sociais modernas que produzem bens úteis. Embora o seu âmbito de ocorrência seja as organizações, isto não significa dizer que as mesmas encerrem sua finalidade. Pelo contrário, a finalidade da administração ultrapassa os fins organizacionais, pois que está teleologicamente comprometida com a existência humana; não uma existência qualquer, diga-se, mas aquela em que o homem vive bem (AZEVEDO; GRAVE, 2008).
Mais ainda,
... importa perguntar qual a importância da administração para que possamos lograr o alcance do viver bem coletivo? Se houver um fim humano último, ou bem supremo, ou um bem maior, a administração deve contribuir para o seu alcance, de modo, pelo menos, indireto; do contrário, a administração, como um ato que é mundano, não teria sentido ou importância para a humanidade. Sendo o que é, conforme estamos defendendo, tal fenômeno acaba por se nos apresentar como um dos inúmeros instrumentos dos quais o homem se vale para resolver suas questões de vida, especialmente as relacionadas ao seu cotidiano. Neste sentido, ela estaria voltada para o bem, um bem que é coletivo, e não individual apenas, como temos verificado cotidianamente (AZEVEDO; GRAVE, 2008).
Para concluir Impossível, para mim, não lembrar Dersu Uzala, filme de Akira Kurozawa lançado em 1975, e merecedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1976. O filme relata a amizade que surge entre um caçador asiático e um capitão do exército russo, resgatado pelo primeiro na Sibéria. Ao ser levado para a cidade, o caçador questiona os padrões de vida da sociedade, em conflito acentuado com seus costumes. Inesquecível para mim, mais de 30 anos depois de ter visto o filme, é uma cena em que Dersu (o caçador) depois de passar uma noite em uma cabana no meio da mata, ao levantar-se de manhã, antes de partir, deixa tudo muito limpo e organizado, dizendo que é preciso pensar naqueles que um dia poderão precisar dessa cabana. Uma imagem incrivelmente bela e poética do que precisamos fazer com nosso planeta. Ou seja, um mundo onde impere a delicadeza proposta por Sant´Anna e praticada por Sara na gestão hospitalar que reflete sua inspiração nos estudos da hospitalidade e seu aprendizado na vida profissional em uma pequena empresa e no seus tempos de maruja no Mykonos de Ubatuba. 
P.S.: Não deixe de ler o texto de Ariston e Paulo cuja referência é: AZEVÊDO, A.; GRAVE, P. S. Prolegômenos a toda administrologia possível: administração - o que é isso?. In: XXXII Encontro Nacional da ANPAD, 2008, Rio de Janeiro. Anais Eletrônicos do XXXII Encontro Anual da ANPAD, 2008.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Que nome dar à empresa?

Acredito que a empreendedora ou o empreendedor passa  por alguns momentos de angústia quando tem que batizar a empresa que está criando. O nome da empresa passará a fazer parte de sua identidade. É preciso escolher um nome que passe alguma mensagem significativa ao mercado e, ao mesmo tempo, que agrade a quem está empreendendo. Se possível o nome da empresa deve ser escolhido de forma ambiciosa para que se torne uma marca reconhecida por muitos. Não é uma tarefa fácil!

Tendo vivido em Londrina boa parte de minha vida, eu acabei me tornando um cliente fiel do Salão King´s, onde sempre fui atendido pelo Jair. De vez em quando, se estou de passagem por Londrina, ligo para o Jair e passo por lá para cortar o cabelo e barba. Essa relação já tem uns trinta anos. 

Nos anos que vivi em Maringá tomei conhecimento de uma história muito peculiar. Londrina e Maringá estão separadas por apenas 90 quilometros. Toda vez que precisava de um corte de cabelo eu viajava para Londrina. Depois de algum tempo de vida naquela cidade, tive que escolher um novo salão para fazer a barba e cortar os cabelos. Foi nesse dia que Sara me disse:

_ Por que você não corta o cabelo com o Carlos? É aqui perto de casa e o meu irmão diz que ele é muito bom.

