Ontem, enquanto ouvia uma pessoa falar sobre as possibilidades de interação que existem hoje na web, em particular sobre a possibilidade de espalhamento de novos processos organizacionais por meio das redes sociais de forma mais restrita, ou na web de forma mais ampla, minha imaginação foi disparada. comecei a pensar em uma imagem das organizações como esponjas que absorvem aquilo que está ao seu redor, na tentativa de sobrevivência e crescimento.
Pensei: será esta uma boa metáfora para o entendimento de como as organizações podem se configurar em formas estáveis em nosso mundo organizacional?
Imediatamente, o palestrante perdeu minha atenção, e eu me pus a divagar sobre quais seriam as forças condutoras que levariam a configurações organizacionais estáveis. Obviamente, essa divagação passou a ser inspirada. também, no famoso modelo de configurações estruturais de Mintzberg, que já comentei em outro post nesse blog.
Após minha divagação, devidamente anotada em meu celular que assumiu as funções de antigos blocos de papéis para anotações, fui buscar informações sobre as esponjas.
Interessante! Embora simples, elas também se configuram em diversas formas:
As esponjas (Filo Porifera) são
animais bentônicos sésseis (fixos no substrato). Possuem uma fisiologia bastante
simples na sua contrução. Utilizam células flageladas chamadas coanócitos para
promover a circulação da água através de um sistema de canais exclusivo do filo,
o sistema aquífero, ao redor
do qual seu corpo é construído. Esta corrente de água traz partículas orgânicas
que são filtradas e digeridas. São geralmente sustentadas por um esqueleto
mineral formado por espículas, que são estruturas de sílica ou carbonato de
cálcio cujo tamanho pode variar de poucos micrometros a centímetros. Existem no
entanto diversas variações. Em algumas este esqueleto pode ser contituído por
calcáreo maciço, naquelas que são chamadas esponjas coralinas. Em outros,
conhecidas como esponjas córneas, por fibras de espongina, uma proteína do tipo
do colágeno. A definição simples que é geralmente mais aceita para este grupo é:
"Animais filtradores e sedentários, que se utilizam de uma única camada de
células flageladas para bombear água através de seu corpo" (Bergquist, 1980).
Apesar de sua morfologia simples e do seu baixo grau de organização, as
esponjas apresentam uma enorme diversidade de formas e cores nas mais diferentes
tonalidades. Estão sem sombra de dúvida entre os mais belos e admirados
invertebrados marinhos, apesar de raramente serem reconhecidas por olhos
não-treinados. De modo geral,
esponjas têm uma ou mais aberturas exalantes circulares (ósculos), e muitas
espécies têm sistemas de canais subsuperficiais semelhantes a veias. Muitas
espécies são compressíveis, e a superfície é frequentemente híspida (com
extremidades das espículas atravessando parcialmente a superfície) ou conulosa
(com pequenas elevações cônicas) (http://acd.ufrj.br/labpor/1-Esponjas/Esponjas.htm#Caracteristicas).
Embora sedentárias, as esponjas são uma metáfora organizacional interessante por sua característica de sistema aberto, em constante interação com seu ambiente, do qual extrai insumos e expele resíduos. Afinal, é isso que as organizações fazem!
Então, quais seriam as forças que se manifestam nas organizações que passo a chamar de esponjas intelgientes? Inteligentes, por que, ao contrário das esponjas naturais, são capazes de, por meio de suas partes humanas, fazerem escolhas baseadas em razões que vão além do instinto.
A primeira força é o que chamo de interação. As esponjas inteligentes desenvolvem mecanismos ou processos que facilitam sua interface com outras esponjas inteligentes que povoam o mundo organizacional, além de outras entidades e instituições presentes na sociedade. É por meio dessa interação que pode ocorrer a segunda força: absorção.
A força da absorção é manifestada na capacidade que as esponjas inteligentes têm de recolher para seu interior, informações, recursos materiais, financeiros, pessoas que passarão a ser aplicados internamente, como parte do esforço de buscar a perenidade no ambiente. Junto com a absorção, atua quase que ao mesmo tempo, uma terceira força denominada seleção.
