sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pequenas empresas com vida longa: duas histórias curitibanas


Quando se fala da administração de pequenas empresas uma questão que sempre vem à tona se relaciona com sua vida curta. As estatísticas variam, mas em geral, pode-se dizer que cerca de 80% das pequenas empresas não conseguem completar cinco anos de vida. Assim, quando me deparo com histórias de casos bem sucedidos que conseguem passar da casa das cinco dezenas de existência, minha curiosidade é aguçada. O que explica esse sucesso? Que trajetória seguiram essas empresas e as pessoas que as criaram? Como foi a passagem de geração em geração da família que manteve a propriedade dessas pequenas empresas? E o caso de sucessão fora da família, como se explica que pessoas diferentes dos fundadores conseguiram manter uma pequena empresa por tão longo tempo preservando tradições criadas por seus fundadores e gestores iniciais? Enfim, a lista de coisas que quero saber é longa!

Esporadicamente tenho encontrado relatos de pequenas empresas curitibanas que são longevas. Esses relatos são feitos por jornalistas, sem nenhuma preocupação científica, com seus estilos diferenciados, nos revelando aspectos pitorescos, mudanças que ocorreram ao longo do tempo nessas pequenas empresas, chegando até nos detalhes de como seus produtos ou serviços evoluíram ao longo do tempo. E me ajudando a aprofundar minha compreensão de coisas que a literatura acadêmica conta, mas quase sempre sem graça nenhuma.

Nos últimos meses tive a felicidade de ler alguns desses relatos. Todos eles na Gazeta do Povo, que voltei a assinar recentemente. Escolhi duas para ilustrar alguns aspectos da gestão de pequenas empresas.

Uma das histórias que me chamou a atenção foi relatada pelo colunista José Carlos Fernandes, em um texto muito agradável de ler e intitulado“O alfaiate e sua admirável máquina do tempo” (http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1236541&tit=O-alfaiate-e-sua-admiravel-maquina-do-tempo). José Carlos conta sobre a Alfaiataria Riachuelo, que existe há 80 anos, na Rua Riachuelo, criada por um alfaiate que morava em Ponta Grossa, como nos informa o colunista:

“Se olharem bem, os visitantes vão notar na parede um retrato do general Heitor Borges de Oliveira, espécie de santo padroeiro da Alfaiataria Riachuelo. Nos idos de 1930, em Ponta Grossa, o manda-chuva encomendou do alfaiate G. Matter uma farda. Gostou tanto que o trouxe para Curitiba. Virou febre – todos os homens do Exército queriam se vestir com ele, que era artista e costurava por ofício, para poder fazer o que mais lhe aprazia – pintar telas ao ar livre e pilotar motocicletas, arrancando poeira daquele Paraná em pinheiros.”

Hoje a pequena empresa é administrada por Osvaldo Filho, filho de Osvaldo e sobrinho de Guilherme, filhos e sucessores do fundador da empresa. Nesse longo período a empresa manteve-se especializada em trajes militares, mas a clientela inicialmente restrita aos militares hoje é bem diversificada, ou como bem descreveu José Carlos “... tão sortida quanto um pote de jujubas. Imagino o dia em que um sargento e uma guria blindada a piercings pediram juntos ao balcão, no mesmo tom de voz, “um coturno, por favor”. Tem também a turma do teatro, fashionistas, seguranças carecas ...”

Outra história bacana é a da Confeitaria Blumenau localizada na rua São Francisco que atualmente é comandada desde 1994 por Ilse Baumgart Maiochi uma simpática senhora no vigor de seus 72 anos. Mais uma vez, quem conta a história é José Carlos Fernandes em “Os sonhos e o sonho de Ilse” (http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?id=1140382). Ilse foi cozinheira da Blumenau, desde 1963, quando trabalhou primeiro com a primeira proprietária, Tecla Probst, e depois com sua sucessora Ertha Weber como relata Rosy de Sá Cardoso em “Os segredos da Confeitaria Blumenau” (http://www.gazetadopovo.com.br/bomgourmet/conteudo.phtml?id=1223670). Antes de Ilse comprar a empresa onde trabalhava, a Blumenau foi propriedade de uma terceira senhora, dona Regina. Nesse caso, o que se vê é uma pequena empresa que ao longo dos anos foi passando de mão em mão, mas Ilse, a cozinheira, ia junto com a empresa, preservando a qualidade e sabor dos pães de casa, strudels, bolos, sonhos e outras delícias. Hoje em dia, além dos tradicionais doces e confeitos, Ilse criou um buffet no almoço para atender a clientela estudantil e outros que passam pela movimentada região onde está localizada a Confeitaria Blumenau.

Enquanto a Alfaiataria Militar manteve-se no âmbito familiar, a Confeitaria Blumenau foi sendo vendida. Assim, duas trajetórias diferentes levam a sucessos parecidos: empresas com vida longa, mantendo-se pequenas e reconhecidas por serviços ou produtos de qualidade. Além disso, algo comum pode ser encontrado nessas duas histórias. Ambas conseguiram se adaptar às mudanças ocorridas na região onde se localizam, conseguindo ao longo dos anos, ofertarem serviços e produtos que atraem ainda hoje aqueles antigos clientes que desejam fazer uma viagem no tempo de suas memórias, bem como os jovens que estudam no prédio histórico da UFPR na Praça Santos Andrade que encontram satisfação para os desconfortos da fome e roupas que lhes permitem construir parte de sua identidade juvenil.

Vida longa a essas e outras pequenas empresas!

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