Realmente o Carlos é muito bom profissional e acabei me tornando seu cliente também. Depois de algumas idas ao salão onde o Carlos trabalhava, um dia perguntei:

_ Carlos, de onde vem o nome do salão de vocês? (O salão é da sogra, de sua esposa e dele)

_ Fernando, foi minha sogra que escolheu o nome.

_ Mas é nome da família?

O Carlos riu e disse:

_ Não. Antes de abrirmos esse salão, minha sogra trabalhava em outro que existe há muitos anos em Maringá. O Salão Royal. Minha sogra comentou com a proprietária que tinha o desejo de abrir seu próprio salão.

_ Legal, eu disse. É muito comum isso acontecer. Empregados que tem uma boa habilidade em determinada profissão, acabam deixando o emprego e abrindo sua própria empresa.

_ Pois é, continuou o Carlos. A minha sogra pediu alguns conselhos para a proprietária do Salão Royal. Ela deu muitas dicas, mas chamou a atenção para algo muito importante.

_ O que era?

_ A dona do Salão Royal é descendente de japoneses e ela disse que minha sogra deveria escolher muito bem o nome do salão. Deveria ser algo que significasse crescimento!

Foi assim que surgiu o Salão Fleischmann!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Trajetórias empresariais femininas: o encontro entre realidade e ficção

