segunda-feira, 30 de abril de 2012

O começo: entre o cinema e a gestão de pequenas empresas

Para Cleufe

Iniciei meu curso de graduação em administração na Universidade Estadual de Londrina em agosto de 1977. Após ter estudado engenharia durante um ano e meio em São José dos Campos e Física por um semestre na UNICAMP, retornei a Londrina ao final de 1976 com o firme propósito de procurar um novo curso. Meu desejo era fazer vestibular para um curso de comunicação e tentar enveredar pelos estudos na área do cinema.
Desde adolescente o cinema me atraiu fortemente. Lembro-me de comentar uma vez com meu amigo Helvécio quando retornávamos de uma sessão vespertina de cinema:
_ Sabe o que eu acho engraçado. Os filmes que a crítica gosta eu não gosto. O filme que eu gosto a crítica não gosta!
Helvécio riu muito e confirmou:
_ Fernando, comigo é a mesma coisa!
Com o passar dos anos, o hábito de ir ao cinema foi se consolidando e, hoje em dia, muitas vezes, os críticos e eu gostamos das mesmas coisas. Mas, de vez em quando, aquilo que gosto não agrada alguns críticos. Mas, embora o cinema seja uma presença marcante em minha vida, sendo até fonte de inspiração para certas interpretações minhas sobre questões empresariais, não é minha intenção escrever sobre isso agora.
Naquele ano do retorno à casa paterna, passados os períodos festivos e as férias, certo dia minha mãe me perguntou:
_ Fernando, não está na hora de preparar a viagem de volta a Campinas?
Isso ocorreu por meados de fevereiro de 1977. Era o momento que eu temia: revelar a meus pais que não queria continuar o curso na UNICAMP. Com o passar dos dias, como já era usual com meus irmãos, comecei a ajudar meus pais no supermercado que tinham. Nesse ambiente de trabalho familiar, as coisas começaram a se acalmar e algum dia tive a ideia de fazer vestibular para o curso de administração da UEL. Fui à busca do conhecimento que poderia me ajudar e a meus pais na administração daquela pequena empresa.
Passados os quatro anos da graduação, logo após a formatura, veio o convite para me tornar professor. Nos primeiros anos, me dividia entre a empresa e a universidade. Depois acabei me dedicando exclusivamente à universidade. Fiz mestrado, doutorado, ocupei cargos de gestão, mas sempre procurei estudar a gestão em pequenas empresas nesse tempo todo. Terá sido uma espécie de compensação por ter abandonado a gestão do supermercado de meus pais? Não sei! Talvez Freud explique!
A primeira pesquisa que fiz sobre a gestão de pequenas empresas foi feita em parceria com Cleufe Pelisson. Durante muitos anos, os alunos de administração da UEL tinham que fazer um estágio como conclusão do curso. Nesse estágio havia um roteiro de diagnóstico que os alunos deviam aplicar a uma empresa. Após o diagnóstico, uma área da empresa era escolhida para o desenvolvimento de ações administrativas sob a supervisão de uma equipe de professores do Departamento de Administração. O meu estágio foi na empresa de meus pais.
Conversando com a Cleufe, tivemos a ideia de fazer uma pesquisa sobre os problemas de gestão nas pequenas empresas de Londrina. Com essa finalidade, utilizamos os relatórios dos estágios dos alunos de administração da UEL que totalizavam 287, em pequenas empresas, no período de uma década, entre 1978 e 1987. Com a aprovação do departamento, Cleufe e eu enfrentamos a tarefa de ler 141 desses relatórios e fizemos uma lista dos problemas que eram relatados, classificando-os por setor da empresa (Produção, Finanças, Marketing, RH, Administração Geral).
A lista era muito grande! Cleufe e eu queríamos criar uma classificação desses problemas que fosse além das áreas funcionais. Pensávamos bastante, trocávamos ideias, debatíamos com colegas, mas não conseguíamos chegar a uma proposta com que nos sentíssemos confortáveis. Um dia, cheguei para a Cleufe e falei:
_ Cleufe, acho que encontrei a solução. Sonhei com ela!
É verdade. Na noite anterior, havia sonhado com aquele problema que estava nos incomodando e a solução veio com o sonho: classificar os problemas em estratégicos, administrativos e operacionais conforme apresentado por Ansoff em seu livro “Estratégia Empresarial”.  Concluímos a pesquisa, fizemos o relatório, e uma versão resumida foi publicada na Temática, número 5, de julho de 1988, com o título “Taxonomia dos problemas das pequenas empresas de Londrina”. A Temática foi uma revista criada por alguns professores do Departamento de Administração da UEL, por sugestão do Marcos Tito e, infelizmente, deixou de ser editada há alguns anos. É uma pena!
Enfim, a vida foi passando, os anos correndo, eu fui mudando de cidade em cidade, mas algumas coisas permaneceram: as amizades, entre as quais a de Cleufe é muito valiosa, e o desejo de continuar pesquisando esse intrépidos empreendedores e suas pequenas empresas maravilhosas.
Os mais antigos devem ter percebido a brincadeira com o título de um filme da década de 60 do século passado, dirigido por Ken Annakin, cujo título em portugês é “Os intrépidos homens e suas máquinas maravilhosas”. Não poderia concluir esse post sem falar de cinema!

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