segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mulher gosta de carinho e tem medo de barata

Retornando a Mossoró para concluir meu módulo no Doutorado na UFERSA, tomei conhecimento de um sucesso da banda Solteirões do Forró. Ao entrar no carro dirigido por Cláudio Nogueira, motorista que veio me buscar no hotel, uma música tocava e Cláudio, rindo muito, me disse:
_ É verdade. Preste atenção! É verdade o que a letra diz.

Essa banda foi criada em 2005 e uniu o forró tradicional com o eletrônico, Tem como vocalistas Zé Cantor e Taty Girl. Entre seus sucessos, encontra-se "Você não vale nada" que foi tema de uma personagem feminina em novela global, a Norminha de Caminho das Indias. A música que tocava no rádio era "Eu descobri", com os seguintes versos: eu descobri que mulher gosta de carinho. Carro carinho, sapato carinho, vestido carinho, jantar bem carinho... na voz de Zé Cantor. Depois na voz de Taty Girl, a letra continuava: eu descobri que tenho medo de barata. Roupa barata, jóia barata, bolsa barata, viagem barata. Dei boas risadas com a música e o humor do Cláudio. Uma mensagem bem humorada aos homens que precisam descobrir do que gostam aquelas que pretendem conquistar.

Essa letra, por incrível que pareça, me fez pensar sobre uma das razões de sucesso de pequenas empresas varejistas que conseguem sobreviver por muitos anos no mercado. É o caso, por exemplo de pequenas lojas de roupas, em especial, as femininas que costumam manter ao longo dos anos um grupo expressivo de clientes fiéis. As proprietárias dessas lojas, em geral são mulheres, desenvolvem uma capacidade extraordinária de saber as preferências e desejos de cada cliente, sendo muitas vezes dirigidas em seus processos de compras por pensamentos do tipo: "Essa peça vai agradar muito a fulana; essa outra a beltrana não vai conseguir deixar de comprar; para a sicrana vou levar essas três, ela vai adorar". Em outras palavras, as dirigentes dessas pequenas empresas, que foram também na maioria dos casos suas criadoras, exercendo o papel de empreendedoras nos estágios iniciais da empresa, conhecem muito bem seu mercado foco. Tive a oportunidade de presenciar cenas desse tipo na Dida-Su, empresa familiar maringaense criada e mantida pela mãe e irmãs de Sara, minha mulher.

Certa vez, uma orientanda de iniciação científica, que estudou comigo, manifestou o desejo de pesquisar sobre a forma como proprietárias de butiques em Maringá enxergavam sua concorrência e como escolhiam uma posição competitiva no mercado. Fernanda, esse era seu nome, voltou muito assustada de suas primeiras entrevistas. Quando começava a conversar com as empresárias, invariavelmente, elas lhe diziam que não tinham concorrentes. Suas ações empresariais eram orientadas pelo conhecimento detalhado que tinham de suas clientes. Não prestavam atenção nas outras butiques. Foi um aprendizado importante para Fernanda, e para mim, também, pois entre as pequenas empresas que estudou, havia algumas que haviam chegado às duas dezenas de anos de existência. Nem sempre, a gestão de pequenas empresas segue os manuais clássicos da literatura estratégica!

Esse tipo de comportamento aparece também em outros pequenos varejos que atendem necessidades de consumo de periodicidade de compra mais intensa, tais como, padarias e confeitarias, quitandas, açougues, peixarias, armazéns, bazares, restaruantes, butecos, entre outros. Seus dirigentes descobrem e valorizam o que desejam os clientes que querem conquistar.

Já no fim da tarde, Cláudio esperava para levar-me de volta ao hotel. De novo, a música que tocava no rádio era de forró. Mas dessa vez, era um sucesso de Luiz Gonzaga que ele mesmo cantava, o "Xote das Meninas". Tenho um CD de Marisa Monte no qual ela canta de forma maravilhosa essa música. Cláudio, que está me parecendo ser um conhecedor do forró, me chamou a atenção para a diferença entre esta música e a que tocava de manhã. Luiz Gonzaga tocava o verdadeiro forró Pé-de-Serra, com o auxílio de sua famosa sanfona, triângulo e zabumba apenas. A banda Solteirões do Forró toca suas músicas com uma maior diversidade de instrumentos que incluem estes e outros eletrônicos. É uma covardia comparar as duas músicas seja pela letra, seja pela sonoridade e riqueza de ritmo. Luiz Gonzaga é imbatível! Mas assim como ele já se foi, esse ano se estivesse vivo estaria completando 100 anos, o forró Pé-de-Serra também praticamente não existe.

Mas, Cláudio, que além de motorista sabe muito de forró, me contou sobre o forró de cota. Um costume antigo, narrado a ele pelo seu avô, em cujas terras na região de Mossoró aconteceram alguns. Antigamente, os bailes de forró não tinham cobrança de entrada como hoje. Eram realizados em espaços mais abertos. Os músicos, antes de tocar, faziam uma coleta entre os homens que estavam no espaço de dança. Mulheres não pagavam! Mas se estivessem no espaço de dança, não podiam recusar uma dança a um cabra! Os homens que queriam dançar faziam suas contribuições e, em seguida, os músicos tocavam algumas músicas, quatro ou cinco. Terminada esta parte, corriam novamente a coleta para uma nova cota de músicas. Engenhoso e democrático! Só pagavam aqueles que iriam dançar, quem não pagava não podia entrar no espaço reservado aos dançarinos. Tinham que esperar a nova cota.
Segundo Cláudio, essa prática não existe mais. Assim como alguns pequenos comércios que antes atendiam bem necessidades que a vida moderna transformou! É o risco do mundo dos negócios: os grandes muitas vezes eliminam os pequenos.

Um comentário:

  1. Gimenez, você soube dar o endereço do hotel ao motorista? Eu normalmente não sei, rsrs...

    Bom, de cara vi que estava falando da sua sogra, da Sara e das suas cunhadas, e acho que existe nestes tipos de organizações uma forma muito peculiar de estratégia, intangível na verdade...

    No que diz respeito ao gosto das mulheres, que não gostam de barata e adoram carinho...ah, não é bem assim... Um exemplo, eu e minha amiga Sara, assim como a tua sogra, somos tão simples! Exemplos de simplicidade! kkkkkkkkk

    Beijos, me diverti com este artigo!!!!!!!!!

    Roberta.

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