Para Kilda Maria

A literatura de empreendedorismo aborda com frequência as diferenças de percurso, de estilo, de desempenho e dificuldades enfrentadas pelas mulheres empresárias em comparação com seus pares masculinos. No caso das mulheres empreendedoras, entre as principais dificuldades para se inserirem no mundo empresarial, estas enfrentam maiores barreiras no acesso a fontes de financiamento e dificuldades associadas ao que se denomina dupla jornada de trabalho feminino, ou seja, a acumulação de atividades empresariais com as atividades do lar, como mães ou esposas, que são ainda culturalmente e socialmente determinadas como mais inerentes à mulher do que ao homem. Por outro lado, as filhas enfrentam maiores barreiras em processos sucessórios nas empresas familiares do que os filhos de fundadores. Muitas vezes, estas não são nem consideradas como potenciais sucessoras e ficam à margem de programas de preparação de sucessores naquelas empresas que se preparam com antecedência para o momento de transição.
Nosso grupo de pesquisa está envolvido em um projeto voltado para a identificação das trajetórias empresariais de mulheres que conseguiram vencer as barreiras do mundo empresarial e se tornaram dirigentes de empresas familiares ou criaram empresas próprias. Nesse estudo as trajetórias femininas serão descritas com base na percepção das mulheres sobre os seguintes aspectos: a) história de vida englobando origem familiar, composição da família e formação educacional; b) trajetória profissional com ênfase nas razões para empreender ou tornar-se dirigente empresarial e como se deu o envolvimento com a atividade empresarial; c) autopercepção como empreendedora ou dirigente empresarial explorando a conciliação entre os diferentes papéis exercidos, suas atividades e expectativas e aspirações pessoais e empresariais; e d) percepção do mundo de negócios com seus aspectos facilitadores e dificultadores do exercício do papel de empresária.
Estudos anteriores abordaram uma diversidade de aspectos das trajetórias femininas no mundo empresarial. Por exemplo, a conciliação trabalho-família é uma dimensão constantemente explorada. Outro aspecto frequente na literatura é a possível diferença de desempenho entre empresas criadas ou geridas por mulheres em comparação aos homens. É claro que possíveis diferenças não podem ser explicadas unicamente em função do gênero, mas alguns resultados apontam para um desempenho inferior das empresas das mulheres, o que evidencia a necessidade de explorar que condições estão associadas a este fenômeno. Não se pode aceitar que haja diferenças de competências empresariais entre homens e mulheres hoje em dia que poderiam levar a desempenhos diferentes. A participação feminina no mundo escolar e nas universidades é igual à masculina, portanto há outros fatores que estão causando essa diferença.
Outro foco de atenção os estudos relatados na literatura é a motivação para empreender. A professora Hilka Machado, da UEM, que é umas das pesquisadoras brasileiras de maior destaque no tema, evidenciou em seus estudos que as principais razões para empreender mencionadas por mulheres são a realização profissional. A percepção de uma oportunidade de mercado e a falta de perspectiva no emprego anterior ou desemprego.
No que diz respeito à forma de gestão das empresas, há evidências na literatura que reforçam a existência de diferenças estilísticas entre homens e mulheres. As mulheres tendem a um compartilhamento de informações e preocupação com o ensinamento de outros. Além disso, em geral, a maneira de gestão feminina tende a ser participativa e democrática. Outros aspectos mencionados na literatura são um ritmo de trabalho intenso, elevado nível de autoexigência e de seus colaboradores, com muita autoconfiança e obstinação.
Nossa expectativa em relação a esse projeto é aprofundar as discussões encontradas na literatura, mas também subsidiar a formulação de políticas públicas que incrementem efetivamente a inclusão das mulheres de forma mais acentuada no mundo dos negócios.
Mas, a inspiração para esse tipo de estudo não vem só da academia. Muitas vezes, os escritores da literatura de ficção são capazes de retratar o drama empreendedor muito acuradamente. Lembro-me do dia em que participei da defesa da tese de doutoramento da Jane Ferreira que fez um belíssimo estudo sobre cinco empresárias curitibanas, apresentado na tese “A ação de empreender sob a perspectiva sócio histórica de González Rey” que foi desenvolvida no Doutorado em Administração da Universidade Positivo. Nessa tese, Jane juntou uma excelente capacidade de análise científica com uma sensibilidade quase poética na descrição das cinco histórias empreendedoras.
Foi essa sensibilidade que me fez lembrar alguns contos do escritor peruano Julio Ramón Ribeyro publicados em sua coletânea “La palavra del mudo”, volume I. Esse escritor cuja obra conheci recentemente, no final de 2011, tem uma habilidade impressionante para narrar pequenas estórias. Entre elas, a estória de Mercedes que sonhava ter uma pequena quitanda, mas quis o destino que esse sonho teria que esperar um pouco mais. O conto se chama “Mientras arde la vela” e foi escrito em Paris, 1953. Ou então, a hilariante estória de um desempregado dando explicações a um policial sobre sua situação de embriaguês e como isto se relacionava ao seu plano de abrir uma empresa. Esses contos nos ajudam a compreender de forma mais completa a experiência humana de sonhar e empreender.
E é nessa toada, que recordo a experiência de Kilda Maria, minha irmã, que sonhou com e criou uma escola de línguas que entrou na vida de muitas crianças londrinenses durante os anos em que funcionou. Na Littera, Kilda pode experimentar os prazeres da realização pessoal, vivenciar as angústias da gestão cotidiana de uma pequena empresa, sofrer a dor da traição de uma sócia em que tanto confiava e aplicar seu estilo na lida com as suas colaboradoras. Mas, embora nunca tenhamos falado sobre isso, tenho certeza que ela guarda na memória muito mais as alegrias do que as dores do empreender e, assim como muitas empreendedoras, marcou a história de vida daquelas que com ela trabalharam.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O primeiro buffet por quilo de Curitiba


