Os
pesquisadores que investigam a administração de pequenas empresas, muitas
vezes, têm que justificar por que esse tipo de organização deve ser estudado em
separado das grandes empresas. Em 1981, John Welsh e Jerry White argumentaram em
artigo publicado na Harvard Business Review que as pequenas empresas enfrentam
uma escassez de recursos, o que limita em muito a aplicabilidade dos modelos
administrativos desenvolvidos para grandes empresas. Com um título provocador, A small business is not a little big
business (Uma pequena empress não é uma pequena grande empresa), os dois autores criticaram aqueles que
defendiam o uso dos modelos e ferramentas administrativas que serviam para as
grandes empresas, de forma indiscriminada em organizações de menor porte.
Por
coincidência, no mesmo ano, Arnold Cooper escreveu sobre a questão estratégica
em pequenas empresas e em novas empresas. Para Cooper, de igual forma, o
contexto das pequenas empresas é diverso do das grandes empresas. Assim, a formulação
e implantação de estratégia nesse tipo de organização tem que considerar duas
características principais: o tipo de pequena empresa e o estágio no ciclo de
vida. Nessa linha de estudo, alguns anos atrás, Daniela Torres, Sara Gimenez e
eu fizemos uma pesquisa sobre a formação de estratégia em pequenos hotéis
localizados em Curitiba que foi publicado em artigo na Revista Brasileira de
Estratégia. Nesse artigo, apresentamos uma síntese das ideias de Cooper que
reproduzo a seguir:
“As pequenas empresas
variam em diversas dimensões, tais como disponibilidade de recursos, experiência
anterior dos fundadores, sofisticação administrativa e desempenho. Estas
diferenças podem ser representadas por arquétipos que foram denominadas por
Cooper (1981), assim:
·
empresas
de casais (mom and pop companies), que, em geral, têm poucos empregados ou
até mesmo nenhum, sistemas administrativos pouco desenvolvidos, proprietários
com habilidades técnicas, mas pouco conhecimento gerencial, e baixo retorno aos
proprietários, que podem voltar a ser empregados em outras empresas nos
momentos de crise;
·
empresas
estáveis de alto retorno (stable high pay-off companies), que possuem sistemas
administrativos mais formalizados, desfrutam de vantagens competitivas mais
sólidas, com um desempenho mais estável, fornecendo um padrão de vida adequado
aos seus proprietários;
·
empresas
orientadas para o crescimento (growth-oriented companies), que são, em geral,
iniciadas por grupos, seus administradores têm maior experiência gerencial e
educação formal, enfatizam a inovação constante e estão posicionadas em
mercados crescentes.
No
que diz respeito ao estágio de desenvolvimento das pequenas empresas, Cooper
(1981) distingue três períodos. O primeiro é o de criação da empresa (start-up),
que envolve as decisões estratégicas de fundar uma empresa e posicioná-la em
uma indústria com uma estratégia competitiva específica. O segundo estágio,
denominado de crescimento inicial (early-growth), é o período em que a
estratégia inicial de produtos e mercados está sendo testada e o empreendedor
se envolve diretamente em todas as atividades da empresa. Para Cooper (1981),
muitas pequenas empresas se estabilizam nesse estágio. O terceiro estágio é o
de crescimento tardio (later-growth), que se caracteriza pela existência
de múltiplos locais de operação para empresas varejistas e de serviços ou diversificação
de produção para empresas industriais. Nesse estágio, a estrutura
administrativa é mais complexa, com um ou mais níveis médios de gerenciamento.”
As
ideias de Cooper são mais completas em relação ao argumento de Welsh e White e
permitem aprofundar o entendimento das limitações que ferramentas de
administração podem enfrentar quando usadas indiscriminadamente sem
consideração pelo contexto de sua aplicação. Nesse sentido, acredito que
podemos contribuir com os gestores de pequenas empresas quando simplificamos
ferramentas complexas usadas em grandes empresas, permitindo a difusão de uma
forma de pensar a administração dessas organizações de forma mais
sistematizada, planejada e orientada por princípios que valorizem a convivência
humana com acesso à riqueza de forma justa e equilibrada.
COOPER, A. C. Strategic management: new ventures and small business. Long Range Planning, v. 14, n. 5, p. 39-45, 1981.
ROCHA. D. T. da; GIMENEZ, S. C.; GIMENEZ, F. A. P. Revista Brasileira de Estratégia, v. 1, n. 3, p. 319-329, 2008.
WELSH, J. A.; WHITE, J. F. A small business is not a little big business. Harvard Business Review, jul/aug, 1981
COOPER, A. C. Strategic management: new ventures and small business. Long Range Planning, v. 14, n. 5, p. 39-45, 1981.
ROCHA. D. T. da; GIMENEZ, S. C.; GIMENEZ, F. A. P. Revista Brasileira de Estratégia, v. 1, n. 3, p. 319-329, 2008.
WELSH, J. A.; WHITE, J. F. A small business is not a little big business. Harvard Business Review, jul/aug, 1981
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