Empreendedorismo está na moda! Quase que diariamente pode se encontrar em algum jornal ou revista brasileira alguma menção ao desenvolvimento de competências empreendedoras. A Gazeta do Povo de hoje, 29/05/2012, traz uma reportagem interessante sobre a experiência no ensino médio dos Colégios Sesi, cujo título é Empreendedorismo em sala de aula (p.12).
Segundo a reportagem de Brisa Teixeira, na rede de colégios Sesi do Paraná, onde estudam aproximadamente 13.000 alunos distribuídos por 45 unidades, o método de ensino "busca estimular a autonomia, o trabalho em equipe, o respeito mútuo, o ensino através da pesquisa, a aprendizagem pelo desafio, a interdisciplinaridade e a transdiciplinaridade". Ainda de acordo com o relatado na reportagem, o método inclui um desafio trimestral que envolve a resolução coletiva de um problema, dando ao empreendedorismo o papel de um dos eixos norteadores do método. A experiência dessa rede de ensino, conforme depoimento de alguns alunos, parece ser bem sucedida e foi apresentada como caso de sucesso na edição 2012 da Feira Educar Educador.
Mas, mais do que preparar ou desenvolver competências empreendedoras nos jovens, a educação de crianças e jovens deve orientar para a formação do cidadão. Com certeza, esse aspecto deve ser um dos eixos norteadores dessa rede de ensino. Em nossa sociedade contemporânea, a formação para cidadania não pode deixar de considerar o anseio coletivo por um desenvolvimento sustentável. Esse desenvolvimento sustentável é marcado pela busca de um crescimento econômico equilibrado, que respeite o ambiente natural em que vivemos, preserve as condições de vida para as futuras gerações, mas, muito mais importante, elimine a miséria humana e reduza os desequilíbrios na distribuição da riqueza, por meio do acesso universal aos frutos do conhecimento humano.
Para mim, parece evidente que a descrição do método feita acima é uma maneira de estimular a consciência social em crianças e jovens. Mas, e o empreendedorismo? Está presente nesse método mesmo?
Para evitar um tratamento superficial do empreendedorismo, como um modismo, os estudiosos do tema tem evoluído para um consenso sobre seu significado. Hoje em dia, entende-se que o empreendedorismo é uma ação humana voltada para a descoberta or criação de oportunidades, seu desenvolvimento e exploração. Nesse sentido, o empreendedorismo é um fenômeno que pode acontecer no âmbito do mercado, em organizações sociais, organizações públicas, cooperativas e nas mais variadas formas coletivas de coordenação do esforço humano para realização de tarefas relevantes em termos sociais. Pode se manifestar seja na criaçao de uma nova organização, seja no desenvolvimento e exploração de novas oportunidades em organizações já existentes por meio de esforços individuais ou coletivos. Além disso, muitas vezes a descoberta ou criação de oportunidades está associada à combinação de diferentes tipos de conhecimentos.
Enxergando-se o empreendedorismo sob esse prisma, não se pode negar que o método descrito auxilia no desenvolvimento dessa competências. Seja estimulando a autonomia necessária para descobrir ou criar oportunidades, seja desenvolvendo conhecimentos inter e transdisciplinares, e, mais importante que tudo, desenvolvendo o respeito mútuo, condição essencial para uma vida em sociedade que busca o viver bem para todos.
No entanto, na mesma reportagem, são citadas as atitudes que deve ter um professor empreendedor, que são os primeiros que precisam ser capacitados e sensibilizados para "transformar uma escola convencional em escola empreendedora", segundo a opinião de Leo Fraiman. São nesses momentos que se deve cuidar com o uso do adjetivo "empreendedor(a)".
Ora, o que se espera é que tanto a escola quanto os professores sejam competentes no auxílio e direcionamento da formação dos cidadãos de nossa sociedade. A escola ou o professor não precisam ser empreendedores! Precisam ser capazes de criar condições e experiências de aprendizagem que sejam consistentes com a preparação de crianças e jovens para uma vida em sociedade mais fraterna e justa. O papel do educador sempre foi e sempre será um meio de transformação de nossa sociedade, mas ser transformador não significa ser empreendedor. Significa estar preocupado com as inadequações e imperfeições de nossa vida contemporânea, estimulando nos jovens o espírito crítico necessário para que possamos avançar para uma sociedade em que possamos todos exercer nossa cidadania, com seus deveres e direitos
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