Na edição de hoje (07/05/2012) do  MetroCuritiba, jornal distribuído gratuitamente nas esquinas da cidade, que pode ser acessado em (http://www.readmetro.com/en/brazil/metro-curitiba/, há uma pequena nota na página 4 informando que o Restaurante Gulliver, localizado no Alto da XV, foi o primeiro buffet por quilo da cidade no começo dos anos 90 do século passado.
Gastão Scheffer, proprietário do estabelecimento, conta que se inspirou em restaurantes de São Paulo para trazer a novidade para a cidade. Segundo ele, após viagem pela Itália e Estados Unidos buscando ideias, não encontrou nada, mas ao chegar de retorno em São Paulo almoçou por quilo e gostou da novidade. O empresário narra também que, em seguida, outros restaurantes começaram a copiar a nova forma de servir. Nas suas palavras, “logo em seguida, abriu o Churrascão nos fundos da Catedral, mais tarde o Rizi BIzi, e pouco tempo depois, os restaurantes por quilo tomaram conta da cidade”.
Essa história é muito boa para exemplificar a noção de vantagem competitiva na gestão de pequenas empresas. Quando era novidade, esse modelo de negócio diferente para funcionamento de um restaurante, implantado por seu proprietário, permitiu que o Gulliver se destacasse, atraindo até gente do interior do estado para conhecer a novidade, segundo conta Gastão. Mas, como essa novidade não apresentava nenhuma dificuldade de ser copiada pelos concorrentes, logo muitos restaurantes optaram por essa novidade.
A permanência do Gulliver no mercado até hoje, certamente não pode mais ser explicada pelo modelo de negócio. É provável que haja outros aspectos de sua gestão e de sua operação que fizeram com que a empresa durasse mais de três décadas, pois foi fundada em 1991. Talvez, a qualidade da comida seja um fator, outro fator pode ser sua localização ou o atendimento dado aos clientes. São inúmeros aspectos que podem trazer vantagens competitivas para uma pequena empresa. Como não conheço o Gulliver, não posso opinar sobre o que explica seu sucesso, mas qualquer dia vou experimentar.
O que desejo destacar dessa história é a necessidade de buscar incessantemente um conjunto de aspectos na gestão e operação de pequenas empresas que lhes permitam obter vantagens competitivas. Em geral, as vantagens competitivas têm vida curta e o papel principal dos dirigentes de pequenas empresas é tentar mantê-las o máximo que puder, ou criar novas quando as existentes deixam de ser eficazes. Esse é o papel do estrategista na pequena empresa!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Buscando o DNA do empreendedor

