quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Inovação no cinema: um tema de estudo para 2015

Para encerrar 2014, retomo um tema que abordei em outro post neste blog: http://3es2ps.blogspot.com.br/2013/02/evolucao-tecnologica-e-empreendedorismo.html. Nos últimos dias, li Cinema: Arte & Indústria, coletânea de textos de Anatol Rosenfeld, organizada por J. Guinsburg e Nanci Fernandes. O livro é composto por textos escrito no começo da década de 50 pelo ex-professor de Estética da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo. Um pequeno relato sobre Rosenfeld encontra-se em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/1/22/mais!/17.html.

Tomei conhecimento do livro de Rosenfeld há dois anos atrás quando comecei uma especialização em Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná. A primeira disciplina foi Cinema e Indústria com o Professor Tom Lisboa. Na época, Tom fez uma referência a este livro como leitura recomendada. De vez em quando, buscava nos sebos de Curitiba um exemplar do livro, mas sem sucesso. No começo desse mês, encontrei em um sebo virtual, fiz a encomenda, e finalmente consegui fazer a leitura.

Os textos de Rosenfeld fazem um apanhado da evolução histórica do campo do cinema, desde sua pré-história, antes de 1895, ano que ficou convencionado como o de nascimento do cinema, até o final da década de 40 do século passado, momento de crise de Hollywood que marca, também, o surgimento das primeiras experiências hollywoodianas com o cinema de relevo ou 3D.

Os organizadores do livro agruparam os textos em quatro partes. Na primeira parte, há apenas um texto no qual Rosenfeld explora a dupla natureza do cinema, primeiro como campo artístico, mas, especialmente como campo econômico, limitador das possibilidades artísticas da sétima arte. A segunda parte apresenta cinco textos históricos em que Rosenfeld descreve e analisa a história do cinema. Em particular, nessa parte, há dois textos em que Rosenfeld comenta sobre aspectos tecnológicos e progressos técnicos e econômicos do campo. Chama a atenção, a descrição que Rosenfeld faz do surgimento do filme sonoro. Também nessa parte, há dois textos que comentam sobre a produção escandinava e a produção americana. Documentos de alto valor histórico. Na terceira parte do livro, os textos de Rosenfeld são sobre aspectos estéticos da nova arte. Por fim, a quarta parte foi denominada Cinema e Inovações, com três textos dedicados à novidade do final da década de 40: os primórdios do cinema em três dimensões, ou como era chamado à época, cinema plástico.

Na opinião de Rosenfeld, mais do que atender requisitos estéticos da nova arte, a adoção do cinema em relevo ou 3d foi uma resposta das produtoras de Hollywood a um momento de crise. Nos final dos anos 40, o cinema via sua popularidade disputada pela televisão e, além disso, Hollywood estava enfrentando a concorrência do cinema europeu, especialmente da França, Itália e Alemanha. Rosenfeld enxergou nessa evolução, uma tentativa de consolidação da dominação do cinema hollywoodiano como força dominante nessa atividade econômica. Segundo ele, a nova tecnologia importava em condições mais custosas de produção e exibição de filmes, o que poderia acarretar o fechamento de muitas produtoras, bem como alteração nas condições de exibição dos filmes.

Veja você, uma leitura que comecei pensando em conhecer um pouco mais a respeito da história do cinema, acabou me inspirando em meu campo de estudo de mais de trinta anos: a Administração.

O cinema está vivendo mais um período de evolução tecnológica. A película está sendo substituída pela filmagem digital o que acarretou mudanças nas salas de exibição. Alguns anos atrás, houve a retomada do cinema em três dimensões com tecnologias muito mais aperfeiçoadas em relação às experiências das décadas de 40 e 50. A diminuição dos custos das tecnologias de filmagem está acarretando mudanças na produção cinematográficas. Ao mesmo tempo, o domínio do cinema de Hollywood se ampliou em relação ao tempo analisado por Rosenfeld. O cinema dos Estados Unidos atinge perto de 80% do público e renda do mercado exibidor brasileiro. Ainda assim, desde 1995 vivemos uma retomada da produção cinematográfica brasileira. Em 2013, atingimos o recorde de 129 filmes brasileiros lançados no mercado exibidor. Em 2014, faltando ainda os dados das duas últimas semanas cinematográficas, o total foi de 111 filmes até agora.

É um contexto que pode ser estudado do ponto de vista da Administração em geral, e mais especificamente, sob a perspectiva da estratégia competitiva e estratégia tecnológica. É o que começo a fazer esse ano, com um projeto de pesquisa sobre configurações de decisões empreendedoras, de inovação e de sustentabilidade em empresas de cinema do Paraná.

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