Entender como pequenas empresas são criadas e mantidas no mercado por
longos períodos de tempo é algo que tem me atraído constantemente. Estudar
empreendedorismo e gestão de pequenas empresas permite que eu olhe ao mesmo
tempo para aspectos da criação de um empreendimento e de facetas de seu
crescimento e consolidação ao longo do tempo. Este processo, no meu
entendimento, é um ciclo contínuo de criação => gestão => criação => gestão=>
criação => gestão... Infinitas vezes? Talvez sim, se os empreendimentos
sobreviverem a seus criadores e continuadores. Mas, na maioria dos casos, em
algum momento, esse ciclo se interrompe, com o encerramento das atividades.
Fases de transformação são seguidas por fases de consolidação de forma
ininterrupta. Julgar qual é a mais importante não faz sentido, pode-se apenas
tentar compreender que há momentos para mudar e há momentos para preservar. Há
momentos onde a ação é empreendedora e outros onde prevalece a gestão. Em todos
os momentos, o que parece ser comum são as incertezas e os riscos. Às vezes
parece que ao invés de mudar, o administrador deveria tentar preservar. Outras
vezes, aquilo que se preserva parece inadequado em face do que deveria ter se
transformado.
Hoje em dia há um discurso dominante na literatura da administração que
pode ser sintetizado de forma resumida assim: inovar é a solução para qualquer
empresa; sem inovação não há salvação! Por esse discurso somos levados a pensar que a humanidade está
constantemente em busca de produtos ou serviços novos e deixando de lado os
produtos e serviços antigos. Surgem tantas coisas novas que os marqueteiros nos
impelem a comprar e, de repente, parece que os administradores devem deixar de
lado o que fazem bem há muito tempo, para fazer o novo. É óbvio que isso é
exagerado, e não se pode levar tão a sério as profecias sinistras do “inove ou
pereça”. Basta um pouco de bom senso (meus colegas acadêmicos ficam irritados
quando uso essa expressão!) para notar o quão incompleta e imprecisa é essa ideia
da busca da inovação contínua. Proponho um simples exercício:
Reflita sobre seu comportamento de consumidor: quantas vezes vocês
compra produtos novos ou se utiliza de serviços inovadores?; Quantas vezes suas
compras estão associadas a produtos tradicionais ou serviços rotineiros?
Não tenho medo de errar ao afirmar que na maioria das vezes, suas
compras são de serviços e produtos velhos, feitos da mesma forma e com a mesma
utilidade há muitos anos. Nós queremos, ou melhor, precisamos de estabilidade
em nossas vidas. Não há “tatu que aguente” viver só à base de inovações! Lembrei-me
dessa expressão que ouvi muitas vezes quando criança. Antiga, mas ainda tão
apropriada. De onde será que ela veio?
Ora, se estou certo, ou seja, se as pessoas precisam de continuidade e
estabilidade em boa parte das suas necessidades de consumo, se eu for um
administrador de uma pequena empresa, talvez fosse prudente que eu, além de
buscar coisas novas, prestasse muita atenção àquilo que tem sido bem sucedido.
Esse é o constante ciclo de criação e gestão que mencionei, não há como só
inovar, assim como não há como só fazer o mesmo sempre.
É parecido com a novela “O Visconde partido ao meio” de Italo Calvino,
publicada pela primeira vez em 1952. Nessa estória Calvino relata as aventuras
do Visconde Medardo que em uma batalha vê-se partido ao meio no sentido
vertical do corpo. Graças à equipe médica do campo de batalha a sua parte
direita, preservada intacta, conseguiu sobreviver e retornar à sua terra natal.
Mas, para agrura de seu povo, essa parte era extremamente malvada. Depois de
algum tempo, a parte esquerda que se supunha destruída, retorna também à casa
paterna. Ela fora encontrada e curada por alguns eremitas. Ao contrário da
outra metade, esta era extremamente generosa. A grande sacada de Calvino foi
mostrar que nessa estória nenhuma das duas formas – a bondade pura ou a maldade
pura – eram aturadas pelos habitantes. Era preciso dar um jeito de ter uma
mistura de novo. A solução calviniana é genial! Leiam o livro e descubram qual foi.
No caso das pequenas empresas, não há como ser
só empreendedor ou só operador de pequenos negócios, termos usados por Louis Jacques Filion em artigo publicado em
1999. De forma muito esclarecedora, Filion demonstrou as diferenças entre formas de
pensar do empreendedor e do gestor de uma pequena empresa. Há momentos para
criar e há momentos para gerir, procurando em cada momento superar as
incertezas e os riscos nas decisões. As duas formas de pensar devem coexistir. Simples
assim, mas nem um pouco fácil! É isso que torna a administração fascinante!
Ainda mais quando se trata de pequenas empresas.
Vou encontrar o livro e lê-lo, mas acredito que consturaram/colaram as duas partes, rs. E viva ao Innovation or perish! Muito boa a reflexão.
ResponderExcluirOi Edmundo,
ExcluirLeia o livro. È muito bom! Obrigado pela mensagem.