Assim como para as esponjas marinhas, nem tudo que é absorvido do ambiente, tem utilidade. Dessa forma, as esponjas inteligentes necessitam exercitar um processo de seleção que avalia a qualidade e a quantidade dos diferentes tipos de recursos que necessita reter internamente e os que não serão internalizados. Essa força se alia a três outras na continuidade do esforço de sobrevivência das esponjas inteligentes: retenção, transformação e extroversão.
A força da retenção está envolvida em assegurar que os recursos necessários estejam presentes no momento em que cada um é necessário às atividades que buscam a sobrevivência da esponja inteligente. Por exemplo, as pessoas extremamente competentes que devem ser estimuladas a ficar trabalhando nessa esponja, resistindo aos apelos de outras esponjas inteligentes.
A quinta força, a transformação, é uma componente da metáfora que é usual na literatura administrtativa. Ora, qualquer esponja inteligente só tem existência estimulada pelo ambiente, quando performa uma transformação nos recursos absorvidos do ambiente e devole a ele outros tipos de recursos que tenham valor. A transformação é parte essencial, mas não única, da sobrevivência esponjal, visto que ela permite a diferenciação entre as esponjas inteligentes justificando sua permanência no ecosistema organizacional.
A sexta força, decorrente da transformação, mas não exclusivamente dela, é a extroversão. Isto é, a capacidade de permitir a fluição de seus produtos/serviços para fora de suas fronteiras. Esse é um processo controlado pela esponja inteligente, mas a extroversão tem também seus traços não controláveis, ou, pelo menos, pouco controláveis. A extroversão de efeitos indesejados no ambiente (poluição, transtornos à comunidade, etc), bem como, a perda de recursos por inefiiciências dos mecanismos e processos ligados à força da transformação, são menos controláveis. Por fim, há também, os não controláveis, que é, por exemplo, a extroversão de talentos para esponjas inteligentes competidoras pelo mesmo tipo de recurso.
Além dessas forças, considero que mais quatro têm papel fundamental na forma como as esponjas inteligentes se configuram em formas estáveis no mundo organizacional: estruturação, articulação, reflexão e regulação.
A estruturação tem a ver com os mecanismos que serão construídos pelas esponjas inteligentes para permitir que as demais forças possam operar em condições relativamente estáveis. É a criação de procedimentos de fragmentação/aglutinação de tarefas com uso de recursos adequados, em conjunto com a formatação de mecanismos de coordenação que forneçam harmonia aos processos de interação, absorçao, seleção, retenção, transformação e extroversão típicos da esponja inteligentes.
A articulação, está ssociada intimamente à força da estruturação, mas diz respeito a algo que poderia ser chamado de estruturação externa. A permanência das esponjas inteligentes no ambiente, depende muito de sua capacidade de relacionamento proveitoso com outros tipos de esponjas inteligentes no mundo organizacional, por exemplo, esponjas fornecedoras de recursos, esponjas que exercerm a mesma função no sistema, esponjas que exercem atividades complementares, etc. Aqui é claro que estou falando, na linguagem não metafórica, de fornecedores, concorrentes, distribuidores, etc.
A reflexão é a força relacionada a dois processos inerentes à inteligência da esponja: a capacidade de aprendizagem e a memória do aprendido. As esponjas inteligentes desenvolvem mecanismos e processos que permitem que, periodicamente, sua trajetória seja analisada, apontando para acertos e fracasso, que devidamente considerados, passam a fazer parte da memória esponjal.
Por fim, a força da regulação é a maneira pela qual a esponja inteligente manifesta sua capacidade de ajuste ao ambiente em que vive. A regulação se reflete em esforços que refletirão em cinco formas de sobrevivência: manutenção, expansão, retração, adaptação ou inovação. Isto é, tentar preservar seu modus operandi como está em função da estabilidade do ambiente; buscar o crescimento ou diminuição quando o ambiente esteja propício ou ameaçador, respectivamente; transformar-se de forma adaptativa, gradual, quando o ambiente se transforma lentamente, ou tornar-se muito diferente porque houve mudanças radicais em aspectos centrais do ambiente.
É na relação entre a esponja inteligente e seu ambiente que surgem as diferentes oportunidades de manifestação das dez forças sucintamente descritas acima. Se você é administrador de uma esponja inteligente ou está pensando em criar uma, reflita um pouco sobre essas forças. Elas te ajudarão a pensar uma configuração esponjal que possa vir a ser mais estável. Boa sorte!
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