segunda-feira, 9 de abril de 2012

O administrador dividido em dois: empreendedor e gestor na pequena empresa

Entender como pequenas empresas são criadas e mantidas no mercado por longos períodos de tempo é algo que tem me atraído constantemente. Estudar empreendedorismo e gestão de pequenas empresas permite que eu olhe ao mesmo tempo para aspectos da criação de um empreendimento e de facetas de seu crescimento e consolidação ao longo do tempo. Este processo, no meu entendimento, é um ciclo contínuo de criação => gestão => criação => gestão=> criação => gestão... Infinitas vezes? Talvez sim, se os empreendimentos sobreviverem a seus criadores e continuadores. Mas, na maioria dos casos, em algum momento, esse ciclo se interrompe, com o encerramento das atividades.

Fases de transformação são seguidas por fases de consolidação de forma ininterrupta. Julgar qual é a mais importante não faz sentido, pode-se apenas tentar compreender que há momentos para mudar e há momentos para preservar. Há momentos onde a ação é empreendedora e outros onde prevalece a gestão. Em todos os momentos, o que parece ser comum são as incertezas e os riscos. Às vezes parece que ao invés de mudar, o administrador deveria tentar preservar. Outras vezes, aquilo que se preserva parece inadequado em face do que deveria ter se transformado.

Hoje em dia há um discurso dominante na literatura da administração que pode ser sintetizado de forma resumida assim: inovar é a solução para qualquer empresa; sem inovação não há salvação! Por esse discurso somos levados a pensar que a humanidade está constantemente em busca de produtos ou serviços novos e deixando de lado os produtos e serviços antigos. Surgem tantas coisas novas que os marqueteiros nos impelem a comprar e, de repente, parece que os administradores devem deixar de lado o que fazem bem há muito tempo, para fazer o novo. É óbvio que isso é exagerado, e não se pode levar tão a sério as profecias sinistras do “inove ou pereça”. Basta um pouco de bom senso (meus colegas acadêmicos ficam irritados quando uso essa expressão!) para notar o quão incompleta e imprecisa é essa ideia da busca da inovação contínua. Proponho um simples exercício:

Reflita sobre seu comportamento de consumidor: quantas vezes vocês compra produtos novos ou se utiliza de serviços inovadores?; Quantas vezes suas compras estão associadas a produtos tradicionais ou serviços rotineiros?

Não tenho medo de errar ao afirmar que na maioria das vezes, suas compras são de serviços e produtos velhos, feitos da mesma forma e com a mesma utilidade há muitos anos. Nós queremos, ou melhor, precisamos de estabilidade em nossas vidas. Não há “tatu que aguente” viver só à base de inovações! Lembrei-me dessa expressão que ouvi muitas vezes quando criança. Antiga, mas ainda tão apropriada. De onde será que ela veio?

Ora, se estou certo, ou seja, se as pessoas precisam de continuidade e estabilidade em boa parte das suas necessidades de consumo, se eu for um administrador de uma pequena empresa, talvez fosse prudente que eu, além de buscar coisas novas, prestasse muita atenção àquilo que tem sido bem sucedido. Esse é o constante ciclo de criação e gestão que mencionei, não há como só inovar, assim como não há como só fazer o mesmo sempre.

É parecido com a novela “O Visconde partido ao meio” de Italo Calvino, publicada pela primeira vez em 1952. Nessa estória Calvino relata as aventuras do Visconde Medardo que em uma batalha vê-se partido ao meio no sentido vertical do corpo. Graças à equipe médica do campo de batalha a sua parte direita, preservada intacta, conseguiu sobreviver e retornar à sua terra natal. Mas, para agrura de seu povo, essa parte era extremamente malvada. Depois de algum tempo, a parte esquerda que se supunha destruída, retorna também à casa paterna. Ela fora encontrada e curada por alguns eremitas. Ao contrário da outra metade, esta era extremamente generosa. A grande sacada de Calvino foi mostrar que nessa estória nenhuma das duas formas – a bondade pura ou a maldade pura – eram aturadas pelos habitantes. Era preciso dar um jeito de ter uma mistura de novo. A solução calviniana é genial! Leiam o livro e descubram qual foi.

No caso das pequenas empresas, não há como ser só empreendedor ou só operador de pequenos negócios, termos usados por  Louis Jacques Filion em artigo publicado em 1999. De forma muito esclarecedora, Filion demonstrou as diferenças entre formas de pensar do empreendedor e do gestor de uma pequena empresa. Há momentos para criar e há momentos para gerir, procurando em cada momento superar as incertezas e os riscos nas decisões. As duas formas de pensar devem coexistir. Simples assim, mas nem um pouco fácil! É isso que torna a administração fascinante! Ainda mais quando se trata de pequenas empresas.

2 comentários:

  1. Vou encontrar o livro e lê-lo, mas acredito que consturaram/colaram as duas partes, rs. E viva ao Innovation or perish! Muito boa a reflexão.

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    1. Oi Edmundo,

      Leia o livro. È muito bom! Obrigado pela mensagem.

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