O autor da expressão que dá título a esse post foi o Bruno Henrique Fernandes, professor do programa de mestrado e doutorado em administração da Universidade Positivo. Bruno, João Carlos de Andrade, Cristina Peters Tetto, Yára Bulgacov e eu desenvolvemos um projeto de pesquisa, em parceria com o SEBRAE-Pr, cujo objetivo era identificar variáveis que se revelassem significativas para associar determinados perfis empreendedores a tipos de negócios específicos.
Nosso projeto envolveu a análise de aspectos relacionados a três tipos de variáveis realcionadas ao estilo de vida do potencial empreendedor, áreas de conhecimento relevantes para o tipo de negócio a ser aberto e dimensões do ambiente competitivo no qual seria aberta a futura empresa.
Tendo por base um conjunto de 30 perfis de oportunidades de negócios, foram elaboradas 36 questões para compor um instrumento de coleta de dados junto a empreendedores. Cada questão era avaliada em um escala do tipo Likert. sendo que as questões foram inicialmente validadas em um workshop com técnicos do SEBRAE-Pr, para definir um perfil esperado de um ptoencial empreendedor em cada tipo de negócio. Em seguida, foram coletados dados com 30 empreendedores bem sucedidos buscando comparar o perfil ideal com o perfil dos empreendedores reais.
Nossa expectativa era gerar um conjunto de perfis ideais que poderiam ser utilizados em programas do SEBRAE-Pr voltados à orientação de pesoas interessadas em abrir uma empresa. Os perfis poderiam ser utilizados como um primeiro instrumento de triagem e avaliação do ajuste entre o futuro empreendedor e a idéia de empresa que buscava empreender. Como o instrumento usava uma escla do tipo LIkert, Bruno brincou que estávamos busando o DNA de diferentes tipos de empreendedores, já que o resultado do instrumento gerava uma série de números variando entre 1 e 5. A lógica subjacente a este estudo era orientada pela abordagem das configurações. Nesse sentido, configurações de diferentes estados de variáveis do indivíduo, da empresa e do ambiente de negócio podem surgir levando a formatos estávei e instáveis. Os formatos estáveis tem um potencial de maior sucesso, enquanto que configurações instáveis levariam a empreendimento mal sucedidos.
Lembrei-me desse estudo hoje, quando estava assistindo a o filme argentino "Um conto chinês". Nesse filme, o brilhante ator Ricardo Darín personifica um proprietário de pequena empresa, Roberto, que se vê envolvido com um chinês, que não fala nem uma palavra de espanhol, e que chega à Argentina em busca de seu tio, irmão mais velho de seu pai, único parente que lhe restara na vida. O filme é delicioso, e o personagem vivido por Darín é um solteirão, muito sistemático, altamente organizado, proprietário de uma pequena loja de ferragens. O personagem é tão sistemático, que conta o número de parafusos que vem em cada caixa que recebe para verificar se é a quantidade marcada na embalagem. O que invariavelmente não é, deixando-o muito irritado. Além disso, o personagem de Darín tem um horário rigidamente controlado, inclusive para cair no sono! O filme é imperdível! O personagem tem uma mania, que não vou revelar, pois está intimamente ligada a história de filme. O inicio dessa mania é altamente emocionante e nos faz pensar no lado absurdo de nossa vida.
Para mim, o dono e a loja de ferragens se encaixam como luvas às maõs adequadas. Uma loja de ferragens, com uma quantidade imensa de produtos, de variados tamanhos, necessita de alguém muito organizado e sistemático para funcionar. O personagem de Darín e pequena empresa são a representação ficcional daquilo que buscávamos em nosso projeto.
Para o leitor que quiser conhecer um pouco mais do estudo, sugiro a leitura de um texto que publicamos em 2007, no III Encontro de Estudos de Estratégia, promovido pela ANPAD, cujo título é Potencial Empreendedor para Tipos de Negócios: um Estudo Exploratório. Além disso,  a dissertação de mestrado do João Crrlos, orientado pelo Bruno, pode ser acessada no sítio do Mestrado em Administração da Positivo, cujo título foi Dimensões da Prática Empreendedora: um estudo empírico com analistas e empresários, tendo sido defendida em 2008.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Qualidade da administração em pequenas empresas: um projeto nascido no MINTER de Jaraguá do Sul

