Um fenômeno da natureza atraiu minha atenção certa manhã. Enquanto trabalhava com amigos em Brasília, observei um conjunto de sete teias de aranha que se esparramavam entre as copas de duas árvores. Cada teia com sua aranha, o conjunto formava uma imagem complexa e inspiradora. Fiquei imaginando o momento em que um infeliz inseto se prendesse em uma das teias entrelaçadas. Imediatamente, sete aranhas estariam se encaminhando para a origem do distúrbio dessa intricada rede. Não importa qual delas chegaria primeiro, mas o destino do inseto já estaria traçado: terminar nas garras de uma delas!
Essa imagem me trouxe à mente, em primeiro lugar, a idéia de uma rede de pequenas empresas. Imaginei que as aranhas poderiam representar, cada uma delas, pequenas empresas, e o emaranhado de suas teias uma rede de cooperação de pequenas empresas. A união delas permitiria compartilhar esforços e recursos na busca de uma maior competitividade no mercado. Assim como essas aranhas, com suas teias entrelaçadas, têm aumentadas suas chances de sobrevivência em função da maior probabilidade de obter insetos em sua cadeia alimentar, as pequenas empresas quando se unem seja em centrais de compras, seja em sua relações com o mercado consumidor, têm suas expectativas de sucesso empresarial ampliadas.
Essa noção de cooperação entre empresas tem sua logica residente em uma idéia muito simples que foi exposta de forma precisa pelo Prof. Sérgio Baptista Zaccarelli em seu livro "Estratégia e Sucesso nas Empresas". Para o Prof. Zaccarelli, o sucesso de uma empresa depende de dois fatores: a qualidade do negócio em que atua e a qualidade de sua administração. Essa relação se dá de uma forma que quanto maior for a qualidade do negócio, menor pode ser a qualidade da administração da empresa para se ter sucesso. Por outro lado, se a qualidade do negócio não é muito boa será necessário um esforço maior para se obter sucesso por meio da qualidade da administração que deve compensar a qualidade insuficiente do negócio.
Ações de cooperação entre pequenas empresas são uma forma de melhorar a qualidade do negócio em que atuam. A cooperação permite maior poder de negociação com fornecedores, obtendo melhores condições de compra. Permite, ainda, enfrentar em melhores condições as ações competitivas de grandes concorrentes. Por outro lado, além da cooperação, as pequenas empresas em rede competem entre si. Nesse momento é que a qualidadade da administração se manifesta levando a melhores ou piores resultados.
No entanto, embora essa noção de cooperação entre pequenas empresas seja comumente estudada na literatura de administração, a imagem das teias de aranhas tão próximas se assemelha, de forma mais adequada penso eu, a uma concentração geográfica de pequenas empresas. Em muitas cidades, observa-se a coexistência de pequenas empresas que competem em um mesmo mercado em espaços geográficos muito restritos. Em Curitiba, por exemplo, há as lojas de sapatos da Rua Teffé, na sua maioria pequenas empresas. Outro aglomerado de pequenas empresas em Curitiba ocorre na rua 24 de maio com suas lojas de materiais de informática, vídeo e som. São Paulo, onde fiz meu mestrado, tem muitos exemplos, entre os quais me ocorre a Rua José Paulino, no Bom Retiro, com sua concentração de lojas de roupas e acessórios. Maringá, outra cidade em que morei, tem na rua Pedro Tacques uma concentração de lojas voltadas para a comercialização de produtos e serviços automotivos.
Essa concentrações geográficas são um fenômeno empresarial interessante. Elas ocorrem em geral, de forma espontânea, com o comportamento imitativo de indivíduos empreendedores que vêem um caso de sucesso em determinado local e decidem instalar uma nova empresa nas proximidades. Na maioria das vezes, essas concentrações ocorrem por facilidades de acesso a algum tipo de matéria-prima quando se tratam de empresas manufatureiras. No caso do comércio, o grande afluxo de consumidores é, em geral, o principal motivo da repetição desse comportamento empreendedor.
O interessante nesses casos é que o comportamento empresarial predominante é a competição, mas esporadicamente podem surgir casos de cooperação entre as pequenas empresas ali localizadas. A disputa pela atenção do consumidor com mix de produtos diferenciados, atrativos promocionais, preços diferentes é a tônica. Mas, junto a esses esforços competitivos surgem movimentos de cooperação em torno da realização de esforços compartilhados de comunicação com o mercado, articulação concertada para agilizar a realização de benfeitorias públicas na região, comemoração de datas festivas com apresentações artísticas que atraem público e, provavelmente, maior consumo. Nesses esforços coletivos os custos são compartilhados e os ganhos de cada empresa acabam dependendo principalmente de sua capacidade administrativa de se preparar e atuar nesses momentos.
É nesse sentido que associo a concentração de teias de aranhas nas copas daquelas duas árvores à concentração de pequenas empresas. Na maior parte das vezes, o consumidor é o foco da atenção gerencial e, dessa forma, as mais agéis em atendê-lo acabam se beneficiando mais da concentração. Igualmente, são as aranhas mais agéis que chegarão mais depressa ao infeliz inseto emaranhado em suas teias.
Por fim, de novo quero citar o Prof. Zaccarelli que, junto com os professores Ruy Leme e Adalberto Fischmann, publicou o livro Ecologia de Empresas que li no inicio dos anos 80 quando fiz meu mestrado na Faculdade de Economia e Administração da USP. Sem essa leitura, essas sete teias de aranha não teriam passado de um fenômeno natural interessante para mim. Certamente a leitura desse livro, que três décadas atrás me marcou profundamente, e as idéias nele apresentadas me ajudaram a fazer essas relações hoje.
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