Para os novos mestres em administração do MINTER de Jaraguá do Sul

Em abril de 2010, o PPAD da PUCPR deu inicio ao Mestrado Interinstitucional em parceria com a UNERJ, que agora faz parte da Católica de Santa Catarina. Nesse ano, nas primeiras semanas de dezembro, fui a Jaraguá do Sul ministrar a última disciplina do curso – Estratégia em Pequenas Empresas. Foi assim que começou um projeto de pesquisa que começa a mostrar seus primeiros resultados, muito animadores, com as defesas de dissertações de Carlos Senff e Marco Murara nono dia 27 de abril .
Nove mestrandos se matricularam na disciplina que me coube nesse MINTER: Adriane, Aparecida, Carlos, Caio, Edson, Ricardo, Murara, Ulir e Vicente. Era meu retorno às salas de aula depois de um problema saúde que me deixara “fora de combate” por algum tempo. Eu vinha com todo o gás! Os alunos, segundo alguns deles, estavam se arrastando, pois haviam passado por uma maratona de disciplinas ao longo de oito meses. A minha era a última! O prognóstico parecia desfavorável, mas o que essa turma não sabia era que tinham fôlego para muita coisa mais! Não me decepcionaram!
Já fazia algum tempo que desejava explorar empiricamente uma ideia que o Professor Sérgio Zaccarelli expusera em um de seus livros – Estratégia e Sucesso nas Empresas. Nesse livro, o Professor Zaccarelli argumenta que o sucesso de uma empresa pode ser sintetizado na relação entre duas variáveis: qualidade do negócio e qualidade da administração. Por um lado, quanto maior a qualidade do negócio, maiores as chances de sucesso, mesmo em condições de qualidade da administração ruim. Por outro lado, uma qualidade da administração excelente pode superar as deficiências estruturais de um mau negócio. A beleza e a simplicidade dessa formulação constantemente me instigavam para testá-la. O problema maior estava em como mensurar a qualidade da administração de uma empresa, já que a qualidade do negócio há muito tempo pode ser avaliada com base, por exemplo, no modelo das cinco forças de Porter. Mas, qualidade da administração é um conceito tão amplo, envolve tantas dimensões, como se aproximar de sua medida?
Esse foi o desafio que coloquei para a turma: vamos explorar esse conceito em pequenas empresas? Com o entusiasmo de todos, fizemos um exercício de brainstorming, buscando afirmações que completassem a seguinte frase: Minha empresa é bem sucedida porque eu...
Inicialmente divididos em três grupos, os mestrandos geraram uma lista de mais de 40 afirmações. Em um segundo momento, essas afirmações foram compartilhadas e analisadas para verificação de sobreposições, alterações e exclusões. Ao final restaram 16 afirmações que compuseram uma escala que seria testada empiricamente com gestores de pequenas empresas. Surgia a Escala Jaraguá do Sul de Qualidade da Administração!
A partir daí, os grupos foram a campo coletar respostas para essa escala, sendo que os dados coletados foram analisados no último encontro da disciplina. Esse primeiro esforço empírico resultou em cerca de 50 respostas coletadas em empresas de pequeno porte industriais, comerciais e de serviços. As análises indicaram boas qualidades estatísticas para esse teste exploratório, indicando a existência de quatro fatores componentes da qualidade da administração: Monitoramento Ambiental, Práticas Administrativas, Habilidade de Negociação e Capital Humano.
Nosso entusiasmo com os resultados foi um estímulo para que Carlos e Murara decidissem explorar a qualidade da administração em pequenas empresas e sua relação com outros aspectos em suas dissertações que foram por mim orientadas. Carlos resolveu explorar as relações entre qualidade da administração, posicionamento competitivo e desempenho. Murara, por sua vez, estudou o processo de formação de estratégia, qualidade da administração e desempenho. Suas defesas foram bem sucedidas no dia 27.
A Escala Jaraguá do Sul de Qualidade da Administração atraiu a atenção de outros mestrandos da PUCPR. Denize Moraes e Glauco Furstenberg estão fazendo estudos aplicando a escala e buscando sua relação com outras variáveis. Denize busca analisar as relações entre qualidade da administração, qualidade do negócio e desempenho – um teste da proposição de Zaccarelli. Glauco, assim como Murara, analise a relação entre formação de estratégia, qualidade da administração e desempenho. As análises preliminares indicam resultados compatíveis com as duas dissertações já defendidas.
Por fim, nos dias 27 e 28 passados tivemos um conjunto de defesas do MINTER de Jaraguá do Sul. Participei da banca em três, além de Carlos e Murara, a dissertação de Edson Halter, orientada pelo Paulo Mussi, tratou do modelo de Miles e Snow, contribuindo de forma significativa ao relacioná-lo com capacidades estratégicas. Além disso, tive a oportunidade de assistir a banca do Ulir sobre redes sociais em um evento cultural. Em Curitiba já tinha visto a defesa da Adriane, já que seu orientador, Jansen  Del Corso, não poderia estar em Jaraguá do Sul nesses dias. Parabéns a todos e meu agradecimento especial aos nove profissionais, agora mestres, pela oportunidade de estudarmos juntos. Valeu!